terça-feira, 31 de maio de 2016

Este mês em leituras: Maio 2016

Mês de Maio a terminar, e tenho conseguido encontrar um bom ritmo para as minhas leituras, o que me deixa bastante animada, porque há alturas em que tem sido difícil conciliar com as exigências do resto da minha vida. Ainda estou a trabalhar em manter alguma regularidade aqui no blogue... 

O que é mais difícil, aparentemente, porque às vezes a preguiça fala mais alto ao fim do dia, quando chego a casa, que também é a altura em que trabalho melhor. Os meus esforços melhoraram muito na última semana e meia do mês, em que não conseguia parar de escrever. Acho que a perspectiva de ir de férias deu-me mesmo inspiração. Esperemos que isto continue enquanto durarem.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Flawed, Cecelia Ahern - surpreendentemente, acabei a gostar bastante deste livro e do que a autora fez com a sua história;
  • Rainha Vermelha, Victoria Aveyard - outra boa surpresa, é claramente o primeiro livro da autora, mas tem tantas coisas fixes e que me agradaram, e acho que a autora tem uma certa clareza e inteligência a escrever;
  • Royal Wedding Disaster, Meg Cabot - a Olivia é simplesmente adorável, e gosto tanto de seguir a sua narração, além de poder continuar a acompanhar velhos conhecidos.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Entre as aquisições do mês, contam-se alguns livros das colecções de banda desenhada que estou a fazer: a dos Super-Heróis DC, que já terminou; e a das Graphic Novels Marvel, que chegou hoje, mesmo a tempo para aparecer aqui.

Comprei o da Jessi Kirby e o da Holly Smale com desconto em cartão. Os restantes são resultado da minha compra mensal no Book Depository; são os livros da Meg Cabot para o meu desafio pessoal da autora, mais os lançamentos do mês de autoras que sigo.

Fora estas aquisições, temos o livro do Owlcrate, e os dois que comprei na Feira do Livro.

A ler brevemente

Decidi fazer em Junho uma pausa do desafio da Meg Cabot, e por isso não estão ali livros dela. De resto, gostava de ler alguns dos livros das autoras que sigo, como os que vemos na imagem. Estou a combinar uma leitura conjunta com uma amiga dos livros da Marie Rutkoski e da Sarah J. Maas, o que vai ser bonito. Uma das autoras diz "mata", a outra diz "esfola", por isso estamos a pôr-nos a jeito para sofrer muito a ler ambos os livros, especialmente se for de seguida.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Feira do Livro de Lisboa 2016 - Primeiras Impressões

Tenho a sensação que este é o primeiro ano (é a minha nona Feira) que a perspectiva da Feira me deixa algo... indiferente. Talvez seja finalmente a noção de ter demasiada coisa para ler cá em casa. Talvez seja porque tenho grande parte das novidades que queria, e porque normalmente não é na Feira que rende comprá-las, este ano ainda mais. Talvez já tenha adquirido praticamente tudo o que não é novidade que eu queira, ou tenha conseguido manter a lista de desejos desocupada o suficiente para não haver coisas mais antigas que eu queira.


Mas talvez este ano seja aquele em que eu venha a gastar mais em comida que em livros na Feira. Talvez.

As minhas primeiras impressões da Feira é que todos os anos fazem uma fanfarra a dizer que têm muitas novidades, mas honestamente a mim me parece tudo na mesma. Podem ter umas coisinhas diferentes, e isso pode atrair o público geral. Mas não é por isso que vou lá, e na verdade as coisas parece que cada vez se encaminham mais para eu não ter tanta vontade de lá ir.

Acho que a única boa surpresa que tenho a destacar por agora é o facto de no lado direito (para quem sobe o Parque Eduardo VII), antes dos alfarrabistas, haver uns dois ou três espaços de jogos de tabuleiro e afins. É bastante giro, porque com muitos deles temos o elemento de storytelling, e é um bom complemento.

Cada vez me irritam mais os espaços interiores das barracas em sítios tipo Leya. Podem ser muito úteis por causa do tempo, mas quando está muita gente é horrível, aliás, impossível, de ver sequer os livros. Dá-me vontade de fugir a sete pés. E depois, nestes dias a Leya costuma ter apresentações e concertos e assim, e o resultado é que mal dá sequer para entrar no espaço porque se acumulam ali muitas pessoas. Não é nada convidativo.

Este ano até a Fnac aderiu a esse modelo, e bem, também não gostei. Não dava para ver nada com tanta gente, é um espaço muito pequeno. Até a Tenda dos Pequenos Editores está um horror. Quem é que achou que era boa ideia fazer daquilo um longo corredor estreito com livros dos dois lados? Mesmo quando não está muita gente é impossível passar se pararem duas pessoas de cada lado, mesmo à frente uma da outra.


Outra coisa que me desmotiva para a Feira são as promoções. Dantes ficava superanimada para ir à Feira, ver que havia de descontos e planear as minhas compras; mas a cada ano parece que há menos variedade de ofertas neste aspecto. Agora com a nova Lei do Preço Fixo a apertar mais o cerco, nem sequer dá para aproveitar aquelas promoções tipo "leve 4 pague 3" para comprar novidades, porque as novidades estão automaticamente excluídas de entrar nesse tipo de promoções.

Ai... a vida está mal para quem gosta de ler em Portugal. E até para quem não gosta de ler. Não consigo perceber como é que este tipo de restrições vai ajudar às vendas. Não me parece que vá. Tenho a sensação que este tipo de promoção podia dar um empurrãozinho a quem não compre habitualmente livros, para comprar a quantidade de livros certa para usufruir da promoção.

Agora? Mal expressem um interesse num livro levam a resposta "ai, esse não pode ser, está na Lei do Preço Fixo". E depois a razão porque não dá é demasiado complicada para explicar. Qualquer pessoa que trabalhe em vendas nos pode dizer que não se diz a palavra "não" a um cliente, e que promoções com restrições demasiado complicadas vão dar asneira.

