quinta-feira, 30 de junho de 2016

Este mês em leituras: Junho 2016

O Verão chegou! Tem estado tanto calor e tudo, já parece que estamos em Agosto... um bom mês com duas leituras muito esperadas; gostava de ter escrito mais no blogue, mas enfim, quando estou a fazer um certo horário no trabalho é-me muito difícil dedicar tempo a este meu passatempo, e daí que tenha passado uma semana sem postar. Gostava de melhorar isso, mas ainda não descortinei como vou fazê-lo.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Lewis Carroll: As Aventuras de Alice no País das Maravilhas; Alice do Outro Lado do Espelho;
  • Curtas: Graphic Novels da Marvel, vols. 5, 9 e 10: O Incrível Hulk: Planeta Hulk Parte 1, O Incrível Hulk: Planeta Hulk Parte 2, Greg Pak, Carlo Pagulayan, Aaron Lopresti; Motoqueiro Fantasma: A Caminho do Inferno, Garth Ennis, Clayton Crain;
  • A Court of Mist and Fury, Sarah J. Maas;
  • Curtas BD: Super-Heróis DC, vols. 13 a 15: Novos Titãs: O Contrato de Judas, Marv Wolfman, George Pérez; Super-Homem & Mulher Maravilha: Par Perfeito, Charles Soule, Tony S. Daniel; Esquadrão Suicida: Nós Que Vamos Morrer, John Ostrander, Luke McDonnell, Bob Lewis, Karl Kesel, Dave Hunt;
  • The Problem With Forever, Jennifer L. Armentrout;
  • Curtas: Kindred Spirits, Rainbow Rowell; Por Sorte, o Leite, Neil Gaiman, Skottie Young.

Os livros que marcaram o mês

  • A Court of Mist and Fury, Sarah J. Maas - como é que não podia ser um dos livros marcantes do mês, esta mulher um dia vai matar-me com a maneira como escreve as histórias dela, com voltas e reviravoltas e coisas excitantes sempre a acontecer, começo a duvidar que alguma vez ela escreva algo que me desaponte;
  • The Winner's Kiss, Marie Rutkoski - no caso da Marie, ela só com o primeiro livro da trilogia conseguiu pôr-me só um bocadinho, ligeiramente, nada mesmo, ansiosa para ler os seguintes, e digo-o no sentido em que até adio a coisa para não stressar por antecipação; mas depois é claro que lá ganho coragem e ponho-me a ler a coisa e embalo e adoro tudo até à exaustão, graças à sua maneira única de criar a sua história.

Outras coisas no blogue


Aquisições

Parte das minhas aquisições foram na Feira do Livro, e já aparecem aqui. O restante do mês corresponde a esta foto; os livros da colecção Graphic Novels Marvel do mês, mais os primeiros duma colecção nova, a Novela Gráfica 2, com os já expectáveis tamanhos diferentes. *suspiro*

Fora isso, comprei somente um livro, com dinheiro em cartão, por isso não me custou nada. O livro da Juliet, que estava em dúvida se compraria de todo. Estou a ficar um bocadinho cansada de estar tanto tempo à espera por um livro, e acho que a próxima série da Juliet já vou comprar em inglês, porque me aborreço de morte de tanto esperar. A editora já tem trabalhado melhor do que agora em termos de celeridade a traduzir e editar um livro. Só me contive porque já tenho o primeiro em português, e bem, faz-me mesmo comichão ter séries em formatos diferentes, se o puder evitar.

A ler brevemente

Uso a mesma foto das aquisições, pois tenciono começar/continuar a ler as minhas colecções de banda desenhada; e quero ler também o livro da Juliet brevemente. Fora isso, está em aberto. Darei continuidade ao meu desafio da Meg Cabot, mas como ainda não decidi o que vou ler dela, fica assim.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Curtas: Kindred Spirits; Por Sorte, o Leite

Kindred Spirits, Rainbow Rowell
Céus, este conto é adorável. A Elena é uma fã dos filmes Star Wars por influência do pai, e previamente ao lançamento de The Force Awakens, o filme mais recente, decide juntar-se à fila para o cinema antes de o filme estrear. Só que a celebração de fãs que a Elena esperava não é bem o que acontece...

O que eu gosto no conto e até noutras histórias da Rainbow é que ela reflecte no que é ser fã de algo, que não há certos ou errados quanto a ser fã de uma coisa. Todos gostamos de alguma coisa, todos gostamos de exprimir apaixonadamente esse gosto. Simplesmente encontramos formas diferentes de o fazer.

A Elena exprime o seu gosto por, e tem uma relação com Star Wars diferente da que os outros fãs da fila têm, e isso está bem. É divertido conhecer estas pessoas e ver o que fazem nos dias anteriores à estreia, por poucas que sejam.

O fim do conto é tão, tão bom. Super adequado. De certo modo já estava à espera, depois de tanta antecipação, mas foi muito bem vindo, e muito bem pensado.

Por Sorte, o Leite, Neil Gaiman, Skottie Young
Um livro para crianças, para ler aos filhos, claramente, porque tenho a sensação que isto lido em voz alta deve ser altamente hilariante. A história é muito ao género deste tipo de livro, com repetições de temas e acontecimentos, e uma evolução da história com crescentes reviravoltas até ao clímax do final da história.

Onde esta brilha é na fantástica imaginação do autor: esta é uma história que mete extraterrestres, piratas, tribos que fazem sacrifícios a vulcões, e vumpiros. (Sim, vumpiros.) Ah, e mais importante que tudo, viagens no tempo. Adorei esse elemento porque flui mesmo bem e as reviravoltas estão bem montadas.

