domingo, 31 de janeiro de 2016

Este mês em leituras: Janeiro 2016

Já estamos no fim de Janeiro? Bolas, que o mês passou depressa. Bem, posso dizer que me sinto contente com o mês. Não foi um mês extraordinário em leituras, mas bastante agradável, e deu para voltar ao ritmo normal depois da época das festas, que é sempre um nadinha caótica. No blog, posso ver que postei mais, o que me agrada, porque era coisa com que me debatia, voltar a um ritmo que não passasse por engonhar e adiar, e acho que dei um passo na direcção certa. Quero continuar a ter essa regularidade, e vou trabalhar por isso.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Six of Crows, Leigh Bardugo - gostei mesmo do ângulo de "grande golpe efectuado por ladrões", gostei de como a autora expandiu o âmbito do seu mundo, e a mitologia do mesmo, e gostei muito dos personagens, ela faz um trabalho fantástico a gerir todas as perspectivas, e criou um conjunto de personagens fantasticamente caracterizado, e que dá gosto seguir.

Outras coisas no blogue


Aquisições

E finalmente vieram os livros seguintes da Colecção Oficial Graphic Novels da Marvel. Estava a achar um pouquinho estranho que os dois de Dezembro não tinham chegado, e não faço ideia se tentaram entregar cá em casa e não conseguiram, e deixaram juntar os dois meses, ou se o caos do Natal fez juntar os dois envios, o de Dezembro com o de Janeiro.

A seguir, o conjunto de livros de BD do mês em inglês, para continuar colecções que estou a fazer e seguir, ou para ler coisas que me deixavam curiosa. (Spider-Gwen, Batgirl, Ms. Marvel.) No fundo da pilha na horizontal estão os dois livros do Owlcrate, de Dezembro e Janeiro. Falei mais sobre receber as caixas do Owlcrate, e os produtos que vieram nelas, aqui e aqui.

No início da pilha, o segundo livro da Kass Morgan foi uma oferta da fofa da mana para os meus anos. Adquiri 365 Days of Wonder porque estava com desconto e achei alguma graça a um livro com citações. Por fim, temos o par de livros da Meg Cabot para ler para o meu desafio da autora.

Esta caneca veio de oferta com os livros da colecção Marvel, era uma oferta com um dos envios da subscrição. É tão girinha e bastante adequada à colecção.

A outra aquisição remotamente literária do mês é esta capa de livros. A minha tia tem um jeitão para estas coisas e tem uma página de Facebook, A Mãe Faz; e no Natal deu de presente esta capa, que é linda, e tem o bónus de ser tão grande, e dar para os hardcovers gigantes que eu às vezes leio. É fantástica.

A ler brevemente

Para Fevereiro, gostava de ler finalmente alguma coisa da colecção Marvel, agora que já tenho um bom conjunto de livros da mesma na minha estante. Sei que vou ler o sexto livro do Harry Potter, para o meu desafio da série. E gostava de ler o segundo da Kass Morgan e o livro que recebi pelo Owlcrate. Fora isso, tenciono ler mais um par de livros da Meg Cabot para o meu desafio da autora. Desta vez, são as histórias que continuam a série da Mediadora, a Suze Simon, finalmente.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Os destaques literários de 2015

E já vai tarde. Andei a engonhar com os posts que me faltavam correspondentes ao balanço de 2015, e este que era o último, acabou por ficar para o fim do mês. Também me era importante não deixar certas opiniões para trás, e por fazer, e era importante postar acerca do Owlcrate, uma experiência engraçada e especial, e por isso estamos aqui.

Vou começar este post por falar dos livros que me marcaram positivamente, aqueles que ainda me deixam boas memórias, depois de tanto tempo passado, e que são reavivadas ao reler a minha opinião da altura. Creio que vou dividir os destaques mais ou menos por género, falar dos meus favoritos no mesmo, e fazer algumas menções honrosas. Há géneros que, por serem tão escassos ou tão abrangentes, são capazes de só ter uma lista de destaques, e não menções honrosas.

Depois vou apresentar uma lista de desilusões do ano. Em alguns casos achei o livro mesmo mau, ao ponto de reler a opinião e ficar tão ou mais irritada quanto estava na altura em que li e opinei; em muitos dos casos, o problema é que esperava mais e melhor do autor, e a história revelou-se mais fraca do que o que o autor é ou deveria ser capaz.

Os Favoritos de 2015


Fantasia
Junto tudo no mesmo saco, épica, paranormal e assim-assim, porque se fosse separar, os destaques ficavam todos numa, e as menções honrosas noutra.

Simplesmente a Sarah escreve duma maneira que me enche as medidas, seja numa nova série, seja já numa já a meio. A primeira foi bastante excitante e surpreendente, a segunda um retorno a casa, com coisas muito esperadas e coisas bem inesperadas. Mesmo quando duvido do sentido que ela toma, confio que a autora vá chegar a bom porto, e ainda não me desiludiu.

O Lago dos Sonhos, Juliet Marillier
A Juliet é uma contadora de histórias brilhante, não falhando em encantar-me cada vez que lhe abro um livro, e caracteriza os seus personagens lindamente, o que é meio caminho andado para o meu coração. Por isso, não poderia deixar de mencioná-la.

The Winner's Crime, Marie Rutkoski
Esta mulher é uma torturadora genial. Como, como é possível dois personagens serem tão casmurros, e ainda assim eu devorar o livro a ver se eles se entendem? Mas não, cada vez se enterram mais, raios. A Marie escreve perfeitamente a intriga de uma situação impossível, e eu vou atrás, a pedir para ser mais torturada.

