sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Curtas: Batman, Ano Um, O Longo Halloween

Batman: Ano Um, Frank Miller, David Mazzucchelli
Esta vai ser uma opinião mais ou menos curta, porque é uma releitura de um título que já li o ano passado, e creio que as minhas impressões gerais de então se aplicam à releitura. Suponho que vou mais comentar o livro enquadrado nesta colecção, e comentar os, er, valores de produção da mesma.

Gostei de apreciar a leitura deste livro seguida de O Longo Halloween, pois os criadores deste último prepararam-no como se fosse uma espécie de sequela de Ano Um, e lendo tudo de seguida as duas histórias acabaram por funcionar dessa maneira para mim, como se fosse mesmo o seguimento uma da outra: uma releitura dos primeiros anos do Batman que me cativou.

Esta colecção é produzida de modo um pouco diferente das anteriores da Levoir para os jornais Público e Sol; para já, porque o foco deixa de ser uma editora (Marvel vs. DC), sendo agora um personagem em específico (o Batman). Depois, porque a edição é igualmente robusta e satisfatória, mas algo diferente: a capa já não é coberta naquele material brilhante e avernizado ao toque, e o papel é offset, creio eu, sem brilho, em vez do papel de toque avernizado das colecções anteriores. Nada que me incomode, continuo a gostar bastante das edições e sinto-me satisfeita com a experiência de leitura.

E por fim, porque pelo material de divulgação, esta é descrita como uma "edição limitada" - suponho que quer dizer que tem uma tiragem menor -; só que a piada da coisa é que fico com a sensação que é capaz de ser uma colecção um nadinha mais popular que as anteriores. No meu local de venda habitual só recebem dois exemplares, e enquanto que isso não tem sido problema nas colecções anteriores, nesta quase ia ficando sem poder comprar no local habitual - pelo que me disseram, houve um vizinho que se adiantou a mim e pediu para reservarem, e quando cheguei à papelaria já não havia nenhum -, e a minha sorte é que a papelaria tem um local secundário de venda, onde recebem mais exemplares, e é daí que guardam o meu exemplar.

Vou fazer um destaque para o design, porque merece, já que gostei muito de ver como estão a fazer o enquadramento das páginas de rosto, das páginas do prefácio, e das folhas de guarda. As capas também me têm agradado pelo trabalho que têm tido nelas, e estou a achar piada a ver as lombadas lado a lado, a formar lentamente o símbolo da colecção e o nome Batman.

Menção ainda para os extras: não consigo ter a certeza porque não tenho comigo a edição que li anteriormente, a edição da Devir, mas pelo meu comentário anterior aqui no blogue, parte do material é possivelmente diferente, ainda que não saiba avaliar o quanto. Recordo-me de já ter visto alguns dos materiais promocionais presentes nestes extras, e as pranchas de Mazzucchelli sobre a evolução do Batman, e até alguns dos esboços; mas o meu comentário menciona comparações entre pranchas com arte final e a cores que esta edição não tem.

Acabei por gostar deste livro bastante mais do que estava à espera. Não sabia bem o que esperar, tendo em conta a sinopse e o que tinha lido de opiniões, que não me deram uma ideia clara do que tinha à frente, mas neste caso isso até foi positivo, porque me deixei envolver facilmente na história.

A premissa é a de que alguém está a matar criminosos pertencentes a famílias do crime em Gotham, e está a cometer os crimes em dias festivos. (Já agora, detesto a tradução usada nestes dois livros de holiday por feriado. Holiday tem um significado mais abrangente que isso, e neste caso a tradução até quebra a lógica interna da história, porque alguns dos dias mencionados não são de todo feriados, como o Dia dos Namorados; são dias festivos. Eu sei que soaria ridículo chamar a um assassino Festivo, mas bolas, chamar-lhe Feriado não é muito melhor.)

Enfim. O assassino começa a onda de crimes em Outubro, no Halloween, e vai cometendo um assassinato por mês, num dia festivo à sua escolha, e durante um ano vai manter as famílias do crime em conflito, tentando perceber quem é o assassino e se é um deles.

Adorei a atmosfera de mistério ao longo da história, começo a achar que este tipo de história é aquela que aprecio mais ao ler Batman, e o suspense foi muito bem mantido, fazendo-me duvidar das minhas deduções a cada passo do caminho. Confesso que adivinhei quais eram as partes envolvidas (uma percebi logo mal apareceu), mas isso foi porque suspeitei deles em diferentes partes da narrativa... porque a história fez um óptimo trabalho a fazer-me questionar as minhas suposições.

Destaque para a maneira como o personagem do Harvey Dent evolui - no Ano Um tinha-me queixado que ele não foi explorado, e O Longo Halloween compensa. Foi fascinante ver como o carácter de Harvey se mostrava mais justiceiro e menos representante da justiça à medida que a situação escalava, e como a dúvida se instalava com esses momentos... culminando com a sua transformação no Duas Caras. É quase como uma história de origem para ele, em contraponto a Ano Um ser uma história de origem do Batman e do Jim Gordon.

Contudo, a arte não fica nada atrás do argumento, e é um dos pontos altos da mesma. É engraçado, a arte de Tim Sale tem tudo para não ser a minha favorita, mas consegue fazer as coisas duma maneira que me faz gostar mesmo dela.

Desenha uma Gotham e um Batman tão sombrios e ominosos, e o planeamento de pranchas e vinhetas leva a que hajam muitas pranchas, ou duplas pranchas, com uma só vinheta, e bem, quero algumas daquelas imagens impressas em posters para pendurar. Especialmente uma em que o Batman se debruça sobre o Joker, ou outra com os vilões todos do Batman que aparecem na história.

O trabalho de cor ajuda muito, é simples (noutras ocasiões não apreciaria), mas eficaz, e absolutamente soberto nas páginas do assassinato, a preto e branco com um destaque a cor para um pormenor da cena, geralmente a lembrança que o assassino deixa para trás, a simbolizar o dia festivo em questão. (Aliás, agora que penso nisso, a presença ou não da lembrança é uma pista importante no mistério. Hmmm. Bem inteligente.)

Bem, em suma, este é um livro que está mais que recomendado. Clássico, simples sem ser simplista, capaz de manter o interesse do leitor e de apresentar os personagens sem exigir conhecimento prévio dos mesmos. Não podia pedir melhor.

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