terça-feira, 30 de setembro de 2014

Este mês em leituras: Setembro 2014

E com o fim de Setembro começamos a entrar no Outono, ainda que o clima ainda não se tenha apercebido disso. Lá se vão as tardes soalheiras de leitura, mas venham as tardes chuvosas de leitura, que eu também gosto delas. (Ou de qualquer altura em que eu consiga um tempinho para ler.)

Em Setembro, encontrei bons livros, e alguns mesmo fantásticos. Mas assumo que fui algo ambiciosa o mês passado, nem todos os livros do "A ler brevemente" me chegaram, nem eu tive tempo de ler alguns dos que chegaram de facto. Quero corrigir isso em Outubro, porque algumas destas leituras prometem.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Isla and the Happily Ever After, Stephanie Perkins - um livro há muito esperado, é um volume um pouco diferente dos anteriores da série, mas está escrito duma maneira que fez uma certa ressonância emocional comigo, por isso não pude evitar adorar a leitura e os protagonistas, Isla e Josh;
  • Heir of Fire, Sarah J. Maas - esta série é brutal (no bom sentido), e tenho adorado seguir cada volume da mesma, porque a autora tem evoluído fantasticamente a nível de escrita, caracterização e worldbuilding, e porque é uma saga a que me liguei muito, emocional e intelectualmente;
  • Fun Home - Uma Tragicomédia Familiar, Alison Bechdel - normalmente não destaco banda desenhada, não porque não há livros que merecem destaque, mas sim porque nem sempre me sinto à vontade a avaliar BD, mas este merece, pela relação que tem com a ficção, pelas camadas de significado, e pela reflexão e caracterização dos personagens... nunca pensei que uma memória auto-biográfica fosse tão interessante;
  • Um Caso Perdido, Colleen Hoover - este é pelo factor viciante, que devorei o livro em menos de nada, pois a autora consegue escrever duma maneira tão cativante, caracterizando bem os seus personagens, e combinando um romance com alguns temas mais fortes, sem deixar de apresentar um todo muito interessante.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Os livros em inglês do mês. Dois muito esperados, Heir of Fire e Isla and the Happily Ever After, com os quais já me deliciei. Os da Meg Cabot são para o meu projecto de leitura que envolve os livros dela, e serão as leituras de Outubro. O Let It Snow e o Will Grayson, Will Grayson aproveitei para adquirir na Fnac, pois estavam a um bom preço, coisa que é raro nos livros em inglês com eles.

O Eternal Dawn eu nem me tinha dado conta que já tinha saído, mas como ando há uns bons anos para descobrir o final da história da Lenah, era um livro que tinha de vir cá para casa. Tenho admirado esta colecção em capa dura dos livros do Terry Pratchett, por isso quando pus os olhos na edição de The Colour of Magic, aproveitei. E para terminar, Afterworlds e Jackaby são dois livros que me suscitam muita curiosidade.

Os livros em português do mês. Continua a colecção Sherlock Holmes do jornal Público, e o livro seguinte da pilha pareceu-me bastante interessante, e estava a um preço jeitoso. O da Ally Carter (fico tão contente por estarem a publicar a série a bom ritmo, continuem, por favor) e Uma Semana para Te Amar (estou a gostar, as editoras portuguesas acordaram para o fenómeno New Adult, há que aproveitar) ficaram-me a custo zero, com descontos em cartão. Os últimos dois livros são do Círculo de Leitores, e fiquei muito feliz pela boa surpresa que foi o lançamento do sexto livro da série da Charley Davidson da autora Darynda Jones.

Estes não são aquisições, são um empréstimo, mas fica aqui um muito obrigada à Elphaba do blogue As Histórias de Elphaba pelo mesmo. :)

A banda desenhada do mês. Primeiro um par de revistas Disney, depois o livro mais recente de Bryan Lee O'Malley, Seconds. Gostei bastante do trabalho dele na série Scott Pilgrim, por isso estou curiosa para ver o que vai sair daqui. Os três livros seguintes são Batgirl: The Darkest Reflection, Wolverine and the X-Men by Jason Aaron volume 5 e Hawkeye: My Life as a Weapon. Estou a tentar apostar na banda desenhada e em ler algumas coisas que me deixam curiosa há que tempos.

(Ou no caso de Wolverine and the X-Men, seguia as histórias que eram publicadas nas revistas brasileiras da Panini, mas cortei com isso, que não há pachorra para ler aos bocados histórias que às vezes ficam incompletas por falta de importação de algumas revistas do Brasil; prefiro ler assim, vários números de seguida. Divertia-me imenso com as trapalhadas que vão acontecendo na escola para mutantes.)

De seguida, tenho as revistas Marvel da Panini em português, e a colecção Universo Marvel da Levoir/Público, mais os dois volume de Adèle Blanc-Séc que li este mês. E por fim, não é um livro, mas merece destaque: é uma revista intitulada 100 All-Time Greatest Comics, que me pareceu uma boa aquisição, no espírito de encontrar mais coisas que me chamem a atenção ou que não conheça, no que toca a banda desenhada. Até tive algumas boas surpresas, ao encontrar coisas já lidas na lista que consta desta revista.

A ler brevemente

Em banda desenhada, tenciono continuar a acompanhar a colecção Universo Marvel da Levoir/Público, aqui não representada porque tudo o que tenho da colecção já está lido, mas durante o mês de Outubro sairão mais alguns volumes da colecção. Também gostava de ler Seconds, e os três volumes ali na esquerda, Batgirl: The Darkest Reflection, Wolverine and the X-Men by Jason Aaron volume 5 e Hawkeye: My Life as a Weapon.

Para o meu projecto da Meg Cabot, tenciono ler o 5º e 6º livros da série Mediator, Haunted e Twilight. Tenho muita vontade de ler Jackaby e Quem Vê Caras, Não Vê Espiões, por isso é provável que comece o mês com eles. E possivelmente continuarei o mês com Afterworlds, Eternal Dawn ou Uma Semana para Te Amar. E por fim, espero receber (e atirar-me a eles assim que chegarem) Winterspell e Every Breath.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um Caso Perdido, Colleen Hoover


Opinião: Quase que sinto que devia fazer duas opiniões para este livro. A narração divide-se em duas partes que se complementam bastante bem, construindo um todo completamente devorável, mas ambas as partes têm um tom algo diferente, o que é surpreendente quando penso que ambas fazem parte da mesma história e que ambas contribuíram para o gozo que tirei da leitura.

A primeira parte - e vou ignorar o excerto que é inserido no início e que faz parte dum capítulo mais para a frente no livro, porque foi completamente inútil, não serviu para me atiçar a curiosidade, só me fez soltar um WTF? - apresenta-nos Sky Davis, uma jovem que até agora teve aulas em casa, numa existência algo reclusiva, sem acesso a tecnologias. Mas Sky cresceu feliz e passa parte do seu tempo com Six, a sua melhor amiga.

Sky convenceu finalmente a mãe, Karen, a fazer o 12º ano na escola secundária, para estar mais tempo com a Six, conviver com jovens da sua idade e fazer algumas actividades extracurriculares, mas Six troca-lhe as voltas e vai fazer um intercâmbio para Itália. Sky não se acobarda e continua determinada a ir para a escola, nem imaginando a reviravolta que a sua vida vai dar.

