segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

This Shattered World, Amie Kaufman, Meagan Spooner


Opinião: Estou a gostar muito do que estas autoras estão a fazer com esta série, este mundo, e as sucessivas histórias que nos apresentam. Os livros da série Starbound passam-se num futuro em que a humanidade está num ponto de terraformação e colonização de planetas pelo universo fora. Aqueles que conseguiram passar pelo processo com sucesso passam a pertencer ao Conselho Galáctico.

No entanto, ambas as histórias que pude ler até agora focam-se no que acontece quando esse processo corre mal: no caso do primeiro livro, o planeta em que a Lilac e o Tarver se despenham passou pela terraformação com sucesso, mas não é habitado e contém fauna e flora pouco usuais. Neste segundo livro, Avon tem colonos, mas nunca conseguiu terminar a terraformação - os céus estão cobertos de nuvens permanentemente, o que impede luz solar directa, com efeitos graves no ecossistema do planeta, já que boa parte do planeta é coberto de pântanos bastante difíceis de navegar.

Ambas as situações estão ligadas, pois a sua causa é a mesma; e isso foi fascinante de observar - como uma mesma coisa levou a efeitos diferentes, como um elemento estranho introduzido nos dois planetas, submetido a pressões diferentes, levou aos problemas que podemos observar. E mais, é assustador pensar que tudo isto se deve apenas à ganância e ambição de uma pessoa, e pensar na extensão a que essa pessoa está disposta a levar as coisas para atingir um fim específico.

A noção de derrotar alguém com este perfil é opressora, e tanto a Lilac e o Tarver, como os protagonistas deste livro, a Lee e o Flynn, deram apenas um passo na direcção correcta, que no fim de contas pode não servir para nada. Tenho esperança que no último livro esta pessoa e os seus objectivos nefastos possam ser travados, mas também estou consciente de quão difícil vai ser.

Convém mencionar que apesar de terem pontos em comum, a históra contada nos dois livros é muito diferente, e louvo as autoras por mudarem de registo e apresentarem uma coisa distinta. A história da Lilac e do Tarver, por exemplo, era uma de sobrevivência, tendo-se despenhado sozinhos num ambiente hostil, sem hipótese de um resgate imediato.

Já a história da Lee e do Flynn é quase como um Romeu e Julieta no meio de uma guerra aberta. A Lee pertence ao exército, destacado para manter a paz em Avon. Quase todos os soldados aguentam apenas um mês ou dois antes de o planeta os enlouquecer e serem dominados pela Fúria, que os leva a cometer actos de loucura. A Lee não. Conseguiu escapar à Fúria, e está em Avon há muito mais tempo.

O Flynn pertence aos colonos rebeldes e revoltados por o seu planeta nunca ter evoluído como lhes haviam prometido, e que tentaram uma revolução há cerca de dez anos, prontamente esmagada. Entre os rebeldes executados contava-se a irmã mais velha de Flynn, líder da revolta. O que faz com que o Flynn procure desesperadamente uma forma de salvar o planeta, ao resolver o que impede que se termine a terraformação, e salvar os seus, ao impedir uma guerra aberta com os militares.

Algo interessante de acompanhar com estes dois personagens é a sua evolução, e o modo como o seu passado influencia a sua necessidade de salvar Avon e os seus habitantes da guerra e destruição de que estão tão próximos. Das motivações do Flynn já falei no parágrafo anterior, mas as da Lee ainda são mais complexas.

E gostei tanto da Lee por isso. Ela viveu num planeta que exibiu no passado os mesmo fenómenos que Avon e o planeta-sem-nome-da-Lilac-e-do-Tarver - um planeta cuja história não terminou bem, o que alimentou a sua determinação em juntar-se ao exército e manter a paz noutros locais. A Lee pegou na sua história trágica e tentou marcar a diferença no mundo, mas quando ambas as partes estão tão determinadas em matar-se uma à outra, é tão difícil manter a cabeça fria e manter a paz.

