segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Este mês em leituras: Agosto 2015

E pronto, este mês não correu assim tão bem como isso. Tencionava manter o ritmo que encontrei, mas perdi-me. Nem sempre há vontade de, quando chego a casa, começar a escrever, e isto repete-se por uns dias até me dar a vontade, e mesmo assim, ainda levo um par de dias a organizar as ideias. Oh well, não fico preocupada, funciona o que funcionar. Aquilo que quero comentar aqui acaba por ser comentado, leve o tempo que levar.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Meg Cabot: Insaciável, Overbite;
  • O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier;
  • The Winner's Crime, Marie Rutkoski;
  • Curtas BD: Nimona, Noelle Stevenson; The Wicked + The Divine vol. 2: Fandemonium, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles; Finalmente o Verão, Jillian Tamaki, Mariko Tamaki; Zits em Concerto, Jerry Scott, Jim Borgman;
  • Meg Cabot: Ransom My Heart, O Rapaz da Porta ao Lado;
  • Curtas: BD: All New X-Men vol. 4: All Different, Brian Michael Bendis, Stuart Immonen, Brandon Peterson, Mahmud Asrar; Uncanny X-Men vol. 3: The Good, The Bad, and The Inhuman, Brian Michael Bendis, Chris Bachalo, Kris Anka, Marco Rudy; Guardians of the Galaxy/All-New X-Men: The Trial of Jean Grey, Brian Michael Bendis, Sara Pichelli, Stuart Immonen, David Marquez; All-New X-Men vol. 5: One Down, Brian Michael Bendis, Stuart Immonen, David Marquez, Sara Pichelli.

Os livros que marcaram o mês

  • O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier - preciso de explicar? é a Juliet, e a senhora não perde o jeito mágico que tem para escrever histórias; parece que as coisas lhe saem inteiramente formadas (e que bem formadas), qual Atena a sair do crânio de Zeus (yeah, isso é uma história da mitologia grega, believe it or not);
  • The Winner's Crime, Marie Rutkoski - acredito que esta senhora fez um pacto com o diabo para escrever histórias que arrancassem o coração ao seu leitor e o espezinhassem, voltando a pô-lo no seu lugar, incapaz de bater de igual forma; estes livros são curiosamente emocionais, pois é impossível não nos compadecermos do quão humanos os protagonistas são, num mundo em que as probabilidades estão contra eles; e o fim apenas não me surpreendeu porque eu sou pessimista até mais não e já estava à espera da desgraça... agora quero um renascer das cinzas e vingança até mais não;
  • Manifesto de Como Ser Interessante, Holly Bourne - acho que estava à espera que este livro fosse mais leve e fofinho e divertido, um pouco à semelhança das comédias românticas que a protagonista vê a certa altura, mas os primeiros capítulos desenganaram-me, e quão melhor e mais fascinante é o livro por isso... a Bree sobe alto e cai grandiosamente, mas cresce incrivelmente nesta viagem;
  • O Mar Infinito, Rick Yancey - li este livro hoje num dia.. num dia! há quanto tempo é que não faço isso? a história continua viciante e interessante, mesmo que este livro seja um pouco diferente do primeiro; ainda assim, esta visão de um futuro pós-apocalíptico é assustadora e uma pessoa fica a roer as unhas de preocupação com os personagens.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Livros adquiridos durante o mês! Entre a banda desenhada, temos os livros da colecção Poderosos Heróis Marvel, que estou a fazer, e o Ms. Marvel vol. 3, que o primeiro exemplar que o Book Depository nunca chegou e eles foram simpáticos o suficiente para me mandar outro. Chegaram também o Nimona e o The Wicked + The Divine vol. 2, que li prontamente.

Entre a ficção, entrou para as minhas estantes Half Wild - Entre o Humano e o Selvagem, que me ficou a custo zero com dinheiro em cartão Continente. Também chegaram Ransom My Heart, que li para o meu desafio Meg Cabot, e Lair of Dreams, que até tenho medo de ler, já que li o último há dois anos e meio, receio faltarem-me os detalhes para estar à vontade na leitura.

Os livros de Downton Abbey chegaram hoje via Amazon, esperei uma data de tempo para ficarem a um preço mais jeitoso antes de aproveitar. E o Every Last Breath, bem, digamos que vem duma necessidade compulsiva para ter todos os livros da Jennifer L. Armentrout, mesmo aqueles que eu suspeito que vou odiar. Yep, sou uma masoquista.

A ler brevemente

Portanto, pus aqui os livros sobre Downton Abbey, que seriam uma boa preparação para a próxima temporada, suponho. Também tenho o Lair of Dreams, se bem que, como disse ali em cima, o livro intimida-me. Repito ali alguns livros dos meses anteriores, porque ainda lhes quero pegar.

Coloquei ainda o Half Wild e os livros dos Poderosos Heróis Marvel, um porque quero mesmo ler a sequela, outros porque tenciono continuar a ler a colecção. E pus o Every Last Breath, apesar de saber que não posso lê-lo até estar pronta. E por "estar pronta", quero dizer... "sem vontade de partir coisas e esganar pessoas e atirar o livro da janela". Eu já o detesto antes de ler, por isso a perspectiva não é boa.

Tenho ali, figurativamente, o Queen of Shadows, o qual, se não é possível perceber pelos pontos de exclamação, estou muito animada para ler. E se há algo de justo e bom neste mundo, eu terei o Every Word nas minhas mãos ainda em Setembro. Ainda estou meio obcecada com o primeiro livro da autora.

Fora isso, tenciono ler os restantes livros da Boy series da Meg Cabot, o Beastly Bones, se me chegar, e os volumes seguintes da Batgirl e da Batwoman, e o último do Hawkeye. (Se me chegarem, também.)

sábado, 29 de agosto de 2015

Curtas: BD

All New X-Men vol. 4: All Different, Brian Michael Bendis, Stuart Immonen, Brandon Peterson, Mahmud Asrar
Uncanny X-Men vol. 3: The Good, The Bad, and The Inhuman, Brian Michael Bendis, Chris Bachalo, Kris Anka, Marco Rudy
Guardians of the Galaxy/All-New X-Men: The Trial of Jean Grey, Brian Michael Bendis, Sara Pichelli, Stuart Immonen, David Marquez 
All-New X-Men vol. 5: One Down, Brian Michael Bendis, Stuart Immonen, David Marquez, Sara Pichelli

Tive a oportunidade de ter acesso ao Marvel Unlimited este mês, e então aproveitei para avançar um bocadinho na leitura dos títulos dos X-Men, e este foi o resultado. É interessante observar como os títulos dos X-Men têm sido usados ultimamente, e que partes do mundo dos mutantes são mostradas em que títulos.