Entra em cena Dean Holder, um rapaz misterioso que a atrai muito, mas que lhe envia sinais mistos, e que desafia Sky como ela nunca tinha sido desafiada. E, pronto, esta parte dos inícios românticos do par é assim para o cliché. A Sky nunca se sentiu assim, ele é tão giro e misterioso e perigoso, uuhhh que bom.

Honestamente, ele emite uma vibe um bocado esquisita em certos momentos. Mais à frente vemos que há uma explicação razoável para o comportamento dele, mas a sério, a autora precisava de levar certas cenas e reacções a certos extremos? Podia perfeitamente atenuado a coisa e ainda assim dar pistas para a segunda parte da narrativa - aqui o problema, parece-me, é mais edição do que outra coisa.

Outra coisa singular é a declaração de Sky que, sim, se envolve com rapazes, mas nunca chegam a vias de facto, porque, não, ela não é uma galdéria. Vou dar-lhe um desconto, porque acho que isto é mais a Sky em modo auto-depreciativo a papaguear o que o resto da sociedade nos quer fazer acreditar... no entanto, preferia que a autora escolhesse outros modos de mostrar a auto-depreciação, porque a coisa é ambígua e não se percebe se está a validar esta falácia ou não. Vou também atribuir o problema a má edição, porque alguém com dois dedos de testa que fosse beta-reader dizia-lhe que isto era uma parvoíce. (O livro foi auto-publicado, originalmente.)

A piada da coisa é que... apesar dos clichés e dos revirares de olhos, o raio do livro devora-se enquanto o diabo esfrega o olho. Passei o último Domingo agarrada a ele, a virar páginas, a dizer para mim própria que tinha de continuar a ler, porque precisava mesmo de ver o que ia acontecer a seguir. A escrita da Colleen Hoover prende uma pessoa, e ela tem um modo de criar personagens vívidos e singulares, com pequenas características únicas. E apesar do início da relação da Sky e do Holder me fazer torcer o nariz, o resto foi absolutamente delicioso de seguir. A química está lá, as cenas íntimas são intensas, e dei por mim a torcer para que estes dois palermas se entendessem.

A segunda parte da narrativa é bem mais séria, e foi a minha favorita por causa disso. (Bem, está empatada com o desenvolver da relação da Sky e do Holder, suponho, que quando passou a parte inicial até foi bem divertida.) Não me posso alongar, porque parte da piada é descobrir aos poucos as coisas com os personagens... desconfiei quase desde o início qual era a "revelação" que vinha aí, mas isso não me estragou o gozo que tirei da leitura.

Posso dizer que gostei muito da descrição da situação e das repercussões que teve nos envolvidos. Achei realista e fez sentido com algumas singularidades dos personagens, para além de haver uma espécie de ressonância dos acontecimentos que acaba por ligar toda a gente mais do que se pensaria. E gosto que a autora tenha mostrado as nuances da situação, especialmente no fim. As coisas não são a preto e branco, e gostei de acompanhar o dilema moral apresentado com aquela situação final.

O elenco de personagens secundários traz algumas personalidades interessantes. A Karen, que é uma mulher mais forte e reservada do que se pensaria, mas que parece ter tido um percurso de vida interessante e duríssimo. A Six, que é uma doida no melhor dos sentidos, muito divertida, e uma óptima amiga para a Sky; e que mesmo não estando presente fisicamente, mantém a sua presença em espírito de modo muito resoluto. E o Breckin, que é o melhor tipo de nerd (livros), e o melhor tipo de amigo (oferece um e-reader à Sky, coisa que ela nem sabia bem o que era, graças a viver numa casa livre de tecnologia, mas na qual fica rapidamente viciada). Gostava que o Breckin tivesse um livro para ele. Sei que a Six teve direito a uma novela, por isso não é demais esperar pelo mesmo.

Acho que posso terminar dizendo que não era bem a história que estava à espera, mas que foi uma bela surpresa. Foi uma leitura mais leve e mais pesada do que pensava que ia ser, equilibrando os seus dois aspectos duma boa maneira. Posso dizer que a escrita da autora pegou em mim e arrastou-me ao longo de todo o livro, só me deixando respirar quando terminei; e fiquei com vontade de ler mais qualquer coisa dela.

Título original: Hopeless (2012)

Páginas: 352

Editora: Topseller

Tradução: Priscila Catão

domingo, 28 de setembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: The Maze Runner (2014)

Nem acredito que estou a dizer isto, mas o filme foi mesmo melhor que o livro. É raro, mas acontece, e este é um dos casos. Em geral, a adaptação cinematográfica de The Maze Runner foi uma experiência muitíssimo mais satisfatória que a leitura do livro, e conseguiu trabalhar melhor os aspectos que me irritaram (que ainda foram alguns), resultando numa história melhor contada. Portanto, cuidado, que este comentário vai ser dominado pelas comparações.

O filme mexe em imensos detalhes, rearranjando um pouco os eventos, mas as coisas principais estão lá, a sequência de acontecimentos cruciais estão lá. Aquilo que as mudanças permitem fazer é mexer no ritmo do enredo, que era um dos grandes problemas que eu tive com o livro. As coisas correm a um ritmo menos "caracolesco", mais adequado a uma história de acção. Enfim, há menos "enrolanço". E uma vantagem de se mexer nos detalhes é que puderam tirar aqueles aspectos que não fazem sentido nenhum, ou que não contribuem nada para a história. O filme ainda sofre um bocadinho da fraqueza narrativa do livro, porque é impossível corrigirem todos os problemas, mas em geral soube-me melhor, a história.

Esta mudança no ritmo, combinada com a falta da narrativa interna do Thomas, acaba por conferir uma maior tensão dramática aos acontecimentos, o que acaba por melhorar a história geral. Cheguei à conclusão que a narrativa do Thomas não ajuda nada. Para além de ser muito tell, pouco show, o Thomas pelas suas circunstâncias singulares, mesmo não se lembrando de nada, conhece o labirinto, e nada que aconteça o espanta ou assusta. Para mim leitora, foi difícil que os acontecimentos me surpreendessem ou assustassem por causa disso. O filme, ao afastar-se da cabeça do Thomas, foca a experiência no espectador, e foi muito mais fácil manter-me investida no desenrolar dos acontecimentos.

Continuam a usar a infantilidade das "palavras substitutas de asneiras", mas curiosamente usam-nas muito pouco, e depois mais à frente os personagens dizem uma ou outra asneira de viva voz, por isso: a) os produtores viram que isto era parvo ou b) esqueceram~se de continuar a usá-lo. De qualquer modo, não me posso queixar da inconsistência, porque foi uma das coisas mais patetas que encontrei no livro.

Como filme em geral, eu gostei do trabalho na acção e nos efeitos especiais, que ajudaram a que entrasse na história. Fiquei fascinada com o conceito diferente do labirinto, mas que resulta muito bem visualmente, e as cenas no labirinto não deixam de ser excitantes. (Algumas cenas na Clareira também estão à altura.) Os Magoadores são finalmente assutadores - é que o autor no livro fez-me imaginar uma lesma gosmenta que lançava uns espigões de vez em quando, e bem, isso não é propriamente assustador. A solução da produção do filme é bem melhor e mais interessante.

