sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Fairest, Marissa Meyer


Opinião: Este livro começou, em termos de leitura, em desvantagem: a sua existência é a única responsável por eu ter de esperar mais uns excruciantes nove meses pelo último livro desta série, Winter. Não fosse ele, e eu já estava a esta altura do campeonato toda contente da vida a ver como é que a Team Cinder vai resolver a trapalhada em que está o(s) mundo(s) deles. (Pelo menos estaria previsivelmente a fazê-lo, se o livro seguisse o mesmo calendário de publicação dos anteriores.)

Além disso, não sou a maior fã desta moda recente de se criarem histórias que de algum modo desculpabilizam os vilões, que mostram que coitadinhos, tiveram uma vida difícil, ou a história foi mal contada, ou as suas acções foram mal-entendidas. Blá blá blá. Bolas, deixem os maus serem maus; um bom vilão é fascinante por isso mesmo, não precisa de desculpas. Estava com algum receio que esta história fosse um bocado nessa tendência, e a sério, eu não preciso de ter pena da Levana. Ela é arrepiante e assustadora e tudo o que preciso é que ela tenha uma morte grandiosa, mas merecida.

Após a leitura deste livro, acho que pelo menos a Marissa Meyer conseguiu escrever algo que nos permita entrar na cabeça da Levana, perceber como é que ela funciona, mas ainda assim não desculpabilizar de todo as acções dela. Eu achava que ela era uma máquina sem sentimentos, estratégica e arrepiante...

E continuo a achar que ela é arrepiante, mas agora porque sei como é que ela pensa, e não é bonito de ver. Uma infância desleixada, sem qualquer tipo de carinho ou preocupação, uma família que vê os seus como peões, uma vida de tortura pela irmã mais velha - levam a que no início da história, esta seja uma personagem com uma tremenda falta de auto-estima, completamente amoral, desesperada por algum tipo de validação.

É um pouco patético, até. A vida na corte parece horrível, cheia de víboras interesseiras, e a Channary e a Levana tinham uns pais muito pouco interessados. Não é muito explorado, mas gostava de perceber que tipo de infância tiveram, porque as duas desenvolveram problemas sérios e são completamente loucas da cabeça.

A Channary é uma sádica de primeira, e quando toma o trono é completamente desinteressada das suas responsabilidades. No entanto, quando tem a filha, a princesa Selene, parece bastante ligada à criança, algo que não é normal para a corte, ao ponto de a Levana achar estranha a ligação. Pergunto-me o que teria acontecido à Selene se tivesse tido sido educada pela mãe. De qualquer modo, o seu fim é algo ridículo e irónico. Sempre achei que a sua morte era coisa da Levana, mas nem foi preciso ela mexer um dedo, a própria Channary fez o obséquio de morrer.

Voltando à Levana, este livro até me deu alguma esperança na sua futura (espero eu) derrota. Uma coisa é a Team Cinder enfrentar a Levana maquiavélica e mecânica, estratega e cruel que eu imaginava. Mas a vilã que temos na verdade é uma menina que nunca cresceu, cujas acções ainda se regem pela procura de validação. Tudo o que ela faz é na procura de ser a melhor rainha de Luna, a mais bela, e vem dum lugar de anseios e emoções, de desespero e ódio contra si própria e contra a sua aparência por baixo do glamour. Sinto que alguém assim é mais fácil de derrotar, porque se conhecermos os desejos dela, é mais fácil de os virar contra ela.

Explorando outro aspecto da sua personalidade, é bastante assustador o quanto ela racionaliza as suas acções, ao ponto de algo mesmo mau, algo tão errado, ser transformado num favor que está a fazer à sua vítima. Por exemplo, a manipulação que exerce sobre Evret Hayle, o pai da Winter, obrigando-o a amá-la e a casar com ela, convencendo-se que se amam mutuamente. Mais horrível ainda é ele estar ciente a cada passo da manipulação, mas ser incapaz de se defender contra a mesma.