Adorei acompanhar a história que o pai contou das suas aventuras e crescentes desventuras; e adorei os filhos, sempre a tentar apanhá-lo em falso. O final tem uma piada especial que é revelada na última imagem. E por falar na arte, tão gira. O Skottie Young tem este estilo meio doido mas tão apelativo.

A única coisa de que me queixo é a alergia que os editores portugueses em geral têm a meter um advérbio nos títulos dos livros, porque realmente "Felizmente, o Leite" soa-me melhor. ("Afortunadamente, o Leite" ainda era mais fixe, mas isso já era demasiado complicado para este pessoal. E não estou a falar dos miúdos.)

A repetição da expressão é feita vezes sem conta na história (afinal no meio de tantas peripécias, o pai esforça-se para regressar aos filhos e levar-lhes o leite), e até lhe é dada uma volta, quando as coisas não correm tão bem - fortunately passa a unfortunately, sorte passa a azar, mas felizmente podia perfeitamente passar a infelizmente.

domingo, 26 de junho de 2016

The Problem With Forever, Jennifer L. Armentrout


Opinião: A este ponto do campeonato, estou muito familiarizada com os livros desta autora. Talvez demasiado familiarizada. Conheço-a e à sua obra de uma ponta à outra. Li quase tudo dela o que havia para ler, excepção feita àquilo que não se proporcionou, por ter saído primeiro em e-book ou algo do género, ou num dos casos, porque me vai deixar tão furiosa, disso tenho a certeza (Every Last Breath; não gostei dos primeiros livros, não vejo como é que este vai mudar o jogo, acho que vai é piorar as coisas... oh bem, não se pode ganhar tudo).

Bem. Ela já tem escrito coisas de todos os tamanhos e feitios, mas este é dos poucos contemporâneos que escreveu na faixa YA. Talvez mesmo o único e primeiro, se excluírmos o Don't Look Back da categoria de contemporâneo por ser mais a tender para o mistério/thriller. Para quem começou a escrever no fantástico/FC YA, até é curioso ver que ela nunca explorou muito este cantinho género.

E o livro é enorme. Não parece nada, contudo. Flui bastante bem. Uma característica da escrita da Jennifer. Mesmo aqui, num livro que não é guiado pelo enredo ou pelo worldbuilding - coisas que facilitam muito o ritmo da leitura. O impressionante deste livro é que não tem nada disso, é guiado pela caracterização dos personagens, e mesmo assim é devorável.

É por isso que eu gostei dele. A caracterização. A Mallory é espectacular, fantástica de ler. As limitações dela são um seguimento lógico do passado dela, e a autora escreve-as com uma verdade emocional que ressoa. É custoso, é doloroso, a Mallory gostava de ser diferente, mas é assim. Vive com isso, e vai evoluindo aos bocadinhos para fora do casulo. Há vários tipos de força, e a Mallory encontra-a no seu interior. Mesmo não tendo passado pelo que ela passou, mesmo que não agisse como ela, posso entender as suas limitações, identificar-me com elas. Senti-as mais profundamente por isso.

Gostei bastante de ver a história desabrochar, de acompanhar o que estes personagens tinham enfrentado. A descrição do sistema de adopção e acolhimento de crianças é assustador. Nem todos têm as mesmas experiências, mas só a noção de que apenas uma criança possa passar algo como o que a Mallory ou o Rider passaram, bem, é aterrador e preocupante.

No caso do Rider (e já agora, que raio de nome é Rider? ninguém se chama assim, a não ser rapazes bonzões nos livros... ups, aí tenho a minha resposta), bem, o Rider pode parecer bastante mais bem resolvido com o seu passado. Palavra-chave: parecer. No caso dele o que me entristece é que é vítima do estereótipo e do que os outros projectam nele. Quantos miúdos não se perdem porque ninguém espera mais deles? Porque não há ninguém a puxar por eles, a incentivá-los a superarem-se e às expectativas?

Gostei bastante de os ver juntos, porque têm uma história tão séria e poderosa para trás que é impossível não gravitarem um para o outro. E são bem giros juntos, ele armado em protector, ela determinada a acreditar nele quando mais ninguém o faz. Achei um pormenor absolutamente adorável, que era o Rider corar por tudo e por nada. Ah, e há uma cena muito interessante, pelo, er, conteúdo, mas também por se manterem responsáveis. Haja alguém que acredite que os adolescentes são capazes disso.

Fiquei fã de alguns pormenores da história. A Ainsley, pela sua personalidade, pelas discussões com o Hector, mas também por a autora colocar um pouco da sua história nela. Ela tem sido vocal no Facebook sobre ter a doença e alguns problemas que lhe traz. O leque de amigos do Rider. Os pedacinhos da vida do Rider. O professor da disciplina de discurso. Os pais adoptivos da Mallory, a dinâmica que ela tem com eles, o modo como formaram uma família.

Tenho de destacar um par de coisas menos positivas. Uma é que o livro às vezes me deu a sensação de não estar... bem revisto? Ocasionalmente uma frase soava-me mal formulada, coisa que se apanhava com uma revisão mais aturada.

