terça-feira, 30 de junho de 2015

Este mês em leituras: Junho 2015

Mais um mês no fim, pessoalmente bastante agitado mas também recompensador, e acho que também posso dizer o mesmo das minhas leituras. É também o mês que marca o 5º aniversário do blogue, o que me faz sentir de repente tão velha, parece tanto tampo, e parece que estou a fazer isto há tanto tempo. De qualquer modo, o blogue tem-me dado bons momentos e boas leituras, só posso esperar que os próximos 5 anos sejam iguais ou melhores.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Sétima Campa... Estava Vazia, Darynda Jones;
  • All Played Out, Cora Carmack;
  • Curtas: Hawkeye vol. 2: Little Hits, Matt Fraction, David Aja, Steve Lieber, Ron Lim, Francesco Francavilla, Annie Wu; Saga vol. 2, Brian K. Vaughan, Fiona Staples; Outcast vol. 1: A Darkness Surrounds Him, Robert Kirkman, Paul Azaceta;
  • A Magnífica Sophy, Georgette Heyer;
  • End of Days, Susan Ee;
  • Calvin & Hobbes, Bill Watterson: O Ataque dos Demónios da Neve; Há Tesouros por Toda a Parte; Que Dias Tão Cheios!; Calvin & Hobbes - A Última Antologia; Calvin & Hobbes: Páginas de Domingo 1985-1995.

Os livros que marcaram o mês

  • A Magnífica Sophy, Georgette Heyer - a Georgette tem um sentido de humor brutal, é tipo a mãe do romance histórico como o conhecemos, sendo assim como que o elo perdido entre a Jane Austen e as escritoras de romance histórico dos dias de hoje, e bem, faz uma série de coisas que me agradam; End Of Days, Susan Ee - oh, só li os dois primeiros livros o ano passado, mas são tão intensos que parece que passei tanto tempo a preocupar-me com estes personagens e este mundo, e por isso foi bastante recompensador finalmente poder ler o capítulo final da trilogia;
  • Calvin & Hobbes, Bill Watterson - uma menção aos livros de Calvin & Hobbes que li este mês, porque são tão ricos e encontro uma coisa nova e algo mais que apreciar na tira sempre que leio um novo livro;
  • Lion Heart, A.C. Gaughen - ah, adorei esta trilogia desde o primeiro segundo, e torci tanto pela Scarlet e pelo Robin ao longo dos livros, que vibrei com cada momento deste último, a Scarlet é uma protagonista tão fascinante que é impossível não gostar dela;
  • From the Notebooks of a Middle School Princess, Royal Wedding, Meg Cabot - a Olívia, a recém-descoberta irmãzinha da Mia, é uma miúda adorável, e amei voltar a ler um diário da Mia, com os seus dramas e neuroses, foi como voltar a casa após uma longa ausência, até fiquei a suspirar por mais e tudo;
  • Ms. Marvel vol. 2: Generation Why, Batgirl vol. 2: Knightfall Descends - gosto muito da voz da Kamala Kahn (Ms. Marvel) e da Barbara Gordon (Batgirl), e tenho passado um bom bocado a ler as suas aventuras - a Ms. Marvel pela descrição perfeita da adolescência, e a Batgirl pela escrita e desenvolvimento dela após um acontecimento traumático.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Parte das aquisições do mês já foram mostradas no post da Feira do Livro.

Portanto, aqui temos um exemplar de uma colecção que o Público está a fazer com a Agatha Christie, e de seguida o Royal Wedding, que eu não podia perder este momento da vida da Mia. O Scorched veio cá para casa porque sigo a autora, e estou muito curiosa acerca dele. Pensando bem, essa é a mesma razão para a aquisição do The Stars Never Rise. Amor Cruel veio com descontos em cartão, tenho gostado da autora e quero ver que mais ela escreveu.

Os três livros restantes foram comprados na respectiva loja online da editora, e a coisa curiosa é que o livro da Kim Harrison ainda está em pré-venda. Contava só receber a encomenda em Julho por causa disso, mas deve ter havido um erro na loja e mandaram-me logo os livros. (O Complexo dos Assassinos era a oferta. Odeio a capa, não só pela fotocópia que é, mas também porque o Photoshop é mesmo mauzinho e feio, contudo, era a única coisa que queria minimamente ler da lista de ofertas.)

De qualquer modo, estou inteiramente despreparada para ler o livro da Kim Harrison, já passaram quase três anos desde que li o último (obrigada por isso, Saída de Emergência), e não me recordo de muita coisa, tenho que arranjar maneira de me relembrar.

Banda desenhada do mês, montes de coisas giras, continuações de séries que sigo, ou coisas novas de que tenho ouvido falar muito bem, e que me suscitam curiosidade.

Por fim, quando este livro estava em pré-venda eu tinha um vale da Fnac para gastar, e tendo em conta que na loja física tinham a melhor oferta que vi por aí (os livros que ofereciam noutros sítios já li/tenho), aproveitei. A oferta é um livrinho com alguns capítulos do próximo livro da saga traduzidos, aqueles que o George já deve ter publicado cá fora como teaser. É um coleccionável giro.

De qualquer modo, fico muito contente com a minha compra, porque o livro em si é um mastronço, quase luxuoso de ter, e tem mesmo pinta de coffee table book. Do pouco que folheei é bem giro, agrada-me visualmente, e vale a pena o custo dele; um dia destes (provavelmente quando já tiver lido os livros todos que já saíram), dedico-me a explorá-lo.

A ler brevemente

Bem, eu desisto. Não vou pôr mais aqui na pilha o The Winner's Crime, porque agora não depende de mim, depende da pessoa com quem devia estar a fazer uma leitura conjunta, e fico deprimida se tenho de o juntar outra vez aqui à pilha. Mesmo assim, tenho aqui outras coisinhas giras, as bandas desenhadas que me chegaram e que não li este mês, e os livros da Rachel Vincent (The Stars Never Rise) e da Jennifer L. Armentrout (Scorched).

Fora isso, esqueci-me de adicionar à pilha, mas para o meu desafio Meg Cabot creio que vou ler Insaciável e Overbite, a duologia vampírica da Meg Cabot. Tenho a certeza que umas gargalhadas me esperam. O resto do mês está em aberto, veremos o que houver na estante e me capte a atenção.

domingo, 28 de junho de 2015

O que aprendi em 5 anos a ler e a escrever sobre livros

Se não for óbvio, é isso mesmo que o título quer dizer: o blogue fez 5 anos esta semana que passou. Normalmente tento postar no dia certo quase ao milionésimo de segundo, só que de ano para nunca me consegui decidir em que dia festejar, porque tive um arranque precoce cerca de uma semana antes de começar a postar regularmente, e fico sempre na dúvida se devo festejar o dia em que me decidi a criar um blogue, ou o dia em que comecei a levar aquilo a sério e nunca mais parei.