Por exemplo: o All-New X-Men segue impreterivelmente os X-Men Originais, seja como for. Seguia-os quando estavam na escola Jean Grey, e segue-os agora que estão na escola Charles Xavier. O X-Men segue as mulheres na escola Jean Grey, até onde li; o Uncanny X-Men segue o pessoal na escola Xavier, e o o Wolverine and the X-Men segue, bem, o Wolverine e os alunos na escola Jean Grey. E é tudo o que sei dos títulos do universo X-Men. (Nunca me tinha dado conta duma divisão tão clara.)

Ora bem, apontamentos e destaques de cada parte/fase destes livros: no Uncanny X-Men, temos um par de histórias com os métodos menos ortodoxos de treinar alunos que os professores da escola Charles Xavier têm; é interessante e importante notar as diferenças ideológicas com a escola Jean Grey, e como os métodos e pontos de vista se mantêm afastados entre ambas.

Outra história envolve as mulheres da escola saírem para uma noite só de mulheres e acabarem a tropeçar no evento Inhumanity; o que me lembra, este título é escrito assim com um humor mais retorcido e sarcástico, o que me agrada.

E ainda outra história lida com o desaparecimento dos X-Men Originais no evento The Trial of Jean Grey, e como isso afecta as pessoas da escola. Esta história presenta ainda uma exploração do estado mental e da noção das coisas que o Scott Summers/Ciclope tem, o que era algo que queria ler há um bom bocado, por isso aprecio que finalmente o tenham feito. Normalmente é um personagem demasiado impenetrável.

O All-New X-Men segue os X-Men Originais (XMO) antes, durante e depois do evento The Trial of Jean Grey - este último passa pelos Shiar, povo extraterrestre nada fã da Fénix, raptar a Jean Grey mais nova, a dos XMO, e pô-la em julgamento pelos crimes da Fénix, que ela a este ponto ainda não cometeu - foi uma Jean mais velha -, e de qualquer modo, já não estabelecemos que a influência desta entidade é tão forte que ninguém lhe resiste e os seus hospedeiros fazem coisas que doutro modo não fariam? Só para vermos a extensão do ressentimento dos Shiar, céus. Acalmem-se lá um bocado.

De qualquer modo, aqui nestes livros destaca-se um sentido de humor mais leve, mais divertido, e que muitas vezes deriva das situações caricatas que se geram pela presença dos XMO no presente e seu cruzamento com os seus respectivos eus do presente, e com as pessoas que lhes são mais próximas.

Estes livros marcam a introdução da Laura Kinney, a X-23, na team XMO, o que eu gostei muito, porque sou fã da Laura e gosto de segui-la e à sua awkwardness a conviver socialmente, derivada da sua história de vida e das suas capacidades. Acho que a Laura pode mexer um pouco com a equipa e dar-lhes um bom balanço.

O evento The Trial of Jean Grey destaca-se pelo crossover com os Guardiões da Galáxia, o que também apreciei, pois é um título e uma equipa divertidos, e a sua perspectiva sobre os XMO foi interessante de acompanhar, para além de vermos como se enturmam com os X-Men.

Muito gira também é uma cena no início do evento, com o Scott e a Jean mais novos, porque é tão estranha a situação deles, ao ver o seu futuro, e as coisas rebentam numa cena tão deliciosa de ler, pelo drama adolescente bastante credível, e pela presença do Anjo, que no fim comenta: "Bem, isto foi desconfortável. O Bobby teria adorado." - e teria, mesmo. O Bobby teria metido uma série de comentários bem colocados e hilariantes de ler.

O volume após este evento faz retornar os X-Men/Irmandade de Mutantes do futuro, e fecha a sua história. Esta coisa de viagens no tempo e dos paradoxos que cria é fascinante, e um bocado assustadora também. Qualquer dia isto vai explodir na cara de alguém. É curioso o que descobrimos sobre o estado de muitos membros da Irmandade, porque explica as suas acções, mas ao mesmo tempo é curiosamente conveniente.

E pronto, consegui avançar mais um pouco no que queria ler destes títulos, mas ainda assim não tudo. O mês é demasiado curto, raios.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Meg Cabot: Ransom my Heart, O Rapaz da Porta ao Lado


Título original: Ransom My Heart (2009) / The Boy Next Door (2002)

Páginas: 432 / 424

Editora: Avon (HarperCollins) / Bertrand

Tradução: - / Maria José Santos

Ah, que combinação tão engraçada e curiosa que se colocou este mês para o meu desafio Meg Cabot. O primeiro livro, Ransom My Heart, foi escrito e publicado por alturas do lançamento do último livro da série do Diário da Princesa. Neste último, a Mia passou dois anos a escrever um romance histórico e está a tentar publicá-lo, e a editora e a Meg aproveitaram para lançar ao mesmo tempo, numa reviravolta metaficcional, Ransom My Heart, como se tivesse sido escrito pela Mia.

O segundo livro, O Rapaz da Porta ao Lado, tem uma singularidade de outro tipo - na forma. É um romance contemporâneo escrito totalmente na forma de e-mails enviados entre os protagonistas e os personagens secundários, e curiosamente resulta. Resulta muito bem. É dos meus livros favoritos da Meg.

Sobre Ransom My Heart, já tinha tido oportunidade de o ler no passado, e é grande. Já não me lembrava disso. Estou habituada aos romances históricos serem mais curtinhos, e de certo modo mais formulaicos. Este pelo menos brinca com essa fórmula um pouco, o suficiente para me cativar e manter o interesse.

A premissa de Ransom My Heart passa pela protagonista, Finnula, precisar de repor o dinheiro do dote da irmã - e por sugestão da mesma, para atingir esse fim, irá "raptar" um homem e pedir um resgate. Parece que é quase uma tradição as donzelas fazerem-no por aqueles lados, num espírito travesso mas não maldoso. Finn é a pessoa ideal para fazê-lo, pois é uma jovem pouco tradicional, caçando para as gentes da terra e usando - escandalosamente - calças.

Por seu lado, o protagonista Hugo retorna das Cruzadas, depois de ter estado dez anos fora. Vem rico e desejoso de se estabelecer e levar uma vida calma. Mal sonha ele que a sua vida vai ser virada do avesso ao ser raptado por uma beldade ruiva e feroz...