Dois, uma personagem identifica que alguém fala "Puerto Rican" por ouvir uma expressão, e eu fiquei... WTF??? Até consigo perceber a lógica de dizer que alguém fala porto-riquenho, apesar de ser impreciso. Poderíamos fazer o mesmo e dizer que alguém fala brasileiro se for óbvio pelo sotaque e expressões que usa que fala português do Brasil. Mas a expressão usada é tão corriqueira, tão pouco específica, que seria preciso poderes de dedução do nível Sherlock Holmes para chegar a isso. E a Jennifer agradece nos Acknowledgements a uma moça latina pela ajuda com o espanhol. Como é que um falante de espanhol deixava passar uma destas?

De qualquer modo, isto não é nada para me afectar o gosto da leitura, apenas são momentos... estranhos. No fim de contas, acho que este acabou por ficar um dos meus livros favoritos dela. Até me deu vontade de ir ler todos os livros dela que ainda me faltam.

Páginas: 480

Editora: Harlequin Teen

domingo, 19 de junho de 2016

Feira do Livro de Lisboa 2016 - E então, já acabou...

Eh. Esta feira foi realmente atípica. Mais ou menos como eu previa. Contas feitas, gastei muito pouco, comparando com os anos anteriores, talvez um quarto ou um sexto do valor que habitualmente e/ou em média gasto.

Não tenho bem ideia de quantas vezes costumo ir à Feira, mas talvez tenha ido menos vezes este ano. Ou talvez fui menos vezes com intenção de comprar livros, e também foram, obviamente, menos as vezes em que de facto comprei livros.

Contas feitas, depois das duas vezes descritas no post anterior, fui mais uma vez a uma hora H, mas em que basicamente fui só lá jantar com uma amiga. Andámos por lá dum lado para o outro, mas o raio das barracas da comida faziam questão, quase todas, de escrever gourmet algures na carripana.

Oh, céus. Acham mesmo que precisam disso para vender comida? O português está perfeitamente familiarizado com street food e roulottes de comida. Tudo o que conseguiram fazer foi pôr-nos a torcer o nariz cada vez que o víamos, e acabámos na roulotte dos hambúrgueres e bifanas. E comemos muito bem, já agora.

Fora isso, comi numa outra vez umas Tripas on Wheels, que eram basicamente uns crepes glorificados. Um bocadinho caros. Valeu terem ovos moles, que eu acho deliciosos. Mas as waffles doutra barraca estavam a bom preço e adorei comê-las com ovos moles, muito boas.

A seguir a ter ido lá com a minha amiga, fui mais uma vez à hora H. Não tinha nada específico em mente, e acabei a comprar o conjunto de livros que estão deitados. Estavam na Porto Editora-Bertrand a 5 euros, portanto na hora H ficaram-me a metade do preço. É um disparate, mas um disparate que me saiu muito barato.

Deu para complementar algumas séries, apesar de ficarem na mesma incompletas porque a editora desistiu desta chancela e de muitas séries que publicava. Mas fiquei com uma cópia de um par de livros que já tinha e de que gostei muito.

Passou uma semana sem eu ir lá, e depois fui a uma hora H para vir de mãos a abanar. As multidões desencorajaram-me e não encontrei nada que me animasse. As duas vezes seguintes que fui à Feira é que valeram. Passei um bom bocado na conversa com pessoal dos livros, o que me soube melhor que tudo o resto da Feira.

Voltei à Feira uma última vez no último dia, por causa da hora H. Excepcionalmente, acabou numa segunda-feira, por ser feriado em Lisboa (dia 13). Comprei os dois livros que estão ao alto na foto. Hei de dar continuidade à Deborah Harkness, e a banda desenhada tinha-me deixado curiosa quando saiu.

E pronto, terminou. Para o ano há mais. Como esperava e previa, gastei muito menos em livros, por ter muito menos que quisesse comprar. Acho que estou um bocadinho cansada da feira, se é que o posso pôr nestes termos. Gosto de livros, gosto de comprar livros, mas a maneira como as coisas funcionam na feira, bem, podiam ser melhores, e isso desanima-me. Portanto, só posso terminar desejando que para o ano seja melhor, e que até lá eu tenha muitas e boas leituras.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Curtas BD: Super-Heróis DC, vols. 13 a 15

Novos Titãs: O Contrato de Judas, Marv Wolfman, George Pérez
Há dois aspectos opostos desta história que fazem um par singular: é uma história típica dos anos 80, com tudo o que isso implica, e ao mesmo tempo tem uma certa profundidade e seriedade, que até nem parece coisa deste género de BD.

A descrição deste grupo de jovens é feita duma maneira a tender para o maduro; tem a sua leveza, também, mas tem momentos sérios e adultos com que têm de lidar. É muito claro que eles são adolescentes, mas não estupidificados, e até é bem interessantes acompanhá-los.

Contudo, a história tem elementos questionáveis - a questão da idade da Terra; tem problemas no enredo e no ritmo; e tem pormenores que são só parvos ou inexplicados - o uniforme do Nightwing dá vontade de rir, para não dizer pior, e a vilã detesta os Titãs só porque sim, porque o enredo o pede.

De qualquer modo, é uma história bastante cativante, a caracterização de alguns personagens deixa-me muito curiosa e com vontade de os voltar a ler e conhecer melhor.

Super-Homem & Mulher Maravilha: Par Perfeito, Charles Soule, Tony S. Daniel
Isto é um conceito estranho. Suponho que é óbvio que dois dos personagens mais populares e poderosos pudessem ser um par, mas nunca aconteceu e daí a estranheza.