Entre o elenco, acho que não tenho queixas, os miúdos fizeram um bom trabalho a fazer-me acreditar na história, e encaixam bem no que imaginava. Tenho pena que o Chuck não tenha tanto destaque como no livro, porque as cenas dele acabam por não ter tanta ressonância emocional; mas o Gally está melhor. No livro o seu antagonismo é levado ao exagero, aqui é mais subtil, mas continua a fazer resultar o seu papel na história. A Teresa continua a ter pouca relevância, mas tem uma ou outra cenas bem giras, como aquela em que ela acorda e deixa os rapazes todos da Clareira a tentar perceber como hão de lidar com uma rapariga.

O Thomas tem um pouco menos aquela aura de "uh, ele é perfeito, sabe tudo sobre o labirinto", talvez porque não temos presente a narrativa do livro, que nos esfrega vezes de mais na cara esse aspecto. E o actor tornou bem mais fácil de acreditar nas emoções pelas quais o personagem estava a passar, ao ser exposto a uma miríade de situações (aparentemente) novas para ele, alguém sem memória e que acorda num sítio completamente novo e desconhecido...

E pronto, sendo o filme uma adaptação do livro, continua a revelar pouco, muito pouco sobre o mundo e os porquês de isto estar a acontecer, que foi uma coisa que me desapontou no livro. Das duas pessoas que foram comigo ver o filme, ambas não tinham lido o livro, e ambas também acharam isto algo frustrante. (Uma delas é a Patrícia do Chaise Longue, podem ler a sua opinião aqui.) E é pena, porque a premissa é super interessante e tem tanto potencial, mas a falta de revelações enfraquece-a.

Em suma, não fiquei lá muito bem impressionada com o James Dashner como escritor e contador de histórias, porque vendo o filme ainda fiquei mais ciente das fraquezas do livro. O filme não é perfeito, e sofre com alguns problemas narrativos, mas consegue melhorar a história e tornou-a numa melhor experiência para mim. Não garanto que toda a gente vá gostar, possivelmente quem não conhece a história pode ficar mais frustrado com ela, mas recomendaria mais facilmente o filme que o livro. Bem, de qualquer modo só com o livro eu ainda estava disposta a ler o segundo livro, precisamente por causa da falta de respostas quanto à premissa, mas o filme deixou-me bastante mais animada para o The Scorch Trials/Provas de Fogo.

sábado, 27 de setembro de 2014

Sexta Campa Além do Abismo, Darynda Jones


Opinião: Mal posso acreditar que já passou quase um ano desde que li o último livro da Darynda Jones. Desta vez não por engonhanço da editora, felizmente, apenas porque estavam à espera que o sexto livro da Charley Davidson saísse na edição original, em Maio. O que, pensando nisso, foi um trabalho bastante rápido, tendo em conta que já o tinham disponível na revista de Agosto do Círculo de Leitores. E nem me posso queixar que a rapidez tenha dado asneira... não notei propriamente erros de tradução ou revisão, por isso desta vez foi um trabalho bem feito.

Neste sexto volume da série, Charley não tem mãos a medir. Um idoso nu que não sabe dizer pelo que é que está à espera para partir, um fantasma no seu apartamento que deixa toda a gente nervosa, um cliente que vendeu a alma a um demónio num jogo de póker, um grupo de mafiosos que quer que Charley encontre alguém, uma mãe que desconfia que o seu filho ainda está entre nós, um pai com uma crise de meia-idade que diz que vai velejar, um tio e uma melhor amiga que não têm coragem para se convidar um ao outro para sair, um par de miúdos falta às aulas e o seu paradeiro está incerto, um novo demónio está no horizonte, e mais ameaças futuras revelam-se.

Que mais é que Charley podia pedir? Na verdade, a miríade de enredos que a autora envolve nos livros é uma das razões pelas quais eu gosto tanto da série. Normalmente, a Darynda Jones consegue equilibrar muito bem os vários fios do enredo e revelar as coisas no momento certo, intercalando muito bem os vários assuntos, nalguns casos resolvendo tudo no mesmo livro, noutros plantando as sementes para os próximos livros.

Achei bem interessante a razão pela qual o cliente do jogo de póker tinha vendido a alma. É algo até bastante valoroso e dá nuance à situação. A Charley é uma mole e está sempre a tentar salvar toda a gente, e por isso tenta ajudar este cliente mesmo com o potencial de perigo. O enredo do idoso nu também é engraçado, por causa das piadas inapropriadas que gera, mas também da razão pela qual ele estava à espera. (Teve uma história de vida bem gira.) O enredo do Angel, que tem vindo a ser exposto ao longo de vários livros, finalmente resolve-se, e é uma história bem comovente - gostei de como a senhora Garza lidou com a situação.

Ri-me tanto com o esquema que a Charley arranja para o tio ter ciúmes e finalmente convidar a Cookie para sair. Eu desconfiei logo como é que aquilo ia terminar, tendo em conta algumas reacções do tio, mas nem por isso deixei de me divertir com o resultado final. Também gostei muito dos pedaços com a Amber e o Quentin, que são uns miúdos adoráveis, e porque ficámos a ver o Quentin a tentar lidar com as suas capacidades. (E voltamos a ver as freiras, que se preocupam tanto com o miúdo, tão fofas!) Além disso, os miúdos são o mote para um pedaço de enredo mesmo triste, que lança a Charley noutra missão de salvamento, pela qual eu estava mesmo a torcer.

Acho que o enredo menos necessário era o dos mafiosos, mas sem uma situação que colocasse a Charley em perigo mortal, isto não era um livro das Campas, pois não? E permitiu voltar a ver a agente Carson, do FBI, que por outro lado já tinha dado um certo dossier de um certo caso à Charley, relacionado com alguém que ela conhece. E creio que a Charley, sem revelar muito, põe a agente Carson na pista correcta, por isso espero ver este ponto explorado no próximo livro.

Entre coisas que não ficaram resolvidas, temos o Mr. Wong, que uma série de gente anda a vê-lo e a ficar nervosa com o que vê dele, o que me deixa a mim nervosa só de pensar no que a Darynda tem em mente para ensarilhar ainda mais a Charley. (Ou então pode ser uma Chekov's gun, pronta para resolver algum problema mais tarde.) De qualquer modo, estou intrigada. Assim como gostava de saber o que é que o pai da Charley está a tramar... tendo em conta o que ele já fez, não me parece que seja propriamente coisa boa.

Gostei da introdução do Dealer, um antagonista cuja posição é ambígua, e que pode ou não vir a ser útil à Equipa Charley nas ameaças sobrenaturais vindouras. Parece-me um personagem interessante e com potencial. Falando nas ameaças vindouras, a mitologia da Ceifeira e dos problemas que esperam a Charley é algo desenvolvida neste volume, o que me deixa sempre um pouco nervosa. Tenho a sensação que se está a preparar tudo para este grande evento no futuro, e só espero mesmo que seja grandioso, e não desaponte.

Continuo a adorar o elenco de personagens secundários, que compõem um belo ramalhete, cheio de idiossincrasias próprias, sempre fantasticamente caracterizado, e que me diverte imenso. Não há personagem que eu não me divirta a seguir, e todos merecem um bónus por terem de aturar o humor pateta e por vezes inapropriado da Charley. É outra coisa em que a autora se tem especializado, trabalhar bem múltiplos personagens secundários com mestria.