Portanto, este ano estou a tentar uma abordagem mais descontraída. (Isso, e durante a semana houve falta de tempo e inspiração para fazer algo de jeito.) O blogoversário foi esta semana (ou talvez na outra), o que interessa é assinalar a ocasião. Tenho andado há meses com algumas ideias sobre o que fazer para esta altura, e ainda não descartei todas, mas esta foi a que se chegou mais à frente.

E o que é que eu posso dizer que aprendi a escrever (e a pensar) sobre livros? Primeiro que tudo, tenho a dizer que nem consigo bem olhar para as primeiras coisas que escrevi aqui, porque sei que são completamente diferentes do que faço hoje em dia. Não que tenha vergonha, mas sentiria o quão pouco me dizem sobre o que achei naquela altura sobre aquele livro. Teria vontade de reescrever. Ou reler o livro, para poder reescrever. Por isso, prefiro manter-me afastada, ou era capaz de dar em doida.

E assim, aquilo que faço hoje em dia aproxima-se mais do que quero fazer com as minhas opiniões: registar o que achei de certos pontos da narrativa, sendo vaga o suficiente para não despejar o enredo todo ali, mas específica o suficiente para ler a sequela dali a um ano e ir reler a opinião e esta me ajudar a rever a história até àquele ponto.

Além disso, gosto muito da maneira como escrevo agora por outra razão. São posts longos, dão um trabalhão a escrever, e não espero que alguém tenha a paciência de os ler até ao fim; mas gosto deles porque demonstram a minha evolução no modo como leio e como penso sobre o que leio. Anima-me saber que aprendi muito com tanta leitura, e é a cereja no topo do bolo por fazer algo que é um hobby, mas que me enriquece.

Nestes 5 anos aprendi a avaliar dum ponto de vista mais técnico aquilo que um escritor faz com a sua história, e se bem que não posso dizer que isso faz de mim uma profissional, já fico contente por poder avaliar se o ritmo do enredo está a seguir bem, se falta alguma coisa, se o autor encheu chouriços e aonde, se um clímax e um final resultam ou não, e porquê; consigo dizer o que funciona na história e o que não funciona, e isso já me deixa brutalmente feliz.

Falando mais especificamente do que aprendi a ler estas histórias em particular, aquelas que preencheram estes meus 5 anos... oh, dava para fazer posts durante uma semana. Talvez um mês. Sendo assim, acho que vou só fazer os destaques que me ocorrerem nos próximos minutos.

Aprendi a viver na pele de outros tão diferentes de mim, com experiências e pensamentos tão distintos, e aprendi empatia e compaixão pelo outro e pela diferença, e aprendi paciência na interacção com o outro, porque nunca sabemos o que lhe vai na cabeça.

Aprendi que mesmo com tudo o que nos separa, a experiência humana é universal, e que alguém tão diferente pode ter as mesmas experiências e problemas e dúvidas que eu, e ler sobre os mesmos pode ajudar-me a lidar com os meus.

Aprendi que está tudo bem se não soubermos o caminho, se errarmos e tropeçarmos e fizermos asneira, e se não tivermos tudo resolvido ainda antes de avançar, e que pode-se sempre improvisar, e que o esforço pode ser recompensado, se apenas nos atrevermos a avançar.

Aprendi que nem sempre os bons ganham, e muitas vezes os maus fazem muito mal, e aprendi a aceitar isso, mas também a não ficar impávida na face do que está errado, e a lutar na direcção do que está certo, e a torcer pelos bons, porque mesmo assim, ainda conseguem muitas vezes a vitória.

Aprendi a apreciar as histórias que fogem aos caminhos batidos, a procurar coisas que podem não ser universalmente populares, mas que são tão satisfatórias de ler. Adoro uma boa heroína com um feitio retorcido, uma pessoa difícil de gostar, mas tão bem caracterizada que é impossível não gostar da personagem. Aprecio quando não tem que ser o príncipe encantado a salvar o dia.

Aprendi a desenvolver um sexto sentido para avaliar os livros que me chamam a atenção, a ler nas entrelinhas das opiniões dos outros e perceber se é coisa que me interessaria, a separar o trigo do joio e escolher as leituras que mais me poderão agradar, poupando-me tempo e dinheiro que seriam gastos com coisas que não me cativariam.

Sobretudo, aprendi que não me canso, não me poderia nunca cansar, de ler, e por arrasto, continuo a gostar muito de opinar sobre ler. Há momentos mais agitados e mais calmos na minha vida de leitora, e consequentemente de opinadora, mas aprendi a aproveitar quando a vontade e a inspiração atacam; quando estão ausentes, bem, há sempre outro dia para escrever e para ler, e há tantas outras coisas que me agradam fazer que nunca poderia morrer de tédio. 

Neste momento, estou muito satisfeita e orgulhosa do que vejo quando olho para os últimos 5 anos, e só espero poder continuar a escrever aqui por muito tempo, enquanto me for possível e me der a vontade, e espero nunca perder a vontade e a curiosidade que me levou aos livros e à leitura.

sábado, 27 de junho de 2015

Curtas (mais ou menos): Calvin & Hobbes


Estou quase, quase a atingir o meu objectivo de ter na minha biblioteca e (re)ler tudo de Calvin & Hobbes. O meu único obstáculo neste momento é a própria editora, a Gradiva. Começaram o ano passado a fazer reedições dos livros que estavam esgotados, mas o furor editorial parece ter morrido, e há um par de livros da colecção que ainda estão esgotados.

O primeiro é Plácidos Domingos (colecção das tiras de Domingo, habitualmente mais elaboradas e a cores, e que neste momento no site da editora está apontado para "brevemente"), e É um Mundo Mágico, que é a última colecção de tiras dos personagens, e que por isso é uma vergonha que esteja ainda por reeditar (e no site da Gradiva diz apenas "esgotado", no momento em que escrevo).