Aqui a coisa curiosa é que o conceito resulta e não resulta. Não estou aqui a morrer para continuar a ler os dois personagens ou ver mais deles juntos, portanto não é uma coisa que me consome. Mas por outro lado, a coisa resulta. Resulta mesmo.

Apresenta uma exploração bastante credível do que seria uma relação entre dois personagens tão poderosos. Tem que havia confiança mútua, não pode haver egos. Os personagens estão à vontade nas suas capacidades e nas do outro, respeitam-se mutuamente e aprendem sobre as suas diferenças.

Podiam ser um casal a sério. Até podiam, só que nunca resultaria a longo prazo. A única coisa que os separa é todo este tempo de desenvolvimento individual, porque nunca os vimos juntos, e como são pessoas tão diferentes, desenvolvidos de maneira diferente e com valores diferentes, acabará sempre, imagino, por haver algo que os separa. Mas da maneira como são aqui escritos, podia acreditar.

Gosto bastante de como quando a relação deles é revelada, o mundo perde a cabeça, aterrorizado com a perspectiva de dois seres superpoderosos criarem devastação numa discussão de casal. É hilariante; mesmo zangados, nem o Clark nem a Diana seriam capazes de o fazer. Uma boa exploração da obsessão com a vida alheia nas redes sociais. E pontos bónus para a arte, que é muito cativante.

Esquadrão Suicida: Nós Que Vamos Morrer, John Ostrander, Luke McDonnell, Bob Lewis, Karl Kesel, Dave Hunt
Hmmm. Este é daqueles conceitos que descrito é bizarro e possivelmente parvo, mas funciona bem lido. Um grupo de vilões a quem é prometida liberdade em troca de embarcar numa missão, bem, suicida, pela dificuldade envolvida. Se bem que metade deles acaba por não ser vilão...

Acho que o que gosto mais neste volume é que até desenvolve bem as relações entre os personagens e conseguiu torná-los cativantes de ler; toda a gente tem a sua história e objectivos. Também achei que as sucessivas histórias são dinâmicas; não trazem nada de novo, propriamente, e às vezes são produto do seu tempo, mas mantêm o interesse, o que nem sempre acontece com histórias mais antigas.

É uma boa introdução ao conceito, e depois da publicidade feita ao filme que vem em Agosto (?), estou definitivamente intrigada.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Court of Mist and Fury, Sarah J. Maas


Opinião: Se isto fosse um filme ou uma peça de teatro, merecia uma ovação em pé. Porque, caramba, estou tanto chocada como bem impressionada com a Sarah e a mestria com que ela escreveu este livro e mexeu com as peças de xadrez, e com o meu coraçãozinho frágil. Não é fácil fazer a proeza que ela fez, e tenho a certeza que com qualquer outro autor eu já me estava a preparar para o deitar abaixo, mas com ela, bem, ela escreve duma maneira hipnotizante e eu vou atrás tipo "sim, mestre".

Bem, depois dos acontecimentos finais do livro anterior, era de esperar que a Feyre passasse uns maus bocados por causa do que tinha acontecido Under the Mountain. Tudo aquilo deixou uma marca (não só nela, mas ela é a narradora, portanto...), e as primeiras 100, 150 páginas são um pouco pesadas de ler por causa disso. Custou-me imenso ler e ver a minha protagonista perder o fogo que era parte da sua personalidade, deixar-se arrastar pelos acontecimentos, deixar que os outros fizessem dela uma boneca.

É que o problema é que não é só ela a sofrer de stress pós-traumático; podemos argumentar que quase todo o mundo féerico, especialmente aqueles que passaram 50 anos fechados Under the Mountain ou presos numa maldição, sofre do mesmo. O problema é também que a dor faz as pessoas perderem-se a si próprias, sejam humanas ou féericas, se o deixarem, se se fecharem em si, se não confiarem nos que amam.

Isso põe uns constrangimentos terríveis na Spring Court e nos que aí vivem (e no mundo féerico também, mas aqui ela é o foco). A certa altura parecia que todos estavam a sofrer, à sua maneira, no seu cantinho, sem estender a mão uns para os outros. Houve alturas no outro livro em que mostraram uma frente mais unida. E quando cada um fica fechado em si, sem tentar compreender e aproximar-se do outro, bem, é claro que as coisas correm mal. E que isto já não era ambiente para a nossa protagonista.

E pronto, há um deslocamento espacial da Feyre, e ela vai parar à Night Court por causa do acordo que tinha feito com o Rhys, mas também por... outras coisas, entre elas o facto de, como eu tinha previsto, eles serem as melhores pessoas para fazer a Feyre voltar a encontrar um equilíbrio consigo própria.

E se eu não soubesse já que a Sarah é fã de Anne Bishop, raios, que eu a topava em cinco minutos com este livro. Certas características da Night Court são totalmente uma homenagem a uma certa corte dos Sangue dos livros das Jóias Negras. O sentido de humor, a camaradagem e união, a ideia que estas pessoas são muitíssimo poderosas e podiam estar neste momento a arrasar tudo, e mesmo assim põem as suas consideráveis capacidades ao serviço de algo maior que eles... não sei, as vibes que eles me deram eram totalmente Bishopianas, mesmo sendo as suas próprias pessoas, diferentes dos que homenageiam.

Não posso falar muito em pormenor do Rhys, porque metade da piada é ler em directo; mas posso dizer que fui reler a minha opinião do livro anterior, feita há um ano, e apetece-me rir a modos que histericamente. Estava tão certa e tão errada ao mesmo tempo, meu Deus, ao escrever aquelas palavras, que é mesmo de cair para o lado.