Para quem compra muitos livros? Agora compra menos, está claro. Não é com isto que as vendas sobem. 18 meses são uma vida, no mundo da edição, e tanto tempo a bloquear promoções com novidades faz com que fácil e rapidamente certos livros sejam esquecidos. O que é pena.

Enfim. De momento as minhas aquisições reduzem-se apenas a estes livros:

São da Tenda dos Pequenos Editores, e estavam com um bom desconto, a mais de metade do preço, se não me engano. Nem tinha reparado neles da primeira vez que lá passei, tal era a quantidade de gente lá dentro. Mas tenho estado a apostar na banda desenhada, e tendo em conta que têm um par de criadores com que estou familiarizada e me deixam curiosa, foi mesmo de trazer para casa. Já me fazia falta esta sensação de "tenho mesmo de ter".

E pronto, vamos lá ver o que mais a Feira me traz. Não estou com grandes expectativas, por isso estou sempre a jeito para ser surpreendida.

domingo, 29 de maio de 2016

Meg Cabot: Pants on Fire, Royal Wedding Disaster


Páginas: 288 / 288

Editora: HarperTeen / Feiwel & Friends

Pants on Fire: bolas, este livro é simultaneamente divertido e tão errado. A protagonista, Katie Ellison, aparenta ter uma vida perfeita. Namorado, boas notas, boa família, popular, universalmente gostada... segundo namorado.

Pois. Perdida no meio da sua vida aparentemente perfeita, a Katie esquece-se de pensar no que ela quer, e faz um monte de asneiras para o compensar. Incluindo beijocar um segundo rapaz nas costas do namorado. *facepalm* Oh, Katie, Katie, Katie... as mentiras têm perna curta.

A piada da coisa é que ela tem consciência disso. Que está a fazer algo de errado, mas já não sabe gerir as mentiras, e quanto mais avança, mais se enterra. Bem, por tentativa e erro, a Katie lá se vai esforçando por fazer o que está certo.

E posso dizer que apesar do comportamento dela ser tratado num tom humorístico, não é glorificado. É mais apresentado como o resultado de uma adolescente de 16 anos com as hormonas aos saltos e sem saber o que quer; consigo ver definitivamente uma miúda da idade dela a fazê-lo, e as suas atitudes têm uma explicação emocional razoável. Melhor ainda, ela ganha juízo.

A minha parte favorita no entanto é quando o Tommy perdão Tom Sullivan, um amigo da Katie do 3º ciclo (ou o que passa por isso nos EUA), e que saiu da cidade em desgraça por fazer a coisa certa, volta.

É que além de o Tommy ter ficado mal-visto na cidade, a Katie quebrou com ele antes da sua partida, e foi desleal para com ele. E por isso, o seu reaparecimento desconcerta-a, especialmente por haver ali sentimentos não resolvidos. Por isso, foi bastante engraçado acompanhá-los e ver como se resolviam.

Royal Wedding Disaster: a Olivia é a miúda mais adorável de sempre, é só o que tenho a dizer. Neste volume, acompanhamos pelos olhos da Olivia os dias anteriores ao casamento real, o casamento da Mia e do Michael. E é delicioso, porque era isso mesmo que faltava ao livro com a narração da Mia.

Gosto tanto da Olivia, porque é uma menina tão madura e razoável, preocupada e interessada, mas ao mesmo tempo com as inseguranças e problemas típicos da sua idade, e por isso a sua narração permite acompanhar os acontecimentos sem deixar de desenvolver a sua caracterização, em linha com a pessoa que é e com a idade que tem.

Diverti-me tanto a rever alguns personagens, e a dinâmica entre eles, porque este pessoal está na mesma (estou a falar de ti, Grandmère), e a nostalgia é deliciosa. Também adoro poder ver mais um bocadinho da vida privada de alguns deles, que me ocuparam tanto tempo da minha adolescência; tão bom, poder ver a Mia e o Michael casados! E ri-me tanto com a noção da coroação do Michael.

Quanto à Olivia, ela está a adaptar-se à sua nova vida em Genovia, parte da realeza. Tem uma escola nova, uma menina mazinha que não a deixa integrar-se, e está a lidar com novos amigos, possíveis paixonetas, e ainda a sua tentativa de ajudar a organização do casamento em tudo o que pode.

Gostava de continuar a ler a Olivia, e se a série continuar, vou ficar muito feliz. A Meg consegue captar a voz pré-adolescente da Olivia sem a infantilizar. Tenho um carinho pela Olivia, gosto muito dela, e gostava de continuar a acompanhar a narração dela e de ver pelos olhos dela os personagens e lugares que já conhecemos, e tudo de novo que vem aí.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Rainha Vermelha, Victoria Aveyard


Opinião: Vamos abordar primeiro o mais importante: NÃO. SE. FAZ. UM. FIM. DAQUELES!!! Céus. Sou capaz de ter morrido um pouco de antecipação, e o cliffhanger deu cabo de mim. Não se termina assim um livro! Agora sinto-me em pulgas para continuar a ler, e não tenho aqui o segundo livro. Raios.

Pronto, agora vamos ao que realmente interessa. Este livro é bastante derivativo, suponho, no sentido em carrega demasiadas referências de coisas que já conhecemos (Hunger Games, um pouquinho de Shatter Me, talvez um nadita de A Song of Ice and Fire, e não li o The Selection, mas os pontos-chave estão lá) neste género...

Contudo, não considerei que fosse derivativo no mau sentido. Mais como se estivesse a desenvolver um diálogo com esses livros, a acrescentar um pouco aos argumentos que faziam, a expandir certos aspectos deles. Pareceu-me que havia uma certa inteligência na maneira como a Victoria usou esses elementos, uma qualidade deliberada que apreciei.