Gosto que este seja um romance medieval, que é coisa que não posso dizer que tenha apanhado noutros romances históricos; e passa-se na Inglaterra do rei Richard I, esse conhecido como Coração de Leão - uma época pela qual ganhei um carinho especial depois de ler a trilogia da Scarlet da A.C. Gaughen. (Até há uma menção ao Robin dos Bosques.)

Também gostei da química entre os protagonistas, foram tão engraçados de acompanhar - a Finnula com o seu feitio tão directo e decidido, o Hugo completamente embeiçado. Gostei do sentido de humor que permeava a narrativa, e adorei a família da Finn, um conjunto de gente tão divertida.

Apreciei que a história não terminasse com o casamento; não, isso é só metade da mesma. O enredo conta também com um mistério - a descoberta do assassino do pai de Hugo, e da pessoa que está a tentar matar o Hugo também. É um pouco óbvia, a resolução, mas este formato permite que os protagonistas se conheçam melhor e se aproximem, e se apercebam dos sentimentos que têm um pelo outro.

O Rapaz da Porta ao Lado conta a história de um grupo de pessoas que trabalha num jornal. A protagonista é Mel Fuller, uma jovem duma cidadezinha simples que veio trabalhar para Nova Iorque, mas nunca perdeu as maneiras da sua terra. É por isso que se preocupa com os vizinhos, especialmente com a vizinha do lado, Helen, uma idosa que é atacada misteriosamente, e é Mel que dá o alerta.

Por seu lado, John Trent trabalha no jornal rival, é herdeiro duma das maiores fortunas da cidade, e sente-se obrigado a retribuir um favor a um antigo amigo, o Max - que envolve fazer passar-se por ele enquanto a sua tia Helen está no hospital. É claro que mal conhece a Mel fica completamente caidínho, o que definitivamente dificulta um pouco as coisas.

Quando li este livro pela primeira vez, o estilo narrativo que usava era definitivamente uma novidade, contando uma história em e-mails, e foi isso que me atraiu. Não me soou a forçado, apesar dos constrangimentos óbvios do formato, e continua a soar-me muito bem, passados todos estes anos. Normalmente há sempre alguém a comentar os acontecimentos com outra pessoa, mesmo que não sejam os protagonistas ou sequer os personagens secundários, e faz sentido nesta comunidade de pessoas que comunica primariamente por e-mail. Acho que hoje ainda faz mais sentido, porque estamos todos à distância de um telemóvel com ligação de dados.

Acho que o que me diverte no livro é que esta pequena loucura com o formato resulta, e que a própria premissa doida da troca de identidades funciona tão bem. A razão pela qual o John a aceita é razoável, a razão pela qual o desprezível do Max a pede é razoável, e a reacção da Mel quando descobre é fantasticamente razoável. A execução desta comédia de enganos é bastante engraçada de acompanhar, e facilita muito que a culpa se mantenha no Max. O John apercebe-se imediatamente que está a fazer uma asneira, apenas não consegue encontrar maneira de a resolver, e deixa-se enredar. É fácil aceitar que errar é humano.

Adorei seguir a aproximação dos protagonistas, que são tão adoráveis juntos; e gostei bastante do sentido de humor da narrativa, que não se leva demasiado a sério. (Adorei a "vingança" da Mel, muito criativa, e adoro a ideia de criar o caos em Nova Iorque.) Mais, gostei do humor de ver os personagens secundários e até os "figurantes" (à falta de melhor palavra) comentarem os eventos, em jeito de treinador de bancada. E de ver as relações de amizade e familiares pré-estabelecidas, que dão um ar mais próximo ao desenrolar das coisas, como se o leitor também fizesse parte. Ainda mais envolvente é seguir as trocas de e-mails, ver quem responde a quem, ao ponto de ter devorado o livro em pouco mais de um dia.

Nota nada positiva para a tradutora, porque encontrei uma série de frases traduzidas às três pancadas, ou seja, traduzidas à letra, em vez de ao espírito da coisa, quando a linguagem é mais simbólica e menos directa. Encontrei novamente o meu pet peeve do queijo grelhado (já me queixei aqui, aqui e aqui), mas nem consegui ficar irritada, porque há tanto tempo que não o encontrava, a modos que já estava com saudades. (Nem por isso.) Contudo, não é o único, eu é que já nem me dou ao trabalho de listar exemplos, porque a certa altura são tantos...

sábado, 22 de agosto de 2015

Curtas BD: Nimona, Wicked+Divine, Finalmente o Verão, Zits

Nimona, Noelle Stevenson
Tenho uma história engraçada com este livro. Há uns tempos fui parar ao site da Noelle, onde este (originalmente) webcomic estava publicado, e li umas páginas, mas não me captou o interesse de imediato, e como muitas vezes me acontece na net, foi descartado, e passei à próxima coisa. Mais recentemente, já depois de saber que se ia tornar num livro, li novamente as primeiras páginas, e fiquei muitíssimo mais interessada. Claro que tive de mandar vir o livro.

E foi uma tão boa surpresa, porque gostei muito do que a autora aqui fez. É um mundo quase típico da fantasia épica, com pendor medievalista, mas com pinta de ficção científica, em que a magia convive com a ciência. Os temas são clássicos, mas a criadora dá-lhes uma reviravolta particular, que nos faz ver as coisas sob um novo ponto de vista, e apreciar o modo como apresenta as coisas.

Gostei tanto da Nimona, uma (aparentemente) adolescente shapeshifter com um feitiozinho desgraçado e uma queda para a vilania. É muito interessante que de todos os formatos de corpo, ela escolha precisamente aquele, o que manda uma mensagem saudável; por outro lado, as travessuras a que se propõe são tão divertidas. Além disso, a sua história torna-se progressivamente mais séria, questionando a natureza do que faz alguém um monstro, terminando numa nota particularmente agridoce.

Já o Ballister Blackheart faz um vilão fascinante, porque o que faz dele um vilão não são necessariamente as suas acções, mas a narrativa pré-estabelecida por outrém, e pela suposta necessidade de haver um vilão. A sua relação com a Instituição é tão complicada, e gosto da maneira como a autora vira as coisas neste ponto, e também na pessoa do Ambrosius Goldenloin (grande nome). Aliás, a relação dele com o Ballister é adoravelmente complicada, e tão gira de seguir.

Gostaria ainda de destacar o sentido de humor com que a história evolui, balanceado com a gravidade de certos momentos muito bem introduzidos. E gostei de ver evolui a arte (e o trabalho de legendagem), vê-se que foi algo feito ao longo de muitos meses, e que permite acompanhar a evolução da autora.