The Young Elites, Marie Lu
Marie Lu, bravo. Aquilo que eu me queixava na outra trilogia, a tua fraqueza ao escrever personagens? Esquece lá isso. A descrição de uma personagem que foi tão maltratada pelo mundo, insegura, que desconfia de tudo e todos, e toma decisões que não são as melhores para si nem para ninguém, e a aproximam da vilania... lindo.

Menções honrosas: Predestinados e Sonhos Esquecidos Josephine Angelini; The Raven Boys, Maggie Stiefvater

Ficção Científica
Mete tudo: ficção científica mais "tradicional" (coisas passadas fora da Terra, suponho eu, com tecnologia avançada para os dias de hoje), distopias, histórias pós-apocalípticas, ...


This Shattered World, Amie Kaufman, Meagan Spooner
A maneira como as autoras têm escrito este mundo fascina-me, com personagens diferentes, mas uma história interligada, com um universo à mercê de um vilão ainda distante, não exactamente concretizado. Gostei do tipo de história que elas escreveram no primeiro livro, e gostei do que fizeram neste, apesar de serem tão diferentes. Gosto da versatilidade num mundo em comum.

The Stars Never Rise, Rachel Vincent
Adoro as premissas das histórias da autora, tudo sempre tão original e diferente, e gostei tanto deste mundo dominado pelo fervor religioso contra demónios e todo o tipo de "perversões". Muito excitante, e estou tão curiosa para o que virá a acontecer no próximo.

Winter, Marissa Meyer
Foi um fim tão lindo, tão complexo, e tão delicioso de acompanhar para quem sofreu tanto com estes personagens. A Marissa gere fantasticamente tantas perspectivas diferentes, e consegue fazer acontecer tudo o que se tinha proposto, e ainda assim desenhar personagens que me dá gozo acompanhar. A caracterização é muito boa, com poucas palavras, e adoro isso.

Menções honrosas: Fairest, Marissa Meyer; End Of Days, Susan Ee; O Mar Infinito, Rick Yancey

Ficção Histórica
Aqui acabei por colocar só ficção histórica realista, tudo o que pudesse ser fantasia histórica acabou por ir parar à fantasia.

Lion Heart, A.C. Gaughen
Este é o destaque do ano. Adoro a protagonista, tem-me dado um gozo enorme acompanhá-la, é uma jovem tão leal, e difícil, e destemida, e convencida que não merece as coisas boas que lhe aparecem à frente... e aqui ela amadurece e revela-se a líder que sabíamos que podia vir a ser. Adorei. Gosto muito da reviravolta nas histórias do Robin dos Bosques, gosto de todos os outros personagens, da maneira como a autora retrata a corte, hmm, inglesa da altura, e do que acontece aqui para fechar a história.

Menções honrosas: A Magnífica Sophy, Georgette Heyer; Ventos de Mudança em Summerset Abbey, T.J. Brown

Contemporâneo
Tudo o que não tenha magia ou ciência como foco, basicamente. Há uns quantos livros que têm uma premissa ligeiramente F/FC, mas o tom geral é contemporâneo, e por isso é aqui que vieram parar.


O Único e Incomparável Ivan, Katherine Applegate
É um livro para uma faixa etária mais novinha do que estou habituada, um infanto-juvenil, mas é tão bonito. A maneira como a autora põe o gorila no lugar do narrador, a sua simplicidade de narração, e como a história é apresentada... impressionante.

Eu Dou-te o Sol, Jandy Nelson
Gosto muito da ideia que está tudo ligado, e da maneira como a autora ligou a vida dos personagens, com uma série de coincidências e acontecimentos em cascata... deu-me prazer desvendar a história aos poucos, através duma narrativa pouco usual: dois gémeos separados pelo tempo, ele a narrar no passado, ela no presente.

Every Word, Ellie Marney
Os meus queridos Wattscroft. Gosto tanto da maneira como a autora escreve os seus personagens adolescentes, muito maduros para umas coisas, totalmente desvairados para outros (fomos todos assim, ou não?); a evolução emocional dos personagens soa-me tão real, e adoro o par de protagonistas, apesar de a este ponto estar dividida entre querer mais uma história com eles, e temer o que a autora lhes poderá atirar para o caminho...

Menções honrosas: Sete Minutos Depois da Meia-Noite, Patrick Ness; The DUFF, Kody Keplinger; A Cada Dia, David Levithan; Royal Wedding, Meg Cabot; Scorched, Jennifer L. Armentrout; Virgem, Radhika Sanghani; Manifesto de Como Ser Interessante, Holly Bourne

Clássico


North and South, Elizabeth Gaskell
Não é que eu tenha lido mais alguma coisa para além disto, mas precisava mesmo de o destacar. Não consigo perceber como é que o livro não é mais popular, e nem sequer tem edição actual disponível em português nas livrarias (acho que nunca foi sequer publicado em Portugal, a confiar no catálogo online da Biblioteca Nacional). A autora tem características que são louvadas noutros autores da sua época, e escreve de forma tão capaz como os seus contemporâneos, por isso, o que é que lhe falta? Não sei, mesmo.

Não-Ficção
Ainda não li suficientemente do género para me sentir à vontade a fazer destaques... mas vou fazer menções honrosas.

Menções honrosas: Imunidade, Eula Biss; O Que Vemos Quando Lemos, Peter Mendelsund

Releitura
Parecia-me injusto destacar estes livros e ocupar o lugar de outros, mas gosto tanto deles que tenho de os mencionar aqui.

BD
Vou listar as coisas que gostei mais de ler durante o ano; não há favoritos ou destaques em especial, porque não sei se já consigo fazer esse tipo de coisa para a BD.

