quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick


Opinião: Este foi uma leitura estranha e confusa, e a opinião daí resultante vai provavelmente também assim ser. Talvez curta. (Não prometo nada.) E qual foi o problema? O problema foi que embora a nível intelectual o livro seja muito rico, a nível emocional é tão seco, sendo incapaz de me transmitir algo. Acabou por se tornar uma leitura algo difícil, porque eu passei a leitura toda à espera que se fizesse um "clique", e a ser constantemente desapontada.

Não gostei da escrita. Achei-a aborrecida e pouco cativante. Dificultou-me a entrada na história e não me deixou enredar no decorrer dos acontecimentos. Além disso, contribui para que a caracterização dos personagens não seja grande coisa, no geral. Quero dizer, há momentos altos no percurso dos personagens que gostaria de louvar (adorei ver a evolução do Robert Childan, desde a sua subserviência aos japoneses, até ao seu momento de revelação e revolução contra essa atitude), mas no geral não houve um personagem que se destacasse e me mantivesse interessada na sua história.

Sinto ainda que o autor tinha estranhos momentos em que pouco revelava e deixava tudo pelas meias palavras, deixando-nos adivinhar o resto, mas depois logo a seguir punha coisas na boca dos personagens que me pareciam coisas que ambos os intervenientes da conversa sabiam, e que só estavam a dizer para benefício do leitor (eu) *cof*info-dump*cof*.

Agora sobre as coisas que gostei... O worldbuilding. Que é muito bom. Infelizmente isso não é o suficiente para salvar o livro, mas anda lá perto. Adoro a noção de história alternativa, e gosto muito de vislumbrar este mundo em que o Eixo ganhou a 2ª Grande Guerra, e os alemães e os japoneses dividiram o mundo ao meio. (Mais ou menos.)

É fascinante descobrir os pequenos pormenores que compõem este mundo. Há coisas ridículas (ainda estou a tentar perceber a lógica do I Ching, que é chinês e não japonês, e o modo como foi miraculosamente e rapidamente adoptado nesta nova ordem mundial). Mas há muitas outras coisas que compensam. O conceito de falsificação, original e historicidade, presente no enredo dos artefactos. Adorei a conversa do senhor Wyndam-Matson sobre o seu querido isqueiro e como tinha um certificado de historicidade. (Que não podia ter sido falsificado, nem nada.) E o tema das falsificações e do que é real e original acaba por repetir-se ao longo do livro. Com uma falsificação a funcionar melhor que o original (a do senhor Tagomi) ou as jóias originais (do Frank e do Ed) a cativarem o seu público mais que as antiguidades.

Gosto muito também do livro-dentro-do-livro, O Gafanhoto Será um Fardo, que preconiza neste mundo que afinal o Eixo perdeu. É uma ideia tão boa, e apreciei quaisquer pormenores dados sobre a narrativa. Só achei que seria mais perfeito se os acontecimentos n'O Gafanhoto fossem mais semelhantes, senão iguais, aos do nosso mundo. Acho que encaixaria melhor com a noção de realidade vs. falsidade que o autor estava a tentar estabelecer.

Sobre o final... aprecio o que o autor estava a tentar transmitir. Mas achei-o fraquinho. Quero dizer, é feita ali uma revelação grandiosa, e a reacção a, e tom da mesma, são tão mortos. Estava à espera dum final fortíssimo, um grande mind-fuck ao estilo Inception... e tudo o que parece acontecer é uma morte prematura da história. As coisas ficam muito em aberto, quase a meio. Não há uma resolução concreta para os personagens. Parece que o autor simplesmente se cansou de escrever, e decidiu que pronto, isso fazia daquilo o fim.

Enfim... voltando a repetir-me, o worldbuilding e os conceitos por trás da história são fantásticos. Foram o ponto alto da história. Não se pode é esperar que salvem o livro. A escrita, os personagens, e o modo como a história é desenvolvida têm de valer por si. E aqui, não me convenceram.

Uma última nota para o ensaio de Nuno Rogeiro, que me pareceu muito bom. Apenas não consegui usufruir muito dele, pois parece ser mais virado para quem conhece a obra do autor, o que não é o meu caso.

Título original: The Man in the High Castle (1962)

Páginas: 288

Editora: Saída de Emergência

Tradução: David Soares

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