The Wicked + The Divine v.2: Fandemonium, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles
Eu nem sei bem que dizer sobre isto, e que não passe por fazer muitos spoilers. Porque oh, que raios, esta gente é doida. Completamente varrida. No bom sentido, mas depois fazem-me coisas que deixam uma pessoa estarrecida. Ainda estou a bater mal do final explosivo que este livro/arco têm.

Vamos tentar falar doutra coisa. Voltando à premissa: deuses voltam de 90 em 90 anos, inspiram as massas, vivem durante dois anos, morrem em grande. Vira o disco e toca o mesmo. E mesmo assim, os autores conseguem explorar esta sua premissa e apresentar mais facetas da coisa que são fascinantes de considerar. Gostei muito de vislumbrar como certos aspectos funcionam, e como ao apresentar as regras, nos estão a mostrar como podem também ser quebradas.

Outro ponto muito positivo são as divindades que fazem parte do panteão. É suposto o mesmo ter 12 deuses de cada vez, mas tenho a sensação que é fluido, e que não sempre os mesmos de cada vez. De qualquer modo, aprecio imenso a diversidade incluída no panteão, e como entram divindades de várias mitologias. Vale tudo, e para esta totó da mitologia, é muito bom de ler.

Gosto particularmente de como me fazem trabalhar para entender aquilo que se vai passando. A papinha não está toda feita, obrigam um leitor a pensar no que está a ler, a interpretar, e por isso é das histórias mais ricas que já li. Além disso, a arte, já o disse, é linda, cativante, muito bem pensada, e gosto de ver quão eficaz é o trabalho final a contar a história que é preciso.

Quanto ao final, simplesmente estou furibunda. Eu já tinha ficado parva com o final louco/cliffhanger/seja o que for do livro anterior, aqui estou boquiaberta, não sei se de fúria se de espanto. Estes autores são o equivalente da BD do George R.R. Martin. Nada está a salvo, e vale tudo. Anda uma pessoa a investir o seu tempo para ver as suas esperanças cumpridas apenas brevemente, e depois arrancadas cruelmente das suas mãos. Só me sentirei vindicada se isto trouxer mais desenvolvimento e exploração deste mundo.

Finalmente o Verão, Jillian Tamaki, Mariko Tamaki
Planeta Tangerina, obrigada por publicarem isto. Muito obrigada, que ando há uns bons tempos para o ler, e se houver mais alguém a publicar banda desenhada em português a este preço e qualidade, eu vou querer.

Finalmente o Verão é uma história sem propriamente princípio, meio e fim, sem conflito principal a ser resolvido, sem curva de crescimento e evolução óbvia. É uma história sobre um verão indistinto partilhado entre duas amigas, Rose e Windy, que se reencontram todos os anos em Awago Beach.

É uma história sobre os momentos calmos e quietos do Verão, sobre ir à praia e jantar no alpendre, ver as estrelas e passear de bicicleta. Podia ser o Verão de qualquer um de nós na infância ou adolescência. Intercalados com isto, temos alguns momentos que permitem vislumbrar um processo de crescimento, uma possível evolução das protagonistas pré-adolescentes.

Exemplos: os conflitos com os pais, o entendimento que os pais têm problemas que não sabem resolver, que às vezes estão tristes. Um vislumbre da sexualidade através do comportamento de alguns adolescentes de Awago, e como isso é misterioso e difícil de destrinçar. As primas Tamaki conseguem descrever brilhantemente o dolce far niente das férias de Verão, e a incerteza e insegurança da transição para a adolescência.

O uso da cor azul para desenhar e pintar é tão inusitado, mas resulta tão bem, num equivalente de preto-e-branco que consegue mostrar brilhantemente os cenários, as paisagens, mas também as pessoas, as suas expressões e emoções. É uma opção ganhadora, e visualmente fica tão encantadora e impressionante.

Zits em Concerto, Jerry Scott, Jim Borgman
Já leio estas tiras há algum tempo, e a coisa que gostava de destacar de momento é o modo como as coisas se mantém mais ou menos estáticas ao longo dos quase 20 anos, pois o protagonista Jeremy praticamente não muda; contudo, ao mesmo tempo, os autores têm conseguido incorporar o estado de coisas actual ao longo dos anos, mantendo-se bastante relevantes.

Gosto muito das tiras pelo conflito geracional, as diferenças que acentua entre o Jeremy e os pais, o modo como a tecnologia os influencia e condiciona a sua relação; mas também pelos eternos dramas e conflitos adolescentes - arrumar o quarto, sair à noite com a namorada, fazer os trabalhos de casa atempadamente... simples e clássico, mas consegue fazer-me continuar a ler.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

The Winner's Crime, Marie Rutkoski


Opinião: Ah, céus, todo este livro (e esta série) me deixa ansiosa, em todas as suas facetas. Passei o tempo todo antes de o ler ansiosa para lê-lo, mas também ansiosa só de pensar e magicar no que aconteceria aos personagens. Passei o tempo todo que o li absolutamente ansiosa pela atmosfera de tensão, drama e intriga que a autora conseguiu conjurar. E agora vou passar mais um ano ansiosa para saber o que acontecerá no futuro, especialmente depois do fim extremamente doloroso e tortuoso a que fui exposta. Ninguém merece.

Portanto, depois dos eventos e decisões chocantes do final do primeiro livro, a Kestrel está na capital Valorian, e como a sinopse diz, "numa gaiola construída por si própria". Estando na corte, rodeada de intriga e drama, a fasquia está mais elevada, especialmente pela posição única que a Kestrel tem. Os olhos estão todos nela, e a margem para erro é muito menor - e o perigo de perder o jogo muito maior.

E é isso que a Marie Rutkoski é exímia em delinear. A tensão derivada de uma situação muito complexa e complicada, em que o mínimo passo em falso pode ser a morte do artista. O retrato psicológico de alguém que se vê numa situação impossível, e tenta fazer o melhor que pode e o que acha que está certo, por muito difícil que seja. Passei o livro todo extremamente ansiosa pela Kestrel, quase a hiperventilar do nervosismo em segunda mão, só de ficar doente de preocupação com ela. A Marie Rutkoski é mestre em torturar-me, oh se é.