Enfim. Vou tentar viver com a decepção por mais um bocadinho. Mas lá que é aborrecido, é. Fiquei com a sensação que a Gradiva queria resolver o problema dos livros esgotados e respectivas reedições antes do Verão do ano passado, pois até tinham um calendário mês a mês do que pretendiam reeditar, mas já passou um ano desde então e ainda há livros esgotados. Por favor, é Calvin & Hobbes, tem 20 anos de edição em Portugal e continua a pedir que se faça reedições, não me podem vir dizer que não vende.


Adiante. Foi uma experiência engraçada, ler estes livros fora de ordem e de momentos tão diferentes na vida da tira, porque deu para observar as diferenças e evolução da mesma ao longo do tempo, e apreciar o trabalho de Bill Watterson na mesma. O Calvin do início era bem mais anguloso (é desconcertante, prefiro o Calvin mais do fim), e o Hobbes também passou por algumas mudanças estilísticas (nas patas, por exemplo).

Aprecio que o autor nunca tenha tido medo de fazer uma tira com personagens verbosos, porque às vezes as verborreias do Calvin são das melhores coisas de se ler. Um miúdo precoce a dizer coisas com que podemos facilmente concordar, a apontar as ironias da vida, a filosofar, a criticar o estado da sociedade e as coisas da vida... permite ao autor uma liberdade fantástica em termos de texto, e usou dela sempre que pôde.

Outro ponto mesmo interessante de observar é a evolução das tiras de domingo (Calvin & Hobbes: Páginas de Domingo 1985-1995 mostra bem isso). É conhecida a luta do autor por quebrar as regras altamente rígidas das tiras para jornais, os esquemas que eram obrigatórios seguir, para permitir mais flexibilidade ao artista e brincar com o espaço bem maior que tinha à disposição...

... e o livro em questão é tão recompensador de ler por isso mesmo. Nele (um catálogo de uma exposição das tiras dominicais), podemos ver as pranchas originais, os erros (a tinta era corrigida com fita correctora, o que é fascinante); e podemos ver como o autor ainda antes de expressar a sua frustração com o formato já tentava pintar fora da linha e fazer coisas inovadoras.

É impressionante uma tira em que ele fá-la funcionar colocando o texto e imagens importantes na metade de baixo da tira, para precaver cortes nos jornais que costumavam adaptar a tira, e mesmo assim, observando o todo, a parte de cima não parece supérflua, parece preencher melhor a imagem. Além disso, adorei (re)ver algumas tiras sequenciais, em que ele conta uma história fragmentada, muitas vezes sem palavras, de um modo soberbo.

Entre alguns dos meus enredos favoritos na tira, não posso deixar de mencionar sempre que o Calvin fazia bonecos de neve bizarros; quando no Natal se debatia entre ser um bom menino e receber presentes, ou lançar mais uma bola de neve; quando se debatia na escola para manter a imaginação sob controlo, ou resistia a mais um teste; ou qualquer interacção com a Susie, incluindo as partes do clube Livra-te das Raparigas Peganhentas (LRP). Mas também os momentos de introspecção, sozinho com o Hobbes, que é particularmente sarcástico e subtil, e eu adoro isso.

Entre os livros de Calvin &; Hobbes que li o ano passado, e estes, posso dizer que reencontrei uma tira que tinha gostado de ler quando era mais nova; e que adorei ler com um olhar mais atento, reinterpretar e perceber melhor aquilo que era dito (e o que não era dito). Ganhei um respeito renovado pela tira, e pelo trabalho do seu autor, porque entendo porque é que ele lutou para fazer as coisas como achava que era necessário fazer, em nome da sua arte.

É algo irónico ver notícias como esta, porque o autor nunca teve interesse em licenciar qualquer produto sobre os personagens para além dos livros, como está no seu direito de criador de um produto artístico. E quando aparecem notícias fofinhas como esta, e é um pouco estranho lê-las com a noção de que um peluche do Hobbes vai exactamente contra a vontade do autor, ainda mais porque a relação de um rapazinho com o seu peluche é precisamente a coisa explorada nas tiras, ainda que a verdadeira natureza do Hobbes seja deixada em aberto.

Ainda voltando às edições dos livros, não gosto nada que tenham decidido chamar A Última Antologia a um dos livros. Pode ser a última que publicaram em Portugal, mas na ordem original dos livros não o é, e tal palavra não consta do título em inglês. Nem faz sentido que a tenham publicado em último, porque está fora de ordem.

A outra coisa que não gosto nestas edições é que as capas são lindas, frequentemente com um detalhe e cores brutais, e a Gradiva nem no próprio site divulga as capas na página do livro respectivo com um tamanho decente para se apreciar. (E para usar em opiniões como esta. Foi um horror arranjar as capas para este post, são minúsculas ou estão cheias das tralhas de marca-de-água da Wook - que eu nem compreendo porque é que existem, porque os livros e suas capas não são deles para terem direito a fazer marca-de-água em cima -, e nem sequer pude fazer uma digitalização, como costumo quando não encontro uma imagem de capa decente, porque os livros são bem maiores que o tamanho A4 da impressora/scanner. Grrr.)

terça-feira, 23 de junho de 2015

End of Days, Susan Ee


Nota: Este livro foi lido em leitura conjunta com a Joana do Leitora de Fim-de-Semana. Podem ler a opinião dela aqui.

Opinião: O último ano tem-se revelado repleto de leituras que acabam séries, o que faz sentido, porque a maior parte delas comecei em 2011-2013, quando comecei a ler em inglês com frequência, e sendo a maioria trilogias, é só fazer as contas, estão todas a terminar ao mesmo tempo. O problema é que eu ando a dizer adeus a demasiados mundos em que passei tanto tempo imersa (também conta o tempo entre livros em que andei a suspirar pelas sequelas), e isso deixa-me com uma disposição singular. (Uma qualquer combinação de deprimida, feliz, enlevada, amuada e com vontade de pedinchar mais.)

Focando-me neste livro em particular, e em como termina a sua série respectiva. Bem, a Susan sempre teve uma noção brilhante de ritmo, e os livros têm tido um ritmo alucinante, sempre a andar, sempre algo a acontecer, mesmo os momentos parados avançam a narrativa ou a caracterização dos personagens. Este livro não é excepção; começa pouco depois do anterior terminar (seria um exercício interessante ler todos de seguida, para acompanhar o ritmo), pegou em mim, envolveu-me, e não me largou até chegar ao fim.

E no entanto, no arco maior de história que abrange a trilogia, senti que este livro andou um nada depressa demais, ou saltou passos, ou algo do género. Há coisas que são resolvidas demasiado depressa, e fora de cena, o que é incongruente com a importância que tiveram antes. E há coisas que mereciam mais tempo para ser desenvolvidas.

