quinta-feira, 24 de março de 2016

Mais Um Dia, David Levithan


Opinião: *suspiro* Isto sou eu a tentar conter a minha impaciência. E o meu exaspero. Com tanta coisa que o Levithan podia fazer, e decide fazer o cliché dos clichés, aquilo que ninguém suporta - escrever o mesmo livro, do ponto de vista de outro personagem. Grrr.

É que até podia funcionar. O David Levithan escreve bastante bem; as palavras dele não são o problema. É mais a incapacidade dele de escrever uma protagonista interessante. Céus, a Rhiannon é, lamento dizê-lo, um autêntico capacho. Morri de aborrecimento a lê-la, e pior, a caracterização dela deixou-me furiosa.

É que é impossível perceber porque é que ela continua com o Justin. O tipo é um idiota, horrível com ela, e ela continua com ele. Porquê? Porque é "um menino perdido"? Ser um bad boy com problemas não justifica ser tratada como lixo. Onde é que está a auto-estima?

E mesmo que o problema aqui fosse auto-estima... em ambos os casos, precisávamos de uma melhor exploração da personalidade e da vida familiar da Rhiannon e do Justin. É-nos dito que, ah e tal, problemas familiares. Mas nunca vemos que tipo de problemas. Tudo o que vemos dos pais deles é bastante "normal". Portanto, de onde é que vem a falta de auto-estima da Rhiannon, se nem nos é apresentada a suposta vida familiar disfuncional que tem? De onde vem a raiva contra o mundo, o desligamento emocional do Justin, se tudo o que nos é dito é que o pai dele tem um feitio "militar"?

Para alguém que trabalha como editor, que provavelmente passa a vida a dizer a outros escritores qualquer coisa nas linhas de show, don't tell, o Levithan faz certamente muito tell e pouco show. É-nos dito que têm problemas familiares, que isso será a origem dos seus problemas mútuos, mas é-nos isso mostrado? Nop, nem por isso. Desculpa lá, Levithan, isso é preguiçoso. Em vez de termos mais do mesmo, tinhas era feito um bom trabalho a explorar a psicologia destes dois personagens, pois daria uma base sólida para a história da Rhiannon, e para a história dela com @ personagem A.

Portanto, sim, o Levithan escreve bem, no que toca às palavras, mas parece um totó a escrever algo com boa caracterização e enredo cativante. Uma premissa original pode ter disfarçado esta fraqueza no primeiro livro, mas não aqui, querido, em que é mais do mesmo.

É que até escrito do ponto de vista da Rhiannon, a história dela com A me parece fraca. Falta um quê de emoção à escrita, e por isso é difícil crer que ela está mesmo envolvida. Não sei, não consigo vê-lo. Tal como não consigo ver porque é que ela supostamente ama o Justin o suficiente para aturar toda a parvoíce.

Ai... estou absurdamente frustrada. O problema é que o Levithan escreve de forma cativante, as páginas viram-se praticamente sozinhas, mas depois o conteúdo tem problemas, bolas. E não ajuda nada ele ter abandonado a premissa original para fazer o que tantos autores já fizeram, e nem sequer o faz com sucesso, sendo apenas mais do mesmo. A ser verdade que o suposto terceiro livro existe, eu leria, mas com relutância, pois já fiquei queimada. Só a curiosidade e a casmurrice me impedem de desistir.

Uma nota não muito positiva para a tradução, porque aparentemente a tradutora não percebe nada de adolescentes a falar, e então temos coisas como "meles" e "falta de chá" metidos no texto a torto e a direito.

Título original: Another Day (2015)

Páginas: 352

Editora: Topseller

Tradução: Susana Serrão

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