Não que não se note que isto é o primeiro livro da autora. Há uma certa fraqueza no enredo, na narrativa. Pontos que são buracos que qualquer pessoa pode escavacar e expor como um problema da mesma. Coisas que podiam ser facilmente trabalhadas, e que um editor - pelo menos da maneira como os americanos trabalham - tinha a obrigação de fazer trabalhar.

Exemplos: er, é bastante óbvio quem é que está por trás da reviravolta, e muito fácil começar a desconfiar dessa pessoa cedo; e, bem, nem vamos falar de como a líder da rebelião confia, como ela própria diz, nas incertezas do amor adolescente. Era bastante óbvio que aquilo ia dar asneira.

Por outro lado, oh, a Victoria escreve intriga e conflito e suspeita como ninguém. A tensão de a Mare ser uma Vermelha a viver entre Prateados, a intriga da corte, os pequenos dramas escondidos, os segredos que esta gente carrega, as difíceis decisões e lealdades, e as reviravoltas que mudam o jogo. Manteve-me a virar as páginas cativada, voraz, sem vontade de parar de ler.

Gostei da Mare como protagonista, ela é pragmática, ciente das desvantagens da sua vida, mas decidida a lutar pelos seus. Ela vai parar à corte dos Prateados, mas não é exactamente o protótipo da protagonista tontinha, sempre a cometer erros e ingénua, condenada a repetir as suas asneiras... quero dizer, ela faz asneiras, mas é mais ciente do mundo em que agora vive, um pouco mais astuciosa.

É claro que, por razões de enredo, depois vira burra e confia em quem não devia confiar, numa reviravolta que até eu estava a ver que ia acontecer, mas isso é mais da inépcia da Victoria a introduzir esse pedaço do enredo.

Fiquei muito curiosa com o worldbuilding. Soube-me a pouco, queria saber mais, mas interessou-me bastante as divisões entre Prateados, famílias, e poderes, os conflitos que Norta tem com os outros países, as desigualdades sociais entre classes de Norta, o que aconteceu no passado para evoluir até aqui... espero que sejam pontos a desenvolver no próximo livro.

O elenco de personagens secundários reúne uma série de gente interessante que quero continuar a ver: a rainha Elara, a Evangeline, o Julian, a família da Mare, a corte Prateada, ... o Cal e o Maven, que são bastante definidos pela sua ordem de nascimento, e isso é fascinante de ver. A Mare tem uma relação interessante com cada um, apesar de não ter propriamente a ver com um triângulo amoroso, como ouvia todos dizerem, só que as pessoas estão tão condicionadas a vê-los, só porque há dois rapazes jeitosos nas redondezas... enfim.

E pronto, pode ter alguns defeitos, mas raios me partam se não me diverti a lê-lo. A Victoria tem uma maneira de escrever que é bem envolvente, e até vislumbro uma certa maneira inteligente de criar a sua história; vou querer continuar a acompanhá-la, certamente.

Título original: Red Queen (2015)

Páginas: 352

Editora: Saída de Emergência

Tradução: Teresa Martins de Carvalho

quarta-feira, 25 de maio de 2016

O último Owlcrate... por agora

Sempre foi minha intenção fazer seis meses do Owlcrate e reavaliar, e chegou esse momento. E cheguei à conclusão que gosto muito deste serviço de subscrição, mas quero apostar noutras coisas, por isso vou dar-lhe um descanso.

Ora bem, dando uma olhada no conteúdo deste mês:

O livro do mês é Everland, de Wendy Spinale, o que foi definitivamente uma surpresa. Pelas pistas dadas, tinha ficado com a sensação que era um retelling da Alice pela Colleen Oakes, e este nem sequer me aparecia nos lançamentos recentes do Goodreads. Estás a falhar, Goodreads. Os items de oferta subordinados ao livro são as tatuagens temporárias, e uma carta da autora.

Uma impressão ainda mais ou menos subordinada ao livro do mês, mais o cartão típico do Owlcrate a apresentar a caixa, e uma novidade, um cartão a anunciar o tema do mês seguinte, o que não me vai afectar em nada, mas tortura-me um bocadinho, tenho a sensação que era capaz de gostar dessa caixa. Ainda por cima vão ter uma coisa da loja craftedvan.

Os items não-literários, mas subordinados ao tema (steampunk). Da esquerda para a direita, de cima para baixo: um anel com o Clockwork Angel dos livros da Cassandra Clare, um pin/broche, um colar com chave antiga, e decalques para unhas.

E aqui é que a porca torce o rabo. Não queria terminar assim a minha subscrição, mas saí bastante desapontada com estes produtos. Não há variedade nenhuma, são tudo coisas para usar, e como normalmente não costumo usar joalharia, é a caixa mais inútil que me caiu no colo nestes seis meses. É muito desapontador, normalmente pode haver um ou outro com que não me identifique, mas todos?

Pior, não faz sentido nenhum serem todos produtos do mesmo género. Normalmente a caixa é variada no tipo de produtos que oferece, mas este mês a inspiração estava lá em baixo, não? Steampunk não é só este género de coisas, é redutor pensar assim, e não gosto de pensar nisto como um mau serviço, mas lá que não me caiu bem...

Por outro lado, é capaz de ser a caixa que chegou mais depressa. Ainda nem tinha recebido o e-mail do Owlcrate a dizer o número de tracking (só chegou ao meu e-mail no dia seguinte, a ironia de receber correio caracol antes de correio electrónico), e já me estava o carteiro à porta a entregar a caixa.

No fim de contas, diria que valeu a pena? Sim, suponho que sim. Na sua maioria gostei imenso das coisas escolhidas para a subscrição, identifico-me com o gosto dos curadores da caixa e reuni uma série de coisas fofas. Adoro a sensação de suspense, se bem que nem sempre foi possível mantê-lo, e é bom ter uma surpresa destas no correio.

