sexta-feira, 1 de março de 2013

Príncipe Mecânico, Cassandra Clare

Nota: a opinião não tem spoilers no sentido em que não menciono especificamente o que acontece no livro. Mas tem comentários sobre o comportamento dos personagens no livro (e foi difícil não mencionar eventos específicos, mas consegui), e tem previsões para o terceiro (não menciono nada específico do segundo livro, mas baseio-me nos meus comentários sobre o comportamento dos personagens para construir as minhas previsões). E peço desculpa pelo testamento, mas tenho muito a dizer sobre o livro. Só a Cassandra Clare para me pôr a escrever desta maneira.


Opinião: Cassandra Clare - a torturar leitores e fãs desde 2007. Se há coisa que esta autora sabe fazer bem, é deixar o leitor na expectativa do que vai acontecer a seguir, quase ao ponto de nos torturar com a curiosidade. As suas histórias - e especialmente a parte romântica - não deixam ninguém indiferente. Especialmente nesta trilogia dos Infernal Devices, que dividiu as pessoas com o triângulo amoroso Will-Tessa-Jem.

Sou a primeira pessoa a aborrecer-me com este artifício de escrita, quando não é bem usado, mas acho que aqui a Cassandra fez um argumento interessante a favor das duas partes (com algumas ressalvas), e apesar de alguma exasperação, acabei por me divertir mais com o livro do que esperava. Sim, as emoções e o drama estão em alta, mas acho que o livro me deu muito em que pensar, e tendo em conta o modo como a Cassandra costuma desenvolver as suas histórias, acabei por chegar a algumas conclusões sobre como o terceiro livro se pode vir a desenrolar que me agradaram. (Se as minhas previsões se vão cumprir mesmo, isso já é outro assunto.)

Sobre o triângulo: compreendo porque é que a Tessa se sentiu atraída pelo Jem. Não vi o Jem como um "competidor" a sério no primeiro livro, mas neste, pela sua disponibilidade e atitude carinhosa com a Tessa, faz sentido que ela se tenha aproximado dele - especialmente porque o Will, devido a um certo problema, faz tudo o que pode para afastar as pessoas em geral, e a Tessa em particular. O problema é, não consigo deixar de sentir que a Tessa está em certa medida a usar o Jem, por ser tão simpático e disponível, para esquecer aquilo que sente pelo Will. A sua oscilação entre os dois (e ela tem "momentos" com os dois, por isso a atracção está lá) exasperou-me um bocado, e no final há uma decisão que ela toma em relação ao Jem que me parece precipitada - e que vai dar molho, oh se vai.

O que é que isto me leva a pensar sobre o terceiro livro? (Sim, vou fazer previsões. Podem vir rir-se de mim se estiver errada. Eu própria irei gozar comigo na opinião do Clockwork Princess.) As coisas como estão não podem ficar. Há duas pessoas miseráveis com esta situação (Will e Tessa), e uma completamente a leste do que as outras sentem (Jem). Acho que a Cassandra não quer fechar assim uma história. Ela disse algures no seu Tumblr:

"...part of the idea for the books was wanting to write a very specific kind of love story. Ideally when you’re writing about people in love, you’re also writing about the nature of love, and of life, and about the things you think are important. A love story isn’t just how it ends: it’s how it progresses. If it were going to have ended differently, it would have to have progressed differently too. I think when you get to the end - the very end, end - hopefully what you’ll feel is that it couldn’t have ended any other way."

O modo como ela escreveu os primeiros três livros da saga The Mortal Instruments, e o modo como os dois primeiros desta trilogia se desenrolam, mais esta citação, faz-me pensar que há pontos de contacto entre as duas histórias, e que ambas têm uma evolução semelhante, e que ela está a tentar chegar a um certo ponto. São ideias que ainda não ficaram bem assentes na minha cabeça, as relacionadas com estas observações. Mas acho que no terceiro livro o Jem irá inevitavelmente descobrir a extensão dos sentimentos do Will pela Tessa, e acho que é muito possível que morra. O rapaz tem uma sentença de morte na forma daquela droga-veneno, por isso vai morrer muito brevemente (a não ser que a Cassandra tire um deus ex machina do chapéu).