Ou, por exemplo, o atentado contra a Princesa Selene, onde, bolas, a racionalização dela é ao ponto de estar a fazer um favor à criança, ficando-lhe com o trono. Pior, consegue mesmo racionalizar o meio pelo qual tenta matá-la - o fogo -, quando a própria Levana tem medo do fogo, por causa do seu "acidente", que a marcou fisicamente. Não há qualquer empatia; é um conceito que passa ao lado da Levana.

Um ponto positivo do livro é que nos permite fazer algumas ligações com acontecimentos e personagens dos outros livros. Podemos ver onde começou o plano de manipulação, coerção e invasão da Terra, com a criação da doença da letumose e dos guerreiros lupinos. Podemos conhecer a Princesa Selene, ou a Princesa Winter e o seu pai, ver como é a relação dela com a Levana, podemos ver o Dr. Darnel e a Sybil Mira, e até o Jacin Clay, que virá a ter um papel importante no último livro, e aqui podemos ver que ele e a Winter se conhecem desde miúdos, o que é simplesmente adorável.

Bolas, até podemos ver a Levana a ficar toda feliz da vida quando a imperatriz da Eastern Commonwealth (a mãe do Kai) morre, porque assim já pode ter desígnios sobre o imperador para forçar uma aliança, ou quem sabe sobre o filho dele. De notar que o Kai neste ponto nem devia ter chegado à puberdade, e a Levana é aí uns 15 ou 16 anos mais velha, aproximadamente. Portanto, isto não é arrepiante nem nada. /end sarcasm De qualquer modo, parece-me que o rapaz nunca teve hipótese, a Levana estava focada nele e no trono que viria a ocupar há demasiado tempo para ser demovida.

O worldbuilding é, como tem sido sempre para esta autora, fascinante. Dá para conhecer melhor Luna e entender como a sua sociedade funciona, como é que chegaram ao ponto em que chegaram nos livros principais. Dá-me alguma esperança, porque enquanto que a corte Lunar está podre, as pessoas normais, os plebeus, parecem simplesmente estar a tentar fazer o melhor que podem. Não tenho a certeza como é que um entendimento entre a Terra e Luna é possível depois de tudo, mas tenho esperança.

A coisa mais frágil neste livro é o enredo. Não há propriamente um fio de ligação que conduza a história: apenas uma sucessão de acontecimentos que acompanham a Levana desde os 15 anos, na coroação da irmã, até alguns anos antes do início da série. Contudo, a Marissa Meyer consegue fazer as transições temporais muito bem, sem me fazer dar conta do vazio que um salto temporal poderia ser nas mãos doutro autor.

Em conclusão, esta leitura até acabou por se revelar uma boa surpresa, dando-me bastante em que pensar e complementando fantasticamente a série. Os meus receios eram maioritariamente infundados (excepto a parte em que ainda vou ter de esperar 9 meses pelo Winter, bah). Diria que é um bom complemento para os fãs, que depois de Cinder, Scarlet e Cress vão encontrar aqui alguns easter eggs giros, e vislumbrar alguns momentos que ditam os acontecimentos da série.

Além disso, o livro contém ainda os primeiros três capítulos de Winter, para os curiosos. (Eu recuso-me a lê-los, porque sei que se começasse não ia conseguir acabar, e por isso sei que três míseros capítulos não me iam saciar. Prefiro esperar pelo momento em que terei o livro completo nas minhas mãos.)

Páginas: 276

Editora: Feiwel and Friends (MacMillan)

4 comentários:

  1. Olá!!!
    Que bom saber que Cinder e Scarlet têm continuação...
    Parece que estou muito atrasada nas leituras.
    Obrigada por partilhares a tua opinião.
    Beijinhos

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    1. Espero que tenhas oportunidade de ler brevemente os próximos livros, o Cress é um livro muito bom, bem excitante de acompanhar; e este Fairest é um bom livro secundário a acompanhar a série. ;)

      Beijinhos e boas leituras! :D

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  2. Espero que tragam este cá para Portugal também. E Cress está quase quase aí!! :)

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    1. É verdade, a edição portuguesa do Cress está quase a chegar, finalmente. :D

      Não sei é se vão continuar a série... parece que em Portugal não tem vendido muito, o que geralmente no nosso país é sinónimo de deixarem séries a meio. :/

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