Também posso louvar a escolha dos livros, porque acabei a ler coisas em que nunca teria pegado, nem que seja porque tenho estado menos em cima do acontecimento no que toca a novos lançamentos (só de autores/séries que já sigo). Não houve nada que me deixasse com a sensação "aqui tenho um novo favorito de todo o sempre", mas houve coisas muito boas e com perspectivas bem interessantes. Também aqui posso louvar as escolhas.

Os portes de envio são caros, não há maneira de o contornar, mas se há coisa que garantem, é que a caixa chega rápido, e normalmente sã e salva. Esta última foi a única que chegou amolgadita no cimo. E melhor, na maior parte dos casos passou na alfândega sem dar nas vistas.

Dei-me conta que isso é provavelmente porque na declaração de alfândega que vem colada na embalagem, normalmente na descrição de produto colocam "Book", e o valor monetário/PVP do livro (mas não dos produtos extra), e como isso é abaixo dos 40 euros (acho que é o valor a partir do qual uma encomenda de fora da UE está sujeita a poder pagar taxas), passou sempre sem ter de pagar nada. Mesmo na única vez em que a caixa foi realmente aberta, acabaram por enviar sem cobrar nada, ou seja, acharam que os produtos não chegavam a esse valor.

No entanto, a ideia de dois quintos do valor da caixa serem portes... é um bocadinho pesada. Não é algo que me incomode imenso, mas a longo prazo, não é sustentável. Mata-me que um valor tão elevado vá para o envio.

E portanto, pausei a subscrição, indefinidamente, por agora. Há tanta outra caixa de subscrição que gostava de experimentar, até fora da área dos livros, e como não me vejo a subscrever o Owlcrate para todo o sempre, esta é uma altura tão boa como outra. Tenho um balanço positivo da experiência, os curadores da caixa fazem um acompanhamento fantástico e estão de parabéns. Recomendaria a quem esteja curioso e consiga passar a barreira psicológica dos portes.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Portugal dos Pequeninos: 20 Danças

Gosto de pensar que me mantenho a par dos lançamentos em Portugal, especialmente dos meus géneros/áreas de eleição. De certo modo, o meu cérebro nunca "desliga", estando sempre atento a novidades.

Portanto, quando vi um lançamento chamado 20 Danças, é claro que as minhas antenas apontaram para ele. Não o reconheci logo, mas pareceu-me vagamente familiar. Provavelmente já o teria visto nas minhas pesquisas pelo Goodreads, ou de algum destaque quando foi lançado no país de origem.

No outro dia tive a oportunidade de folhear o livro, e dei-me conta que sim, já o conhecia. Como 21 Proms. O livro é muito claro na ficha técnica sobre ser esse o título original.

O que pede que nos interroguemos, porquê a discrepância? O que é que aconteceu para perdermos um prom/uma dança? Procedi a apontar os contos apresentados no índice da edição portuguesa e fui investigar.

God bless as opiniões do Goodreads, deram-me a resposta enquanto o diabo esfrega um olho. O conto em falta era Geechee Girls Dancin', da Jacqueline Woodson. Perguntei-me porque teria isto acontecido.

Tinha-me ocorrido durante o processo de pesquisa que talvez o autor/conto em questão estivesse bloqueado, em termos de direitos, para toda a sua obra em Portugal? Isto é possível? Não sei, talvez se fosse uma pessoa super-hiper-mega conhecida...

... e bem, a Jacqueline Woodson tornou-se muito conhecida recentemente, pelos prémios e distinções que ganhou, mas acho que essa fama ainda não cá chegou. Isso não explicaria o "desaparecimento", creio eu. Continuei a matutar na coisa, e de repente, algo mencionado nas opiniões do Goodreads se destacou para mim:

escrito em dialecto

escrito em dialecto

escrito em dialecto

ESCRITO EM DIALECTO

Oh. Meu. Deus. Depois de reparar no que se passa de errado com esta pintura, não consigo deixar de o ver. Por favor, por favor, oh, por favor, alguém me diga que a editora não evitou este conto de propósito, porque era "escrito em dialecto". Seja o que for que isso quer dizer.

Alguém me diga que o conto não foi excluído porque foi considerado demasiado difícil de traduzir, ou na eventualidade que isso se tenha verificado, digam-me que não foi visto como demasiado complicado para a sua audiência.

Porque isto tudo até pode ter uma explicação perfeitamente obscura e razoável. Mas assim que tropecei nesta, não consigo deixar de a ver. E cai-me tão mal, pensar que isso corresponde à verdade. Porque me soa tão tacanho.

Sinto-me algo desapontada, porque sendo uma potencial parte da audiência do livro, detesto pensar que fui considerada demasiado burra para compreender o conto. Ou olhando pelo outro lado, soa-me a preguiça da editora saltar o conto só porque seria demasiado difícil de traduzir. Se não queriam fazê-lo, não se metessem a editar o livro em si. Há demasiados livros por aí.

De qualquer modo, seja isto verdade ou não, esteja eu a exagerar ou não, não consigo ignorá-lo. Aconteça o que tenha acontecido, não consigo adquirir um livro que tenha um pedaço a menos, seja qual for a razão pela qual isso aconteceu.

Tudo o que eu consigo fazer neste momento é perguntar-me porque é que as editoras portuguesas continuam a enterrar-se desta maneira. Porque isto não é um serviço de qualidade. Da maneira como nem é claro o porquê disto acontecer, custa-me que não haja mais claridade na edição em Portugal. Os leitores e clientes já mereciam.