As Desilusões de 2015

Repito, a maior parte tem mais a ver com expectativas goradas, com eu saber que o autor é capaz de mais e melhor, ou simplesmente com o enredo ir em sentido que eu não aprecio ou não consigo crer que é o mais adequado para a história e para os personagens. Só há para aí uns dois ou três que eu achei mesmo maus. De qualquer modo, a maneira mais fácil de perceber o que eu achei dos livros, aqui nesta categoria mais que nos favoritos, é ler a minha opinião. Sei que tenho muito mais facilidade em explicar quando não gostei e porque é que não gostei.

  • Vou Amar-te Para Sempre, Prometes Amar-me?, Monica Murphy (a escrita da autora é tão fraquinha)
  • It Happened One Autumn, Lisa Kleypas (estava tudo a correr tão bem, mas depois a autora mete-me aquele final e estragou tudo, pois é tudo o que eu me consigo lembrar, abafa o resto da história, e não é de forma positiva)
  • Entre o Agora e o Sempre, J.A. Redmerski (soou-me a mais do mesmo do primeiro livro, que foi brilhante, já a repetição parece-me preguiçosa, e o livro parece inútil nesse sentido)
  • Cruel Beauty, Rosamunde Hodge (ugh, ugh, ugh, acho que não há uma única coisa que eu tenha gostado... eu bem queria gostar do livro, tanta gente me dizia bem, mas nop, nem morta)
  • Uma Nova Esperança e Amor Cruel, Colleen Hoover (eu gosto da Colleen, e gosto de como ela escreve, mas aqui não gostei nada dos protagonistas masculinos dela, do seu feitio, das suas motivações, e precisamente por gostar de tudo o resto, e de ter adorado o Um Caso Perdido, é que não consigo deixar de sentir isto como uma desilusão)

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E pronto, fiquemos por aqui, que isto já vai longo. 2015 foi um ano curioso, porque ao fazer esta lista não tive tanta dificuldade como noutros anos em separar as águas: sabia o que era claramente favorito, o que era menção honrosa, e o que era desilusão. Não sei se hei de desejar ou não que seja sempre assim. Acho que gosto mais quando leio muitos livros bons e/ou que me enchem as medidas, e que me dificultam a tarefa.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Curtas BD: She-Hulk, Spider-Gwen, Batgirl, Ms. Marvel

She-Hulk v.2: Disorderly Conduct, Charles Soule, Javier Pulido
É um pouco triste que esta série tenha acabado depois deste volume. Não era a melhor coisa depois da invenção da roda (esse lugar está reservado para a Kamala Khan, a nova Ms. Marvel), mas era bastante divertido, com muitos pontos altos, e potencial para mais e melhor.

Neste volume, a primeira história lida com um par de cientistas que inventou uma tecnologia de diminuir, o que pede uma participação especial do especialista de serviço do universo Marvel na matéria, o Hank Pym. Acho uma ideia genial, a do edifício onde a Jen trabalha, e encontra estes clientes - um edifício para pessoas com poderes trabalharem, o que dá pano para mangas para contar histórias.

A segunda história envolve o Capitão América, ou talvez deva dizer ex; o Steve Rogers envelheceu para a idade que devia ter hoje se não fosse o supersoro de soldado e a coisa de ter estado congelado durante tanto tempo. Assumo que é por isso que outro personagem tomou o manto de Capitão América por estes dias, e até estou curiosa para ver como é que isso aconteceu, e as consequências que teve. Porque as pessoas parecem continuar a agir completamente fascinadas nas interacções com ele, por ser tão carismático e tal, com o bónus adicional de ser um velhinho de 90 anos adorável.

A história é cativante o suficiente, porque mete uma acusação contra o Steve sobre uma morte nos anos 40 pela qual ele poderá ser responsável; qualquer coisa que possa manchar a reputação do personagem é marginalmente interessante, e a batalha legal que decorre opõe a Jennifer a, adivinhe-se lá, Matt Murdock, o Daredevil. Todas as reviravoltas no tribunal se mostram engraçadas de acompanhar, lembrando bem um episódio de uma série de advogados. Talvez por experiência própria, o argumentista capta bem esse espírito.

Só me queixo que era óbvio que o Capitão ia sair inocente da coisa. Vá lá, é tipo um deus para o universo Marvel. Nada de mau lhe podia acontecer. O que torna a coisa um pouco mais aborrecida. Isso e o fim, porque a revelação do vilão por trás de tudo e a maneira como se lida com ele acontecem de maneira tão rápida e repentina, que não há clímax na história.

A história final lida com o tal ficheiro azul que tem estado mais ou menos ausente, mas que continua a ser muito misterioso. É um bocado óbvio que decidiram lidar com ela depois do título ser cancelado e antes que acabasse de ser publicado, porque é tudo resolvido um pouco à pressa e com muita conversa e info-dump à mistura... a história por trás até é interessante, e soaria tão bem se tivesse espaço suficiente para ser explorada, o que é pena.

A última nota que tenho é para a arte do Javier Pulido, que eu estranhava no início, e até já se me entranhou. Gosto de como desenha a acção, e tem um certo dinamismo que me agrada. O planeamento das vinhetas nas duplas páginas é que é estranho, porque às vezes é para ler da esquerda para a direita nas duas páginas, e às vezes... não. Primeiro uma página, depois a outra. E frequentemente não é claro qual dos dois casos é.

Spider-Gwen v.0: Most Wanted?, Jason Latour, Robbi Rodriguez
Hmmm. Gosto muito do conceito desta história: um mundo alternativo em que é a Gwen Stacy que é picada; o Peter Parker, numa tentativa falhada "de ser especial", torna-se o Lagarto e morre nos braços da Gwen, presumivelmente num acidente.