E por falar na Kestrel, fiquei fascinada pelo seu percurso, e tornei-me na sua maior fangirl. Caramba, a fibra moral, a coragem, a firmeza, que são necessárias para se meter no jogo perigoso em que se mete. É que a Kestrel é uma óptima estratega, e tem queda para a intriga, e quem sabe no futuro para ser líder. Mas no momento, ela desgosta do engano necessário à sua posição, e usa as emoções à flor da pele, detestando ter de as esconder, o que a coloca numa posição tão precária. É impossível uma pessoa não se compadecer dela, ver a necessidade que há para manter a personalidade dura e desinteressada, mas ter a mesma vontade que ela de gritar aos sete ventos a verdade.

Quanto ao Arin, eu senti largamente uma enormíssima vontade de lhe bater ao longo do livro. Ainda sinto. E senti particularmente numa certa cena final do livro. Que obtusidade, os instintos dele dizem-lhe, não, gritam-lhe uma coisa, e ele passa o tempo a ignorá-los e a dizer-se outra! Credo, sempre pronto a pensar o pior da Kestrel. E ele tem todas as informações para tirar a conclusão correcta, tanto que chega eventualmente a ela. Mas não lhe perdoo portar-se como uma galinha tonta e passar o tempo a duvidar da Kestrel, quando a conhece verdadeiramente e entende bem algumas verdades fundamentais acerca dela. E não lhe perdoo o final do livro.

Sobre outros personagens secundários: é interessante as duas faces da moeda que compõem o pai da Kestrel e o Tensen, o "conselheiro" do Arin. De certo modo, ambos tentam fazer aquilo que sentem estar certo de acordo com as suas lealdades e falham miseravelmente ao fazê-lo. O Tensen, bem, não gosto de o ver fazer caixinha, mas percebo os seus motivos. Suspeito que pensa que se não revelar certas coisas ao Arin, este não se desviará do seu caminho. O problema é o Arin ainda faz mais porcaria em resultado, e detesto que o secretismo do Tensen contribua para o desfecho final.

O pai da Kestrel, bem, esse é algo inteiramente diferente. É quase morbidamente interessante observar a sua lealdade inabalável a um homem que não o merece, em detrimento da filha. Faz-nos perguntar o que motiva essa lealdade. Sinto história aí metida. Ou espero que assim o seja. Porque a noção de ele fazer o que fez só porque sim é tão, tão deprimente. A relação dele e da Kestrel não é fácil, com a dificuldade mútua em mostrarem afecto um ao outro, mas nada justifica o seu comportamento mesmo chocante do final do livro.

Entre outros personagens, destaque para o Verex, que foi uma pequena (boa) surpresa, pela sua recusa em deixar que o ambiente em que vive mate completamente aquilo que é. Seria quase adorável, se eu não tivesse tanto medo que também ele se venha a revelar também uma cobra venenosa. A Jess (e o Ronan, já agora) comportou-se de forma abominável. Por muito que tenham crescido e sido educados a pensar de um certo modo, é assim tão difícil ser um amigo verdadeiro? Dar pelo menos o benefício da dúvida a uma amiga de infância, talvez aceitar que nem tudo é a preto e branco?

Falando no final do livro... bem, não posso dizer que foi surpreendente, exactamente. Passei o tempo todo ansiosa e à espera que algo corresse mal, portanto... mas foi enervante, de qualquer modo. Deu-me ainda mais vontade de bater no Arin, por fazer a coisa mais estúpida que eu já vi e emperigar a Kestrel por capricho, e por deixá-la desamparada por esse mesmo capricho. Ugh. Que bebezão grande.

Ela fez tudo e mais alguma coisa pelo que achava correcto, e por ele, e em retorno que fez ele, se não agir como um palerma, e fazer asneira atrás de asneira? É bom que sofra e se redima no terceiro livro, ou por mais delicioso que seja ler sobre um casal impossível, não poderei acreditar nele como par merecedor para ela. Ainda não vi nada que justifique vir a ser o parceiro que a Kestrel merece. Nunca poderia ser alguém inferior.

Algo verdadeiramente cativante é o final, que apesar de ser horrível, também é prometedor pela direcção em que pode levar a história. Céus, quase que me lembra o final do The Assassin's Blade. Podia ser uma prequela dessa série, totalmente. Mas isto sou eu e o meu obcecado cérebro com tudo o que sai da pena da Sarah J. Maas. Acho que posso dizer que a Marie Rutkoski está a jeito para se juntar a ela.

Páginas: 416

Editora: Farrar, Strauss & Giroux

sábado, 15 de agosto de 2015

O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier


Opinião: O que é que eu digo na opinião do milionésimo (ok, não é bem o milionésimo, mas é o mais recente de uma lista que já vai bastante longa) livro que leio desta autora? Repito-me pela milionésima vez?

Ok, para quem nunca leu a autora (ainda existe gente assim? ainda vão a tempo de o corrigir), o que é que é preciso saber? Que, acima de tudo, a Juliet Marillier é uma contadora de histórias exímia. Não interessa sobre o que ela escreve, ela consegue escrevê-lo de modo a enredar o leitor na história. Não é possível ficar indiferente ao que ela conta.

Outro ponto muito interessante dos seus livros é que ela usa normalmente a rica história das ilhas britânicas para ancorar as suas narrativas. Já teve hipótese de explorar diversos povos e épocas, mas é tudo impecavelmente caracterizado e apresentado, e consegue sempre conjurar um magnífico cenário. Melhor, consegue descrever um cenário terra-a-terra, e ainda assim envolvê-lo com uma pitada de fantástico e de mágico, e ser tudo tão credível e real.

Quanto à história em si: muito ao estilo da autora, um dilema com o seu quê de mágico a afectar a vida de pessoas normais. Advinhei o que tinha acontecido mal aconteceu, porque a sinopse e o enredo me fizeram saber o que esperar e o que procurar. Mas não me incomodou, porque parte da piada é ver os personagens tentarem perceber o que se passa, e como chegam a essas conclusões.

A narrativa é dividida por três POVs, que a autora usa fantasticamente para complementar a narrativa através dos vários fios do enredo. Apesar de ter adivinhado a reviravolta, as coisas desenrolam-se duma maneira cativante, passo a passo, e é um prazer ver a sua evolução.

O príncipe Oran é um dos POVs. Futuro rei dos Dalriada, é visto pelos pais como pouco principesco, algo sonhador e romântico. Contudo, o Oran revela-se um bom político, com uma mente estratégica, e um bom líder, respeitado pelos seus. Por outro lado, a questão da Lady Flidais e de como o Oran se sente e comporta acerca dela, bem, fá-lo parecer um totó por vezes. (E muito ingénuo.) É o objectivo; o leitor deve duvidar dele antes de seguir caminho. De qualquer modo, o Oran compreende mais rapidamente do que esperava o que se andava a passar, e parte disso é devido precisamente ao seu espírito sonhador.