Mas pronto, há mais peixes no mar. Só tenho de me lembrar disso. Ou como ouvi dizer há uns dias, para lidar com as coisas que não podemos mudar, "sorri e acena, como as princesas", e continuar na nossa.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Uma imagem vale mil palavras: X-Men - Apocalipse (2016)

... e foi assim que o Professor X perdeu o cabelo. Uma visão certamente desconcertante, o McAvoy todo careca, quando ele até costuma ter uma jeitosa cabeleira.

Ok, acho que o que tenho primeiro a dizer é que este filme não é tão bom como os dois anteriores, nem de caras. Tem os seus momentos, mas o First Class, e o Days of Future Past são perto de francamente brilhantes em reestabelecer o interesse da história dos X-Men, e em melhorar problemas que estavam para trás.

Uma palavrinha em especial para o Days of Future Past, que acho que nunca comentei aqui. Só por conseguirem gerir dois conjuntos de elencos tão grandes já merecem o céu. Ajuda muito que já toda a gente esteja pré-estabelecida, e não tenham de apresentar tantos personagens novos (já muitos dos X-Men presentes haviam aparecido antes), mas mesmo assim, é impressionante.

Depois, usam fantasticamente os poderes dos personagens em serviço da história, e as suas capacidades são lindamente exploradas. Na sequência inicial, as capacidades da Blink são fascinantes de ver, ainda mais quando os personagens e os Sentinelas andam a entrar e sair de pontos diferentes da cena. (As habilidades de adaptação das Sentinelas também são maravilhosas.) E a cena em que vemos do que realmente o Peter é capaz? Fantástica.

Por fim, o Days of Future Past consegue fazer ainda uma coisa mais extraordinária - criar uma timeline inteiramente nova e "apagar" os erros da trilogia original. Digamos que o First Class funciona como prequela para todos os filmes; o DFP estabelece que um ponto de viragem é quando o Magneto é implicado no assassinato de Kennedy.

Na minha opinião, o mundo em que isso não acontece é o mundo da trilogia original (mais os filmes do Wolverine, acho eu - mas nunca lhes liguei muito, por isso, não tenho a certeza, e não quero saber). Isso faz sentido - os mutantes só são expostos muito mais tarde, no início do século XXI, como nos primeiros filmes; e explicaria porque a Mística é tão devotada ao Magneto. Não tinham tido as suas divergências.

O mundo em que o Magneto é implicado no assassinato de Kennedy é o mundo de Days of Future Past. Os humanos estão cientes da presença dos mutantes; e outro ponto de viragem, o assassinato do Trask, cria o futuro distópico que vemos no filme, e que se quer evitar. Os eventos do fim do filme evitam-no, e originam um futuro que até me deu vontade de chorar só de ver: a nostalgia que foi rever toda aquela gente! Fiquei felicíssima da vida.

E pronto, para não estarmos completamente off-topic, é essa a fraqueza e força deste filme. Não pega nesses personagens, nesse vislumbre que temos, e isso mata-me completamente. É claro que não faz sentido voltarmos a isso, mas aquilo pareceu tanto uma benesse ganha pelos X-Men, que tenho pena de não poder acompanhar.

Por outro lado, o enraizamento desta história nos anos 80 permite introduzir novos personagens, alguns que já conhecemos, apenas os vemos mais cedo na sua, hmm, carreira de X-Men. Foi muito bom ver qualquer um dos "novos"  - a Jean Grey, o Ciclope, a Storm, a Jubilee, o Nocturno, a Psylocke, o Anjo, ... quaisquer destes fazem parte de equipas com que estou familiarizada na BD, por isso a presença de qualquer um deixou-me animada.

No entanto, o filme faz-lhes um desserviço: não aproveita inteiramente a presença desta gente. Não faz propriamente um bom trabalho a introduzi-los, ou melhor, não lhes dá espaço para respirar, se estabelecerem. Acho que está demasiado preso e focado nos personagens principais para criar arcos de história completamente satisfatórios para estes personagens novos e secundários. O que não acontecia com o First Class, por exemplo. E este pessoal tem tanto potencial. Ficam para um próximo filme? Eu preferia que não. Preferia que tivessem feito com eles o que fizeram com os personagens do First Class.

Comparativamente, o enredo e a construção da narrativa são mais fracos. Não sei explicar bem o que é, mas é como se o objectivo da história fosse menos claro. Oh, sabemos o que se está a passar, mas não sei se há uma evolução clara e lógica das coisas. O DFP parece ter um maestro por trás a controlar a evolução das coisas, tudo muito bem orquestrado, e este não me deu esta sensação.

Em contraponto, há uma série de elementos muito fixes na história. O facto de se passar nos anos 80, por exemplo. Há algo engraçado no modo como a Moira, personagem humana, envelheceu claramente (e a reacção do Charles a ela é totalmente hilariante), mas depois os mutantes... estão na mesma? Envelheceram ou evoluíram fisicamente muito pouco? É peculiar; talvez seja a maneira de reconhecerem a intemporalidade da banda desenhada? (Mas depois o Peter ainda está na mesma, a viver na cave da mãe, no que parece um síndrome de Peter Pan?)

Gosto de ver esta história adaptada para o cinema, é grandiosa e tem pontos bem fixes da mitologia dos X-Men; gosto da ideia de ver mutantes no antigo Egipto - e adoraria saber mais sobre os Cavaleiros dessa altura, porque achei mesmo interessante aquela devoção que se viu nos seus momentos finais.

Gosto da ideia dos mutantes terem um passado mais para trás do que se pensa. Acho interessante o status quo dos mutantes no mundo, o medo, a incerteza, e o quanto isso muda (ou não?) no fim do filme. É assustador ver como são explorados em certos locais. Mas é tão fixe ver a Escola para Mutantes a funcionar, é fantástico.