Sinto só que a maneira como está escrita não é das mais sólidas: parece que está tudo muito espalhado, sem rumo concreto no enredo; e ao mesmo tempo gostava que a personagem Gwen e a sua personalidade, e como ela está neste momento, fossem mais exploradas. Temos uma série de cenas que dão uma ideia, mas normalmente gosto de mais profundidade emocional nos meus personagens. Ela está a faltar às aulas? Nem sequer está em casa? Ninguém dá pela falta dela? São perguntas que passam pela cabeça a ler, e as respostas não são claras.

Por outro lado, a parte conceptual está fantástica. A Gwen é baterista numa banda chamada The Mary Janes, cuja vocalista é... a Mary Jane. O pai continua a ser polícia, mas também há outros personagens que o são, como o Ben Grimm, que aqui nunca se tornou o Coisa, e é polícia de giro na Rua Yancy; ou o Frank Castle, que se pensarmos bem nisso é uma noção hilariante, porque o homem não tem respeito nenhum pela autoridade, e aqui mesmo sendo polícia faz as coisas de todas as maneiras que pode, legais ou não.

Gosto muito do que fizeram com a Felicia Hardy, a Gata Negra. Ah, e o Rei do Crime existe, sim, e aparentemente está na prisão. Ou melhor, o tipo gordo e careca que conhecemos está na prisão, mas suspeito que ele foi um isco, uma distracção. Porque quem vemos a agir em nome dele, a fazer as coisas que o Rei do Crime faria, é o advogado dele... que se chama Matt Murdock. Ah. Gostava de ter visto como é que essa se deu.

Ao menos a maneira como a história está montada (apesar de eu desejar que fosse mais explorada) é bem interessante. A Gwen está num ponto baixo, o Peter morreu e ela sente-se responsável, e isso cria uma entropia que a impede de seguir com a sua vida. De certo modo tenho a sensação que é que o Peter faria - quero dizer, na cronologia normal a morte da Gwen Stacy aconteceu há décadas, e ainda se fala tanto disso.

O que eu queria dizer era que aprecio que pela inversão de sexos não se contenham a contar o tipo de história que é preciso, que nos mostrem a Gwen em baixo e a reconstruir-se do zero. (E quero acrescentar que é de partir o coração conhecer a May e o Ben Parker, que são vizinhos dos Stacys nesta versão.) Apesar dos meus problemas com a escrita, acredito que a história tem pernas para andar e ficar melhor, só tem um início mais frágil. Vou querer acompanhar.

A arte é algo desconcertante, com talvez demasiado peso no traço, mas não desagradável. As cores ajudam. Normalmente algo tão garrido não seria o meu estilo, contudo aqui a paleta funciona é agrada-me visualmente.

Batgirl v.1: Batgirl of Burnside, Cameron Stewart, Brenden Fletcher, Babs Tarr, Maris Wicks
Bem. Isto é um pouco desconcertante. Não me acontece muito frequentemente gostar tanto de algumas partes dum livro, enquanto desprezo as outras, deixando uma confusão pegada no lugar do que seria claramente a minha opinião.

Ok, esta é uma espécie de mini-reboot para a série da Batgirl. A Barbara vai-se mudar para Burnside, um bairro de Gotham onde a gente nova e bonita (e provavelmente hipster até mais não) mora, o seu material super-heróico ardeu, obrigando-a a improvisar com o equipamento, e vai cruzar-se com uma série de inimigos relacionados com tecnologia, como uma boa millennial.

Acho que é isso que me irrita no livro. Em teoria um livro sobre como a Barbara faz parte da geração millennial parecia-me uma boa ideia, mostrando como uma super-heroína lida com a crescente presença da tecnologia na vida social e no crime. Na prática, acho o tom do livro demasiado vivaço, demasiado egocêntrico, demasiado absorto. "Olhem para estas pessoas jovens e bonitas a ir a festas! A beber até cair! A tirar fotos a tudo e postar nas redes sociais! A usar redes sociais para encontros!" Não sei, parece quase uma caricatura da geração.

A Barbara em partes parece demasiado estúpida, coisa que ela supostamente não é, e noutras tremendamente inteligente, o que é - aborrece-me a inconsistência. E depois cai-me mal um bocado este tom demasiado animado quando a Barbara passou os livros anteriores a lidar com o que lhe tinha acontecido. Uma queda abrupta de tom muito sério para tom muito despreocupado - quase parece que estão a varrer para debaixo do tapete o que lhe aconteceu, e a ignorar propositadamente. Não podemos encontrar um meio-termo?

Oh, céus. É que eu até gosto da premissa. E, em partes, da execução dela. (A maneira como a Barbara lida com o primeiro vilão é muito fixe.) Mas depois outras são tão patetinhas. Provavelmente com outro personagem, um desconhecido, eu deixaria passar, mas com a Barbara soa mal, parece que a personagem deu uma volta de 180º.

Passando à frente. Disse realmente que gosto da premissa. Gosto de como a tecnologia faz realmente parte da vida destas pessoas, e de como elas a têm de gerir. Os vilões, apesar de serem em geral um pouco patetas, fazem sentido dentro da observação da importância das redes sociais, da fama, e de todo o negativismo que se gera por vezes.

Gosto dos amigos da Barbara, gente variada e de todos os tamanhos e feitios. A Frankie (gosto de como elas têm uma amizade anterior, apesar de nunca termos ouvido falar, e de como a Frankie poderá assumir um papel importante nos... empreendimentos da Batgirl), a Alysia (espero que não se livrem dela, no livro anterior a última cena delas era bem gira), a Nadimah e o Qadir (gosto de como o pobre do rapaz foi "recrutado" pela Batgirl para ajudar ocasionalmente). Tenho pena de a ver tão zangada com a Dinah, toda a zanga parece um pouco forçada entre duas pessoas que passaram muito juntas.

A arte é adorável e fofinha, muito cartoon, mas no bom sentido, bastante agradável. É das coisas mais fixes do volume, das que mais me agradou, e tremendamente adequada à história.

