terça-feira, 16 de agosto de 2016

The Rose Society, Marie Lu


Opinião: Oh caramba, e eu que não dava nada pela Marie há três livros atrás dela! E no entanto li tudo o que já publicou, e tem vindo a melhorar francamente no que toca à sua escrita e à maneira como cria um mundo, um enredo, e umas personagens.

Creio que o primeiro livro dela que verdadeiramente me encheu as medidas foi o terceiro da sua primeira trilogia, Champion, pelo final agridoce e a forma inesperada como a história avançou. Depois, veio o The Young Elites, e conheci uma personagem que caminha no fio da navalha no que toca ao bem e ao mal, à luz e à escuridão. E agora este livro, torturador e que me pôs vidrada, e melhor, completamente enredada nas escolhas da Adelina.

The Rose Society segue com as consequências do final do livro anterior. A Adelina (juntamente com a irmã) fugiu de Kenettra e está separada da Dagger Society depois de uma situação trágica pela qual ela é tecnicamente responsável, mas... bem, há uma série de atenuantes. (E é nos atenuantes que a Marie é excelente.)

A Adelina tem a ideia de criar a sua própria society de Young Elites, jovens poderosos, e quando percebe o que os Daggers estão a tramar, volta a Kenettra para travá-los, e, err, fazer a sua própria coisa.

A parte brilhante na maneira como a Marie escreve a Adelina é que, ela pode fazer todo o tipo de asneiras, e meter os pés pelas mãos, e matar a torto e a direito, mas... não consigo deixar de sentir que a Adelina está justificada em grande parte do que faz. Pode não ser grande justificação, mas compadeço-me dela. Mesmo quando me dá vontade de abanar a cabeça em jeito de desaprovação, ou quando sei que não é o que faria, ou quando sei a priori que aquilo vai dar asneira.

Porque a verdade é que esta é uma pessoa que foi tão maltratada e destruída pelas circunstâncias... que ela não sabe como ser uma boa pessoa. Tem momentos. Tem alguns repentes de bondade, amor. É capaz disso. Mas é claro que é muito mais fácil ceder à escuridão e enviar para o mundo aquilo que sempre se recebeu dele.

Em adição, não há uma única pessoa boa, um modelo de bondade em toda esta história. O que é refrescante. Eu não preciso de gente tão boa que até dá nojo. Ninguém é perfeito. E a escrita desta história como uma sucessão de intriga e interesses é até bastante realista. Mas o que quero dizer realmente em relação a isto é, é por isso que eu não posso defender os Daggers.

Vejamos... Agem por interesse próprio, tomam decisões questionáveis (a Maeve? e o que ela lhes diz que pode fazer? a sério, pessoal? não podiam ver que essa vos ia rebentar na cara nem nada?), e até podem dizer que são pelos malfettos e pelos Young Elites... mas não defendem os primeiros e afastam os segundos quando lhes é conveniente. Pior, são tão capazes de assassinato como a Adelina.

Tivessem tratado a Adelina desde o início como uma pessoa, e não com desconfiança, atrevo-me a dizer que as coisas teriam sido diferentes. Teria sido também corajoso deles tentar reabilitá-la depois dos acontecimentos do primeiro livro, que era quando ela precisava disso, e não de cair na espiral descendente em que acabou por cair. Acusarem-na de coisas que ela não fez, ou empolarem outras coisas, também não ajuda à festa.

São tão responsáveis como a Adelina pela confusão em que estamos. Agem como polícias dos Young Elites, mas são incapazes de reconhecer quando alguém é tão perigoso como a Adelina, e pior, incapazes de entender a melhor maneira de lidar com uma arma tão poderosa. (Pista: não é assim. E deviam tê-lo feito por interesse próprio, nem era preciso ser pelo bem dos vossos corações.)

Ah... acho que prefiro o Teren. Ao menos esse sabemos à partida que é mau, perigoso, e janado da cabeça, que é o tipo mais perigoso de mau. Aquele que sabemos que é imprevisível na sua dedicação. E depois do que a Adelina o pôs a fazer... bem, tenho a certeza que o Teren vai ser um mimo, no terceiro livro. E vai delicioso de ver isso desenrolar-se.

No entanto, continuo a achar o Raffaele muitíssimo interessante. Tem todas as características dúbias dos Daggers, aliás, ele é o responsável por muito do que eles fazem; mas tem uma delicadeza e uma inteligência e uma maneira de ver a vida que é muito cativante. Aliás, tenho a certeza que se a Marie escrevesse os livros do ponto de vista dele seria igualmente fácil de torcer por ele como é pela Adelina. (Agora adorava mesmo que a Marie o fizesse.)

Este segundo livro traz algumas coisinhas novas engraçadas, como a Maeve e o que ela anda a tramar, por exemplo. A shitstorm que a Adelina cria em Merroutas. O Sergio, que já lidou com os Daggers, e agora a modos que está na equipa Adelina.

Oh, e o Magiano, que é simplesmente adorável. O epítome de bad boy, sempre com esquemas e a tramar alguma coisa; e ainda assim, é capaz de ser a pessoa mais pura nas suas intenções para com a Adelina. Achei tão interessante ver o que a Adelina pensa sobre ele, porque é um reconhecimento do oposto de si própria que ele é, e implicitamente sabe que o Magiano seria uma motivação para sair do buraco e desenterrar-se a si própria de toda a porcaria que fez. Mas não está propriamente ainda pronta para fazê-lo, e por isso continua a enterrar-se em escuridão. Raios.

O fim, oh céus, o fim é glorioso. Vai tudo para o inferno, não literalmente, mas como se as coisas já não estivessem suficientemente más e estragadas para toda a gente (tenho pena do zé ninguém comum que vive em Kenettra), a Marie certifica-se que vamos do 8 ao 80 e que fica tudo certificadamente estragado e mau e errado. E delicioso. De seguir, quero dizer. Não tão delicioso para as pessoas envolvidas.

E pronto, ficamos num ponto interessante. Tenho a dizer que achei a Violetta mais madura do que lhe dava crédito. Ela claramente tornou-se numa pessoa que está à vontade na sua pele, sendo discreta, inteligente, e preocupada com a irmã, mas não se impondo. E ocorreu-me um paralelo interessante entre este livro e...

... o Frozen. A sério. Pensemos nisso, se a Elsa, com grandes e assustadores poderes, tivesse tido uma infância e uma personalidade como a Adelina, achamos mesmo que não teria ido parar ao mesmo lugar? Capacidades extraordinárias são altamente corruptíveis. As circunstâncias é que mudam o cenário. E a Violetta tentou, pobrezinha, mas não havia nada a fazer.

No fim disto tudo fico a desejar algum tipo de redenção para a Adelina, alguma forma de regressar à luz que lhe permita viver a vida como nunca a conheceu: mais feliz. Também consigo ver as coisas evoluírem ao ponto de ela morrer como forma de redenção, mas sinto que isso é demasiado fácil, demasiado preto-e-branco numa história em que a Marie conseguiu apresentar todos os tons de cinzento pelo meio. Venha o próximo. Que até nem falta muito.

Páginas: 416

Editora: Putnam (Penguin)

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