Digamos apenas que a Sarah escreveu aquilo que eu nunca acharia que queria, e melhor, conseguiu criar uma evolução emocional credível, conseguiu responder às minhas dúvidas, conseguiu esclarecer melhor o carácter dele e redimir algumas coisas, sem tentar justificar. Digamos que é das melhores reviravoltas que já li, especialmente por ter conseguido com que eu embarcasse nela. Raio da mulher que conseguiu com que eu mudasse de ideias em relação a um tema que eu não achava que fosse passível de mudar de ideias. É o que dá armar-me em irredutível.

É bastante óbvio que gostei de conhecer a Night Court e seus intervenientes; a exploração da mesma dá uma perspectiva diferente do mundo féerico e até do que se espera deles. Achei a Amren tão interessante, pelo seu mistério e capacidades; já o trio Mor-Cassian-Az é tão divertido e merecem levar uns calduços para ganhar juízo. E pronto, posso dizer que achei piada à relação da Feyre com o Rhys, sempre a meter-se um com o outro.

Há algumas pessoas que eu estou a ver a juntarem-se à equipa Night Court, como as irmãs da Feyre, pelas razões óbvias e por algumas não tão óbvias, mas vai intrigante ver a coisa desenrolar-se; e o Lucien, que esteve tanto tempo desaparecido na narrativa, por força de maior - já estava a sentir a falta dele, e o fim acho que garante que ele vai saltar para outro lado (adorei o ar de desconfiado dele). Gostava ainda que se resolvesse a questão com a Summer Court, porque até tinha gostado deles, e podem ser aliados valiosos.

A narrativa pode sofrer um bocadinho de segundo-livro-ite, ou seja, as pecinhas de xadrez estão todas a movimentar-se sem fim à vista, a preparar o clímax da trilogia, no terceiro livro. Vemos a ameaça maior a concretizar-se, os personagens dão passos para tentar travá-la, mas ainda não é desta, claro. Estou muito curiosa com a ameaça vinda de Hybern, porque pelos vislumbres que temos, é claro que um jogo maior está a decorrer, e nós nem vimos metade. Preocupa-me pensar no que será preciso fazer para serem derrotados.

O final, céus, matou-me. A aflição com uma tragédia, o encadeamento de traições, o optimismo que vulnerabilizou os nossos personagens: tudo se junta para os colocar numa posição muito frágil. Fiquei a roer as unhas. É certo que estes acontecimentos prometem coisas muito excitantes no terceiro livro, mas no momento... tanta tensão, tanto nervosismo. Gostei de como a Sarah não foi pelo cliché óbvio, e que as pessoas certas compreenderam o que estava por trás do engano que, admitamos, era preciso para desarmar uma situação complicada...

Caramba, e agora lá vou eu sofrer um ano, à espera de saber o que vai acontecer a seguir. É a história da minha vida. Espero que a Sarah tenha à minha espera coisas muito fixes, e tortura como só ela sabe fazer. De certeza que vai ser delicioso de ler.

Páginas: 640

Editora: Bloomsbury

domingo, 12 de junho de 2016

Como sobreviver à alfândega

É curioso: ando a fazer encomendas de livros há quase seis anos e nunca tinha tido de lidar com a alfândega. É claro que normalmente encomendo livros do Book Depository, e coisas vindas da União Europeia não têm o mesmo controlo; e de qualquer modo, pensando nas poucas ocasiões em que encomendei livros da Amazon americana, livros são coisas de valor baixo que geralmente não chegam a um certo valor a partir do qual a alfândega inspecciona as encomendas.

Pois bem, foi preciso encomendar algo que não livros para ficar com encomendas presas na alfândega. E nem sequer foi electrónica; foi uma agenda dum site australiano (numa das encomendas) e foi material de papelaria, autocolantes e cartolinas coloridas e assim dum site americano (noutra encomenda). E para mal dos meus pecados, tiveram de ser as duas uma atrás da outra.

O problema de desalfandegar uma encomenda nem é o processo em si, que acaba por ser mais ou menos simples; é a informação que nos é dada. No meu caso, recebi um aviso de desalfandegamento, uma carta registada, que no caso das duas encomendas pedia o número de contribuinte e um comprovativo tipo factura, que indicasse o valor total pago pela encomenda.

O problema é que a carta me pareceu demasiado vaga. Não diz se podemos dirigir-nos à alfândega, em Cabo Ruivo, fazer este processo (podemos, e acelera imenso toda a coisa, o que também não nos é dito); diz que temos de enviar por fax ou carta ou e-mail esta documentação, mas não nos diz com que janela temporal podemos contar para depois desse envio recebermos a encomenda, juntamente com as taxas que temos de pagar.

No caso da segunda encomenda que referi, e a primeira que recebi, nem sequer foram capazes de escrever o nome do remetente completo; o nome da loja online começava por "The", e por isso foi "The" que eles meteram. Se não soubesse que era essa encomenda de que estava à espera, podia ficar ali tipo burro a olhar para um palácio. Como esperava este pessoal que eu levasse a factura correcta se nem sequer são capazes de me meter o nome do remetente, para saber qual factura lhe corresponde?

Parece-me que como a carta serve para muitos motivos de desalfandegamento, acaba por ser demasiado vaga. Tem um par de espaços para assinar, mas também não é claro se temos de assinar algum deles se enviarmos os documentos por correio. É pior que preencher o modelo 3 e anexos correspondentes do IRS... é claro que ambos são representantes de uma certa burocracia, e burocracia não é burocracia sem ser extremamente convoluta e desnecessariamente complicada.

