sábado, 11 de julho de 2015

The Stars Never Rise, Rachel Vincent


Opinião: Bem, eu considero-me fã da Rachel Vincent, e até eu fiquei surpreendida com o facto de este livro me ter enchido as medidas, e o quanto me encheu as medidas. Já há algum tempo que não lia um livro dela (o ano passado foi marcado por não ter uma publicação dela, e ainda não me atrevi a continuar a explorar os livros já publicados por ela no passado mas ainda não lidos por mim), e parece que já não me lembrava que ela costuma escrever e apresentar as suas histórias duma maneira que me agrada bastante.

Primeira coisa mesmo fixe: a premissa. Só a Rachel para me misturar distopia com fantasia urbana e escrever assim num género a que vou chamar distopia paranormal, que não é muito comum ver por aí. Este livro passa-se num futuro construído depois do mundo quase ter sido destruído por possessões demoníacas - a sério, é mesmo isso.

Essencialmente, no passado deste mundo houve um momento em que as pessoas se deram conta da existência de almas, e de que o "poço" de onde quer que elas vinham tinha secado, e que os bebés que estavam a nascer morriam todos por falta de almas. E deram-se conta que demónios possuíam pessoas, e que podiam existir normalmente, pelo menos até consumirem a alma dessa pessoa e deixarem uma espécie de zombie no lugar do que era um corpo saudável.

Neste passado a Igreja (Church no original) lutou contra os demónios, e diz que venceu. Que o local da acção (os EUA) está livros de demónios. Isso dá-lhes poder para gerirem a sociedade como lhes convém, o que passa por uma série de regras estritas sobre comportamento adequado, uma espécie de Neo-Puritanismo que leva a jovens serem "esterilizados" se forem vistos, de algum modo físico ou psicológico, como impróprios para reprodução, ou que leva a espectáculos públicos de queimamentos na fogueira se alguém tiver um comportamento suficientemente herético.

E gostei mesmo de ver isso explorado. Adoro o conceito de uma sociedade controlada pela religião, ou por uma organização que usa a aparência de religião para controlar as pessoas. Gosto da imagética que adoptaram, muito inspirada na religião tradicional, e do uso de regras e tradições religiosas antigas, e até de irem buscar (o que são basicamente) autos-de-fé para pessoas que saem da linha.

Gosto do conceito de possessões demoníacas, que implicam que alguém próximo de ti possa ser um deles, ou que pelo menos deixem essa suspeita, e quando esse pequeno comboio de desconfiança parte, leva a que se possa desconfiar de toda a sociedade e de como está organizada - o que é o objectivo neste livro. E gosto do conceito de exorcistas e de como funcionam neste livro.

Segunda coisa que gosto, os personagens. Adoro a Nina, uma boa protagonista, muito ao estilo da autora, capaz, corajosa, decidida a fazer o que precisa para sobreviver. A Nina e a irmã, Melanie, têm sobrevivido com dificuldade por a mãe ter caído aparentemente no vício da droga, mas fazem tudo para continuar e evitar que a Igreja descubra a situação e as separe.

Não sou a maior fã da Melanie, porque achei-a demasiado cabeça no ar e desconsiderada para com as circunstâncias, sem pensar bem no que fazia, mas não posso negar que é uma boa caracterização. Pelo menos aprecio-lhe a fibra moral e gosto da sua relação com a irmã. Protegem-se, cuidam uma da outra, preocupam-se.

O interesse amoroso é algo abordado aos poucos, sem dominar a história, e até é uma coisa fascinante, que me dá muita vontade de ver explorada. As capacidades do Finn são únicas, e a sua natureza traz questões sobre amor e atracção e como "funcionam". O conceito da sua existência é brilhante no contexto deste mundo, e as possibilidades são quase infinitas. Tenho as minhas ideias sobre o que a autora pode vir a fazer, mas é tão provável que esteja certa como errada.

O grupo Anathema é um belo grupo de jovens que me deu vontade de conhecer melhor. Achei alguma piada e irritação com a Devi, que tomava aquela atitude antagonística, mas é uma espertalhona, e gosto que seja uma rapariga com atitude. Fora isso, quero conhecer melhor os outros, mas gosto da dinâmica no grupo, especialmente com a presença do Finn.

Também gostei de como a narrativa desenvolveu, o enredo corre a bom ritmo e é uma viagem de descoberta da Nina, do que é capaz e das mentiras que a sua sociedade lhe impingiu. Creio que adivinhei as reviravoltas, mas não creio que era suposto serem surpreendentes, tendo em conta o género são mais ou menos cruciais existirem na narrativa; deviam ser chocantes, e isso foram. Li o livro em menos de nada, e quando embalei, nunca mais quis parar, por isso posso dizer que é devorável e bastante cativante.

Quanto à escrita, eu já sei que gosto da Rachel Vincent, e gosto de como ela apresenta certas coisas. Gosto das premissas dela, pouco usuais. Gosto que haja uma discussão honesta sobre comportamentos no seio desta sociedade, e como certas atitudes são problemáticas, e gosto como nunca há uma culpabilização da Nina ou da Melanie pelas opções que tomaram.

Em suma, um belo livro que inicia uma nova série. A Rachel Vincent é uma autora muito capaz, que faz as coisas duma maneira que me cativa e agrada, e conseguiu ainda nunca me desapontar. (Ao contrário doutra autora que leio muito e aprecio, a Jennifer L. Armentrout... sim, JLA, ainda estou MUITO lixada com o Stone Cold Touch.) Gosto do cenário, da premissa, dos personagens e da escrita, por isso tem tudo para continuar a dar certo.

Páginas: 368

Editora: Delacorte Press (Penguin Random House)

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