Acho interessante ver a evolução e pensar em como ela se deu para alguns dos personagens principais. O Charles Xavier está bem mais próximo do velhote que conhecemos, sabedor e calmo, em controlo, finalmente alguém que está num ponto em que pode ser um modelo e ensinar miúdos.

A Mística e o Magneto, bem, são os coitadinhos da trilogia. Só desgraças, senhores! Há uma certa aura negra que os envolve, e nem sempre é pelos acontecimentos externos. Em parte, é por não se saberem libertar dos sentimentos negativos que carregam. Acho que o Magneto é francamente pior neste aspecto, ele não sabe mesmo gerir os golpes que a vida lhe dá. A Mística dá muito mais a sensação de ter encontrado uma sensação de paz consigo mesma.

Ai, tenho de mencionar ali um momento, porque é a coisa mais deliciosamente meta e autoconsciente que já vi. A certa altura, alguns personagens vão ao cinema ver o terceiro filme do Star Wars, e estão a discutir a trilogia; e a Jean Grey diz algo do género "toda a gente sabe que o terceiro é o pior". Sou capaz de ter morrido a rir, muito. Não fui a única no cinema.

Ah! E tenho a dizer, no início do filme comentei para o lado que o Wolverine não devia aparecer, não me lembrava de darem destaque ao Hugh Jackman aparecer, e era só assim um nadinha estranho metê-lo a ele no mesmo espaço que uma Jean Grey demasiado jovem, tendo em conta o que é suposto acontecer para a frente. E pronto, eles cruzam-se brevemente, e a Jean tem uma, digamos, acção caridosa para com ele, e felizmente termina ali. Pode explicar porque é que mais tarde ele se pode interessar por ela, mas por agora estamos bem assim. Muito obrigada.

E pronto, agora não me lembro de mais nada que queira comentar. Tenho a certeza que há mais coisas, só não me lembro, a minha cabeça fechou o estaminé. Vou só terminar dizendo que a cena final, de acção, não é tão excitante como seria de esperar, exceptuando um momento com a Jean. Falta-lhe ali um bocadinho assim.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Uma imagem vale mil palavras: Captain America - Civil War (2016)

Não gosto de começar o comentário a um filme que gostei falando de outro que, bem, não gostei tanto, mas Zack Snyder, ponde os olhinhos nisto, seu palerma. Querias pôr super-heróis à batatada? É assim que se faz, homem.

Pontos-chave de porque é que este filme funcionou: para já, o conflito faz sentido. Faz sentido a nível lógico, a nível emocional. Toda a gente tem um interesse próprio no conflito, um arco de história próprio, assim por dizer.

Depois, o filme não fica demasiado enamorado das suas próprias cenas de acção para se esquecer que tem de desenvolver o enredo e os seus personagens. Sim, há acção, mas são os pontos altos e baixos, a nível emocional, que nos ficam. E por fim, não tem momentos parvos que querem criar uma pseudo-ligação emocional mas só fazem asneira. *cof*Martha*cof*

Agora a sério, estou mesmo contente por isto não ser como a Guerra Civil dos comics, porque essa aí, às vezes, é um bocadinho... demais. Neste filme, depois dos sucessivos conflitos destrutivos, mais um com contornos especiais no início da história, os Vingadores são abordados para se submeterem aos Acordos de Sokovia, promovidos pelas Nações Unidas para manter algum tipo de supervisão sobre estas pessoas super-poderosas.

E na verdade, o princípio por trás dos acordos faz sentido. As pessoas estão assustadas. Se por um lado a intervenção dos Vingadores faz sentido em situações reactivas, quando há uma ameaça pré-existente; por outro é mais complicado quando agem preventivamente, como no início do filme. Como justificar passar por cima de jurisdições próprias dos países, de fronteiras, de direito à auto-determinação? Quem controla isso? Who watches the Watchmen?

E por outro lado, já tivemos provas suficientes no Marvel Cinematic Universe para manter uma saudável desconfiança da autoridade externa. Organizações governamentais já se revelaram corruptas, pessoas em posições de poder já mostraram ter intenções menos altruístas.

Portanto, é muito natural que as pessoas se dividam pelos dois campos, mas não é um extremar de posições, é sobre convicções e sobre o percurso de cada um. (Já agora, ainda uma comparação com o outro filmezinho: a base do enredo é a mesma, envolvendo uma manipulação por parte do vilão. A diferença é que os motivos e os métodos deste vilão fazem de facto sentido, no sentido em que se percebe porque toda a gente foi manipulada, e no sentido das motivações dele.)

A certo ponto começo a ter pena do Tony, o homem não acerta uma. A hubris fê-lo colocar-se várias vezes em posição de criar uma coisa com potencial, mas vê-la falhar vez após vez, e é por isso que está tão preparado para a supervisão, de modo a que as suas acções tenham um controlo externo.

Já o Steve tem confiança na sua capacidade de autosupervisão, ou melhor, na capacidade dos Vingadores se gerirem e saberem os seus limites. Não confia que uma autoridade externa o saiba fazer, ou pior, poderá usá-los para fins mais duvidosos. É por isso que este é um filme do Capitão America, mas também um quase filme dos Vingadores. Seja onde for, o Capitão é o líder deles, e é o seu papel natural.

Tenho pena do pobre do Bucky. Desde os anos 40 que o homem não tem poder de decisão sobre o próprio destino, e durante o filme as coisas não melhoram. Faz-me pensar que eles podiam fazer uma mini-série, assim como a da Peggy, sobre a vida dele ao longo dos anos. Ou sobre o futuro dele.

O Pantera Negra tem uma apresentação espectacular. Muito discreto, digno, mas claramente um líder, um guerreiro, alguém com princípios. Não é preciso muito para brilhar. O Homem-Aranha, bem, é adorável. É o primeiro que é credivelmente um adolescente, e gosto desse ângulo. O entusiasmo juvenil de estar no meio daquela gente conhecida toda, de estar taco a taco com eles. (Ainda agora me estou a rir, duma parte em que o Aranha diz que é de Queens, e o Capitão responde que é de Brooklyn. E depois mais tarde, o Peter diz à tia que levou porrada dum Steve que era do Brooklyn...)