O bom da coisa é que chegada à alfândega, o processo é muitíssimo simples, e ainda bem para eles, porque se querem que paguemos o raio das taxas, o mínimo que podem fazer é facilitar toda a coisa, em vez de ficarmos ali à seca como numa repartição de Finanças (nota-se muito que já passei valentes secas em tal instituição? e nem sequer foi para entregar declaração de IRS, thank God).

Essencialmente, para mim, foi só tirar a senha da alfândega, esperar pela vez respectiva, entregar a factura e o NIF, eles calcularem as taxas (existe uma que é aplicada ao tipo de produto, que no meu caso dava 0, e em cima dessa ainda temos o IVA), entregam-nos um papel, tiramos senha da tesouraria, metem em cima do valor já calculado a taxa de desalfandegamento, pagamos, passamos ao gabinete do lado, entregamos o comprovativo do pagamento, entregam-nos a encomenda, e voilá! Processo terminado.

(No caso da segunda encomenda que recebi, foi apenas um bocadinho mais complicado, porque a morada vinha do remetente mal, e não recebi carta de desalfandegamento. Consegui levantar na mesma, com algum facilitismo da parte do pessoal que lá trabalha. Mas lá está, o interesse deles é receberem o raio das taxas, se eu tinha como comprovar que a encomenda era minha...)

Isto parece quase um processo de rapto e resgate monetário de encomendas. Hmmm. A verdade é que contas feitas de cabeça, arrotei em média algo como 40% do valor das duas encomendas em taxas, o que não é brincadeira barata. Imagina se tivesse encomendado uma porcaria electrónica qualquer.

Em retrospectiva não estou propriamente feliz com ter gasto tanto dinheiro (não só nisto - no primeiro dia tive de ir de carro e levá-lo depois para o trabalho, o que me valeu ao fim do dia ficar sem metade do espelho do retrovisor direito, por obra de sabe-se lá quem); mas no próprio dia fiquei bastante aliviada por ter conseguido resolver a situação, especialmente na da encomenda com morada errada, que achava que não ia conseguir.

Enfim, é uma coisa a que todos nos sujeitamos ao encomendar algo de fora da União Europeia. Todo o processo parece bastante aleatório, o que é muito irritante, porque ninguém consegue perceber o que faz a encomenda ficar lá empatada.

No meio disto tudo só consegui perceber que há um valor limite para a encomenda chamar a atenção. Na Internet via mencionado 40 euros, lá na alfândega tinham um aviso a mencionar 20 ou 22 euros, se bem me lembro. A lógica destes valores é que ao aplicar o IVA o valor cobrado não pode ser menos de 10 euros. (Apesar de no caso dos 20 euros eu não estar a ver como isso é possível, mas no caso dos 40, faz sentido.)

De qualquer modo, qualquer coisa abaixo disso tem mais probabilidade de passar. É por isso que muitas vezes no remetente ou se declara que é um Gift (Presente), sobre o qual não se poderia aplicar taxas; ou se declara um valor mais baixo. Mas no caso de lojas mais grandes e conhecidas e "oficiais", parece-me que  não é muito comum fazerem isso.

No caso de uma das caixas do Owlcrate, o valor declarado era 18 dólares, como sempre, o valor do livro, mas como as abéculas de preenchimento do autocolante da alfândega de lá meteram "Book and merchandising", a palavra merchandising chamou a atenção da alfândega de cá. A encomenda chegou-me sem taxas, porque acharam que realmente valia aquele valor, mas tinha sido claramente aberta. Foi a única vez com o Owlcrate.

Aqui o que facilitava o processo todo era as lojas incluírem uma cópia da factura dentro da encomenda, coisa que eu achava que era comum e bom senso, porque sempre recebi encomendas do Book Depository e dentro de Portugal, e toda a gente faz isso. Mas lá fora pelos vistos não. Ambas encomendas internacionais, ambas viajaram metade do mundo, e ambas sem factura ou recibo ou coisa parecida.

E até a Amazon costuma meter um papelito com o valor dos produtos... estes sites não têm a dimensão deles, mas são bastante conhecidos dentro da sua área, por isso não sei o porquê da não-inclusão da factura. Não era um papelito que ia aumentar dramaticamente o peso da encomenda e os portes.

E pronto, aqui termina a minha aventura com a alfândega, duas vezes num mês, tendo eu passado seis anos a encomendar coisas internacionalmente sem nunca ter sido apanhada. Gostava de voltar a encomendar nos sites que encomendei, porque gostei dos produtos deles, mas se for para voltar a repetir a piada... vou à falência.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Uma imagem vale mil palavras: Alice Through the Looking Glass (2016)

Andei uma data de tempo a navegar na tag desta rubrica (as memórias...) a tentar descobrir se alguma vez tinha opinado o primeiro filme destes dois. Era pouco provável, o filme estreou em 2010, que foi quando comecei o blog e esta rubrica só começou mais tarde, se bem me lembro. Mas nem sempre opino a seguir aos filmes saírem, e por isso não é linear.

Pois bem, o que acho piada a estes filmes é que apesar de partilharem os títulos dos livros, são mais a modos que sequelas deles. Acompanham uma Alice mais velha, praticamente adulta, a voltar a Wonderland - porque sim, as visitas descritas nos livros aconteceram, e os filmes assumem-nas como prequelas deles, usando os conceitos e o mundo descritos da sua própria maneira, mas reflectindo ligeiramente os livros cujos títulos usam.