Quanto à Charley... continua com o mesmo humor bizarro que me põe a rir que nem uma perdida, se bem que assumo que o humor dela não é para todos, é consumido melhor em pequenas doses, e que quem não a conhece há de ficar a olhar a tentar perceber o que lhe saiu da boca. Um gosto adquirido, portanto. Mas é tão divertida, e tão dedicada a ajudar tudo e todos, mesmo com prejuízo próprio.

Que é uma das coisas que o Reyes lhe aponta, e aqui tem mesmo razão. E por falar nele, estou a gostar finalmente mais do Reyes, porque finalmente percebeu que a melhor maneira de lidar com a Charley não é tentar pará-la ou esconder-lhe coisas, mas sim dar-lhe espaço e ajudar quando é necessário - o que acaba por ser mais frequente do que se esperaria. Diverti-me com a parte do enredo em que a Charley o fez sofrer um bocadinho no que toca a um certo assunto, mas o Reyes também aproveitou a situação para se meter com a Charley.

É satisfatório vê-los finalmente a encontrar um território comum enquanto casal (heh, tendo em conta o que acontece aos respectivos quartos...), a habituar-se aos ritmos um do outro, e a trabalhar em equipa (quando a Charley não se lança às coisas sem pensar, isto é). Também vejo o Reyes mais bem humorado, a integrar-se nesta grande família que gira à volta da Charley Davidson, e a lidar relativamente melhor com o seu passado, sendo um pouco menos reclusivo nesse assunto. Tendo em conta que isto eram aspectos da sua personalidade que achava problemáticos e que me faziam não gostar muito dele, está a subir na minha consideração.

O fim é um pouco ominoso, não por terminar mal ou em cliffhanger, mas é revelada uma situação que não sei muito bem como é que a autora vai explorar. De qualquer modo, estou super curiosa e intrigada com toda a coisa. Aguardo por novos desenvolvimentos.

E pontos bónus para a edição, que inclui no fim uma cena do livro sob o ponto de vista do Reyes. Não é sempre que incluem estes extras, por isso fico contente.

Título original: Sixth Grave on the Edge (2014)

Páginas: 312

Editora: Círculo de Leitores

Tradução: Ana Lourenço

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Curtas: BD

Este foi o último livro que li, dos vários que comento neste post, e foi uma boa coisa que o tenha guardado para último, porque foi the best for last. Depois da maneira trapalhona como o Jacques Tardi narra as suas histórias, foi um colírio para os olhos poder ler esta história de Alison Bechdel, que é tudo menos trapalhona.

O livro é uma espécie de autobiografia, ou memória, em que a autora revê a relação com o pai. Creio que usa a história como uma forma de exorcizar os demónios que a vida familiar e a educação que teve trouxeram, e ao mesmo tempo reflectir exaustivamente na relação com o pai e no tipo de pessoa que o pai era, como se estivesse a tentar resolver um mistério. Pode não chegar a uma conclusão concreta, porque aqueles que partem não nos deixam todas as respostas, mas é uma viagem interessantíssima de acompanhar.

A narração é deliciosa. As palavras de Alison Bechdel escoam tão bem pelos olhos, foi tão fácil deixar-me enredar na história, nas sucessivas camadas que constrói em torno da sua infância e juventude. A história não é linear, saltamos e retornamos a várias alturas da sua vida, descascando aos poucos as várias camadas, descobrindo mais pormenores e mais perspectivas únicas da autora sobre os eventos, muitos deles reconstruídos mais tarde, pois aquilo que acreditava em criança não encaixava exactamente com o que aconteceu realmente.

Gosto muito de como faz comparações, e liga eventos da sua vida uns aos outros, encontrando um elo único entre eles. Apreciei muito as comparações literárias, pois a relação com os pais foi bastante marcada pela literatura, e de certo modo, a autora sabe mais relacionar-se com eles pelos livros que liam e partilhavam, do que na partilha de afectos, algo que numa família tão fria e desligada não era comum. De certo modo, ela sabe relacionar-se melhor com os pais através da ficção, como se fossem personagens, e este livro é mais um aspecto disso.

No meio disto tudo a história ainda tem um certo grau de despertar sexual, em que a autora "sai do armário" para os pais a certa altura da sua vida... e quatro meses depois, o pai morre, num acidente que a autora suspeita que foi provocado pelo próprio, em jeito de suicídio. Acaba por ser fascinante acompanhar a sua reflexão acerca da sua sexualidade, de como se sentiu toda a vida, e quanto da repressão da sua identidade sexual está relacionada com a vida familiar e com a atitude sufocante, dominadora e até violenta que o pai tinha.

De certo modo, a autora faz um mea culpa, achando que a sua revelação precipitou os acontecimentos, ainda que não directamente, e o livro é também uma forma de lidar com isso, e de tentar encontrar uma ligação ao pai, um homem tão afastado emocionalmente, e de encontrar respostas para esse acontecimento trágico. No meio disto tudo, a personalidade de Bruce Bechdel é esculpida perante os nossos olhos, muitas das suas acções escrutinadas na página, mas quem ele era continua a ser um mistério que não é possível resolver.

A arte é simples, mas encaixa bem com a narração, e melhor, é tão interessante de acompanhar quando ela parece estar a falar dum assunto completamente diferente, mas que no fim se relaciona com o que estamos a ver. Há pequenos apontamentos muito interessantes, como as citações de livros, o uso do dicionário, ou o presença constante da cultura popular e dos eventos da época.

Li há dois anos um volume que continha duas histórias autoradas por Jacques Tardi, a terceira de Adèle Blanc-Séc, O Sábio Louco, e uma aparentemente não relacionada, O Demónio dos Gelos. Ao pesquisar os volumes de Adèle Blanc-Séc recentemente publicados em Portugal pela Asa, cheguei à conclusão que esse livro tem o conteúdo igual ao volume 2 que faz conjunto com estes dois que vou comentar.

Continuo a questionar o terem escolhido aquele livro para apresentar a personagem, porque fazia mais sentido começarem pelas histórias do volume 1, Adèle e o Monstro e O Demónio da Torre Eiffel. O Demónio dos Gelos tem uma ligação directa com a quarta história da Adèle, Múmias Loucas, presente no terceiro volume (a outra história que contém é O Segredo da Salamandra, a quinta história da personagem). Além disso, a terceira história pega em personagens das histórias anteriores, por isso não admira que tenha ficado confusa na altura.

Acho o Jacques Tardi um péssimo argumentista, mais valia que outra pessoa fizesse os textos. Primeiro porque temos horrores como vinhetas a fio em que o texto/balão ocupa mais de metade da vinheta (às vezes temos uma página cheia deste tipo de vinhetas); depois, porque é um péssimo narrador. Mete dez personagens diferentes à procura da mesma coisa na história, todos muito iguais, sem características distintivas, atira-nos com os nomes deles e depois espera que consigamos acompanhar a narrativa e as motivações desta gente toda.

Faz ocasionalmente uns info-dumps do demo no fim da história, para explicar o que se esteve a passar, quem era quem e o que queriam. (O que não era preciso se a história estivesse melhor construída, mas pronto.) Nunca percebemos porque é que a Adèle se mete neste imbróglio, graças à tentativa do autor de fazer mistério sobre a personagem. (E uma menção fugaz a ela ser escritora não chega, lamento.) E enfim, toda a história é muito confusa, desnecessariamente, diria eu. Compreendo que o autor esteja a emular e parodiar um certo tipo de história que não primava pelo rigor narrativo, mas creio que haverá quem consiga fazê-lo sem tornar a própria história num desastre.