É por isso que os dois funcionam tão bem como par. São pessoas bastante diferentes, em termos de cultura e princípios e experiências de vida, mas o objectivo comum junta-os contra o mundo, mesmo quando é extremamente perigoso fazê-lo, sob pena de serem acusados de traição pelos seus. Passam juntos por uma série de situações pesadas e complicadas, que podiam quebrar qualquer um, mas reagem duma maneira extraordinária, e persistem, mesmo de coração quebrado ou aterrorizados, mesmo recusando-se o que mais desejam.

Falta-me mencionar uma aparição muito importante, a participação especial dos meus queridos Lilac e Tarver. O Tarver foi capitão da Lee no passado, e no meio de toda a esquisitice que está a acontecer em Avon, a Lee confia nele o suficiente para pedir ajuda. Instinto que se vem a revelar certeiro, porque a Lilac e o Tarver têm definitivamente experiência com o tipo de coisa que tem ocorrido em Avon, e podem dar a sua, hmm, opinião informada.

Foi muito bom revê-los, ver como estão a lidar com os constrangimentos da sua vida, com o que lhes aconteceu no primeiro livro. E perceber que ambos se revelam uma caixinha de surpresas para os protagonistas deste livro - a Lilac especialmente, que saudades tenho dela -, o que é sinal de que estão a fazer bem o seu trabalho.

Sobre o final, bem, estas autoras são umas torturadoras. Novamente fazem uma coisa a um dos protagonistas que me faz ficar a roer as unhas... eu sei que a parada está alta, mas bolas. Fico algo frustrada por os protagonistas não terem conseguido dar um golpe fatal ao vilão, mas fico satisfeita por terem consiguido algo mais importante, proteger o seu planeta de acontecer o que aconteceu no primeiro livro. Acredito que a partir daqui Avon tem finalmente uma hipótese e ainda bem.

Sobre o próximo livro, raios, mal posso esperar. Tinha uma ideia de quem iam ser os protagonistas pela sua intervenção neste livro - e pela sinopse do terceiro livro, acertei, assim como acertei o local onde as coisas se vão passar (esta não era muito difícil). Tudo o que peço é que o vilão leve o que merece, não é muito. E que os protagonistas dos livros anteriores - este e o These Broken Stars - façam uma aparição, porque merecem ajudar a derrotar o vilão também, depois do que passaram.

Páginas: 400

Editora: Disney Hyperion

3 comentários:

  1. É não é?? acontece sempre alguma coisa horrível a um dos protagonistas que tu ficas naquele estado INTERNALLY SCREAMING, e achas que não há volta possível, mas depois as autoras dão um twist à coisa. Malvadas!! No primeiro livro acho que podemos concordar que é aquela cena com a Lilac perto do final. O HORROR. Neste para mim foi aquela cena em que a Lee supostamente mata aquela personagem, e eu só pensava f************ck, e AGORA??

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    1. Isso! Elas matam-nos do coração, gods. Fiquei tão traumatizada como o Tarver com aquilo da Lilac, e aqui, para além dessa cena da Lee, foi a cena final com o Flynn, acreditei mesmo que não havia retorno daquilo que as "coisas" lhe estavam a fazer...a reviravolta da Lilac ainda foi maior, mas esta manteve-me a roer as unhas também, parecia que a Lee e o Flynn não tinham hipótese, de todo... :O

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    2. Isso também. Mais aquela cena no inicio quando o Flynn a deixa sozinha e ela leva uma coça. Pensei que aquilo ia fazer estragos maiores na moça e na relação deles.

      São diabólicas! Até as imagino sentadas com os pcs uma em frente à outra, num momento intenso de brainstorming "que coisas horríveis, e que parece que vão destruir irreversivelmente a relação do casal podemos usar neste livro? mwahahaha", e entretanto, nós a ler o livro: NOOOOO! O HORROR! A TRAGÉDIA! FIM DO MUNDO!!

      Coitada da Sofia o que será que lhe espera?? Pior é que mesmo já estando à espera de tragédias para ela, vou cair na mesma que nem um patinho e pensar que não há volta a dar, porque as autoras são tão boas como maquiavélicas. xD

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