O segundo POV é a fabulosa e fascinante Blackthorn. Adoro personagens como ela. A vida foi muito dura para ela, mas a Blackthorn sobreviveu, e é tão rezingona e dura e teimosa e pouco habituada à convivência humana. (Como tem o direito de ser.) O melhor acerca dela é que não fecha os olhos a uma injustiça, e tem uma ânsia para acertar as coisas que a deixa quase doida e insensível a certas nuances. Não se deixa cegar por muito tempo, no entanto; é uma mulher inteligente e uma boa avaliadora de carácteres. O acordo que faz torna-a resistente a certas coisas, mas encontra uma rotina, ainda que precária, naquilo que faz. O modo como se revela aos poucos é tão interessante.

O último POV é o do Grim, e foi tão cativante. A Juliet é dotada o suficiente para fazer distinguir as vozes dos três narradores; e a parte do Grim é contada num tom enganadoramente simples e quase infantil - tomado como um gigante bruto, o Grim é muito observador e repara em pequenos detalhes que não ocorreriam a toda a gente. Não chegamos a conhecer a história dele, o que me fez zangar com a Juliet, porque ela está a fazer caixinha. Por isso e por certas coisas na narração dele, sei que vai ser daquelas coisas de arrancar o coração a uma pessoa e pisoteá-lo até ficar em pedaços.

E pronto, por fim dou por mim a suspirar por mais uma sequela. Não há fim a este sofrimento de um leitor de séries; estamos sempre torturados pela expectativa de esperar sabe-se lá quanto tempo por mais um livro. A espera por um livro da Juliet é duplamente tortuosa: espero pelo livro em português, e espero pelo livro de um autor favorito.

Título original: Dreamer's Pool (2014)

Páginas: 448

Editora: Planeta

Tradução: Catarina F. Almeida

domingo, 9 de agosto de 2015

Meg Cabot: Insaciável, Overbite


Título original: Insatiable (2010) / Overbite (2011)

Páginas: 512 / 288

Editora: Bertrand / Harper Voyager

Tradução: Sandra Esteves / -

Oh, bolas, estava com algum receio de pegar nestes livros, porque li o primeiro há que tempos (já foi opinado aqui no blogue, mais no início), e tudo o que me lembrava era uma paródia divertida, mas também uma confusão pegada.

As boas e más notícias é que a minha ideia sobre o primeiro livro mantém-se e estende-se à duologia. Não sei onde a Meg Cabot teve a ideia sobre vampiros, nem como é que lhe deu para escrever uma espécie de paródia, mas recordo-me de ler algures um post dela sobre os livros, e que tudo começou com uma pergunta da editora dela sobre se nunca tinha pensado em escrever sobre vampiros.

Pergunto-me se essa cena recontada por ela não denota uma certa pressão da editora para escrever sobre vampiros quando escrever sobre vampiros estava na moda; e pergunto-me se essa suposta pressão terá levado a que ela escrevesse algo, de facto, sobre vampiros, mas não algo a que dedicasse toda a sua atenção, levando a uma história com algumas marcas de ser escrita pela Meg Cabot, mas uma com falhas e coisas que eu sei que a Meg Cabot sabe fazer melhor.

Coisas boas e típicas da Meg Cabot: o humor. A paródia está em cada palavra, as menções e alusões a Dracula de Bram Stoker estão em alta, e muitos pontos do enredo pegam nos clichés e tropes das histórias de vampiros: o insta-love, as tendências dramáticas (ainda mais porque a Meena trabalha a escrever para uma telenovela), o vampiro bom-de-mais-para-ser-verdade, o vampiro que é perseguido por uma sociedade de caçadores de vampiros, a guerra de vampiros, o triângulo amoroso, o potencial segundo interesse amoroso que é um caçador de vampiros... o que quer que a Meg se tenha lembrado, ela meteu aqui.

E na sua maioria, conseguiu o seu propósito. Há uma sensação de que a história sabe que é sobre vampiros, e que sabe que é uma paródia, e por isso não se leva demasiado a sério. E isso é divertido. Tal como topar os clichés. Passei um bom bocado a divertir-me com a relação da Meena com o Lucien, porque sabia que não era real. Aliás, nunca levei o Lucien a sério, e por isso nunca poderia torcer por ele. É demasiado intenso e algo tendencialmente violento, por isso nunca seria um namorado modelo, o que é todo o objectivo.

Ainda assim, o retrato do Lucien é relativamente interessante, dividido entre o bem e o mal, o controlar dos seus instintos e dos seus, e a necessidade de se abandonar a eles. No final do primeiro livro ganha algum respeito por respeitar a vontade de Meena, respeito esse que perde rapidamente no segundo livro quando mete na cabeça que há de tê-la à força toda, apesar da sua vontade em não se juntar a ele.

A noção da Guarda Palatina é tão divertida, e tenho pena que não tenhamos mais livros para explorá-la. Perseguem não só vampiros, como todo o tipo de demónios, e assim dariam pano para mangas. Mas vá lá, uma unidade secreta paramilitar do Vaticano? Com freiras a distribuir porrada a vampiros? Tão bom. Demasiado bom, até, porque merecia mais.

A questão da Meena escrever para telenovelas também é engraçada, porque encaixa tão bem no dramatismo da típica história de vampiros, e goza ainda com a popularidade dos mesmos - como a novela rival da de Meena meteu vampiros, agora Insaciável também tem de ter.

Por um lado, gosto bastante da Meena, porque a sua atitude é tão "ugh, mais histórias de vampiros não, please", e na sua maioria tem pontos de vista e opiniões fortes e defende-se bem do que se lhe atravessa à frente. Mas, quando o Lucien entra ao barulho, ela perde um pouco desse fogo, e até vira uma gelatina cada vez que o vê, toda tremelona, o que é algo irritante. Pior, continua a defendê-lo para além do que é razoável, quando as atitudes dele são indesculpáveis - não interessa que ela no fim tivesse razão, ele portou-se tão mal, e a Meena parece uma palerma ao defendê-lo. Não gostei nada.

Já o papel do Alaric foi tão divertido, ele começa por ser este tipo snob demasiado obcecado com a contagem de fios de algodão dos lençóis e coisas assim - o que faz totalmente sentido quando percebemos as origens humildes dele. A perspectiva dele começa enganadoramente simples, e esta personalidade meio totó, meio nobre emerge, deixando vislumbrar uma imagem bem mais complexa.