Nesta história, a Alice passou, depois do filme anterior, alguns anos a explorar, como sonhava, e volta a Londres para encontrar a sua vida de pantanas. Culpando a passagem do tempo, Alice vai saltar oportunamente para Wonderland, onde descobre que o Chapeleiro está a desaparecer, devido ao peso de um problema familiar não resolvido; e Alice quer ajudar, mas não sabe o que fazer - depressa se colocando no encalço do Tempo, esse ser elusivo que a pode ajudar em mais do que uma maneira.

Provavelmente a maneira como a história é lançada é um pouquinho frágil, porque toda a coisa se baseia no Chapeleiro ver uma coisa que o faz pensar na família e na situação não resolvida que tem com eles, e meter na cabeça que podem estar vivos; e depois a Alice mete-se a tentar ajudar, e a resposta é-lhe dada de bandeja (pedir ajuda ao Tempo), e depois - mesmo tendo sido avisada pelo Tempo que não pode fazer aquilo e que vai correr mal e vai dar cabo do contínuo espaço-tempo - a Alice vai fazê-lo, o que me pareceu algo egoísta e pouco justificado porque não achei o problema do Chapeleiro credível. Hmmm.

Passando à frente disto, acabei por gostar de como as coisas se desenrolaram. Acho sempre piada a ver como histórias de viagens no tempo se desenvolvem, e a maneira como a Alice volta atrás, e vai parando em locais encadeados e percebe que tem de voltar mais atrás, mas ao mesmo tempo vê que a sua presença não muda o curso das coisas... gostei de ver.

Além disso, adorei o conceito do Tempo como personagem, ver o "espaço" que habita, como aquilo funciona... e morri a rir com o filme tentar usar todas as piadas e mais algumas que se podia lembrar com o tema Tempo. Muito bom. (Gosto da ligação da cena na mesa do chá com a cena correspondente no primeiro livro da Alice. Fiquei tão triste por perceber que eles ficaram ali, presos, até a Alice lhes aparecer.)

Desta vez acho que gostei mais do filme em si, da história, e até do design. Que segue a linha do anterior, mas os conceitos são mais de encontro aos meus gostos, e por isso... não me recordo de ter amado de paixão o filme anterior, mas agora que li os livros consigo apreciar melhor este e identificar-me mais com ele.

Visualmente, o filme é fantástico (não posso comentar o 3D, porque não fui ver), gosto imenso das cores, do trabalho na criação do espaço do personagem Tempo, da roupa da Alice (tão estranha, mas entranha-se), do local da Rainha Vermelha e dos seus habitantes...

Só uma última coisa, porque vejo acontecer demasiadas vezes e irrita-me solenemente, e vi aqui acontecer novamente, com os créditos e o marketing feito e tudo o mais... Hollywood, nós não somos burros. Se um actor famoso/conhecido/adorado está num filme, e estamos interessados em vê-lo, nós somos capazes de notá-lo sem nos esfregarem isso na cara a cada momento. Torna-se especialmente irritante e parvo quando o papel do actor é marginal ou nem sequer é protagonista.

Sim, Hollywood, estou a ficar enjoada da vossa paixão imorredoura pelo Johnny Depp. Pior, estão a começar a fazer-me odiar a cara dele, porque está espetada em todo o lado, e eu não preciso mesmo de o ver a cada momento que passo com os olhos abertos. Provavelmente conseguiam vender metade dos filmes com ele sem ter de nos lembrar que ele lá está a cada minuto; e já que estamos nisso, parem de lhe dar todos os papéis esquisitóides que vos aparecem. Tenho a certeza que ele não precisa de ficar preso a esse estereótipo. E eu vivia mais feliz se não tivesse de ranger os dentes por ver a mesma coisa pela milionésima vez. E pronto, vamos terminar por aqui, já me queixei do que tinha a queixar, e não quero ficar mais irritada.

domingo, 5 de junho de 2016

Curtas: Graphic Novels da Marvel, vols. 5, 9 e 10

O Incrível Hulk: Planeta Hulk Parte 1, Greg Pak, Carlo Pagulayan, Aaron Lopresti
O Incrível Hulk: Planeta Hulk Parte 2, Greg Pak, Carlo Pagulayan, Aaron Lopresti
Normalmente as histórias do Hulk não são a minha onda, não sei se por causa do personagem, se porque a maior parte das abordagens ao personagem simplesmente não são o tipo de história que me agrada; só sei que tem sido difícil captar-me a atenção quando o Hulk é o protagonista.

Pois bem, não precisamos de procurar mais, aqui está a história do Hulk que verdadeiramente achei interessante e me manteve cativada, apesar de ser mais longa que a Bíblia. Só precisávamos de o meter numa situação completamente inesperada.

A premissa é que o Hulk é enviado numa missão ao espaço, e num golpe maquiavélico, um grupo de heróis decide desviá-lo para um planeta remoto para evitar que destrua pela milionésima vez. Quero dizer, a intenção é boa, se o Hulk estiver sossegado no cantinho dele sem ninguém a irritar ele não faz nada, mas não era preciso uma viagem espacial, bastava mandá-lo para a Antártida ou para o meio da selva. Uma boa parte das vezes a destruição causada pelo Hulk começa com alguém a meter-se com a fera adormecida, e honestamente às vezes parece merecido que isso aconteça.