Ms. Marvel v.4: Last Days, G. Willow Wilson, Adrian Alphona
Oh, este comic fica mais e mais adorável à medida que avançamos. Desta vez, a Kamala Khan é apanhada pelo terror dos "eventos" das editoras de BD americanas, que absorvem quase todos os títulos da editora. E apesar de não se escapar, os criadores fazem um tremendo trabalho a aproveitar o evento para centrar a história.

O mundo pode acabar. Deixar de existir. E apesar de a Kamala não poder fazer nada (se os Vingadores, que estão no caso, não puderem, ninguém pode), pode ajudar o local onde vive, New Jersey, a evitar os problemas que hão de surgir com o fim do mundo. Pelo meio, o irmão dela, Aamir, é raptado, e a Kamala lança-se numa missão de salvamento.

O melhor disto tudo é que a história é bastante emocional; o fim do mundo faz a Kamala perceber o que é importante para ela, e é tão fofinho de ver. A Captain Marvel, a Carol Danvers, faz-lhe uma visita, para ver se a Kamala está bem, e acaba por ajudá-la no salvamento do Aamir; e as cenas delas são bem giras. Primeiro a Kamala em modo fangirl; depois, acabam por trabalhar bem juntas, com a Carol a dar-lhe alguns conselhos (a cena em que elas têm de deixar os gatinhos é TÃO TRISTE), e de certo modo, a passar o testemunho.

O Aamir sai disto tão brilhantemente caracterizado, mesmo. O personagem podia ser uma caricatura, mas prova ser uma pessoa de carne e osso, mostrando que é feliz como quem é, e defendendo a irmã, quando ela pensava que o Aamir não lhe ligava nenhuma. Adorável.

As cenas finais dela com os pais, especialmente com a mãe, também são emocionantes. Uma mãe sabe, mesmo. A mãe dela é fantástica, e adoro que se sinta orgulhosa dela. E as cenas com o Bruno? Arghhh a tortura! Mas soaram tão maduras, e fazem sentido para quem estes dois são.

A arte do Adrian Alphona, já disse, é singular, mas tão expressiva, e adoro isso. A cara da Kamala (e dos outros personagens) salta à vista quando está contente, animada, excitada, triste, zangada... é fascinante de ver. Há uma cena em que ela e a Nakia estão a conversar, a Nakia está zangada, e a Kamala diz uma coisa superdivertida, e a expressão na cara da Nakia! Vê-se que está a tentar conter o sorriso. É fabuloso. Em adição, gosto bastante do esquema de cores que tem sido usado nos livros da Ms. Marvel, dão um ar distintivo à história.

O volume ainda tem um par de histórias do Homem-Aranha em que a Ms. Marvel ajuda, e as cenas dos dois juntos são giras, mas de resto as histórias não são memoráveis. Excepto pela parte em que pelos vistos quero saber que história é esta do Spider-Verse, e por que raios é que o Peter e esta outra nova super-heroína estão sempre a tentar saltar para cima um do outro.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

2015 em retrospectiva...

E vira o disco e toca o mesmo. Em 2013 queixei-me de alguma irregularidade nas opiniões e leituras, que coincidiu na altura com um início num novo emprego, e de certo modo aconteceu o mesmo este ano, se bem que não exactamente pelas mesmas razões. Sei que em 2013 tive de readaptar a minha rotina ao meu horário, e eventualmente a coisa foi ao lugar, porque não tenho memória de isto me dar tanta água pela barba como este ano.

Neste ano que passou realmente comecei a trabalhar num sítio novo, mas já estava mentalizada, adaptei-me lindamente à nova rotina. Nos primeiros meses nunca tive problemas em conciliar o blogue e as leituras com isso. Só quando houve algumas mudanças no trabalho, com uma pessoa a menos na equipa, horários meio doidos, horas a mais, ter de esperar para ter uma miséria de férias e outros que tais, é que isso deu cabo de mim.

Adoro o que faço, e não me arrependo de lá estar, mas gostava mesmo que as circunstâncias não tivessem sido as que tive durante a segunda metade do ano. O cansaço acumulado é muito, e é claro que isso me mata a vontade de postar aqui. Há semanas em que corre tudo bem, com 3 ou 4 posts, que era o ideal para mim, mas depois vem uma daquelas complicadas e estraga tudo, e sou capaz de passar a semana sem postar, por falta de vontade. Tenho horários diferentes todas as semanas, mas sei que conseguiria gerir isso bem melhor, se tudo estivesse normalizado.

Enfim. Parece que me queixei muito, mas é mais porque me frustra não conseguir fazer o que tenho planeado para aqui. De qualquer modo, as coisas parecem ter estabilizado, voltado ao normal, o que espero que me traga alguma paz de espírito para 2016. Quero recaptar o gosto e "pica" que me dá opinar, porque quando estou para aí virada, saem-me coisas que me deixam bastante contente por as ter escrito. Quando andei a rever algumas opiniões para escolher os favoritos do ano, fiquei mesmo animada, porque ainda me saíram boas opiniões, apesar de tudo, sejam mais positivas ou mais negativas. (Aliás, suspeito que sou mais coerente a explicar porque não gostei, do que o contrário.)

Quanto a rubricas, não consegui retornar a nenhuma, e acho que ainda me portei mais mal. Quase que abandonei Uma imagem vale mil palavras, sobre filmes e séries baseados em livros - vi muita coisa na segunda parte do ano que nunca cheguei a opinar, e gostava mesmo de ter opinado. O A rainha manda... morreu um bocado, mas aqui como depende de duas pessoas, quando ambas têm horários doidos, é mais difícil coordenarem-se. Gostava de voltar a ele, mas não depende só de mim.