Não sei, a Susan originalmente planeava que isto fosse uma pentalogia, e dei por mim a desejar que realmente houvessem mais livros, porque há coisas que mereciam ter mais tempo de antena para eu ficar completamente satisfeita com a sua evolução. Pelo menos, sinto que mereço definitivamente mais um livro, para apresentar e desenvolver certos pontos, com um outro enredo que não este (os nephilim talvez?), e depois finalmente vinha este livro, em toda a sua glória apocalíptica.

A fasquia está mais elevada que nunca, e os planos retorcidos dos anjos (de certos anjos, pelo menos) vêem o seu culminar neste volume, o que não augura nada de bom para os humanos. Algo que sempre apreciei nestes livros foi a sensação de o mundo que conhecemos ter acabado, e isso mantém-se, não é desfeito, e é ainda mais ameaçado. O apocalipse continua, e é um desafio tremendo para os humanos resistir-lhe.

Apreciei alguns pontos novos do worldbuilding que foram introduzidos (se bem que não me importava nada que alguns fossem mais desenvolvidos, ou que tivessem sido apresentados mais cedo): os Watchers, o Pit, o que a espada podia fazer, toda a nojeira fascinante que acontece no Pit, aquilo dessa nojeira que transborda para o mundo real, a nojeira ainda mais fascinante e aterradora que os anjos arranjaram para lixar os humanos, e oh por favor, eu quero saber onde a Susan foi buscar metade destas imagens, porque é arrepiante e (adivinhem) nojento e fascinante e aterrorizador.

Coisas que eu gostava de ter visto mais: basicamente explorar a sociedade dos anjos. Gosto muito do POV da Penryn, mas é limitado neste aspecto, e não me importava nada de ter tido uns capítulos para o Raffe, que nos daria isso, e ainda esclareceria melhor o seu carácter, que é coisa que eu gostava de ter explorado melhor, sinto que ainda nem arranhámos a superfície.

Além disso, onde é que está o Lúcifer? O que é um apocalipse sem o anjo malvado que caiu originalmente por, er, mandar a entidade patronal apanhar caracóis? Sinto que um apocalipse sem Lúcifer não é apocalipse, o que provavelmente é o objectivo, mas dei por mim a desejar que ele aparecesse para acabar com aquela tralha toda, que estava toda a gente a operar fora do calendário pré-estabelecido, e não seria tão divertido se Lúcifer fosse um burocrata retorcido, e fosse ele a pôr tudo na linha? Ok, aqui já estou a construir castelos no ar, eu sei. Mas seria tão fixe.

Sobre a Penryn e o Raffe: bem, eu estava totalmente à espera que acontecesse uma desgraça, e passei tanto tempo a preparar-me para isso, que agora não sei bem o que fazer com o que lhes acontece. A sua relação toma um ângulo mais intenso e angustiado, com a noção do muito que os separa, mas também aquele efeito íman que não os deixa afastar... e o livro termina para eles num ponto alto e satisfatório, mas também numa incerteza, e a incerteza consome-me, porque não quero imaginar coisas más a acontecer a personagens queridos, e pronto, quase que era preferível que tivesse mesmo acontecido uma desgraça, porque lá fico eu outra vez a fazer castelos no ar. Alguém que me pare.

De qualquer modo, têm boas cenas juntos, com trocas verbais deliciosas, e o passarem mais tempo juntos quer dizer que, bem, passam mais tempos juntos. Fisicamente. Conscientes do outro mesmo ali ao lado. É uma evolução interessante para a Penryn, que apesar de tudo, todo o drama, a maturidade que lhe é exigida, ainda é uma adolescente, com direito a ter as hormonas aos saltos.

E por falar na Penryn, a sua evolução ao longo do livro passa por algumas coisas que eu gostei de ver abordadas, como o "cofre dos sentimentos", onde enterrava lá tudo, e agora começa a abarrotar, o que guia o seu comportamento mais complicado em certos pontos. Apesar disso, ainda é a minha Penryn, decidida, corajosa, pronta a tudo para proteger os seus, mas também uma jovem, com direito a inseguranças e a não saber o que fazer em algumas circunstâncias. A Susan faz um bom balanço neste ponto.

Entre os personagens secundários, destaque para a Paige, essa pequena guerreira que não se perde na violência; a mãe da Penryn e da Paige, que tem os seus momentos lúcidos, e tem intervenções brutais neste livro; o Beliel, esse desgraçado que agora é demasiado fácil entender; os Watchers, um grupo bem interessante e que merecia mais desenvolvimento para se consolidar como grupo; e as pessoas da Resistência, sempre determinadas na sobrevivência da raça humana.

Sobre o confronto final, já disse, foi assustador e de roer as unhas, comovente e nojento (há criaturas por ali que eu preferia nunca ver), e emocionante e um testamento à resiliência humana e à sua capacidade para coragem nas situações mais estúpidas e sem esperança. Foi mais curto do que eu esperava, mas o final fica em simultâneo fechado (por resolver o conflito) e em aberto (já que fica à nossa imaginação como os personagens vão resolver os problemas do dia-a-dia num cenário pós-apocalíptico).

Acho que a sensação principal que eu retiro daqui é que isto ainda não acabou. A Susan tem tanto para explorar neste mundo, e se ela achava originalmente que conseguia escrever 5 livros disto, é porque tem material para mais livros que 3. Só a exploração da mitologia e do worldbuilding dava pano não só para mangas, mas para o fato completo. Há muitas pontas soltas, muitas coisas apenas introduzidas, com as quais eu consigo sobreviver se não as vir desenvolvidas, mas não era tão bom saber mais? Sou insaciável neste ponto.

De qualquer modo, saí da leitura muito feliz. Tive um final para os meus queridos personagens, um bom final, que me satisfez. Tive um livro ao nível dos outros, em termos de ritmo do enredo e da história. Tive novas descobertas e resolução de pontos mais antigos. Só queria assim um bocadinho mais, que sei que a Susan é capaz, que ela podia ter deitado tudo abaixo, eu incluída, e ainda tinham de me raspar do tecto da explosão de excitação. Assim sendo, sobrevivi.

Páginas: 352

Editora: Skyscape (Auto-publicado)

domingo, 21 de junho de 2015

Fui à Feira do Livro 2015 e trouxe alguns livrinhos comigo para casa...