Melhor, vê-se atraído por uma amante de um vampiro que está a caçar, o que é inaceitável para ele, e a razão pela qual luta tanto contra isso. Ainda melhor, as suas tentativas de cortejar a Meena no segundo livro são algo ineptas, e totalmente divertidas de acompanhar porque ele não percebe realmente o que falhou.

O problema com a duologia é que a sensação de estar a picar o ponto permanece durante toda a história. Oh, isto é Meg Cabot, e por isso o sentido de humor e os enredos malucos estão lá - mas fica a ideia que ela não se dedicou a isto de coração.

O Insaciável ainda é uma história completa, com princípio, meio e fim, e mesmo tendo os seus altos e baixos, e mesmo não sendo perfeito (falta-lhe o ter sido escrito de coração), ainda é relativamente satisfatório e divertido. Mas o Overbite? Tão imperfeito, tão curto, tão simples, tão... menos. Precisava de tanto mais.

Não quero reduzir isto a números, mas o primeiro livro tem mais de 450 páginas. O segundo, menos de 300. Acho que a diferença de tamanho mostra pelo menos que o primeiro livro teve mais trabalho na sua concepção. Já o segundo livro precisava de um esforço bem maior.

É que o enredo de Overbite é bem mais fraquinho, menos complicado e dramático. É suficiente para encher um livro, mas não tem a complexidade do primeiro livro, e pequenos pontos do enredo podiam ter sido tão mais explorados, e expandidos, para preencher melhor este mundo e estes personagens.

A personalidade do Lucien perdeu alguma subtileza, e a verdade é que se fosse mais desenvolvida, podíamos acompanhar melhor a sua luta neste livro, compreendê-lo melhor; e a Meena não passaria tanto por uma palerma que continua a ver algo de bom nele, se o leitor também conseguisse ver algo de bom nele.

A maior perda na duologia no entanto é a relação da Meena com o Alaric. Em teoria adoro tudo o que a relação deles é, como é suposto desenvolver-se (começam a discutir e acabam aos beijos), a camaradagem e a sensação de que estas duas pessoas são amigas acima de tudo e apesar de discutirem, porque passam o tempo preocupadas uma com a outra.

Na prática? Tudo o que adoro neles é tirado dum tell massivo e de muito pouco show. É-nos dito que são assim e assado, mas não é mostrado. Onde é que estão as cenas, especialmente no segundo livro, que mostram o quão adoráveis eles são juntos, que permitem a uma pessoa torcer por eles como se não houvesse amanhã? Há apenas fragmentos disto.

Bolas, até fiquei com vontade de escrever fanfiction da Meena e do Alaric só para colmatar estas faltas. E eu nunca tenho vontade de escrever fanfiction. Geralmente o que os autores escrevem chega perfeitamente para mim. Argh, porque é que tinhas de fazer isto, Meg Cabot? Dar-me um casal potencialmente fantástico, e depois fazer asneira???

E pronto, isto é só um sintoma do que está mal com a duologia. Bastava estar preenchida com mais cenas que desenvolvessem e expandissem e explorassem os personagens, o mundo e o enredo, que eu ficava satisfeita. Não é pedir muito, pois não?

Para terminar numa nota mais positiva, coisas que ainda assim gostei: a Mary Lou, a vampira (só) aparentemente vápida, e o marido Emil; o Jon e a sua demanda para se tornar útil à Palatina; o cão Jack Bauer e a lógica por trás do seu nome; o Abraham e a irmã Gertrude, lutadores extraordinários da Palatina, à sua maneira; a Palatina em si.

Nota negativa para a tradução do Insaciável. Não há nada de extremamente mau  que mereça destaque na tradução, no entanto, a tradutora é demasiado literal a traduzir, e portanto expressões que em inglês fazem sentido, em português... não fazem. Traduzir as coisas por uma expressão que mostre a intenção/ideia original por trás da mesma deve ser um conceito demasiado difícil.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Ant-Man (2015)

Tenho seguido o Marvel Cinematic Universe com interesse, e mesmo assim não sabia bem o que esperar deste filme. Conheço o Ant-Man dos comics, mas não é personagem que siga por aí além, seja em que iteração for. E perguntava-me como esta história encaixaria no universo partilhado dos filmes.

Quanto à última questão, fiquei bastante satisfeita. Há uma boa explicação para o pouco cruzamento destes personagens e destes aspectos com o resto do mundo MCU até agora. Faz bastante sentido, tendo em conta a história do Hank Pym com os Stark, a desconfiança e a separação que mantém. (Se bem que uma mençãozinha às suas indústrias ou ao seu trabalho num dos outros filmes anteriores podia ter sido um bom easter egg.)

Na questão do cruzamento com o MCU presente e futuro, gostei bastante de ver a aparição de um Avenger, foi uma cena divertida e a mostrar o potencial do fato do Scott numa luta directa, e é bastante claro que esta história se passa após o Age of Ultron, o que é ligeiramente interessante de constatar, tendo em conta o que esse filme trouxe para este universo.

Apreciei bastante o modo como decidiram apresentar a história e os personagens. Um Hank já mais velho, que teve as suas aventuras no passado (e já que vimos caras do passado - yay! -, não era tão interessante se o Hank e a Janet tivessem direito a uma série estilo Agent Carter, contando as aventuras deles?).

A Janet van Dyne desaparecida, perdida para a tecnologia que o Hank inventou. Uma filha desiludida com ele, ele próprio desiludido com a vida, encontra-se na posição de mentor do 2º homem a portar o título de Ant-Man. O 1º homem a quem serviu de mentor afastou-se dele, ficando-lhe com o controlo da empresa.

Não são coisas inovadoras, mas conjugadas fazem uma boa história. A única coisa que me soou menos bem é o conflito da Hope com o pai. Ou a história era sobre ela, e o conflito era completamente explorado, e bem. Ou a história é sobre o Scott e o seu processo de crescimento. (O que é.) Não senti que este processo de descoberta da Hope fizesse sentido apresentado pela metade, sem ter espaço para ser explorado.

Faria um pouco de mais de sentido ela já saber o que acontecera com a mãe, aproximar-se do pai por causa disso, e entender, ainda que não aceitasse, as razões dele para trazer o Scott para a equipa. (Aliás, isso geraria um conflito igualmente interessante com o Scott.)

Personagens e actores a destacar: a Evangeline Lilly como Hope, com um feitio e atitude deliciosos, que desafiam qualquer a enfrentá-la. A pequena Cassie Lang, que me deu uma vontade brutalmente enorme de ver no futuro uns Young Avengers. (Marvel, make it happen.) O Corey Stoll, tão credível na sua vontade de se mostrar merecedor, que é arrepiante quando se mostra com intenções nada meritórias.