Os detalhes da narrativa são por vezes interessantes. Gosto muito da ideia de um início de século XX, uma era de divulgação e conhecimento científico, ser invadido por uma série de acontecimentos sobrenaturais, como um petrodáctilo pterodáctilo (piada interna, um dos personagens passa a vida a trocar o nome ao bicho), ou deuses sumérios que exigem sacrifícios, ou múmias que se erguem das tumbas e fogem para o Egipto, ou processos criogénicos e soros milagrosos que trazem personagens de volta à vida. A Adèle é uma personagem com potencial, só é pena que se afogue numa narrativa tão medíocre.

Só se salva a arte. À parte os personagens serem todos parecidos, os cenários são sempre detalhados, fantásticos de observar... é o forte do autor, e devia cingir-se a ele. Também devia pesquisar melhor a sua História. Há uma referência ao Titanic, cheia de buracos, e mesmo argumentando que isto é história alternativa ou um mundo paralelo, se não há razão ou explicação directa para mudar a data e o local de embarque, e a data da tragédia, não se percebe porque é que ele os mudou. O Titanic não partiu de Liverpool dia 8 de Abril, nem chocou com o iceberg dia 20 (partiu dia 10 de Southampton, chocou dia 14 e afundou-se já no dia 15)... basicamente só acertou no ano (1912). A ideia de envolver o Titanic na história é boa, e a explicação que o autor dá para o afundamento é interessante, mas esta invenção de datas e locais não faz sentido, especialmente numa narrativa que tem tantos saltos temporais e que nem precisa de mexer nas datas para fazer caber os acontecimentos.

Pequenos Prazeres, Pequenos Prazeres 2, Arthur de Pins, Maïa Mazaurette
Pronto, com estes dois livros (que recolhem o equivalente a 4 volumes em francês), diverti-me imenso. Retratam a vida social e sexual dum jovem, Arthur, e as suas peripécias, sempre à procura de mais uma moça para se enrolar, interessando-se e desinteressando-se pelas jovens que lhe passam á frente tão rapidamente como quem muda de camisa.

Os gags são muito divertidos, com um tom decididamente adulto, e com uma visão singular das relações entre homens e mulheres hoje em dia. Adorei quando entra em cena a Clara, que ainda é mais doida que o Arthur, e por isso apreciei quando o início do segundo livro (equivale ao terceiro em francês) se foca mais nas aventuras e desventuras dela.

Amei a segunda parte do segundo livro (quarto volume em francês), que é sobre dois amigos do Arthur e da Clara casarem-se, e como isso os leva a fazer uma aposta... e é tão hilariante ambos tentarem fazer o outro perder a aposta. Ainda melhor, é o caos que eles lançam no casamento em si... é de ir às lágrimas.

Os gags normalmente ocupam duas páginas (ocasionalmente mais, ou menos), e o desenho e o layout das páginas é simples, mas serve muito bem a narrativa. Gosto muito do uso de cores, e de como desenha os cenários e os personagens - que não têm nariz, mas o autor faz resultar o "boneco".

Aprecio a ideia da Contraponto, de juntar dois volumes originais num para a edição portuguesa, porque os livros são devoráveis e saberiam a pouco. Só é pena que não o autor não tenha publicado mais nada com estes personagens, porque gostaria de continuar a ler as suas aventuras e desventuras.

domingo, 21 de setembro de 2014

Heir of Fire, Sarah J. Maas


Opinião: Cada vez mais o tempo entre o lançamento de cada livro desta série parece um looooongo intervalo em que eu tento entreter-me com outras coisas para não dar em doida à espera, a suspirar para ler só mais um bocadinho. Ainda há dias andava eu a saltitar de contentamento por ter o livro nas mãos, por ao fim de um ano de espera poder finalmente lê-lo (ó para o meu eu tão inocente e fofinho), e agora volto novamente à inevitável irrequietude da impaciência. Há de certeza uma lição qualquer aqui para ser aprendida. A gratificação instantânea de devorar uma das minhas séries e autoras favoritas é que não me deixa vê-la, quanto mais aprendê-la.

Depois do pequeno vendaval que foi o Crown of Midnight, e depois de um certo acontecimento trágico que prometia ajudar a mudar o curso da narrativa da saga, Heir of Fire foi mais como um furacão. Deixou tudo do avesso (no bom sentido), enquanto que o centro da história, o olho do furacão, é bem mais calmo, investindo no desenvolvimento e caracterização dos personagens, preparando-os para enfrentar o que ainda há de vir.

É esse um dos aspectos da Sarah como escritora que mais aprecio - a maneira como ela retrata emocionalmente os seus personagens, que é soberba e fabulosa. Sim, isto é fantasia épica, mas os personagens são humanos (bem, quase todos), e as suas emoções são humanas, e tão vívidas e bem exploradas que é tão fácil despertar a nossa empatia, e compreender aquilo que sentem e experienciam, mesmo que não tenhamos experiências comparáveis no mundo real. Foi por isso que a Celaena, a protagonista, me encantou desde o início. Uma caixinha de contradições com um mundo interior riquíssimo.

E pronto, esta é a história da Celaena. Especificamente, e é um pouco difícil falar sobre isso sem spoilar, sobre finalmente enfrentar os seus demónios. Basicamente ela escondeu-se num pedaço de si e da sua personalidade, a Celaena Sardothien, para evitar lidar com tudo o que está para além disso, o que é compreensível, pois passou pelo tipo de coisas que uma criança de 8 anos não devia ter de enfrentar, e sobreviveu. E o enterrar de tudo isso manteve-a viva este tempo todo, e permitiu-lhe fazer coisas e ganhar capacidades que não teria de outra maneira. Mas não é maneira de viver, e agora que chegou à idade adulta e que pode fazer algo para corrigir as injustiças, é bom vê-la lidar com o passado, aceitar o que não pode mudar, e assumir a responsabilidade para a qual agora está preparada.

Parte do interesse do percurso dela ao longo do livro relaciona-se com o ver respondidas imensas perguntas sobre o passado dela. A sério, diria que a Sarah fez caixinha no primeiro livro, Throne of Glass, no que toca a worldbulding e background, apesar de revelar bastante, porque desde então tem dado uma imensa riqueza de pormenores ao mundo em que Erilea se insere. Estou maravilhada com as pequenas e grandes coisas que tenho vindo a descobrir. E isso também se aplica à Celaena e ao seu passado. Tanto o trágico, e as razões pelas quais ela se tem mantido discreta, como o bom, conhecer aqueles que a rodeavam na infância (com direito a ler uma cena sobre uma vez em que a Celaena e o Dorian se cruzaram em miúdos, que é a coisa mais adorável de sempre).

A outra parte tremendamente interessante do percurso da Celaena é conhecer alguém que é igualmente casmurro e mal-humorado, com quem a Celaena pode andar às cabeçadas e insultar e (tentar) dar porrada, que vai responder na mesma moeda, no qual ela reconhece uma alma igualmente ferida e que a vai ajudar a sair do poço e a enfrentar as mágoas. É o Rowan, com o qual desenvolve uma amizade deliciosa e bem engraçada de acompanhar, e que tenho a certeza que vai ser um dos defensores mais acérrimos dela, e uma boa adição para o grupo que se vai juntando em torno da Celaena. Além disso, o Rowan é um Fae, e simplesmente adoro a maneira como a Sarah está a apresentar os Fae e semi-Fae. Muito territoriais e protectores, a lembrar-me do modo como os Sangue da Anne Bishop eram.

