sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma imagem vale mil palavras: Emma (1996, filme)

Sim, a adaptação cinematográfica com a Gwyneth Paltrow. O que é que passava com as pessoas nos anos 90 e a sua obsessão com este livro de Jane Austen? Só em dois anos saíram três adaptações - esta, a da Kate Beckinsale, e a adaptação moderna com a Alicia Silverstone -, e duas delas no mesmo ano.

Bem, focando-me nesta adaptação... em certos há qualquer coisa de teatral nela, em muitos dos actores, como se as pessoas se estivessem a esforçar demasiado. Falha em compreender alguns aspectos da história, e tenta explorar demasiado o ângulo da comédia romântica, mas também acerta nalgumas coisas, felizmente.

Gosto de ver o par de protagonistas. Acho que o Jeremy Northam faz um Mr. Knightley charmoso, que mantém uma relação amigável e fraterna com a Emma, mas que passa o tempo todo a olhar embevecido para ela. Gosto de como ele lhe dá a "descasca" em Box Hill, mas depois tinham de ir e dar cabo da cena em que ele se declara, que não tem nada a ver com o livro e lhe tira o encanto.

Gosto de como eles se separam, após Box Hill, em bons termos, com o Mr. Knightley a ver a Emma a tentar corrigir o seu comportamento. Mas não sei se gosto da Emma da Gwyneth. Acho que ela lhe dá um ar de malícia, de hipocrisia, de maldade que nunca encontrei na personagem ao ler o livro. O seu comportamento sem noção de certas coisas até se encaixa com a Emma que conheço, mas alguns requintes de malvadez no seu comportamento são incomportáveis com o comportamento dela ao ajudar os pobres, por exemplo.

A actriz que fez de Miss Bates era muito divertida, e ri-me também à custa da Mrs. Elton ("os meus amigos diriam que..."). Mas a Jane Fairfax pareceu-me mal escolhida, a actriz não emana nada o ar reservado que atribuo à personagem. A Toni Colette capta bem a ineptitude da Harriet Smith, mas tem um perfil demasiado prominente para o ratinho que a Harriet é no meio daquela gente. Acho a cena com a declaração do Mr. Elton tão divertida pelo mudar de lugares que ocorre dentro da carruagem (o condutor ainda pensava que estava a acontecer algo menos próprio lá dentro, ehehe).

As cenas com o Frank Churchill são ridículas, mas não tanto por culpa do actor (Ewan McGregor, de quem até gosto), mais por culpa do argumento e da montagem - então ele acaba de conhecer a Emma e põe-se a inventar uma história ridícula sobre a Jane Fairfax e o Mr. Dixon? Com uns pormenores tirados não sei de onde (do livro não é) - o Frank do livro insinua a situação, não se põe a fazer um filme de 90 minutos sobre a mesma.

Ri-me um bocado com as cenas em que a Emma se apercebe que está apaixonada pelo Mr. Knightley, quando escreve no diário, e à noite, quando está a suspirar por ele. Ou quando confia na Mrs. Weston e lhe conta os seus sentimentos, e passa metade da cena a inventar cenários para quando o Mr. Knightley voltar.

Não sei, acho que o grande problema do filme é a montagem e o argumento, e a má compreensão da história. Tentaram Hollywoodizar certas coisas, e resultou num filme pior por causa disso. Tem coisas boas, mas até nessas eu dou por mim a suspirar e a pensar que prefiro a mini-série de 2009, que é fiel à obra e a compreende melhor. Gosto muito da cumplicidade entre a Emma e o Mr. Knightley nessa adaptação, da maneira como a Romola Garai e o Jonny Lee Miller interpretaram os respectivos personagens, e o elenco agrada-me mais e é menos artificial. Adoro aquelas pequenas coisas entre os actores que é possível ver na série, e fez-me ver a história como é e ao mesmo tempo sob uma nova luz, sugerindo aspectos em que não tinha pensado. Em suma, vão lá ver a série e ignorem este filme, que tem os seus momentos mas fica aquém para quem já viu a série.

6 comentários:

  1. Eu vi este filme depois de ter lido o livro, há uns anos, e preferi-o ao livro. Mas vai daí sempre achei que ler o livro numa maratona Jane Austen não terá sido o melhor, as histórias acabam por ser muito parecidas, tal como a crítica social. Mas entre o filme e a mini-série, sim sem dúvida de que a segunda é melhor. Também achei a Romola mais como a Emma que imaginava e tem uma grande química com o Jonny. O Jeremy Northam é um bom Knightley, mas tendo visto este filme depois do Possessão, não conseguia afastar a imagem do Randolph Henry Ash. :/

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    1. Pois, e a Emma não é a heroína mais fácil de se gostar, por isso imagino que numa maratona Austen se perca no meio das outras. :/

      Vi este filme há que tempos, e pelo que me lembrava, até gostava dele, mas como agora já vi a série umas vezes, consegui passar grande parte da visualização do filme a pensar "hmm gosto mais disto na série"; "ai, na série isto está mais bem feito", "Romola, Jonny, voltem, por favor, que eu tenho muitas saudades!!!", etc... xD

      Ohhh, ando há tanto tempo para ver o Persuasão, shame on me.

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    2. Eu aconselho o Persuasão com o Ciáran Hinds mas estava mesmo a falar em Possessão, este filme aqui LOL Por acaso tem também a Gwyneth Paltrow e tem a Liz Bennet da série P&P de 1995. :D

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    3. Ups, shame on me, estava a pensar no filme correcto, mas saiu-me o nome errado. Raios das palavras que são demasiado parecidas e o meu cérebro já confunde tudo a esta hora. xD Queria mesmo era dizer o Possessão.

      Mas essa versão do Persuasão está mesmo a perfilar-se para uma "re-visualização", porque é outro que eu vi há taaaanto tempo que já me devo ter esquecido de tudo. xP

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  2. Vale a pena ver. Mas sim, também prefiro a versão com a Romola, assim como o Mr Knightley do Jonny, só porque ele é mais descontraído, humilde e friendly, o Knightley do Northam é assim um bocado... I know it all, stiff. Claro que ele pode não ter culpa, às tantas o script pedia isso.

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    1. Eu fiquei um bocado desapontada com esta visualização, do que me lembrava tinha achado o filme melhor do que achei agora. :/ Vê-se, mas perde na comparação.

      Ei, eu gostei do Mr. Knightley do Northam. Tinha muitas vezes um ar todo caidinho ao olhar para a Emma que era mesmo divertido de ver. :D E ri-me com aquela cena do tiro ao arco. ("Vê lá se não me matas os cães." xD)

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