Quanto a ter uma coisa que me sirva de diário de leituras, debati-me este ano muito com o que serviria melhor para mim. Como as coisas feitas por outros não têm resultado, desenhei em Janeiro de 2015 o meu próprio diário de leituras/blogger (imagem A), como se pode ver em cima, com todo o tipo de páginas que achei que poderia precisar para registar as coisas que habitualmente registo, e imprimi e mandei encadernar com arame em espiral.

O problema? A coisa não correu tão bem como esperava. Houve secções que ficaram largamente em branco, como os calendários mensais que tencionava usar para gerir lançamentos de livros e/ou posts no blog. Outras usei muito bem, e foram tremendamente úteis, o que me permitiu aprender muito para o que criei este ano.

Entre as coisas que achei úteis, contam-se a tabela para registar lançamentos em Portugal (B) e internacionais (C) de livros em que estivesse interessada ou de autores que sigo; uma tabela específica só para a Jennifer L. Armentrout (D), pela mesma razão, e porque ela lança livros como se não houvesse amanhã; uma série de páginas para acompanhar o desafio Meg Cabot (E), permitindo-me saber se já tenho o livro, se já li, e quando foi.

Em adição, nas páginas de listas (F) aproveitei para fazer wishlists e coisas parecidas, e nas páginas em branco fiz montes de notas aleatórias, testes das canetas que possuo (G), e ocasionalmente notas para opiniões e as opiniões em si (H). [Acabei por me deixar de tentar fazer notas e/ou opiniões para tudo à medida que leio. Não consigo funcionar assim.]

É claro que entretanto descobri a pólvora. Desenvolvi um amor desenfreado por papelaria e canetas, e agendas e planners (em parte já havia pesquisado algumas coisa sobre os últimos no início do ano, foi por isso que quis fazer o meu próprio diário), e foi a loucura. Bem, o interesse já existia lá no fundo, mas diria que acordei para as milhentas hipóteses por esse mundo fora.

Adquiri uma espécie de dossier-tipo-planner da Filofax, o Clipbook, neste modelo naquele verde lindo, que estava a um preço bastante atraente, e caiu-me a ficha: gosto mesmo é da customização, da adaptabilidade. Normalmente as agendas e diários de leitura não funcionam tão bem comigo porque são encadernados e têm um limite de páginas, e têm páginas pré-determinadas que muitas vezes não vão de encontro às minhas necessidades, e acabo por desistir a meio.

A solução passa mesmo por planners-dossier, porque posso adicionar coisas e tirá-las conforme o que me é mais útil. O pobrezinho do Clipbook acabou por ter de precisar de um descanso; queria meter mais páginas do que dava para colocar no bicho, e uns trambolhões na mochila mereceram-lhe um ligeiro entortamento da espinha com argolas.

Acabei por comprar outro produto da Filofax (A). É uma marca que até tem alguma representação em Portugal nas lojas, é bastante antiga e conhecida (ou pelo menos eu lembro-me de ouvir falar desde miúda), e parece ter produtos bastante resistentes e robustos, na sua maioria. Acabei por me interessar por um modelo destes, com capa em PVC, porque tenho muito medo de usar um modelo em pele e dar cabo daquilo tudo em três tempos.

Arrisquei-me. Tinha um vale de desconto da Staples, o que ajudou, e não me arrependo nada. Gosto do design, e da robustez da capa. Do elástico, da capacidade para muitas e poucas folhas, e do tamanho das folhas, A5, que me permitem escrevinhar muito mais. Sei que é o tipo de coisa que vou usar durante muito tempo, e melhor de tudo, consigo meter-lhe tudo e mais alguma coisa que precise de levar comigo.

De momento, tenho no planner o equivalente a um mês duma agenda para apontar os gastos e o balanço das contas, e doutra para apontar os meus horários e notar alguns acontecimentos da vida pessoal, a qual me entretenho a decorar (B). Com a pancada que tenho por coisas de papelaria, o que não me falta são autocolantes ou carimbos ou fita cola colorida (que é em si um mundo, basta pesquisar por washi tape ou masking tape no Google para perceber); no caso da altura do Natal parecia que a caixa onde guardo estas coisas tinha vomitado para ali. Agora tenho sido mais contida, e a página mostrada é um exemplo.

As páginas de lançamentos da Jennifer L. Armentrout (C) mantêm-se, mas como é possível ver arrisquei-me a adaptar as páginas que tinha criado no ano anterior e dar-lhes uma corzita para animar. Mantenho as páginas de lançamentos em Portugal (E) e Internacionais (F), que actualizo mês a mês, mas acrescentei uma página mais geral de lançamentos internacionais de autores/séries que sigo (D), e que transcrevo para (F) quando for oportuno.

As páginas da Meg Cabot (G) mantêm-se, só mais coloridas, assim como as páginas para listas (H). Tenho pelo meio bastante páginas em branco, ou pautadas (I), para notas rápidas; e uso um par de micas da marca para guardar post-its e alguns clips. Fora isso, a customização revelou-se também nos separadores (I) que vinham no Filofax, que eu revesti com papel de cores e padrões variados; e depois disso, laminei/plastifiquei e cortei à medida.

É engraçado, há tanto tempo que tenho um interesse por, e que vou juntando coisas de, trabalhos manuais e papelaria, mas com o gosto por arranjar um planner bonitinho que juntasse uma agenda normal e um diário de leituras que encaixe comigo, o interesse por este tipo de coisa explodiu. Já tinha guilhotina e laminadora, mas agora é que lhes estou a dar uso como nunca, e não resisto a um bom conjunto de canetas coloridas que possa vir a usar. A minha paixão por boas canetas neste momento é lendária.