Isto leva-me a outro ponto que queria destacar: o foco nas relações não-românticas. Uma parte dos personagens está num ponto de viragem, a descobrir coisas sobre si mesmo ou a perceber onde vão ficar no grande esquema das coisas, ou simplesmente a lidar com demasiada turbulência interna para manterem uma relação romântica saudável. O que não é mau, já houve espaço para esse pedaço da experiência humana na saga, e tenho a certeza que vai voltar a haver. Mas essa ausência dá espaço para a Sarah J. Maas desenvolver um verdadeiro hino à amizade, mostrando vários tipos e estados de amizade, o que é tão bom de ver. Pessoas que foram afastadas pelas circunstâncias, seres que desenvolvem uma afinidade sem palavras, vidas que se cruzam e ligam indelevelmente ao ponto de se compreenderem a um nível primitivo. É uma bela mensagem, a transmitida pela observação destes vários tipos de relações.

Isto leva-me a comentar o Dorian e o Chaol. O Dorian, diria eu, é uma daquelas personalidades bem-dispostas, com uma capacidade fantástica de encaixe. O que, tendo em conta quem é o pai dele, é maravilhoso. Nem quero pensar no que terá sido a infância dele, crescer com aquele homem horrendo. E o Dorian tem sobrevivido, crescendo para se tornar numa pessoa decente, com o potencial para ser um bom monarca. A sua história tem avançado aos poucos, mas com certos focos de interesse. É claro que a Sarah tinha de me roubar o único personagem feliz da vida em tudo isto, porque depois do que ela faz ao Dorian no fim, tenho muitas dúvidas que voltarei a ver o rapaz bem-humorado. Fiquei mesmo preocupada com o destino dele, e o Dorian era personagem que me deixava mais ou menos indiferente.

E depois o Chaol, que se mantém bastante ambivalente. Não por medo por si, mas por todo o seu país, por reconhecer que quando as coisas explodirem, as pessoas comuns vão sofrer. A sua relutância em agir prende-se também com o seu papel num certo evento do livro anterior, que imagino que o tenha tornado ainda mais cauteloso nas acções. E sendo o único que é um, er, comum mortal no trio, e o mais conservador dos três, creio que certas mudanças o assustem um bocado. No entanto, tudo isto não o impede de agir lealmente para com a Celaena e o Dorian, tentando fazer o que pode com a informação que tem. Tudo isto afasta-o do Dorian, porque para o proteger não lhe revela uma série de coisas, e o Dorian fica com a percepção errada dos acontecimentos, e pronto, custou-me ver os dois zangados por uma parvoíce destas. Não desejaria o percurso do Chaol a ninguém, porque é o mais complexo e mais difícil de aceitar, mas acredito que era um que ele precisava de percorrer para perceber onde é que devia estar.

Falta-me falar da Manon Blackbeak, que é uma nova adição à história, e uma com direito a POVs no livro. A Manon é uma bruxa Ironteeth, feroz e impiedosa e uma predadora. Como a autora a descreve, bem que podia ser um cruzamento entre o Capuchinho Vermelho e o Lobo, tudo ao mesmo tempo. E o seu percurso, apesar de não se cruzar com o dos outros personagens, é válido, porque mostra o que o vilão anda a preparar em várias frontes, uma deles sendo a das bruxas. E é um percurso tão bom de acompanhar. Adorei ver a ligação que a Manon criou com o Abraxos, um wyvern (é complicado de descrever, mas é a modos que uma espécie de dragão), e fiquei bem impressionada com o que vislumbramos da personalidade da Manon, e de como ela está a mudar.

Entre os personagens secundários, destaque para o Aedion, que esteve este tempo todo a segurar o barco, e a fazê-lo duma maneira impecavelmente badass, arrogante e determinada. (Hmm, lembra-me alguém.) E para o Ren, que numa pequena conversa a autora consegue revelar tanto sobre ele. Fez-me apreciar o valor desta geração de jovens e adultos, que há dez anos eram crianças e jovens, e cuja infância foi hipotecada pela ganância e malvadez de um homem. Lutando por reconstruir um país em ruínas, esta geração ainda há de penar muito, e é verdadeiramente trágico pensar no seu percurso.

A Sorscha, bem, é uma personagem que podia estar melhor construída, porque é das poucas que está ali para desempenhar um papel na narrativa, e não a sinto como independente e ricamente caracterizada, como acontece com os outros personagens. Quase que podia nem estar ali. As Thirteen da Manon, e mesmo as bruxas Ironteeth, são um grupo fabuloso, com vislumbres de pequenas coisas mesmo interessantes. O Emyrs e o Malakai são um casal adorável, e com os outros demi-Fae de Mistwood fazem um grupo bem curioso. A Maeve aparece pontualmente, mas promete arranjar sarilhos quando tiver oportunidade disso, e por isso foi tão bom ver a Celaena dar-lhe uma lição lá mais para o fim.

Diria que este é o ponto de viragem na saga. A escala aumentou, e agora a luta é por todo um continente, e aconteça o que acontecer, não há como voltar atrás. E vai ser uma viagem magnífica, a que Sarah J. Maas tem para continuar a contar. A sua escrita está mais madura, a sua caracterização de personagens é tão certeira e emocional, a construção do mundo está a caminhar a um bom ritmo, com detalhes intrincados e fascinantes a ser adicionados a todo o momento, a fasquia foi elevada no enredo geral da saga. Não posso imaginar uma série que me dê tanto prazer seguir, ou que me faça sofrer tanto a esperar pelo próximo livro.

Páginas: 576

Editora: Bloomsbury

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: The Giver - O Dador de Memórias (2014)

Li o livro conhecendo o filme e o elenco, e tendo essa informação li The Giver - O Dador de Memórias intrigada com a noção de envelhecer os personagens. Para o livro resulta relativamente bem que o Jonas tenha 12 anos, mas fui para o filme com a noção que era um conceito mais difícil de transmitir visualmente que qualquer outra característica singular do livro.

Primeiro porque é impossível termos actores mais velhos a fingir que têm 12 anos - é uma idade no limiar da puberdade e um ou dois anos fazem logo a diferença. E depois porque um actor de 12 anos não tem a experiência e possivelmente a capacidade para exprimir o tipo de coisas por que o Jonas passa. Além disso, mesmo que estas coisas fossem possível de concretizar, suspeito que é mais difícil convencer uma audiência de espectadores que um miúdo de 12 anos passa por isto - a cerimónia de atribuição de profissões, a sua reacção às memórias, o modo como se liga ao Gabe, os eventos finais.

Portanto, fui para o filme predisposta a aceitar o envelhecimento dos actores, e a aceitá-lo. Acabou por resultar bastante bem, como esperava. Neste caso, e nalguns outros também, aceito que se façam sacrifícios e modificações derivada de literatura e cinema serem dois meios bem diferentes.

Apesar disso, sei que as audiências normais de cinema vão à espera de coisas relativamente dinâmicas, e não vão encontrar isso aqui. Quem leu o livro vai à espera, mas quem não conhece pode ser surpreendido pelo ritmo calmo e lento da narrativa. É mesmo assim. Aí, não tive surpresas, e creio que o ritmo do desenvolvimento do enredo corresponde em ambos os meios.