As únicas coisas que ele pode fazer acerca disso são: tornar-se um Irmão Silencioso (não sei se funcionaria, mas talvez o salvasse da morte), ou escolher quando morre. É interessante que a Cassandra refira várias vezes o livro Um Conto de Duas Cidades (A Tale of Two Cities), de Dickens, e que o Will se pareça identificar com o personagem Sydney Carton, o degenerado e sacrificado. Acho que aqui os papéis se vão inverter, com o Jem a sacrificar-se pelo Will ou pela Tessa ou pelos dois, numa cena altamente trágica, e que o Will e a Tessa acabam por ter um final (mais ou menos) feliz. Posso estar enganada com as minhas previsões, mas a autora teria de dar muitos saltos de lógica e mudar completamente a maneira como escreve e desenvolve histórias para isso acontecer.

Pronto, chega de Will-Tessa-Jem, um assunto tão interessante que tem tanta gente por essa Internet fora obcecada com a coisa. Se puder referir a evolução pessoal de cada personagem, fiquei satisfeita e cativada por cada um. A Tessa porque é claramente uma rapariga Vitoriana, dividida entre o que parece bem e o que sente. O Jem porque se mostrou mais um bocadinho, e gosto da sua devoção ao Will. E o Will, cujo segredo é uma tragédia grega, mas explica muitas das suas acções. Não justifica, porque ele se portou mal com muita gente, mas espero vê-lo redimir-se. Vejo ali um bocadinho de crescimento naquilo que faz e diz nos capítulos finais do livro, o que me agradou.

Continuo a gostar muito da Charlotte e do Henry. Acho que o Henry é muito incompreendido, mas vejo que ele e a Charlotte tinham percepções diferentes um do outro em relação à realidade. Gostei de os ver entender-se. A Sophie é uma personagem que adorei ler neste livro, é uma jovem corajosa e pragmática, e tendo em conta a sua ligação com um certo personagem, pergunto-me se não será antepassada de outra personagem em The Mortal Instruments. A Jessamine surpreendeu-me pela negativa, não esperei que fosse tão longe. E foi interessante conhecer melhor alguns membros da família Lightwood. (EDIT: E esqueci-me do Magnus! Adoro vê-lo aqui na Londres Vitoriana, e a relação que ele tem com o Will. Muito divertida.)

O livro é muito carregado de conflito interno, no sentido em que o enredo com o vilão põe a descoberto muitas tensões entre personagens, mas também resolve muita coisa e deixa o caminho aberto para um final em grande no Clockwork Princess. Surpreendeu-me a não aparição do vilão em pessoa, mas a sua mão está em muitos dos eventos do livro, por isso não se dá pela sua falta. Quero muito ver o que ele vai fazer no terceiro livro, qual é o o seu golpe final, e estou muito curiosa para descobrir a natureza da Tessa, sobre a qual há muitas insinuações mas nenhuma revelação em concreto.

O final fecha bem a história, sem nos deixar exactamente pendurados, mas com um acontecimento final muito "interessante". Eu sabia que os membros da família Herondale eram todos doidos. Doidos, I tell you! Quero mesmo ver no que isto vai dar.

Título original: Clockwork Prince (2011)

Páginas: 368

Editora: Planeta

Tradução: Irene Daun e Lorena e Nuno Daun e Lorena

9 comentários:

  1. Se queres que te diga nem sei o que é que me irrita mais, se é o facto do tipo que está a mais no triângulo ser um idiota, ou ser um gajo decente. Provavelmente o último caso porque o idiota eu posso odiar imediatamente e tenho bases para isso, agora o bonzinho, atencioso, so help me god, DOENTE, é sempre aquela situação bicuda. MAS, ainda assim não consigo ter pena do Jem. Porque é que ele não morre de uma vez por todas e poupa toda a gente desta tortura. Ele afinal é um gajo esperto, SABE que o Will e a Tessa querem ficar juntos, por mais que o Will seja um idiota que acha que não a merece e blablabla, por isso ele se fosse um rapazinho em condições AJUDAVA-OS, e não METIA NOJO. Ugh. Nervos. Nem li o raio do livro e TIRA-ME DO SÉRIO!!! *GRITA*

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    1. OMG, que ódio ao Jem. xD Lê o livro, que não é assim tão mau. Sim, o fim é irritante por causa de inclinar a Tessa mais para o Jem, mas da maneira como a Cassandra escreve, acho que isso só pode querer dizer que o terceiro livro vai na direcção contrária e a Tessa acaba com o Will.