E pronto, já discorri o suficiente sobre a minha nova pancada. Também é responsável por eu dedicar menos tempo a ler e opinar, de certo modo. No meio disto tudo, só me falta apontar algumas estatísticas:

  • Li 172 livros, um bocadinho menos que nos anos anteriores, mas em linha com o ano mais complicado que tive;
  • Acho que é desnecessário discorrer sobre todos os cálculos de médias de livros e páginas por mês, ano e dia que costumo fazer (por ser uma totó e adorar programar estas coisas no Excel), e outros que tais, o que interessa é que são provavelmente todas mais baixas, mas não faz mal e não me preocupo muito com isso, todos os anos têm um ritmo diferente;
  • Livro mais longo: fácil, Winter da Marissa Meyer com 832 páginas, seguido muito lá atrás pelo Queen of Shadows (656 pág.) da Sarah J. Maas;
  • Livro mais curto: o das Short Stories da Meg Cabot (39 pág.), seguido de Project Princess (Diário da Princesa 4,5), com 64 páginas;
  • Os melhores meses de leituras, em quantidade, foram os de Verão, altura de menos movimento no trabalho, e os piores foram os meses agora mais para o fim do ano, já a acusar o cansaço;
  • Géneros mais lidos: o contemporâneo, sem dúvida, com 47 livros, seguido muito lá atrás pela Fantasia, mais representada pelo Paranormal/Urbano (17 livros);
  • Claramente tive um aumento nos livros que são continuações de séries e uma diminuição nas novas séries, o que para mim é muito bom, é um passo no bom caminho para diminuir a TBR (To Be Read) List;
  • No entanto, continuo a dar igual preferência aos novos livros adquiridos e a deixar para trás alguns outros do ano anterior - havia alguma melhoria de 2013 para 2014, que estabilizou -, só estou melhor a ler livros por outras vias, como emprestados ou via serviços como o Marvel Unlimited;
  • Editoras mais lidas: os culpados óbvios - editoras de BD como a Marvel (26), DC (11), Image (10), e a Levoir (21) em Português, e grandes grupos editoriais internacionais como a HarperCollins (16) e a MacMillan (11);
  • No entanto, há boas surpresas no caso de editoras portuguesas como a Presença (13) e o grupo 20|20 (9), que inclui a Topseller, a Booksmile e a Elsinore - destaque pelo segundo ano consecutivo, isto para mim quer dizer que estas editoras estão a fazer um bom trabalho nas suas publicações, e a ir de encontro aos meus gostos cada vez mais;
  • Autor mais lido: bem, essa é fácil, Meg Cabot (28 livros!), com o desafio de leitura dos livros dela não admira;
  • Fora isso, a minha querida Jennifer L. Armentrout (6), e dois argumentistas de banda desenhada que estão em todas, Brian Michael Bendis (7 livros), e Matt Fraction (6);
  • Por falar em banda desenhada... não fiz as contas como no ano passado, mas sei que na prosa as mulheres continuam a dominar, como acontece há anos, enquanto que na BD são os homens - apesar de também estar ciente que este ano tentei apostar em mais coisas escritas e desenhadas por mulheres.

E aqui está, o meu ano de 2015 no que se relaciona com as leituras. Já pusemos as culpas na vida profissional turbulenta, já discorri sobre a minha paixão por canetas, washi tape e planners, e já vimos alguns números no que toca às leituras do ano, como é habitual fazer. Resta-me terminar, esperando que 2016 traga só coisas boas, em todos os campos. Para mim e para todos os que estão a ler isto, e que, god bless you, sobreviveram ao testamento que para aqui vai. Boas leituras.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Six of Crows, Leigh Bardugo


Opinião: Este livro tinha tanto que podia correr terrivelmente mal, e tanto que podia correr tremendamente bem, que apesar de eu já ser à partida uma fã da Leigh, estava um pouco nervosa com a noção de o ir ler.

Primeiro porque se passa no mesmo mundo da série anterior dela. É uma ideia que me agrada, ver um escritor explorar um mundo que criou através de várias séries e mundos; o receio é que uma pessoa passe o tempo todo a comparar as várias séries/livros. Pois bem, as boas notícias são que a Leigh consegue escrever uma história completamente nova e fresca, e mesmo assim consegue dar continuidade ao mundo que já tinha criado.

Não vemos propriamente caras que já conhecêssemos (a Nina era aluna da Zoya, que é mencionada de passagem, assim como o são a Genya e a Alina), é tudo novo; e o espaço em que a acção se passa também. Desta vez, o país onde os personagens se movem é Kerch, a cidade é Ketterdam - ambos paralelos óbvios para a Holanda e Amsterdão, tal como Rakva o era para a Rússia.

O cenário conjurado é fascinante. Sim, temos canais e tudo o resto, a fazer jus à comparação das duas cidades, mas o que me atraiu na descrição de Ketterdam é o submundo criminal. Os protagonistas fazem parte de um gang de ladrões, e movem-se entre outros gangs, e entre personagens dos bordéis, e tudo para esta gente é um golpe, e bolas, isso é fantástico de ver, porque não podemos confiar em ninguém.

Em adição, uma parte significativa da história passa-se fora de Kerch, em Fjerda, um país que é o óbvio paralelo para os países escandinavos. Os personagens têm, no enredo, de invadir um local muito específico na capital, Djerholm, e por isso não deu para ver as vistas calmamente, mas aquilo que é descrito sobre a Ice Court é bastante interessante. (A propósito, pontos bónus por a autora tentar usar nomes adequados aos países que emula na história. São difíceis de pronunciar como o raio, mas tornam mais vívida a imersão na história.)

A segunda razão pela qual estava um pouco nervosa para o ler é porque é um livro sobre um grande golpe. O golpe dos golpes. A grande golpada. Eu adoro filmes e livros que metam este tipo de coisa, porque a piada daquilo tudo é ser espectadora, e ser enganada juntamente com o "alvo", e depois descobrir como se faz o truque e ficar bem impressionada pelas reviravoltas que são introduzidas na história.