... e dei-me conta que no fim de contas, já vou à feira há uma série de anos, e dei por mim a pensar no que mudou ao longo do tempo. Muita coisa na organização do evento em si está na mesma, por exemplo, e não no bom sentido - e são coisas de que já me tenho queixado por aqui, em anos anteriores. O site da feira continua a ficar online a tarde e a más horas, com informação incompleta e por vezes errada. Chega ao ponto de eu não perceber para que se dão ao trabalho de ter sequer um site, se é para fazer um trabalho tão mauzinho.

Em relação ao ano passado, fiquei com a sensação que a feira estava mais bem preenchida, o que é bom, já que em 2014 a achei mais despida de participantes. Algumas novas editoras tinham espaço próprio, e agradou-me bastante ver mais variedade nesse aspecto. Por outro lado, a feira continua com muitos e variados locais de comida, alguns novos, alguns até interessantes. Gostei de algumas apostas presentes neste ano.

Continuo a achar que algumas editoras se preparam mal para a feira. A desarrumação no primeiro dia não foi tão óbvia este ano, mas certos "grandes grupos" (*cof*Leya*cof*Porto-Editora-Bertrand*cof*) continuam a ter um problema grande com ter representados todos os seus livros. A única editora média-grande que eu vejo fazer um bom trabalho nisso é a Presença. Talvez também o grupo 20|20, onde se inserem a Topseller ou a Booksmile, mas são novos, não têm um catálogo tão extenso para representar.

Também há problemas com a Hora H. A lista das editoras que entravam e que estava no site não era nada precisa, e algumas editoras continuam a ser criativas com a lista de livros que entram na promoção. (Continuo a defender que se não querem que todos os livros com mais de 18 meses entrem na hora H, não se dêem ao trabalho de participar. Poupa-vos tempo, e aos leitores também.) A Porto Editora é péssima nisso (pior, apanhei livros que o ano passado estavam com o autocolante dos 70% de desconto o ano passado, e este ano só tinham o dos 50% - estavam mais forretas com o autocolante dos 70%), e a Saída de Emergência também segue a mesma linha.

Também me custa que as editoras não sejam mais variadas com as listas de livros do dia. Achei que a Planeta se repetia muito em temáticas e até em livros, e raramente se aproximaram sequer do tipo de livros deles que eu leio. Também mantive um olho nos livros do dia da Fnac, e apanhei apenas uma única promoção de banda desenhada em toda a feira, o que é chocante porque eles têm uma boa representação de BD em inglês. Pior, no último dia tentei comprar um livro na banca deles, mas o único que tinham era o de exposição, e estava rasgado, há alguns dias até - nem se deram ao trabalho de mandar vir mais naqueles dias finais. Lá perderam uma compra, e é isso que não compreendo.

Acho que entre esta e a feira anterior o meu foco em termos de compras mudou um pouco. De certo modo, já aproveitei para adquirir com as promoções e vantagens da feira tudo o que desejava em termos de livros de ficção, e por isso comecei esta feira com a noção de que não havia muita coisa que eu desejasse mesmo trazer para casa. Portanto, como já tinha apontado o ano passado, virei-me para a banda desenhada, onde encontrei boas surpresas e descontos, e onde aproveitei para juntar à minha biblioteca livros muito desejados ou que me chamaram a atenção recentemente.


De ficção/não ficção, fica aqui aquilo que escolhi trazer para casa. Os primeiros dois livros são edições portuguesas antigas que apanhei nos alfarrabistas, o primeiro de Jane Eyre da Charlotte Brontë, o segundo é o Persuasão da Jane Austen (adoro as invenções com os títulos dos clássicos que os nossos editores faziam nesta altura; o do Persuasão - Sangue Azul - é o melhor).

Trouxe ainda alguns livros que na altura em que saíram me suscitaram curiosidade, mas não se proporcionou virem cá para casa. (O Até ao Fim do Mundo porque tem um PVP ridículo para o tamanho de livro que é.) Quem Mexeu no Meu Comprimido? também me deixou interessada, mas mais por curiosidade profissional, já que aborda algo na minha área, e é nesse sentido que quero ver se aborda o assunto de forma adequada.


E pronto, a banda desenhada comprada na feira, fora as aquisições que mostrei no post final de Maio aqui. Os livros do Armandinho chamaram-me a atenção desde o início, e por isso aproveitei que eram livros do dia (20% de desconto), mais uma promoção da editora de "leve 3, pague 2". O Finalmente o Verão não tinha grande promoção, apenas 10% de desconto, mas tenho lido tanto e tão bem acerca dele, que achei que valia a pena comprar directamente à editora, e recompensar o terem-no trazido para Portugal.

Fun Home e Pequenos Prazeres são livros que já li, e que aproveitei uma Hora H para juntar à minha biblioteca. Os três seguintes também foram comprados na Hora H, na Devir. Li recentemente o primeiro livro de Jeph Loeb e Tim Sale sobre heróis da Marvel e uma cor que os defina, Hulk: Cinzento, e por isso lembrei-me de procurar os outros dois livros dedicados ao Demolidor e ao Homem-Aranha. Leitura bastante adequada, especialmente porque vai sair (finalmente) em breve o último livro, há tanto tempo prometido, sobre o Capitão America. O Witchblade é a continuação de um livro que já li há tanto tempo, e mesmo que o interesse já não seja o mesmo, ainda gostava de ler a história completa.

Na Gradiva, novamente na Hora H, aproveitei para comprar mais livros para a minha colecção de Calvin & Hobbes, e o bónus foi que na compra de dois livros deles estavam a oferecer um das tiras do Adam, por Brian Basset, bem divertidas, por isso saí de lá muito contente. Excepto pela parte que os livros de Calvin & Hobbes que me faltam estão esgotados, mas pronto, espero que resolvam essa falha depressa.

A última coisa na pilha é A Ordem das Pedras, da colecção Valérian e Laureline (aqueles totós da Asa meteram só Valérian na lombada, o que é parvo, porque na capa metem a colecção como sendo Valérian e Laureline, o que de qualquer modo é mais correcto, ambos são os protagonistas da história). Já li sobre estes personagens, o livro em questão tinha as partes 1 e 3 duma história, e na altura queixei-me da lógica de tal escolha; esta é a parte 2, e assim poderei ler a narrativa duma ponta à outra sem saltos.

