quinta-feira, 19 de maio de 2016

Uma imagem vale mil palavras: Captain America - Civil War (2016)

Não gosto de começar o comentário a um filme que gostei falando de outro que, bem, não gostei tanto, mas Zack Snyder, ponde os olhinhos nisto, seu palerma. Querias pôr super-heróis à batatada? É assim que se faz, homem.

Pontos-chave de porque é que este filme funcionou: para já, o conflito faz sentido. Faz sentido a nível lógico, a nível emocional. Toda a gente tem um interesse próprio no conflito, um arco de história próprio, assim por dizer.

Depois, o filme não fica demasiado enamorado das suas próprias cenas de acção para se esquecer que tem de desenvolver o enredo e os seus personagens. Sim, há acção, mas são os pontos altos e baixos, a nível emocional, que nos ficam. E por fim, não tem momentos parvos que querem criar uma pseudo-ligação emocional mas só fazem asneira. *cof*Martha*cof*

Agora a sério, estou mesmo contente por isto não ser como a Guerra Civil dos comics, porque essa aí, às vezes, é um bocadinho... demais. Neste filme, depois dos sucessivos conflitos destrutivos, mais um com contornos especiais no início da história, os Vingadores são abordados para se submeterem aos Acordos de Sokovia, promovidos pelas Nações Unidas para manter algum tipo de supervisão sobre estas pessoas super-poderosas.

E na verdade, o princípio por trás dos acordos faz sentido. As pessoas estão assustadas. Se por um lado a intervenção dos Vingadores faz sentido em situações reactivas, quando há uma ameaça pré-existente; por outro é mais complicado quando agem preventivamente, como no início do filme. Como justificar passar por cima de jurisdições próprias dos países, de fronteiras, de direito à auto-determinação? Quem controla isso? Who watches the Watchmen?

E por outro lado, já tivemos provas suficientes no Marvel Cinematic Universe para manter uma saudável desconfiança da autoridade externa. Organizações governamentais já se revelaram corruptas, pessoas em posições de poder já mostraram ter intenções menos altruístas.

Portanto, é muito natural que as pessoas se dividam pelos dois campos, mas não é um extremar de posições, é sobre convicções e sobre o percurso de cada um. (Já agora, ainda uma comparação com o outro filmezinho: a base do enredo é a mesma, envolvendo uma manipulação por parte do vilão. A diferença é que os motivos e os métodos deste vilão fazem de facto sentido, no sentido em que se percebe porque toda a gente foi manipulada, e no sentido das motivações dele.)

A certo ponto começo a ter pena do Tony, o homem não acerta uma. A hubris fê-lo colocar-se várias vezes em posição de criar uma coisa com potencial, mas vê-la falhar vez após vez, e é por isso que está tão preparado para a supervisão, de modo a que as suas acções tenham um controlo externo.

Já o Steve tem confiança na sua capacidade de autosupervisão, ou melhor, na capacidade dos Vingadores se gerirem e saberem os seus limites. Não confia que uma autoridade externa o saiba fazer, ou pior, poderá usá-los para fins mais duvidosos. É por isso que este é um filme do Capitão America, mas também um quase filme dos Vingadores. Seja onde for, o Capitão é o líder deles, e é o seu papel natural.

Tenho pena do pobre do Bucky. Desde os anos 40 que o homem não tem poder de decisão sobre o próprio destino, e durante o filme as coisas não melhoram. Faz-me pensar que eles podiam fazer uma mini-série, assim como a da Peggy, sobre a vida dele ao longo dos anos. Ou sobre o futuro dele.

O Pantera Negra tem uma apresentação espectacular. Muito discreto, digno, mas claramente um líder, um guerreiro, alguém com princípios. Não é preciso muito para brilhar. O Homem-Aranha, bem, é adorável. É o primeiro que é credivelmente um adolescente, e gosto desse ângulo. O entusiasmo juvenil de estar no meio daquela gente conhecida toda, de estar taco a taco com eles. (Ainda agora me estou a rir, duma parte em que o Aranha diz que é de Queens, e o Capitão responde que é de Brooklyn. E depois mais tarde, o Peter diz à tia que levou porrada dum Steve que era do Brooklyn...)

A única coisa parva no meio disto tudo é a maneira como o colocam na história. O Tony lembra-se do meio do nada ir buscá-lo, e mete um puto no meio dum conflito entre gente super-poderosa? Que mais valias é que ele trazia? Por que raios foi meter um miúdo no meio daquilo? Não ficou bem justificado. Fazia mais sentido se tivessem enlaçado com a coisa das bolsas mencionada no início do filme. (E em aparte, é um pouco estranho ver a Tia May tão nova, se bem que faz mais sentido do que ser uma velhinha...)

Ah, e ainda tenho de falar do Visão. Uma coisa (há mais, mas esta é a que me fica) muito interessante acerca dele e do Ultron, do último filme dos Vingadores, tem a ver com os actores que os interpretam. Através da maquilhagem, e efeitos visuais e assim, conseguimos mesmo ver a pessoa por baixo, os maneirismos particulares de cada um, os gestos e assim. O que é extremamente desconcertante, mas fascinante. Afinal, são inteligências artificiais a modelar-se nos humanos. Isto é especialmente importante, e imagino que cada vez mais o será, com o Visão.

E pronto, gostava muito de falar de toda a gente, mas isto ficava longo demais, e eu tenho que ir à minha vidinha. Basta dizer que gostei de todos. Acho que genuinamente posso dizer que não tenho nada a apontar ao filme (excepto a desculpa que arranjaram para meter o Homem-Aranha, que é mesmo forçada, mas ele é tão adorável que os desculpo), de tal forma me encheu as medidas. Pelo que percebi, estes realizadores vão fazer os dois próximos filmes dos Vingadores, e essa perspectiva deixa-me animada. Começo a achar que, se fizeram a Guerra Civil resultar, vão ser eles a fazer resultar a Infinity War.

Sem comentários:

Enviar um comentário