A única coisa parva no meio disto tudo é a maneira como o colocam na história. O Tony lembra-se do meio do nada ir buscá-lo, e mete um puto no meio dum conflito entre gente super-poderosa? Que mais valias é que ele trazia? Por que raios foi meter um miúdo no meio daquilo? Não ficou bem justificado. Fazia mais sentido se tivessem enlaçado com a coisa das bolsas mencionada no início do filme. (E em aparte, é um pouco estranho ver a Tia May tão nova, se bem que faz mais sentido do que ser uma velhinha...)

Ah, e ainda tenho de falar do Visão. Uma coisa (há mais, mas esta é a que me fica) muito interessante acerca dele e do Ultron, do último filme dos Vingadores, tem a ver com os actores que os interpretam. Através da maquilhagem, e efeitos visuais e assim, conseguimos mesmo ver a pessoa por baixo, os maneirismos particulares de cada um, os gestos e assim. O que é extremamente desconcertante, mas fascinante. Afinal, são inteligências artificiais a modelar-se nos humanos. Isto é especialmente importante, e imagino que cada vez mais o será, com o Visão.

E pronto, gostava muito de falar de toda a gente, mas isto ficava longo demais, e eu tenho que ir à minha vidinha. Basta dizer que gostei de todos. Acho que genuinamente posso dizer que não tenho nada a apontar ao filme (excepto a desculpa que arranjaram para meter o Homem-Aranha, que é mesmo forçada, mas ele é tão adorável que os desculpo), de tal forma me encheu as medidas. Pelo que percebi, estes realizadores vão fazer os dois próximos filmes dos Vingadores, e essa perspectiva deixa-me animada. Começo a achar que, se fizeram a Guerra Civil resultar, vão ser eles a fazer resultar a Infinity War.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Curtas BD: Super-Heróis DC, vols. 9 a 12

Lex Luthor: Preconceito e Orgulho, Brian Azzarello, Lee Bermejo
Hmmm. Isto acaba por ser na verdade bastante interessante. Estou familiarizada com o vilão titular só no mínimo, e os autores conseguem fazer um retrato bastante cativante do personagem. Quero dizer, o Lex tem motivos nefastos, mas bolas, a narração do ponto de vista dele é mesmo... ele fala com a convicção de que tem razão, o que dá um outro nível aos planos dele.

O uso da personagem Hope é tão curioso e tão triste. O primeiro por causa do papel dela na narrativa, que desenrola duma maneira fantástica. O Lex quer destacar a humanidade, mas ao mesmo tempo sabota-a. O segundo porque apesar de não ser o que parece, a Hope merece ser exactamente o que parece, e é verdadeiramente trágico que lhe seja recusado o direito às suas próprias acções.

A arte acabou por me cair no goto. Das vezes anteriores que o observei, estranhei o traço carregado do artista, mas acaba por ser estranhamente vívida e dinâmica.

Legião dos Super-Heróis: Saga das Trevas Eternas, Paul Levitz, Keith Giffen, Larry Mahlstedt
Acho que me sinto em relação a este livro da mesma maneira que ao do Quarto Mundo, nesta mesma colecção: *bocejo* Ah, isto tem coisas bastante fixes, claro. Mas na maioria, o enredo não é exactamente dinâmico. Acho que é atrasado em parte pela continuidade existente para trás, pelas relações entre personagens, e pela quantidade delas que é preciso gerir.

É que para um leitor iniciado como eu, não é exactamente interessante acompanhar uma história na qual tem tanto peso o passado que está para trás, ou o que aconteceu entre os personagens. Porque eu não sei nada disso.

No entanto, creio que posso dizer que é impressionante o modo como a história se continua a desenrolar satisfatoriamente apesar de ter dezenas de personagens para gerir, estando equilibradamente em várias frentes; e também são impressionantes alguns dos conceitos apresentados, especialmente os relacionados com o vilão e as suas capacidades.

Flash & Lanterna Verde: o Audaz e o Destemido, Mark Waid, Tom Peyer, Barry Kitson, Tom Grindberg
Não tenho de todo o conhecimento suficiente para apreciar isto devidamente, nunca segui os personagens ao longo da sua história para perceber as referências. Mas consigo apreciá-lo pelo que é, uma espécie de dedicatória ao par de protagonistas e à sua amizade.

Cada uma das seis histórias é autocontida, não são nada sequenciais, e saltitam, se bem compreendi, e se assim posso dizê-lo, pela cronologia dos personagens ao longo dos anos. As aventuras são bastante divertidas, e contadas muito ao estilo dos anos 60, 70 e por aí - histórias nada complicadas, com vilões loucos e reviravoltas curiosas.

Só posso criticar o desenvolvimento das histórias no se tido em que se torna cansativo, porque a fórmula é sempre a mesma, em três actos, e isso rapidamente se tornou aborrecido. Por outro lado, a arte é muito interessante, muito ao estilo da época homenageada.

Batman: O Regresso do Joker, Scott Snyder, Greg Capullo
Ah, cada vez mais fico fascinada com esta versão do Batman, com a maneira como estes autores têm estado a contar a história do personagem. Os dois volumes anteriores, com a Corte das Corujas, foram muito bons, criando um novo vilão e uma nova faceta da mitologia do personagem e de Gotham.

Aqui, é o retorno do Joker. E meu Deus, que retorno. Tétrico, sugestivo, assustador. Em cada recanto escuro pode aparecer-nos um tipo com cara de palhaço, pronto a retalhar-nos um sorriso. Essa atmosfera é brilhantemente convocada, uma de medo, paranóia, desconfiança.