E pronto, aqui fecha mais uma edição da Feira do Livro. Continua a ter os mesmos problemas de sempre, e não os vejo a ser resolvidos no futuro, infelizmente. Mas também continua a ser um prazer e uma delícia ir passear para o Parque Eduardo VII, ver (e babar para) os livros, maravilhar-me com as possibilidades, e pensar naquelas que podem vir cá para casa. Já acabou, e já estou com saudades. Resta-me esperar a edição do próximo ano.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Magnífica Sophy, Georgette Heyer


Opinião: Há tanto, mas tanto tempo que eu andava para ler Georgette Heyer! Mas caramba, as expectativas preocupavam-me, e a verdade é que ela tem tantos livros que uma pessoa não sabe por onde começar. E como se não bastasse, as únicas edições em português que existiram são de muito antes de eu ter sequer nascido, e impossíveis de encontrar. Portanto, o lançamento desta edição foi uma boa surpresa que me deixou bastante animada.

Parte do interesse na autora vem do facto de escrever romance histórico, e ser uma espécie de precursora do género; e parte pelas comparações a Jane Austen. No segundo caso, pude observar e perceber a comparação. A Georgette tem um sentido de humor fantástico a escrever, e isso ressoa do próprio sentido de humor da Jane.

E, além disso, a Georgette escreve maioritariamente no período Regência, no início do século XIX, que foi a época em que a Jane viveu. Se no caso da Jane, a contemporaneidade permite-lhe criar uma história e um mundo reais e credíveis, no caso da Georgette parece que ela era adepta de investigar extensivamente sobre aquilo que escrevia, e isso vê-se na maneira como escreve, como evoca a época e os costumes. Os personagens podem ser um pouco exuberantes, mas são produtos do seu tempo.

Passando ao livro: diverti-me tanto a lê-lo! Já disse por aqui que a melhor maneira de me cativar é um sentido de humor brutal, e o modo como a Georgette escreve e desenvolve o enredo e os seus personagens está cheio disso. Não há um fio de enredo que conduza a história, algo que seja o objectivo final da história e os personagens; em vez disso, o que a dirige é o dia-a-dia dos personagens, os pequenos dramas de sociedade.

Adorei a Sophy, uma jovem pouco convencional, pois foi educada fora da sociedade inglesa, o que lhe deu uma certa desenvoltura e um descuido saudável em relação às regras de sociedade; e é refrescante o contraste com os personagens que a rodeiam. Ela cria um impacto entre a sua família e amigos, e se no início esse impacto pode ser visto como negativo por alguns personagens, cedo se torna óbvio que a mudança que trouxe é para melhor. Pelo menos a família tem-se divertido e soltado mais.

É muito engraçado ver o evoluir das relações entre personagens; porque podem começar todos por estar comprometidos e quase-comprometidos uns com os outros, mas com as reviravoltas que a narrativa promete, bem, não vai tudo acabar da mesma maneira. Passei o tempo todo a divertir-me a prever os casais finais.

Achei muita piada ao enredo da prima da Sophy, a Cecilia, porque mostra-a volúvel, mas honrada, e susceptível a uns empurrõezinhos no momento certo; ri-me tanto com as manobras da Sophy neste ponto. Por outro lado, também achei piada à Eugenia, pela sua rigidez, e aonde isso a leva; e ainda mais à relação da Sophy com o primo Charles, de cão e gato, porque é tão óbvio aonde aquilo vai dar que mantive um sorrisinho no rosto o tempo todo.

E agora que penso nisso, encontro mais uma ligação na minha vida literária, entre a Georgette e outra autora que aprecio: a Meg Cabot. A Meg escreveu dois romances históricos mais a pender para o YA, mas que têm um tipo de escrita que poderia dizer que honra o estilo da Georgette Heyer. E mais, em Victoria e o Charlatão, o protagonista masculino chama à Victoria bruxa, acusando-a de gerir e manobrar a família como um general no campo de batalha, o que é totalmente a pinta da Sophy.

Enfim, foi uma óptima leitura, e estou muito contente por lhe ter pegado. Há muito tempo que ansiava por um romance histórico assim, mais old school, se posso chamar-lhe assim. É um romance charmoso, bem giro de acompanhar, com uma autora que se esmera na imagem que nos desenha da época, e com personagens deliciosos. Por favor, Asa, vá lá, publica mais um...

Título original: The Grand Sophy (1950)

Páginas: 368

Editora: Asa

Tradução: Helena Ruão

sábado, 13 de junho de 2015

Curtas: Hawkeye, Saga, Outcast

Hawkeye vol. 2: Little Hits, Matt Fraction, David Aja, Steve Lieber, Ron Lim, Francesco Francavilla, Annie Wu
Oh, céus, cada vez gosto mais desta série. O Clint Barton é um totó ensarilhado, e só faz asneira, e precisa de pôr ordem na vida dele, mas é tão divertido ler sobre as suas aventuras. Este volume reúne um conjunto de histórias stand-alone, enquanto combina um arco de história maior, que apenas começou a ser desenvolvido, estando em aberto para evoluir em direcções bastantes interessantes.

Uma das razões pelas quais tenho apreciado tanto a narrativa nesta série é porque os autores usam formas incomuns de contar a história, de montar a sua evolução, o que consegue cativar-me e manter o meu interesse. O primeiro número deste volume segue separadamente o Clint e a Kate Bishop, enquanto enfrentam a Natureza implacável. O segundo conta uma história de Natal inusitada, cheia de problemas mesmo à escala do Hawkeye, e usa uma moldura de saltos temporais para manter as coisas interessantes.

Os números seguintes usam num o enquadramento de capas de comics com um tom romântico para contar a história, e noutro mudam a narrativa para a perspectiva das mulheres na vida do Hawkeye, o que se torna engraçado e fascinante de acompanhar. (Foi uma das minhas partes favoritas. E já agora, a Kate Bishop é a melhor.) Outro número segue um assassino que persegue o Clint, e o último é o melhor de todos: mostra a perspectiva do Lucky, o cão do Hawkeye, sem praticamente palavras, apenas acções, e o modo do cão de ver o mundo. E surpresa, a história faz fantasticamente sentido, e continua o arco de história maior da série.

A arte de David Aja continua bem interessante, com montes de opções multifacetadas, um leque variado de modos de contar uma história; e ainda bem complementada pelo trabalho de cores, a tender para o monocromático e para o foco numa cor ao longo de um número da revista.

O primeiro número deste livro tem um outro par de artistas, mas não sou totalmente fã, especialmente por causa de como desenham as caras. Francesco Francavilla desenha outro número, e o seu estilo mais escuro é perfeitamente adequado ao tom, mas achei a história meio confusa, particularmente na narrativa do vilão, e gostava que a sua figura tivesse ficado mais bem esclarecida.

