terça-feira, 5 de março de 2013

Unravel Me, Tahereh Mafi


Opinião: Bem, não admira que este livro esteja a gerar todo um burburinho entre os fãs da série. Se há coisa que a Tahereh Mafi soube aqui fazer, foi atirar-me com bomba atrás de bomba até eu dar por mim completamente exausta... que montanha-russa de emoções. A sua escrita ajuda à festa, poética e dada a tangentes, mas até gosto dela - porque o objectivo é mostrar uma narração stream of consciousness, e neste livro parece que estamos literalmente dentro da cabeça da Juliette, por vezes a acompanhar tudo o que lhe passa pela cabeça, e a forma lírica é uma maneira cativante de exprimir pensamentos em palavras.

Pode não ser consensual, mas acho que mostra um jeitinho pouco usual com as palavras. O uso da linguagem poética, das tangentes e das frases riscadas estava em alta no início do primeiro livro, Shatter Me, para mostrar o estado de quase-loucura da Juliette, e ela conseguiu ir diminuindo estes artifícios ao longo do livro, para mostrar a reintegração da protagonista na sociedade e a recuperação da sua sanidade. Aqui a Juliette recai nestes artifícios quando está perturbada ou introspectiva, por isso é um toque pessoal dado a este tipo de narrativa.

A Juliette tem uma evolução interessante ao longo do livro. No fim do outro parecia que ela estava a ficar mais forte e corajosa, mas aqui, pelas características do seu poder e pelo facto de estar rodeada de estranhos retrai-se novamente. Quase a um ponto que se torna irritante, na verdade, mas também é curioso ver os bloqueios mentais que ela tem associados ao seu poder. A sua falta de auto-aceitação leva a uma falta de controlo sobre o seu poder, e é quando ela desliga a mentalidade "tenho de ser uma melhor pessoa, o meu poder torna-me um monstro" que finalmente evolui para alguém melhor.

Parte desse bloqueio tem a ver com o Adam. A Juliette está demasiado preocupada em ser uma boa pessoa por causa dele, pelo medo de o magoar com o seu poder, e isso fá-la retrair, passado a primeira parte do livro completamente dividida entre a paixão por ele e a necessidade de o proteger. Não fui a maior fã deles no outro livro, soaram-me demasiado a paixão e atracção instantânea, e gostava de os ver evoluir disso. Aqui partilham umas cenas torturadas em que a Juliette reconhece que não quer magoar o Adam e se afasta, mas continuam a lançar olhares ardentes um ao outro, por isso ainda não é desta. Quero vê-los a serem parceiros iguais que se apoiam mutuamente, e que não têm medo de confiar no outro (estou a olhar para ti, Juliette).

Quanto ao Warner... eu previa que a evolução dele fosse neste sentido, mas mesmo assim, fiquei impressionada. Oh, continuo a achar que ele é um psicopata de primeira apanha, mas as cenas dele com a Juliette foram muito... absorventes (e o nome verdadeiro dele é muito melhor). Acho curioso que ela se deixe ser ela própria só com ele, porque acha que pode dizer-lhe qualquer coisa que ele não vai ficar chocado com os pensamentos mais negros dela. Em certa medida, seriam perfeitos um para o outro - são ambos meio doidinhos, com um lado negro, têm uma paixão por ler e pelas palavras, e têm alma de poetas (as coisas que o Warner lhe diz no infame Capítulo 62... e as coisas que faz também xD) - mas enquanto ele não se arrepender e tiver vontade de se redimir do que fez, não posso torcer por ele. A boa vontade dele é toda para a Juliette (apesar de talvez não o ser... estou intrigada com a cena do cão e com a relação dele com a mãe) e acha que não pode mudar. Gostava de o ver enganado. (Se não mudar, vejo no seu futuro um fim trágico qualquer. Não acho que possa ser de outra maneira.) Fascina-me a sua devoção/obsessão à Juliette, e quem sabe esta não será o motor de mudança. Estive a pensar e ele lembra-me o Klaus na série The Vampire Diaries.

E tudo isto para chegar à conclusão que não torço por nenhuma das equipas. A relação da Juliette com cada rapaz é demasiado desequilibrada ou disfuncional. Mas poderia dizer que torço pelo Kenji. A Juliette não tem uma relação amorosa com ele, nem nada que se pareça, mas é um dos personagens que brilha na história. Só por revirar os olhos cada vez que a Juliette e o Adam faziam olhinhos um ao outro, ou por a obrigar a deixar de ter pena dela e fazê-la sair do cantinho dela já merece o céu. As coisas que lhe saem da boca são tão engraçadas. E tem também um lado mais sério e responsável, já que é uma das pessoas mais respeitadas em Omega Point. Também adorei ver o irmãozinho do Adam, o James, porque nas poucas cenas em que aparece ele rouba-as todas.

Agradou-me explorar melhor Omega Point, o refúgio das pessoas com poderes neste mundo, e conhecer os seus moradores. Quando finalmente a Juliette sai da casca e se deixa mostrar, faz amizade com alguns personagens que gostava de conhecer melhor. A minha preocupação com Omega Point é que me parecem demasiado poucos, e fico com a sensação que não vão conseguir trazer a mudança que querem. O final deixa o futuro de todos em aberto, e pergunto-me o que será de muita desta gente. A parte distópica da história é única no sentido em que a Juliette se lembra de um antes, ou seja, o The Reestablishment (o governo) instalou-se no poder há pouco tempo, aproveitando para se impôr graças a um evento cataclísmico que levou ao caos e a um cenário pós-apocalíptico. Possivelmente será por isso que vão cair mais facilmente.

A história é mais lenta no início, devido ao modo autocomiseração da Juliette, mas assim que ela ganha confiança, as coisas arrancam e ganham interesse. Vibrei com o primeiro encontro dela com o Anderson (o pai do Warner e o chefe máximo do Reestablishment), e estava mesmo à espera que ele não saísse dali vivo. (Pensando bem, o segundo encontro também foi intenso.) O homem é mal puro, bolas. Até tenho medo de descobrir pormenores de como é que ele criou o Warner... aquilo que sabemos já é suficientemente arrepiante. Durante o livro são desenvolvidos alguns twists muito bons, e vale a pena ler para ficar de boca aberta quando lhes chegarmos.

Depois desta conversa toda, vale a pena ler a série? Eu diria que sim. Algo que me faça escrever tanto (mais de 1000 palavras!) não vai deixar ninguém indiferente. A Tahereh Mafi toma algumas opções arriscadas na sua história, mas que têm êxito, e gosto da sua escrita. Vou aguardar o terceiro livro com muita expectativa.

Páginas: 480

Editora: Harper (HarperCollins)

6 comentários:

  1. Não conhecia e fiquei muito curiosa! Ah! Porque é que não arrisco a ler em inglês? =\

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    1. Arrisca-te. ;) Podias começar a ler em inglês com um livro que conheças bem, um que tenhas lido várias vezes, a ver se te ajeitas. E a partir daí, se vires que te sentes à vontade em inglês, há muita coisa por onde escolher... este tem apenas o senão de a autora escrever de um modo pouco habitual, mas acho que é acessível - primeiro estranha-se, depois entranha-se. ;)

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    1. Boa! Espero que gostes. ;) Sempre quero ver o que dizes da maneira peculiar que a autora usa para escrever...

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    2. Estou morta por ver o que é isso, toda a gente fala da escrita meia estranha desta série.

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    3. O que hei de dizer? É mesmo estranha, mas depois uma pessoa habitua-se. ;)

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