E uma outra coisa que os autores conseguem fazer muito bem, sem nos tratarem como burros, fazendo-nos trabalhar por isso, mas ao mesmo tempo fazendo muito sentido quando a revelação nos chega: a maneira como o Joker funciona, os objectivos dele aqui. Demasiadas vezes ele é retratado como um tipo caótico, sem motivação óbvia que não a de causar destruição.

Isso ainda é verdade, suponho, mas as acções dele têm um propósito muito específico. Não é a "morte da família", como o título original do arco de história sugere. Pelo menos não de forma literal, apesar das acções imediatas do Joker o assim sugerirem. Não, creio que a ideia dele era mesmo aquela que aconteceu: criar uma ruptura entre os elementos da Batfamília.

Creio que ele contava que o Bruce fosse, como sempre, o tipo que gosta dos seus segredos, e a sua incapacidade de ser completamente honesto foi mesmo aquilo que no fim fez com que os elementos da família se mantivessem afastados, por sentirem uma quebra de confiança. É pena. Gosto muito de ver toda a gente junta, gosto de os ver trabalhar juntos, e só tenho pena de não ter mais coisas para ler com todos juntos.

A arte continua a ser muita atractiva, fascinante, muito expressiva, dinâmica. Dá mesmo gosto de ver. Por exemplo, quando o Alfred desaparece, a reacção do Bruce é muito impressionante, expressiva, mesmo, e a alusão icónica ao Joker na cena, no plano do leitor de cassetes, é fantástica. Gosto mesmo de ficar a ler e observar a arte.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Coisas Que Nos Diz o Coração, Jessi Kirby


Opinião: Hmmm. Já tinha ouvido falar muito da Jessi Kirby, só coisas boas, na verdade, portanto estava muito curiosa. E queria gostar muito. Estava inteiramente preparada para gostar muito. Bem... isto não funcionou assim tão bem como isso.

Oh, a Jessi Kirby faz um óptimo trabalho a descrever o processo do luto. A protagonista, Quinn, perdeu o namorado há mais de um ano, num acidente; alguns dos órgãos dele foram doados. A Quinn deixou essencialmente de viver deste então, sendo pouco mais que uma concha vazia, e contacta por carta os receptores dos órgãos.

Chega a conhecer quatro dos cinco, mas o quinto, o receptor do coração, nunca lhe responde. A Quinn convence-se que gostaria ao menos de o ver para obter uma sensação de fecho, e procura-o. Só que de boas intenções está o inferno cheio, como se diz, e a verdade é que ela o conhece, e eles começam a interessar-se um pelo outro, e quando dá por ela a Quinn está presa numa mentira por, er, omissão.

Portanto, sim, o processo de luto é muito interessante de ler. A maneira como a Quinn simplesmente parou, deixou de existir, em face de ter perdido um futuro que tinha sonhado. Mas o que eu gostava, gostava mesmo, é que a autora tivesse sido capaz de me fazer sentir. Porque o resto da história? Não achei nada de especial.

Queria que ela me tivesse feito sentir a emoção de voltar a apaixonar-se que sente a Quinn, o interesse e a cumplicidade crescente entre ela e o Colton. Queria que tivesse feito com que eu acreditasse neles como casal. Porque da maneira como o livro é curto, não dá espaço para desenvolver a relação. Numa página conhecem-se, na outra já têm uma ligação especial, bla bla bla...

Não dá. Acredito que se a autora se tivesse permitido mais espaço, mais palavras, o caso seria diferente. Assim, sabe a pouco, a aproximação dos dois protagonistas. E eles mereciam. A premissa é delicada, e merecia ser mais explorada, mais aprofundada. É o mote para o conflito principal da narrativa, mas ao mesmo tempo, no fim é resolvido de forma tão simples e rápida que sabe mesmo a pouco.

E que mais podia ter feito deste livro um livro extraordinário? A exploração do lado da narrativa do Colton. O que é que sente alguém que recebeu um órgão transplantado, que recebeu literalmente uma segunda hipótese na vida porque alguém morreu para lha dar? Temos um vislumbre do estado psicológico do Colton, mas como a narrativa é do ponto de vista da Quinn, é só isso, um vislumbre. Adoraria poder ter lido da perspectiva dele e da família, do que eles passaram até ao transplante, e depois disso.

Ah, não sei, não é que seja uma história má. Não é. É bastante decente, é satisfatória. Mas para o que eu tinha lido acerca da autora, esperava que fosse mais completa, emotiva, que me arrancasse o coração e mo espezinhasse. É uma expectativa excessiva, esperar o melhor, quando nos dizem o melhor?

Gostava de qualquer modo de fazer um destaque para os personagens secundários. Adorei a família da Quinn, os pequenos vislumbres que temos de cada um, o que vamos conhecendo deles. Fazem um conjunto giríssimo, e mostram que a autora é capaz de caracterizar um personagem completo com tão pouco. (O que faz perguntar, porque não acontece isto com os protagonistas?)

Uma nota para a tradução, que fez a melhor finta de tradução por um tradutor português que eu já vi. Conseguiram traduzir o conceito de manic pixie dream girl sem meterem os pés pelas mãos, e explicando bem o conceito no diálogo em que aparece, o que a este ponto do campeonato acho milagroso. É claro que mais para a frente tinham de meter a pata na poça com um par de coisas, mas sinceramente nem me quero lembrar. Ainda estou a chorar de alegria com esta do manic pixie dream girl.

P.S.: Por amor da santa, paremos com as comparações ao John Green. O homem está a ficar o Nicholas Sparks das comparações em YA. E perdeu-se qualquer significado que isso pudesse ter.

Título original: Things We Know by Heart (2015)

Páginas: 224

Editora: Presença

Tradução: Maria das Mercês Peixoto