      Duvido muito que o Jem saiba dos sentimentos entre o Will e a Tessa, ele é um bocado alheado, não sei como é que é Caçador de Sombras. :S Mas acho que ele vai fazer o que pedes quando descobrir, e juntar a Tessa e o Will, e ainda dar-lhes a bênção com o seu último suspiro. xD

      Damn, o raio do livro deixou-me mesmo animada, apesar do drama, porque me convenceu que vai acontecer tudo no terceiro livro como eu queria. Até estou a considerar ler em inglês e tudo. Mas depois se estiver errada dava-me uma coisa, por isso não sei... :P

      Entretanto vi por aí uma teoria sobre como o Jem seria o Zacariah, e o Will o Jeremiah. Parabatai até como Irmãos Silenciosos e tal. Não seria descabido, o Jem fa-lo-ia depois/no Clockwork Princess para se salvar, e o Will quando começasse a ficar mais velho e a Tessa continuasse na mesma.

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    2. Isto é culpa de todos os triângulos amorosos acumulados na minha cabeça, parece que cheguei ao limite, não aguento mais!!! aaaaaaaaaaaaaaaaahhhh

      Oh noes!! não não!!! não quero o Will um Silent Brother!! não!!


      Não, não o consigo ler sem saber antes como acaba o próximo livro, não consigo, vai-me dar cabo dos nervos, não consigo. A Cassie é outra que me deixa psicologicamente exausta.

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    3. *hugs jen* Pronto, pronto, são uma tortura, os triângulos amorosos, eu sei. Este é um caso de expectativas a mais que dão cabo da leitura. Damn you, Cassandra. É um efeito secundário interessante da escrita dela, matar-nos a vontade de a continuar a ler. :/

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  2. Ai que filmes que tu fazes Catarina! *God!* Tu estás a ler e estás sempre a imaginar finais para o que estás a ler, não estás?

    Vou ser sincera, li "Anjo Mecânico" recentemente e fiquei um pouco desiludida, mas acho que em parte isto se deve a já ter lido 5 livros dos Caçadores de Sombras.

    Não gostei particularmente de Will (deveria?) e Jem não me atraiu de todo (os personagens interagem de acordo com a época mas depois não dialogam nem pensam de acordo com a mesma... confuso?). No entanto acho o enredo muito original e por isso vou ler este de certeza.

    **

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    1. Bem, estou realmente numa fase em que analiso com mais atenção o livro, a sua estrutura, e o modo como os autores escrevem... não é com todos, mas há alguns que me põem assim, a pensar furiosamente no que vai acontecer. Aqui a Cassandra lembra-me dos tempos de Harry Potter antes de cada um dos últimos livros sair, com as pessoas a fazerem teorias malucas a toda a hora. xD

      Bem, talvez já estejas um bocadinho cansada do tipo de livro... eu preferia que ela não tivesse escrito o 4º, 5º e 6º dos Instrumentos Mortais, acho que causam alguma saturação, especialmente se só leste o Anjo Mecânico depois deles.

      Não, porque o Will tem um comportamento horrendo no primeiro livro, mas que hei de fazer, tenho um fraquinho por personagens torturadinhos. xD Acho que ele se redime um bocadinho neste, e espero continuar a ver essa evolução no terceiro. O Jem não achei nada de especial no primeiro também... como referes, o grande forte do Anjo Mecânico é a história e o ambiente. Este é mais pesado no drama amoroso, mas se fores lê-lo na desportiva corre melhor. ;)

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  3. Eu quero acreditar que gostei tanto d’ O Anjo Mecânico precisamente por não ter lido nenhum dos outros cinco livros da autora, e tal por isso, encontrei neste “as paixões” que muitos leitores encontraram na outra trilogia (?). Não gostei lá muito do Will mas adorei o Jem e não gosto nada dessas previsões, Maria Catarina! xD Estou é com algum receio de iniciar a leitura, por achar que não me recordo de assim tanto do livro anterior. Já lá vai um tempinho jeitoso...

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    1. Na minha opinião a primeira trilogia dos Instrumentos Mortais também é apaixonante, é a "segunda" trilogia que estraga um bocadinho a coisa. De qualquer modo gosto um bocadinho mais desta, porque as capacidades da autora estão em alta, e gosto mais da história e do cenário.

      Lol, é verdade, o Jem é bem mais simpático que o Will, mas tenho um fraquinho pelos torturadinhos, o que se há de fazer. E tenho a sensação que a Cassandra também, daí as minhas previsões... Tenho pena, mas não vejo como é que vão conseguir salvar o Jem, só tirando um milagre do chapéu.

      Também li o Anjo Mecânico há imenso tempo, mas acho que este faz um bom trabalho de relembrar aqueles pequenos pormenores nas primeiras páginas, e não tive dificuldade em voltar à história. ;)

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