terça-feira, 25 de agosto de 2015

Meg Cabot: Ransom my Heart, O Rapaz da Porta ao Lado


Título original: Ransom My Heart (2009) / The Boy Next Door (2002)

Páginas: 432 / 424

Editora: Avon (HarperCollins) / Bertrand

Tradução: - / Maria José Santos

Ah, que combinação tão engraçada e curiosa que se colocou este mês para o meu desafio Meg Cabot. O primeiro livro, Ransom My Heart, foi escrito e publicado por alturas do lançamento do último livro da série do Diário da Princesa. Neste último, a Mia passou dois anos a escrever um romance histórico e está a tentar publicá-lo, e a editora e a Meg aproveitaram para lançar ao mesmo tempo, numa reviravolta metaficcional, Ransom My Heart, como se tivesse sido escrito pela Mia.

O segundo livro, O Rapaz da Porta ao Lado, tem uma singularidade de outro tipo - na forma. É um romance contemporâneo escrito totalmente na forma de e-mails enviados entre os protagonistas e os personagens secundários, e curiosamente resulta. Resulta muito bem. É dos meus livros favoritos da Meg.

Sobre Ransom My Heart, já tinha tido oportunidade de o ler no passado, e é grande. Já não me lembrava disso. Estou habituada aos romances históricos serem mais curtinhos, e de certo modo mais formulaicos. Este pelo menos brinca com essa fórmula um pouco, o suficiente para me cativar e manter o interesse.

A premissa de Ransom My Heart passa pela protagonista, Finnula, precisar de repor o dinheiro do dote da irmã - e por sugestão da mesma, para atingir esse fim, irá "raptar" um homem e pedir um resgate. Parece que é quase uma tradição as donzelas fazerem-no por aqueles lados, num espírito travesso mas não maldoso. Finn é a pessoa ideal para fazê-lo, pois é uma jovem pouco tradicional, caçando para as gentes da terra e usando - escandalosamente - calças.

Por seu lado, o protagonista Hugo retorna das Cruzadas, depois de ter estado dez anos fora. Vem rico e desejoso de se estabelecer e levar uma vida calma. Mal sonha ele que a sua vida vai ser virada do avesso ao ser raptado por uma beldade ruiva e feroz...

Gosto que este seja um romance medieval, que é coisa que não posso dizer que tenha apanhado noutros romances históricos; e passa-se na Inglaterra do rei Richard I, esse conhecido como Coração de Leão - uma época pela qual ganhei um carinho especial depois de ler a trilogia da Scarlet da A.C. Gaughen. (Até há uma menção ao Robin dos Bosques.)

Também gostei da química entre os protagonistas, foram tão engraçados de acompanhar - a Finnula com o seu feitio tão directo e decidido, o Hugo completamente embeiçado. Gostei do sentido de humor que permeava a narrativa, e adorei a família da Finn, um conjunto de gente tão divertida.

Apreciei que a história não terminasse com o casamento; não, isso é só metade da mesma. O enredo conta também com um mistério - a descoberta do assassino do pai de Hugo, e da pessoa que está a tentar matar o Hugo também. É um pouco óbvia, a resolução, mas este formato permite que os protagonistas se conheçam melhor e se aproximem, e se apercebam dos sentimentos que têm um pelo outro.

O Rapaz da Porta ao Lado conta a história de um grupo de pessoas que trabalha num jornal. A protagonista é Mel Fuller, uma jovem duma cidadezinha simples que veio trabalhar para Nova Iorque, mas nunca perdeu as maneiras da sua terra. É por isso que se preocupa com os vizinhos, especialmente com a vizinha do lado, Helen, uma idosa que é atacada misteriosamente, e é Mel que dá o alerta.

Por seu lado, John Trent trabalha no jornal rival, é herdeiro duma das maiores fortunas da cidade, e sente-se obrigado a retribuir um favor a um antigo amigo, o Max - que envolve fazer passar-se por ele enquanto a sua tia Helen está no hospital. É claro que mal conhece a Mel fica completamente caidínho, o que definitivamente dificulta um pouco as coisas.

Quando li este livro pela primeira vez, o estilo narrativo que usava era definitivamente uma novidade, contando uma história em e-mails, e foi isso que me atraiu. Não me soou a forçado, apesar dos constrangimentos óbvios do formato, e continua a soar-me muito bem, passados todos estes anos. Normalmente há sempre alguém a comentar os acontecimentos com outra pessoa, mesmo que não sejam os protagonistas ou sequer os personagens secundários, e faz sentido nesta comunidade de pessoas que comunica primariamente por e-mail. Acho que hoje ainda faz mais sentido, porque estamos todos à distância de um telemóvel com ligação de dados.

Acho que o que me diverte no livro é que esta pequena loucura com o formato resulta, e que a própria premissa doida da troca de identidades funciona tão bem. A razão pela qual o John a aceita é razoável, a razão pela qual o desprezível do Max a pede é razoável, e a reacção da Mel quando descobre é fantasticamente razoável. A execução desta comédia de enganos é bastante engraçada de acompanhar, e facilita muito que a culpa se mantenha no Max. O John apercebe-se imediatamente que está a fazer uma asneira, apenas não consegue encontrar maneira de a resolver, e deixa-se enredar. É fácil aceitar que errar é humano.

Adorei seguir a aproximação dos protagonistas, que são tão adoráveis juntos; e gostei bastante do sentido de humor da narrativa, que não se leva demasiado a sério. (Adorei a "vingança" da Mel, muito criativa, e adoro a ideia de criar o caos em Nova Iorque.) Mais, gostei do humor de ver os personagens secundários e até os "figurantes" (à falta de melhor palavra) comentarem os eventos, em jeito de treinador de bancada. E de ver as relações de amizade e familiares pré-estabelecidas, que dão um ar mais próximo ao desenrolar das coisas, como se o leitor também fizesse parte. Ainda mais envolvente é seguir as trocas de e-mails, ver quem responde a quem, ao ponto de ter devorado o livro em pouco mais de um dia.

Nota nada positiva para a tradutora, porque encontrei uma série de frases traduzidas às três pancadas, ou seja, traduzidas à letra, em vez de ao espírito da coisa, quando a linguagem é mais simbólica e menos directa. Encontrei novamente o meu pet peeve do queijo grelhado (já me queixei aqui, aqui e aqui), mas nem consegui ficar irritada, porque há tanto tempo que não o encontrava, a modos que já estava com saudades. (Nem por isso.) Contudo, não é o único, eu é que já nem me dou ao trabalho de listar exemplos, porque a certa altura são tantos...

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