sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Volta Para Mim, Mila Gray/Sarah Alderson


Opinião: Estou contente por finalmente ver um livro da Sarah Alderson em português (Mila Gray é um pseudónimo), ainda que gostava tanto que publicassem o Hunting Lila. Esse livro era fabuloso. Contudo, as editoras portuguesas descobriram foi a onda New Adult, e como podem vender estes livros como um qualquer romance, lá terá de ser assim.

Estava a pensar no que havia de escrever para esta opinião e não me ocorria nada. A sensação geral com que fiquei depois da leitura foi de que foi giro, e tal, mas não deixou marcas, não mudou o meu mundo e não fez de mim uma totó que acha que nunca poderá ler mais nada, porque mais nada se comparará. Eu sei que nem todos os livros podem ser assim, e há muitos que não sendo assim ainda me agradam muitíssimo, mas deste ficou uma sensação geral de "meh".

O problema é que aprofundando a coisa, ele tem tantos ingredientes que me agradam, que eu gosto de ver numa história, que gostei de ver nesta história, que é quase paradoxal este sentido de quase-indiferença.

Ora vejamos: os protagonistas começam a história cientes da atracção entre ambos, e não andam a dança à volta da coisa. Agem de acordo com essa atracção. Gosto quando os casais de um romance (e consequentemente, a autora do livro) não andam a engonhar, e foi delicioso simplesmente poder acompanhar a "corte" do Kit e da Jessa, sem grandes dramas.

Depois: gostei do uso dos militares na história. A forma como isso condiciona o romance dos protagonistas, como afecta o pai de Jessa - foi bastante impressionante, ver o comportamento dele, que apesar de nunca ser violento fisicamente, era-o psicologicamente, e deixava toda a gente aterrorizada de pôr um pé fora da linha. Achei interessante ver como ele tentou sair dessa, finalmente, pela sua família, e como a tragédia o ajudou a ganhar juízo. Ainda na mesma linha: como a relação da Jo e do Riley é afectada pelo serviço militar dele. Surpreendentemente fiquei fã destes dois.

Gostei da introdução de uma certa tragédia e de como condiciona o comportamento dos nossos personagens. (Ainda que fosse bastante óbvio como ela ia resultar, por isso o suspense não era necessário.) Gostei de acompanhar o longo caminho até à recuperação, à superação, ainda que preferisse que esta secção fosse mais longa. Houve partes com saltos temporais que eu gostaria de ter visto preenchidas.

Ponto bónus: a mãe do Kit era portuguesa, e ensinou-lhe a fazer pastéis de nata. Quase morri de animação ao ver este detalhe.

Pontos negativos da edição: por amor da santa, paremos de comparar todos os romances à Nora Roberts ou ao Nicholas Sparks (no caso deste livro). Não tem nada a ver; o campo do romance é tão vasto que estamos a comparar alhos com bugalhos.

Ponto negativo para a tradução: credo, acho que nunca mais ponho as mãos num livro traduzido por esta senhora. Dei conta de várias frases traduzidas à letra, em vez de traduzir o contexto; traduz coisas que não devia, como "Madonna" (nome artístico) para "Madona" (até me atirei para o chão com esta), ou "Portia" (do Mercador de Veneza) para "Pórcia" (ainda que perceba se houver historial de se traduzir o nome nas traduções da peça, tenham paciência, traduzir nomes próprios é normalmente feio e errado).

E por fim, compreende muito mal o público-alvo. Traduz aquilo que eu agora sei que deve ser "Second Coming" por "Parúsia". Tive de ir ao Google para esta. O que havia de errado em pôr "Segunda Vinda de Cristo"? Ao menos a expressão é auto-explicatória, e evita-se usar um termo obscuro que pouca gente vai saber o que é. Só complica a vida ao leitor, em vez de lha facilitar, como era suposto que a tradução fizesse. Enfim. São estas as parvoíces que eu tenho de aturar. Não admira que eu passe a vida a queixar-me dos tradutores em Portugal.

E por isso, em suma, vê-se que foi realmente uma leitura normal, na média, ainda que tenha feito várias coisas que me agradaram bastante. Continuo a gostar da Sarah Alderson, ainda que pense que ela tem mão mais apurada para outras coisas; de qualquer modo, as capacidades dela deram para escrever uma história que me entreteve, e gosto de como ela pensa a escrever a sua história, notando-se isto mesmo assim aqui.

Título original: Come Back to Me (2014)

Páginas: 304

Editora: Presença

Tradução: Manuela Madureira

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