Saga vol. 2, Brian K. Vaughan, Fiona Staples
Sim, falem-me de cliffhangers. Este livro tem o maior deles todos! Argh, e eu que estava a passar um bom bocado. Era preciso isto? Grrr. A única coisa boa disto tudo é que não tenho de esperar muito para ler o próximo volume. A coisa má é que já nem me importava muito com os cliffhangers, e agora lembrei-me que, por defeito, não sou fã.

À parte disso, foi uma boa leitura. Uma óptima leitura. O primeiro volume era de iniciação, de apresentação do mundo, e por isso em partes a história é um nada mais frágil. Mas aqui, aqui a história é uma máquina bem oleada, com foco e propósito. Consigo vê-la perfeitamente trabalhada, e dá gosto ver.

A minha parte favorita deste arco é o foco na família. A de sangue, e a que construímos por nós próprios. Adorei conhecer os avós da pequena Hazel, que são dois personagens fascinantes, e torna-se cativante seguir a luta desta família, a Alana e o Marko e a pequena Hazel, pelo direito a ser uma.

Há um par de números no meio deste livro que seguem os outros personagens da narrativa; e se por um lado aprecio conhecê-los melhor - gostei bastante da parte da história à volta do The Will, mas ainda não gosto por aí além dos robots -, por outro é stressante ver a situação desta família ficar suspensa e ver dedicar um número aos outros personagens. Não me deixem pendurada, pessoal! Estou a ficar investida nisto, e dá-me uma coisa má ao ficar pendurada.

A arte de Fiona Staples é fantástica, nem que seja porque consegue desenhar todo o tipo de coisas bizarras e fantásticas para este universo, e torná-las completamente credíveis e nada (vá, só um bocadinho) estranhas. E gosto muito do aspecto que ela dá às coisas, cores incluídas.

Outcast vol. 1: A Darkness Surrounds Him, Robert Kirkman, Paul Azaceta
Esta foi uma leitura que me deixou impressões contraditórias. Li apenas um volume de The Walking Dead, por isso não sabia bem o que esperar de Robert Kirkman, e por isso fui com uma mente aberta para a leitura, e no fim de contas saí dela ao mesmo tempo frustrada e satisfeita.

Satisfeita porque a ideia é muito boa. O protagonista, Kyle Barnes, tem um percurso de vida absolutamente dramático, é totalmente um coitadinho, e que interessante é por vezes acompanhar os coitadinhos e danificados. Aquilo que é sugerido da sua história é bastante curioso, e também gostei de desvendar o pouco que é apresentado da mitologia deste mundo, de como as coisas funcionam, os exorcismos e as possessões, e o poder que Kyle tem neste mundo.

Frustrada porque, bem, aquilo que é apresentado do que se está realmente a passar é muito pouco. A história anda a passo de caracol, e se bem que não desgosto do tom contemplativo (que apesar de tudo, os autores conseguem manter o interesse do enredo), também gostava que andasse um pouco mais depressa, mesmo que fosse para apresentar mais perguntas que respostas. Ao menos estava a andar e apresentar mais detalhes deste mundo, saciando-me a curiosidade.

A arte é mais ou menos interessante. Um pouco estranha, nas caras, mas tenta usar as vinhetas duma forma engraçada, destacando pequenos detalhes das cenas. Não resulta tão bem nas cenas de acção, em que confunde as coisas, mas de resto é um bom detalhe. As cores são fantásticas, mas se bem me lembro já conhecia a colorista de Velvet vol. 1, e continuo a gostar do trabalho dela.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

All Played Out, Cora Carmack


Opinião: Há uma certa qualidade na escrita da Cora Carmack, e no modo como ela cria as suas histórias, da qual me parece que nunca me vou cansar. É que ela escreve num género (New Adult) pejado de dramas por vezes excessivamente pesados (não desmerecendo quem passe por tais situações, claro, mas às vezes dá a sensação que certos traumas são a regra entre gente desta idade, e tal perspectiva parece um pouco excessiva).

E no entanto, a Cora consegue sempre manter os pés no chão e escrever protagonistas com problemas reais, problemas com os quais nos podemos relacionar, problemas bastante típicos e credíveis para alguém que tenha a idade dos protagonistas, sem minimizar ou empolar este ponto, apresentando-o apenas como é.

E por isso devo dizer que gostei bastante da perspectiva da Nell. É fácil identificar-se com ela, com a sensação de que está a perder uma parte da experiência universitária, de que o fim do seu percurso académico vai fechar-lhe as portas a uma série de coisas. Portanto, gostei de a ver tentar sair da zona de conforto, experimentar coisas novas, mesmo que não a deixassem completamente confortável ao início.

Adorei ver como ela estava aberta às novas experiências, apesar de se ter fechado durante tanto tempo, e de como não se encolhia ou deixava intimidar, além de ser brutalmente honesta sobre o que lhe estava a passar pela cabeça. (É refrescante, confesso.) Além disso, não era tímida, e mesmo não tendo experiência nalgumas áreas, não deixava de avançar e aproveitar os frutos que tal situação lhe pudesse dar.

Já o Mateo, bem, é divertido, e gostei de ver um personagem tão atrevido e sem vergonha. Mas o seu problema pareceu-me menos bem desenvolvido, e por isso menos credível na maneira como o condicionava e condicionou a narrativa. Gostava de o ter visto pensar mais no seu drama pessoal, ver como ditava a sua atitude, porque teria sido mais realista depois quando ele e a Nell se zangam por causa do seu "problema". Isso e o lado dela nesse momento, que também não foi assim tão bem explorado.

O resultado é que parece que se zangam por uma razão parva, e se voltam a juntar por uma razão parva. Enfim. Nunca fui muito fã da bengala do Grande Desentendimento Entre os Protagonistas (Que na Realidade é Pequeno e Estúpido) que às vezes os romances têm como forma de esticar a narrativa. (Se bem que a forma como o Mateo se declara é totalmente adorável. E muito em linha com o formato do livro - listas de items -, o que torna a coisa mais especial.)

Em comparação, acho que a psicologia do Silas, no livro anterior, estava muito mais bem desenvolvida e era muito mais credível, ao ponto de me fazer mudar de ideias sobre ele; eu achava que o Silas era um palerma, e revelou-se e cresceu durante o seu livro. O Mateo, bem, não sei bem se cresceu. Não tenho dados que o suportem, já que o seu problema e resolução não estão tão detalhados.