Há algumas mudanças em aspectos do mundo, algumas para melhor, outras que nem por isso. É um pouco inútil o desenvolvimento do papel do Asher, porque serve ali meio de vela, sem nunca agir em relação a isso, e tornando-se a sua intervenção mais no fim do filme algo incongruente com os momentos em que ele parece ter ciúmes do Jonas e da Fiona.

Gosto da expansão do papel da Fiona e da Anciã. Da Anciã porque um papel mais antagonístico funciona dentro da história do Jonas, forçando-a agir nos momentos certos... ainda que nem sempre o seu papel flua completamente bem. (Só se safa porque, pronto, Meryl Streep, e não preciso de dizer mais nada.)

Da Fiona porque dá a perspectiva de alguém de fora, que não é Dador/Receptor de Memórias, que se perfila para ter uma vida normal na comunidade, e cuja vida é interrompida pelo Jonas e pelas suas descobertas. Além disso, permite ao Jonas explorar a questão dos afectos, uma que me parece importante tendo em conta que ele vai aprendendo muito sobre o espectro de emoções humanas. (E que é pouco explorada no livro, pelo menos no sentido mais romântico da coisa... porque lá está o Jonas tem 12 anos no livro. Nunca pensei que a coisa da idade fosse tão limitativa.)

Gosto de ver esclarecidos melhor certos pontos da construção deste mundo, como a sua inserção num mundo maior, e o que exactamente acontece no fim. (A Lois Lowry é muuuiiito ambígua quanto a isso. Na minha opinião, sem necessidade nenhuma.) Por outro lado, há coisas que não precisavam de ser exploradas/apresentadas, porque introduzem demasiado confusão e/ou quebram a lógica interna do funcionamento da sociedade.

Achei fascinante observar a estética da comunidade, o modo como as casas se organizavam, o ar perfeitinho, o modo como a casa do Dador não encaixava... e o uso da cor acabou por ficar bem trabalhado. No início, sem cor, e depois, à medida que o Jonas recebia memórias a sua visão da cor aumentava aos poucos. Para a audiência, a saturação aumentava gradualmente, e foi trabalhado de modo satisfatório.

O elenco parece-me um conjunto interessante, que gostei de acompanhar. A Meryl Streep é sempre aposta ganha, e o Jeff Bridges veste bem o papel do Dador, emprestando-lhe a sua voz característica, e equilibrando bem as diversas facetas do personagem. A Katie Holmes foi uma surpresa, ver num papel tão severo quando a conheço só de coisas fofinhas. Já do Alexander Skarsgård foi difícil não esperar que desse uma dentada em alguém. Pelo menos, é desconcertante vê-lo num papel mais calmo e menos agressivo que o de Eric Northman no True Blood. A Taylor Swift não tem tempo de antena suficiente para eu poder avaliar a sua capacidade, mas gostava de dar uma traulitada no responsável pelo cabelo dela, que parecia meio estranho.

Fiquei bem impressionada com o Brenton Thwaites, que não conhecia de lado nenhum (a parvoice do papel de príncipe no Maleficent não conta), e que me pareceu exprimir muitíssimo bem a sensação de maravilhamento, de espanto e surpresa, mas também horror e medo, com as memórias, ou o fascínio que redescobrir o seu mundo tem sobre ele. Agarrou bem no papel e até me convenceu com a preocupação com o pequeno Gabe. (Aquela cena com ele a fazer caretas para o bebé é bem engraçada.)

Gosto mais deste final, é como disse menos ambíguo, e provavelmente mais de encontro ao que a autora tinha em mente quando escreveu o livro. Mostra as consequências das acções do Jonas, e retira um pouco da malícia que encontrei no Dador no livro, e que me caiu mal. Gosto de ver o que se está a passar na comunidade ao mesmo tempo que acompanhamos o Jonas e o Gabe. E ainda consegue ser fiel ao espírito e a parte da letra do final do livro, que é uma cena tão gira que merece ser recriada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Vingança, Há Horas Más, Meg Cabot

A Vingança, Meg Cabot
Há Horas Más, Meg Cabot
Estes livros marcam a parte central da narrativa da série Mediadora, e por isso já estão mais confortáveis a contar a história, apresentar o mundo e caracterizar a heroína, conseguindo ainda plantar algumas pistas para os próximos acontecimentos.

Em retrospectiva, diverti-me imenso com o enredo de A Vingança, e com as reacções da Suze ao Michael Meducci, o totó residente, ter uma paixoneta por ela. É um livro que aumenta o nível de perigo, porque os fantasmas neste estão à procura da titular vingança, e não vão parar até a obter... por outro lado, a Suze cede ao desejo de deixar fazer vingança, quando compreende o que o vilão fez e o quão emperigou-a e à sua família e amigos.

Aliás, esse é um dos meus pontos favoritos do livro, a cresente relação da Suze com a família. É uma coisa que ela ainda não está confortável em trabalhar, mas os filhos do padrasto, o Andy, começam a tratá-la por irmã, e à mãe dela como mãe. Não que haja tentativa de substituição da mãe deles, que morreu, é mais como a família estar a começar agir como uma unidade. E a mãe da Suze tem uma cena adorável com o David, o mais novo.

Além disso, sabemos uma pequena coisa sobre o padre Dominic, que não parece ser bom sinal para o futuro da Suze. Dá-lhe mais dimensão (ao personagem do padre), e faz-me apreciar melhor a sua personalidade, como se tornou padre e o tipo de mediador que escolheu ser.

Contudo, ainda adoro mais Há Horas Más. Porque acontece uma coisa ao Jesse e deliciei-me com a Suze que se revela nesse momento. Ela sempre foi um bocado descuidada, com uma atitude devil may care, mas muito pragmática, em relação às coisas. Só que basta roubarem-lhe o Jesse, e ela perde completamente a cabeça. Foi interessante vê-la de cabeça perdida e lançar-se para as coisas já não em modo devil may care, mas em modo algo suicida. Acho que nunca esperaria vê-la reagir assim, ficar meio louca com os acontecimentos, e suponho que é por isso é que é tão cativante de acompanhar.

É claro que isto me faz apreciar melhor o padre Dominic, que deve ter uma paciência de santo para a aturar. Coitado do homem, sempre com o coração nas mãos à espera da próxima coisa estranha de que a Suze se lembra e com a qual ele naturalmente não concorda. E na qual ele acaba por ter de entrar, porque a Suze leva tudo à frente, e o melhor é ajudar e certificar-se que ela está a fazer as coisas perigosas do modo mais seguro possível. Espero que alguma vez ela lhe dê ouvidos.

Conhecemos dois novos mediadores. Um é o pequeno Jack, que Suze tenta ajudar a entender o seu dom, já que até agora isso só o tem afastado dos outros. E o Paul, que vai ter importância nos eventos daqui para a frente; e que até neste livro tem uma certa influência que só se torna óbvia no fim. E, tenho de acrescentar, o Paul arrepia-me, por já saber do que é que ele é capaz.

Continuo a achar que a Suze é uma espécie de irmã mais nova da Charley Davidson (personagem dos livros da Darynda Jones), não só pela atitude, pelo humor e pela inclinação para os sarilhos, mas também para a maneira como reagem a muitas coisas, incluíndo situações traumáticas.

