sábado, 15 de agosto de 2015

O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier


Opinião: O que é que eu digo na opinião do milionésimo (ok, não é bem o milionésimo, mas é o mais recente de uma lista que já vai bastante longa) livro que leio desta autora? Repito-me pela milionésima vez?

Ok, para quem nunca leu a autora (ainda existe gente assim? ainda vão a tempo de o corrigir), o que é que é preciso saber? Que, acima de tudo, a Juliet Marillier é uma contadora de histórias exímia. Não interessa sobre o que ela escreve, ela consegue escrevê-lo de modo a enredar o leitor na história. Não é possível ficar indiferente ao que ela conta.

Outro ponto muito interessante dos seus livros é que ela usa normalmente a rica história das ilhas britânicas para ancorar as suas narrativas. Já teve hipótese de explorar diversos povos e épocas, mas é tudo impecavelmente caracterizado e apresentado, e consegue sempre conjurar um magnífico cenário. Melhor, consegue descrever um cenário terra-a-terra, e ainda assim envolvê-lo com uma pitada de fantástico e de mágico, e ser tudo tão credível e real.

Quanto à história em si: muito ao estilo da autora, um dilema com o seu quê de mágico a afectar a vida de pessoas normais. Advinhei o que tinha acontecido mal aconteceu, porque a sinopse e o enredo me fizeram saber o que esperar e o que procurar. Mas não me incomodou, porque parte da piada é ver os personagens tentarem perceber o que se passa, e como chegam a essas conclusões.

A narrativa é dividida por três POVs, que a autora usa fantasticamente para complementar a narrativa através dos vários fios do enredo. Apesar de ter adivinhado a reviravolta, as coisas desenrolam-se duma maneira cativante, passo a passo, e é um prazer ver a sua evolução.

O príncipe Oran é um dos POVs. Futuro rei dos Dalriada, é visto pelos pais como pouco principesco, algo sonhador e romântico. Contudo, o Oran revela-se um bom político, com uma mente estratégica, e um bom líder, respeitado pelos seus. Por outro lado, a questão da Lady Flidais e de como o Oran se sente e comporta acerca dela, bem, fá-lo parecer um totó por vezes. (E muito ingénuo.) É o objectivo; o leitor deve duvidar dele antes de seguir caminho. De qualquer modo, o Oran compreende mais rapidamente do que esperava o que se andava a passar, e parte disso é devido precisamente ao seu espírito sonhador.

O segundo POV é a fabulosa e fascinante Blackthorn. Adoro personagens como ela. A vida foi muito dura para ela, mas a Blackthorn sobreviveu, e é tão rezingona e dura e teimosa e pouco habituada à convivência humana. (Como tem o direito de ser.) O melhor acerca dela é que não fecha os olhos a uma injustiça, e tem uma ânsia para acertar as coisas que a deixa quase doida e insensível a certas nuances. Não se deixa cegar por muito tempo, no entanto; é uma mulher inteligente e uma boa avaliadora de carácteres. O acordo que faz torna-a resistente a certas coisas, mas encontra uma rotina, ainda que precária, naquilo que faz. O modo como se revela aos poucos é tão interessante.

O último POV é o do Grim, e foi tão cativante. A Juliet é dotada o suficiente para fazer distinguir as vozes dos três narradores; e a parte do Grim é contada num tom enganadoramente simples e quase infantil - tomado como um gigante bruto, o Grim é muito observador e repara em pequenos detalhes que não ocorreriam a toda a gente. Não chegamos a conhecer a história dele, o que me fez zangar com a Juliet, porque ela está a fazer caixinha. Por isso e por certas coisas na narração dele, sei que vai ser daquelas coisas de arrancar o coração a uma pessoa e pisoteá-lo até ficar em pedaços.

E pronto, por fim dou por mim a suspirar por mais uma sequela. Não há fim a este sofrimento de um leitor de séries; estamos sempre torturados pela expectativa de esperar sabe-se lá quanto tempo por mais um livro. A espera por um livro da Juliet é duplamente tortuosa: espero pelo livro em português, e espero pelo livro de um autor favorito.

Título original: Dreamer's Pool (2014)

Páginas: 448

Editora: Planeta

Tradução: Catarina F. Almeida

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