Confesso que me perguntei como é que o Paul Rudd ia encaixar neste universo, porque um filme de super-heróis não parecia exactamente o estilo dele, mas encaixa perfeitamente no underdog que precisa de resolver a vida dele, e tem o sentido de humor e o feitio para o Scott Lang. Oh, e tenho de falar do Luis, com as suas histórias extremamente longas - eu conheço pessoas como o Luis! Compreendo a frustração do Scott. (Mas o Luis era divertido, apesar de tudo. Especialmente porque não tenho de o aturar.)

Quanto a efeitos, apreciei bastante o modo como exploraram o aumentar e diminuir de tamanho, e gostei de ver as lutas corpo-a-corpo, usaram mesmo as potencialidades da tecnologia de mudança de tamanho. O uso das formigas é impressionante, porque nos deixa ficar a ver outro aspecto destes animais, e são fascinantes. Até apreciei ver em 3D (excepto a parte em que passei 2 horas com dois pares de óculos em cima do nariz), que explorou relativamente bem todas as questões relacionadas com tamanho (heh).

Achei que ali de vez em quando faltava um bocadinho de resolução, de foco na imagem. Não sei se o formato original e a passagem para IMAX afectaria isso, ou talvez o uso de macro na filmagem de coisas mesmo pequenas mesmo perto, mas sim, pareceu-me estranho. Além disso, alguém passa à Marvel o contacto do responsável pelo envelhecimento da Kalique (Tuppence Middleton) no Jupiter Ascending? Esse estava fantástico visualmente, enquanto que o envelhecimento nos filmes da Marvel tem parecido demasiado artificial.

O filme tem duas cenas pós-créditos, uma bastante no seguimento da história da Hope, que me agrada muito, porque quero vê-la evoluir a partir daqui, participar em mais filmes. A segunda cena faz a ligação para o Captain America 3: Civil War, os diálogos permitem vislumbrar coisas que vamos ver no filme, o que me deixa bem animada; ainda mais fiquei ao ler por aí que a cena foi realizada pelos realizadores do Civil War, e que vamos vê-la (e revê-la) no dito filme, sob outros pontos de vista. Parece excitante, e estou tremendamente curiosa.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Paper Towns (2015)

Ok, tenho a dizer que este filme me apanhou de surpresa. quero dizer, eu sabia que ele ia sair, mas (in)convenientemente esqueci-me de quando, exactamente, é que ele ia sair, e quando dei por mim, já estava prestes a sair, e os meus planos de ler o raio do livro antes do filme foram por água abaixo.

Oh, céus, detesto mesmo este poster. É
tão preguiçoso, em termos de design.
A sério? Uma foto do protagonista,
uma foto da protagonista com o cabelo
ali a passar por cima, e já está?

Isto para dizer que a minha opinião é colorida por, uma vez na vida, não ter lido ainda o livro. O que se tornou uma experiência curiosa. É que eu estava totalmente à espera de ter uma espécie de cópia do Looking for Alaska à minha frente, com um rapazinho totalmente obcecado pela manic pixie dream girl, que dá significado à vida dele sem ter a sua história própria.

E se a Margo começa por ser exactamente esse estereótipo, o filme é também uma desconstrução do mesmo. (Se o John Green fizer um décimo disto no livro, já leva os meus parabéns.) É que o Quentin, o protagonista, conviveu com a Margo durante 2 anos, dos 7 aos 9 anos. E admitidamente, não fala com ela desde os 9 até aos 18 anos.

No entanto, não deixou de pensar nela e de fantasiar com ela, e de se achar até apaixonado por ela. O filme, ao apresentar as coisas nestes termos, faz-nos questionar quão saudável e razoável é esta perspectiva. (Quero dizer, é um bocado patético. Patético ao estilo dum miúdo de 18 anos, mas mesmo assim.) Faz-nos questionar a imagem que temos da Margo, que é filtrada pela perspectiva do Quentin, que nem sequer tem um contacto directo com ela.

Ou seja, a Margo da narrativa do Quentin não é a verdadeira Margo. Ela própria diz isso no fim, que não é possível ele estar apaixonado por ela. É interessante, pensar no que vislumbramos dela que nos diz realmente coisas sobre a personalidade dela. É uma miúda sem rumo, possivelmente mimada, porque cada vez que foge dá a sensação que os pais a deixam fazer tudo. Algo egoísta e centrada em si própria, e talvez um pouco snobe, ou talvez cega a certas coisas da vida como só alguém da idade dela pode ser.

Como espectadores, vislumbramos mais da Margo que o Quentin se permite ver. Tem uma imagem idealizada da moça, que nunca se poderia concretizar, claro. É um peso tremendo, pedir a alguém que corresponda à imagem que temos de si. E por isso, o filme é um negar do estereótipo que mencionei, porque admite que a manic pixie dream girl não é um exemplo, e que sonhar e fantasiar não leva a lado nenhum, se não se estiver ancorado na realidade.

Coisas fixes sobre a história: o foco na amizade, a importância que lhe é dada, e como o fim da escola secundária a muda. A sensação de fim de uma era com o fim da escola. O sentido de humor. O conceito de paper towns. A road trip. Um certo cameo na road trip. (Morri a rir quando vi.) As partidas da Margo. O Ben, que era adorável. E o Radar, idem. E as meninas, Lacey e Angela, que conseguem ter personalidade numa história que originalmente não as inclui tanto. (Ao que ouvi dizer, claro.)

Coisas que gostava de ver mais desenvolvidas: a road trip. Achei que faltava-lhe ter mais umas peripécias. As partidas da Margo, que eram supostamente com 9 passos e só vimos para aí metade disso. O filme dá a sensação de que podia ter uma edição melhor, e a estrutura de ter as partidas primeiro, e a road trip depois, pode não ajudar a fazer o enredo correr a bom ritmo.

Portanto, em suma, estou curiosa. Gostava de ler o livro mais para a frente, porque quero comparar as duas versões, e ver em que diferem. Vejo muito ódio por aí pela Margo, e gostava de perceber o que se passa, e gostava de ver se o John Green foi realmente capaz de fugir a algo que poderia ser descrito como uma fórmula que ele usa.

Fiquei satisfeita com o filme, apesar de, ou se calhar por causa de, nunca ter lido o livro (eu sei! o horror!), mas a curiosidade mórbida impele-me à leitura. Um dia destes  logo me viro para o livro.