segunda-feira, 10 de março de 2014

Cress, Marissa Meyer


Opinião: Li este livro há quase um mês e tem sido tão, mas tão difícil conjurar as palavras para escrever uma opinião. A este ponto da série, não consigo ser imparcial, e pior, a perspectiva de ter de dizer o que achei do livro faz de mim uma tontinha balbuciante. Porque como, exactamente, é que vou começar a enumerar as coisas que gostei, se para mim toda a leitura foi uma viagem fabulosa?

Acho que Cress marca um bocadinho pela evolução da autora e pelo amadurecimento do seu trabalho. Pois se isto fosse uma trilogia (não é), Cress seria claramente o segundo livro, aquele em que imensas coisas acontecem, os personagens são movidos como peças de xadrez para chegarem ao ponto em que são necessários para o xeque mate grande final, mas a história principal ainda está longe do clímax.

No entanto, a autora consegue manobrar o enredo e os personagens de modo mais habilidoso que em Scarlet, lidando muito melhor com a quantidade crescente de POVs e de acção em várias frentes, e criando de certo modo uma história mais coesa. Não que o livro anterior não tenha sido bom, mas suponho que se pode dizer que sofreu com a inexperiência da autora, coisa que já não se verifica aqui.

Cress segue as linhas gerais da história da Rapunzel, colocando a personagem titular fechada num satélite, sozinha. Felizmente para ela, cruza-se com o grupo de personagens que já conhecemos dos livros anteriores, e que encetam uma operação de salvamento para a ajudar. As coisas não correm muito bem, e todo o grupo é separado, resultando o resto da narrativa na tentativa de se juntarem novamente.

Gostei tanto da Cress. Tendo vivido grande parte da vida fechada e sozinha, é, naturalmente, bastante ingénua, mas tem um lado sonhador e aventureiro que me agradou. Achei piada ao facto de ela sonhar com a vida para além do satélite, tornando-se numa pirata ou aventureira ou princesa. E também à reacção dela quando finalmente se vê na Terra, que nunca conheceu. Até um deserto tem tanto para lhe dar. Gosto que nunca perca essa qualidade de surpresa e espanto que tem, porque é o que faz dela uma personagem tão interessante.

Antes de conhecer o Capitão Thorne, a Cress já tem a modos que uma paixoneta por ele, o que é eternecedor, mas também uma opção curiosa da autora. Permite desconstruir a personagem do Thorne e permite-o evoluir aos olhos dela e aos nossos. Uma personagem pessoa não tem que ser perfeita para gostarmos dela, e neste caso as aventuras que têm juntos esclarece-os acerca da personalidade um do outro, mas também os aproxima por causa disso. E a parte final da história deles... tão gira. Algo incompleta (coisa que imagino que a autora corrija no próximo livro), mas gira.

Sobre a Scarlet e o Wolf, bem, não posso comentar muito sem spoilar, mas a parte deles da história aperta-me o coração. Do ponto de vista da escritora, é uma bela opção, especialmente para lidar com a quantidade crescente de POVs. Mas do ponto de vista de leitora, espero que a situação se resolva o mais depressa possível, que o meu coração não aguenta ver o Wolf tão em baixo.

Sobre a Cinder e o Kai, eu provavelmente devia citar a Iko - "Isto é melhor do que uma telenovela!" - e pirar-me, que de resto vai ser complicado comentar. Mas não resisto. O percurso que ambos fazem é muito interessante, culminando num evento arriscado, mas estranhamente com alguma piada. E temos direito a uma cena bem gira mais lá para o fim com os dois, em que fica claro uma coisa importante que têm em comum - a responsabilidade e o que fazer com ela. A Cinder, particularmente, debateu-se com este ponto durante o livro, e acho que o fim a pôs um passo mais perto de aceitar que tem de fazer as coisas que precisam de ser feitas.

Tenho de mencionar alguns personagens secundários, que bem o merecem. Primeiro a Iko, que continua divertida como tudo, com aquela grande paixoneta pelo Kai, e que passa merecidamente a um novo... estado. É claro que a Marissa Meyer tinha de ser má e pôr esse novo estado num ponto tremido, mas acredito que tudo se resolva pelo melhor. Depois o Dr. Erland, que volta a ter um papel importante no curso dos acontecimentos. Entristece-me pensar no que ele passou desde os seus tempos em Luna, e em como se debateu com o seu papel no desenrolar de muitos dos acontecimentos no passado e presente da tetralogia.

Depois a autora aproveitou para nos apresentar dois novos personagens, e aqueles que serão os protagonistas do último livro, Winter. Um é a personagem titular desse livro, Winter, que se perfila idealmente para o papel de Branca de Neve, o conto que o último livro pretende recontar. O outro personagem é o par dela, sobre o qual não posso comentar muito, apenas que achei piada ao seu sentido de humor e em como se integrou na "equipa Cinder".

Sou fã da maneira como a autora costuma recriar os momentos-chave dos contos na sua história, e aqui não foi excepção. Por um lado, temos todos os pontos altos da história da Rapunzel - a torre, o deserto, a cegueira (a autora fez uma coisa bem boa com este ponto), e até as "lágrimas curativas". Apenas este último momento ficou um pouco irresolvido, ou melhor, não o vemos ter a sua conclusão natural. Suponho que a autora o esteja a guardar para o último livro.