De qualquer modo, o Hulk acaba num planeta habitado, dominado por um ditador violento, dividido pelas diferenças entre raças que o habitam; é tomado como escravo e obrigado a lutar quase como um gladiador, para entretenimento das massas.

Portanto, acho que o que me agradou aqui foi a história ter um tom épico, e misturar uma série de elementos de ficção científica e de fantasia. Tem uma pinta de Conan e Flash Gordon, captando um pouco dos elementos clássicos deste tipo de história, e curiosamente resulta mesmo bem com o Hulk. Permite-lhe um crescimento como personagem, e tem tudo, acção, drama, intriga, uma pontinha de romance... acabou por ser bastante estimulante, precisamente por sair do molde com o personagem mas usar um estilo de história com que estou familiarizada.

A única coisa mais estranha é um pseudo-cliffhanger no fim, que claramente leva à história seguinte do personagem. Isso, e a colecção separar temporalmente os dois volumes. Obrigaram-me a esperar por este segundo volume.

Por outro lado, no fim do segundo volume existe uma pequena história tirada de outra revista, mas que cruza o Amadeus Cho com o Hulk. Pelo que percebi, eles têm mais histórias em conjunto no futuro destas histórias, por isso acaba por ser uma história gira de introdução.

Quanto à arte, adorei as cores, bastante discretas, mas incrivelmente capazes de dar vivacidade e realismo à história; e gostei imenso de ver desenhadas as diferentes raças/espécies alienígenas que vivem neste planeta.

Motoqueiro Fantasma: A Caminho do Inferno, Garth Ennis, Clayton Crain
Não estou nada familiarizada com histórias deste personagem, por isso não faço ideia se isto é típico dele ou não, mas se tivessem um bocadinho das temáticas e atmosfera deste, era capaz de ler. Não é perfeito, mas tem um estilo que me agrada.

O personagem principal, na sua origem, fez um acordo com o Diabo, e é claro que lhe explodiu na cara. Quase literalmente, já que se tornou num ser sobrenatural com uma caveira a arder por cabeça. Neste volume, parece que ele foi mesmo parar ao inferno, e esforça-se brutalmente para fugir, mas todas as suas tentativas saem goradas.

A sua oportunidade de fuga proporciona-se quando um demónio incorpóreo tenta ser convocado na Terra, e o Motoqueiro tem a missão de travar a convocação. O que se segue é parte uma corrida contra o tempo, parte guerra anjos-demónios, parte uma demonstração do quão horríveis estes seres podem ser para os humanos - só que os humanos já por si são bastante bons a serem maus uns com os outros.

Basicamente gosto do ângulo de anjos e demónios a criar o caos na Terra. Fiquei bastante horrorizada com o tipo de coisas que os anjos faziam para evitarem ser vistos, porque causavam um impacto nos humanos com a visão especial.

A história em si não é muito complexa, e não é muito difícil de ver o desfecho à distância; a leitura agradou-me mais pelos conceitos envolvidos. E pela arte. Qualquer coisa com o ar de que devia ser emoldurado, de tão pintadinho e bonitinho que é, faz-me ficar a suspirar.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Alice, Lewis Carroll


Páginas: 176 / 160

Editora: Relógio D'Água (ambas as edições)

Tradução: Margarida Vale de Gato

Estou aqui sentada, a olhar para ontem, e a pensar como é que se opina um par de livros como estes. Se não têm uma seguimento lógico, por que raios é que a minha opinião havia de ter? Mas depois lembrei-me que a minha onda não é propriamente falta de lógica, e por isso desisti. A maneira normal de opinar terá de servir.

Acho que é muito difícil escrever um livro que seja verdadeiramente nonsense, e que ainda assim tenha a sua lógica particular e consiga dizer algo ao leitor. E fazendo um bom trabalho nesse aspecto, ainda se presta a não ser universalmente gostado, mesmo que seja universalmente reconhecido.

Suspeito que é o caso com estes livros. Falando por mim, creio que percebo porque são considerados literatura infantil, porque sinto que a nível emocional me teria relacionado melhor com eles se os tivesse lido em criança. Lendo na idade adulta, consigo entendê-los a um nível intelectual, mas a minha cabeça funciona de forma demasiado lógica para me relacionar com eles inteiramente.

Contudo, consigo perceber porque são livros para crianças, antes de serem para adultos, também. A maneira como são escritos, especialmente o primeiro, fazem-me pensar em medos infantis, no modo como uma criança se poderia relacionar com o mundo.

O nonsense, as regras irracionais, as conversas que não levam a lado nenhum... tudo isso pode ser visto como uma criança a tentar navegar o mundo adulto, cheio da sua própria lógica insondável. E ainda assim, podemos ver algumas situações não como medos infantis, mas medos primordiais, com os quais um adulto se poderia relacionar.

Dos dois, acho que gostei mais do segundo. Não sei se era porque nessa altura já estava habituada à deslógica, ou se o segundo tem uma certa lógica na evolução da narrativa que me é mais apelativa, ou se é até porque descobri que o segundo tem mais frases e conceitos que saltaram para a cultura popular e que já me eram familiares (não que o primeiro não tenha), mas acabou a cair-me mais facilmente no goto.

E pronto, that's all I have to say. Não são livros que se prestem a que eu escreva aqui um longo testamento, porque estou mais habituada a opinar outro tipo de coisa, com uma estrutura mais tradicional e mais racional; por isso aqui ficam umas impressões mais gerais.