Nota não muito positiva para a tradução, que nos primeiros livros traduziam mediator por mediadora, e agora lembram-se de traduzir por médium. O que é hilariante e confuso, quando a Suze fala no texto de médiuns, e os médiuns de médium confundem-se com médium de mediadora. Ugh.

Aquele fim do Há Horas Más foi de morrer e chorar por mais. Um tudo-nada cliffhangeresco, muito excitante, e super animador para os livros que vêm a seguir. Só não percebo como é que a Bertrand achou que era boa ideia deixar os leitores pendurados assim. Not cool.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Isla and the Happily Ever After, Stephanie Perkins


Opinião: Isla and the Happily Ever After foi uma criança de parto difícil. Passaram-se quase três anos desde a publicação do último livro da série, Lola and the Boy Next Door (dois anos desde que o li), e desde então a autora tem-se debatido consigo própria, com problemas pessoais e com o próprio livro para fazer dele algo à altura dos dois livros anteriores. É que, já aqui me tenho queixado, as expectativas são terríveis, e compadeço-me da Stephanie, que deve ter passado este tempo todo aterrorizada, receosa de não corresponder ás expectativas dos seus leitores, de não atingir a fasquia muito alta colocada pelo Lola e pelo Anna and the French Kiss.

Quanto a esta leitora, não precisava de se preocupar. Isla é uma história bem diferente dos seus antecessores, mas isso não é uma coisa má. Apreciei o tipo de história que Stephanie Perkins estava a tentar contar, adorei lê-la e deixar-me imergir nela, vivi os acontecimentos com os personagens intensamente, identifiquei-me com eles e compreendi os seus problemas e dilemas. Não podia pedir mais.

Isla é uma jovem introvertida e tímida, sem rumo na vida. Uma parte dos seus últimos anos tem sido guiada por uma simples paixoneta pelo Josh, pela observação de longe, sem nunca se atrever a meter conversa, a aproximar-se dele. E no entanto, durante o Verão em Nova Iorque, um encontro acidental aproxima-os, atira-os para os braços um do outro quando descobrem uma atracção mútua, que evolui para uma paixão intensa e consumidora.

E pronto, está aqui a razão pela qual gostei tanto do livro. Nos anteriores, os personagens debatiam-se com os seus problemas, que os afastavam até bem ao final; aqui a Isla e o Josh nada têm que os separe, aparentemente, e embarcam numa relação amorosa que lhes leva todos os minutos do dia, porque o foco está no outro, nada mais há que o outro, que conhecê-lo em todas as suas facetas. É esta intensidade que foi tão deliciosa de ler e acompanhar, e tão difícil de resistir.

Outro aspecto de eu ter gostado da história prende-se com a reflexão que a autora faz, de um amor adolescente que consome, e da falta de perspectiva que o acompanha. Há um momento de separação a meio da história, e parece o fim do mundo para ambas as partes, e é tão difícil não nos deixarmos envolver nesse sentimento, não deixar de compreender a dor da separação.

Além disso, a separação traz à tona algumas inseguranças da Isla, para quem esta é a primeira relação séria, e apesar de criarem um fosso entre ambos, e de ser frustrante esta parte da história... eram inseguranças que precisavam de ser expressas. A Isla precisava de ver o Josh não só como o objecto da paixoneta, paixão e amor que lhe tinha, mas como outra pessoa de carne e osso, com problemas e bagagem próprios. Por isso, apesar de todo o dramatismo da segunda parte do livro, senti que era uma coisa que precisava de acontecer, para que se tornasse mais fortes e mais maduros, como casal e como pessoas.

Suponho que outra das razões para ter gostado tanto do livro é o facto de, como pessoas, os protagonistas Isla e Josh serem aqueles mais próximos de mim, aqueles com os quais mais me identifico. Oh, identifiquei-me e compreendi os problemas dos protagonistas anteriores (provavelmente mais a Anna e o Étienne do que propriamente a Lola e o Cricket), mas sou inclino-me mais para as personalidades introvertidas e introspectivas da Isla e do Josh.

Entendi a incapacidade de escolher um rumo da Isla, e a frustração do Josh com o rumo que escolheu. A necessidade de aventura da Isla e de um meio de expressão do Josh. A insatisfação indistinta da Isla e a solidão do Josh. Adorei que a Isla tivesse pilhas e pilhas de livros pelo quarto fora, e que o Josh estivesse a trabalhar numa novela gráfica que detalhava os seus anos na escola secundária em Paris. (Matava para ler essa novela gráfica.)

Por falar na novela gráfica, quase sempre vemos o Josh pelos olhos da Isla, mas na dita cuja aquilo que ele escreve e desenha fala por si, e deu para apreciar a sua frustração com o estar a estudar em Paris, a solidão e separação escolhida por si quando se dá conta que vai perder o seu grupo de amigos, a felicidade que estar com eles traz, o furacão que foi a relação com a Rashmi... compadeço-me do rapaz, com tanto potencial para ser brilhante, mas decidido a enterrar-se o mais fundo possível. Foi preciso o ataque de insegurança da Isla para lhe dar um empurrão para ele ganhar juízo, e mais uma vez este ponto do enredo revela-se necessário, apesar de ser bastante espinhoso.

Desta vez, o local não é tão importante, porque o caso amoroso da Isla e do Josh domina toda a história, mas temos pequenas visitas a Nova Iorque e Barcelona, das quais gostava mesmo de ter lido mais. E devido ao quão consumidor o enredo Isla-Josh é, também não há tanto destaque para os personagens secundários... gostava de conhecer melhor o Kurt (talvez um livro só para ele? por favor, mil vezes por favor), e apreciei a dinâmica familiar entre a Isla e as irmãs - a Isla apercebe-se de algumas coisas que podia trabalhar, não só com as irmãs mas com o resto da sua vida, e aí o seu período de reflexão foi muito frutuoso.

Sou capaz de ter morrido de felicidade um pouco, quando vi antigos personagens, recordados com carinho, voltarem para uma visitinha. Sou capaz de ter guinchado um bocadinho quando uma certa coisa muito feliz acontece, que infelizmente não posso spoilar. Mas pronto, foi bom ver a Anna, o Étienne, a Lola, o Cricket, e a Meredith, e a sua dinâmica de amizade com o Josh. (Por falar na Meredith, não há um livro para ela, que bem merece? A moça está em Roma, vá lá, está uma história mesmo romântica a pedir para acontecer.)

O fim é sofrido, mas merecido. Apreciei a reavaliação de certas coisas, e uma certa releitura que levou a um final bem mais feliz. A novela gráfica toma um rumo que salta um bocadinho da ficção para a realidade, e foi engraçado de tentar prever o que ia acontecer.

Em suma, pode não ser um livro consensual, porque a história da Isla e do Josh é mais espinhosa, mais complicada de acompanhar e entender... mas sinto que era o que precisava de acontecer, e aprecio mais a Stephanie Perkins por contar uma história mais difícil, mas mais satisfatória por isso mesmo. A espera de dois anos valeu mesmo a pena, não me arrependo de ter esperado e de ter apostado na série (só me arrependo desta capa, mas já me queixei disso aqui), pois fez de mim uma fã da Stephanie, e tenho vontade de continuar a espreitar o que quer que ela tenha nas mangas para os seus próximos livros.

Páginas: 352

Editora: Dutton (Penguin)