Ainda vale a pena mencionar a Stella, que está a passar por um mau bocado; estou mortinha para pôr as mãos no livro dela. Vemos pelos olhos do Mateo que a situação dela não é muito clara, apesar de se poder ler nas entrelinhas, e isso é o mais trágico, a incerteza e a insegurança que toda a situação traz. Gostei de a ver fazer amizade com a Nell, puxar por ela, e de como elas se sentiram confortáveis em estar lado a lado, em silêncio, sozinhas com os seus pensamentos.

Fora isso, achei muito interessante ver como o Ryan gravita em torno dela, a morrer de preocupação, mas sem poder fazer algo de útil. Prevejo que a história deles, especialmente pelo lado da Stella, vai ser dolorosa mas poderosa de ler, e tenho todas as expectativas que a Cora saiba tratar o assunto de forma adequada. Ela tem aqui a oportunidade de fazer coisas fantásticas, e espero que aproveite.

A única coisa de que tenho pena neste processo todo é que o contrato dela não foi estendido para abarcar os novos livros da série que vai escrever. (Ou então ela decidiu não aceitar.) O que quer dizer que assim não tem nada previsto a sair por uma editora, que dá uma data mais precisa. Sabemos que o livro da Stella sairá no início de 2016 (palavras da Cora), mas bolas, gosto de saber quanto tempo tenho para sofrer até lá. E quero muito ter o livro em paperback, que sei que valerá a pena, mas com a prevista auto-publicação, imagino que vá ser um pouco mais difícil. Fico a torcer para que corra tudo bem. (E a meu contento.)

Páginas: 336

Editora: William Morrow (HarperCollins)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sétima Campa... Estava Vazia, Darynda Jones


Opinião: E pronto, este é o sétimo livro da série, e não há muito que acrescentar. É um livro de fantasia urbana, é um pouco formulaico (nada de errado com isso, claro), e as coisas que encontrei nos livros anteriores e que já apreciei no passado, bem, vou continuar a gostar delas.

Entre elas, destaque para o sentido de humor. Um autor e um livro com sentido de humor é meio caminho andado para me ganharem como leitora, e bolas, adoro o humor com que a Darynda escreve, e a maneira sarcástica e depreciativa como escreve a voz da Charley, a protagonista. As situações caricatas em que a Charley se mete também me agradam ler, e divirto-me sempre com um destes livros, por mais situações sérias que também tenha.

Neste livro, começa finalmente a ser desenrolado um novelo que eu esperava ver desenrolado há algum tempo. Desde o início que é claro que vai haver um confronto épico entre, er, forças do mal e do bem, com profecias e drama e quem sabe o fim do mundo à mistura; e este livro dá um passo decisivo nesta direcção.

Estou a gostar de ver, e a única coisa de que me queixo é que avança demasiado devagar; mas lá está, deve-se à "fórmula" como a autora escreve as suas histórias, que só permite um certo avanço do arco de história principal que abrange os vários livros da série. De qualquer modo, as coisas ficaram mais sérias, e estou a gostar de vê-las intercaladas com os mistérios próprios deste livro.

Outra coisa que adoro seguir é o elenco, principalmente os personagens secundários, que são deliciosos. A Cookie é fantástica a lidar com a Charley, a pequena Amber tem uma óptima personalidade, o Garrett é tão mal utilizado, porque atura a Charley com uma tal estoicidade que merecia bem mais... a Gemma merecia mais tempo de antena, e também o Quentin; e este personagem novo, o Dealer, é definitivamente intrigante, porque não sabemos nada dos seus motivos.

Quanto aos protagonistas, bem, eu sempre tive uma relação difícil com o conceito da relação deles. Gosto muito da ideia deles juntos, do passado em comum que tiveram, a série de desencontros, e como estão feitos um para o outro. Contudo, frustram-me um bocadinho, por vezes.

Gostava que o Reyes se tornasse mais permeável ao carinho e compaixão que a Charley sente por ele e pelo seu passado e circunstâncias, porque tem mesmo de aprender a permitir sentir-se vulnerável e amado, e digno de ser amado. Não digo que não é uma caracterização e evolução fascinantes de observar (há pequenos detalhes na personalidade e circunstâncias dele que são muito bem pensados), mas gostava que isto andasse para a frente mais depressa.

A outra coisa que me frustra, bem, é este novo desenvolvimento na relação deles. Ainda não consigo ver bem o endgame da autora, aquilo que ela tenciona fazer com isto, e por isso por enquanto é uma vulnerabilidade, algo que não sei se tem lugar na história. Além disso, detesto como tem condicionado a relação deles.

O Reyes está demasiado protector, a Charley revolta-se e foge e mete-se em sarilhos, dando razão ao Reyes, que fica ainda mais protector... detesto este ciclo auto-alimentado. Ugh. Não gosto de protagonistas masculinos armados em macho alfa, e não gosto de protagonistas femininas que dão em burras só porque sim. Darynda, por favor, tira-nos deste filme, sim?

Enfim. Ainda gosto bastante da série, e claro que vou continuar a ler. Estou pelo menos curiosa e intrigada com o futuro da série e dos personagens. Não vejo como é que o próximo livro pode ser minimamente interessante, porque a decisão que os personagens tomam parece ser um recuo e não um avanço, parece que se estão a acobardar e esconder, mas vou esperar para ver.

Uma última menção para um certo desenvolvimento. Há um personagem, com quem a Charley sempre teve uma relação conturbada, apesar de se amarem. E acontece-lhe neste livro uma... coisa. O meu problema é que não há pistas suficientes para isso, preparação suficiente do leitor para isso. Gostava que ele e a Charley tivessem partilhado mais tempo de antena no livro, para preparar esse desenvolvimento.

Vi logo à distância o que lhe tinha acontecido quando ele aparece, e é devidamente chocante e preocupante, mas também bastante inesperado, e por isso não tem impacto emocional, o que é uma pena. Além disso, com as decisões dos personagens quanto à mudança de cenário, não vejo como é que esta situação pode ser devidamente explorada e investigada. E sei que a Charley quereria fazê-lo, por isso parece-me algo irrealista continuar neste caminho.

Enfim. Estou com pouca confiança na direcção que a Darynda parece ter tomado, mas claro que quero ver onde isto vai dar. Pelo menos sei que vai ser interessante e nada aborrecido.

Título original: Seventh Grave and No Body (2014)

Páginas: 312

Editora: Círculo de Leitores

Tradução: Ana Lourenço