Por outro, a apresentação dos protagonistas do próximo livro foi tão bem feita, e duma maneira que encaixa tão bem com o conto da Branca de Neve que só me faltou dar pulinhos de alegria. O momento em que reconheci o (presumido) protagonista masculino de Winter foi assim um daqueles momentos "Eureka!", só comparável a quando reconheci o momento "Avó, que boca tão grande tens" do Scarlet. Já a Winter está numa posição em tudo reminiscente da Branca de Neve no início do conto (talvez com um pequeno twist retorcido), por isso até tenho medo de tentar adivinhar o que é que a autora tem preparado para o último livro. (Mas quero tanto ver a cena da maçã envenenada. Tenho a certeza que a autora lhe vai dar uma bela reviravolta.)

Acho que não posso dar a opinião por terminada sem mencionar aquela que acaba por ser o motor principal da história, aquela que adoro odiar, a vilã rainha Levana. Uma megera tão megera que até as megeras têm medo dela. A extensão da sua maldade e calculismo não têm mesmo limites. E eu odeio-a. Mas sem ela não havia história, por isso... e bem, ela tem sido muito esperta nas suas tramóias, por isso estou com vontade de a ver tropeçar.

Por outro lado, estou com muita curiosidade em ver como a hostilidade entre terrestres e lunares vai ser resolvida. Ou melhor, eu sei que vai ser difícil. Tenho boas razões para querer ver isto resolvido *cof*Cinder e Kai*cof*, mas também tenho em mente que uma mudança súbita de mentalidade dos dois povos em relação à sua inimizade é completamente irrealista... sei lá, espero que a autora possa encontrar um meio termo.

E pronto, termino a opinião em completa negação, porque simplesmente recuso-me a acreditar que faltam 11 meses para eu poder ler o fim desta história. Vou *tentar* não morrer de impaciência até lá. (Não prometo nada.)

Páginas: 560

Editora: Feiwel and Friends (MacMillan)

7 comentários:

  1. Woooooooooooooooooooooowwww *.*

    Valeu a pena o tempo que demoraste para escrever esta opinião, está brutal!=D

    Sua torturosa, como é que vou aguentar esperar por este lindo, como??;_;

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    1. Obrigada! :D

      Oh, nem sei que te diga, mas olha que vai valer a pena esperar. ;)

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  2. BEM. ESTE LIVRO. *-* Quando eu acho que esta série não pode ficar melhor... quer dizer, o Scarlet continua a ser o meu favorito mas este foi assim uma coisa. Que sofrimento! Estava tudo tão bem e de súbito ali a partir das cento e tal páginas, oh meu Deus, SOCORRO. Só me dá na alma a Scarlet. Aquela parte com ela a ser torturada por aquele miudo e depois pelas outras duas... O HORROR. Vou andar de coração apertado até o Winter. :'(

    A Cress e o Thorne são de rir. Ainda no outro dia estava a falar com uma pessoa sobre estes dois e chegamos à conclusão que queremos o Thorne de joelhos a suplicar pelo amor da Cress. xD

    Tendo em conta que a Marissa ainda tem de juntar a Scarlet e o Wolf outra vez, fazer com que o Thorne "acorde" e se aperceba que ama a Cress loucamente, e o novo casal, Winter e Jacin, que parece ser um osso duro de roer (ele é assim um bocado para o asshole não é? mas torna-se engraçado), acho que o Winter vai ter prai 800 páginas (quem nos dera!) xD

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    1. A Marissa é tão, tão má para nós! Este livro foi cheio de drama, e o da Scarlet/Wolf foi dos piores, pobrezinhos...

      Ohhh, eu estou contigo, acho que o Thorne ainda vai ter que penar muito com a Cress... ou assim o espero. Achei tanta piada quando ele estava lá para o fim a falar com a Cress e a dizer que "não saberia o que era verdadeiro amor nem que ..." o estivesse a olhar na cara, que foi o que ele não disse. É tão engraçado, tanto porque ele não pode ver, como porque acho que se está a aperceber de quão awesome a Cress é. Tão giros. :D

      O Jacin tem um bocadinho de feitio, mas acho que acaba por se integrar na equipa, o que acho piada. A equipa junta tanta gente diferente, é tão divertido. :)

      Olha que não discordo, os livros têm vindo a ficar maiores com o avanço da história, o Cress é gigante... :D

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    2. Muito má. E eu feita parva a pensar que a Scarlet e o Wolf já estavam arrumados. Pois sim!
      Espero que ela os junte na parte inicial do livro pelo menos, que é para a gente não sofrer muito. :(
      Já estou a imaginar o Wolf a por os pés em Luna e a desatar a snifar pelas ruas fora, os outros nunca mais o apanham xD

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  3. Oh pá! Eu não devia ter lido isto! Agora quero o livro nas minhas mãos e quero já! Estou ansiosa para conhecer a Cress.

    Aproveito ainda para dizer que te indiquei para uma TAG: http://umabibliotecaemconstrucao.blogspot.pt/2014/03/tag-breaking-spine.html

    *

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    1. Ehehe, obrigada, fico contente por saber que a minha opinião te atiçou a curiosidade. :D Ouvi dizer que a Planeta talvez o pudesse publicar nos próximos meses, quem sabe... ;)

      Obrigada por pensares em mim! :D É uma TAG engraçada. ;)

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