E, bem, apesar de este ser um grupo de adolescentes que vai tentar fazer o impossível, foi relativamente credível. Uma parte do grupo passou boa parte da vida neste submundo criminal, a afinar certas capacidades que já tinham, e a desenvolver outras, e por isso é bastante mais razoável vê-los num tal empreendimento.

Além disso, gostei bastante de como os golpes se desenrolaram, mostrando as capacidades únicas de cada um, a inteligência e a adaptabilidade do grupo; o primeiro golpe é mais simples, tirar alguém da prisão de Ketterdam, mas complexo o suficiente para satisfazer.

O segundo golpe, infinitamente mais complicado. Vamos vendo os passinhos do plano uns atrás dos outros, mas tantas coisas podem correr mal, e muito frequentemente correm mal, seja por influência externa ou por conflitos internos dos personagens. Alguns obstáculos eram coisas para as quais já estavam preparados; outros, nem por isso, e portanto é impressionante a improvisação e adaptação, mas também a capacidade de seguir em frente. Aquilo que temos à nossa frente é um grupo verdadeiramente extraordinário.

Não posso passar sem falar individualmente sobre os personagens, porque a Leigh faz um trabalho tremendo a escrever em vários POVs e a distingui-los tão bem, a escrever com variedade e diversidade; toda a gente tem uma história de vida, um conjunto de motivos e acontecimentos passados que os colocam neste ponto, e é delicioso acompanhar o desvendar dos seus passados.

A Nina é uma Grisha, de Ravka, que se separou do grupo de Grisha com que estava, e que por, er, razões do enredo, não pode voltar a Ravka, por enquanto. Gostei muito da personalidade dela, bem-humorada, expansiva, confiante, que não se acanha de expressar o seu amor por dormir bem e comer chocolates.

É um bom contraponto ao Matthias, um drüskelle (caçador de bruxas Grisha) originário de Fjerda. Estóico, sério, rígido, e totalmente devotado a caçar Grisha. Até tropeçar na Nina e bem, as coisas correrem muito mal. (Ou muito bem, dependendo do ponto de vista.)

É um artifício inteligente usado pela autora - os personagens já se conhecem, por isso não é preciso desenvolver a relação deles, meramente apresentá-la, e ao passado que os liga; e depois desenvolvê-la a partir daí. O conflito Nina-Matthias parte de serem inimigos naturais (as melhores relações começam sempre a partir daí), mas também de certas complicações do passado. É muito interessante seguir a relação deles por isso, a negociação de encontrarem pontos em comum novamente, e também o não saberem se podem voltar a confiar um no outro.

O Jesper é um pouquinho mais simples, ou talvez deva dizer que é enganadoramente simples, pois também ele tem os seus segredos. O papel dele na narrativa é um pouco ingrato, mais para o fim, mas consigo apreciar o quão à vontade está na sua pele.

Em contraponto, temos o Wylan, o novato do grupo, cujo papel é mais ser quem é do que aquilo que sabe fazer. O que é interessante de ver desenrolar à nossa frente; pensamos que o conflito dele com o pai seria por algo que é sugerido acerca dele (e que gostava de ver confirmado, pelas possibilidades que oferece - a química está lá), mas é por algo inteiramente diferente, e bastante chocante, no sentido em que não acredito que aquele homem horrendo está a gerir a situação desta maneira.

A Inej é conhecida como a Wraith; é capaz de entrar e sair de locais sem darem conta dela, é silenciosa, discreta, e trepa paredes e edifícios como ninguém. É originária de Ravka, mas a descrição que é dada dela e do seu povo sugere-me que faz parte de um paralelo do povo cigano. Gostaria de conhecer mais o seu passado e voltar a ver os pais dela. Gosto de ver como é pragmática, mas ao mesmo tempo algo supersticiosa, e como tenta incitar e ver o Kaz como melhor do que é.

E por fim o Kaz, o líder deste bando de desajustados, génio criminal residente e criador do golpe, sem absolutamente escrúpulos nenhuns, cínico e desiludido com a humanidade (é tão giro vê-lo com o Matthias, que é totalmente o oposto, e com a Inej, que se esforça para ver mais nele). É curioso ver a perspectiva que ele tem de si mesmo, porque as circunstâncias o obrigaram a ser duro e a não ter nada como sagrado; e a sua "história de origem" é muito interessante, porque explica tão bem a sua personalidade, e a maneira como ele funciona, até nas pequenas coisas.

A parte mais interessante da personalidade do Kaz é ver quando fica subitamente sem pé, e tem de desenvencilhar-se. Muitas vezes, adapta-se brilhantemente, ou já estava preparado para a reviravolta. Ocasionalmente, é apanhado de surpresa, e essa vulnerabilidade é desarmante (ele não estava nada a espera de ser apanhado em falso no fim, ah isso não estava, e lixou-se à grande), especialmente em alguém que está determinado a manter uma fachada tão dura.

E pronto, o fim é ligeiramente óbvio, porque é claro que as coisas lhes tinham que explodir na cara, mas é muito excitante, pela promessa do incerto. Sim, este foi um livro sobre um golpe, mas e agora? O que fazer quando tudo parece perdido? Seja o que for, tenho confiança que vai ser tão bom.

O grupo de personagens que se reuniu é carismático e funciona bem em conjunto; e confio na autora para não ir pelos caminhos mais óbvios que se apresentam, o que me deixa mais animada e interessada. Setembro ainda está muito longe, mas vou contar cada segundo até ao próximo livro.

Páginas: 480

Editora: Feiwel & Friends (MacMillan)