sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Este mês em leituras: Setembro 2016

Viva Setembro? Ou não? O nosso clima esqueceu-se que já entrámos no Outono, e que o calor já está fora de moda. Não sou fã. E de qualquer modo, a preguiça não me deixou postar quanto gostaria.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Confesso, Colleen Hoover;
  • Curtas BD: Eternos, Neil Gaiman, John Romita Jr.; Pantera Negra: Quem é o Pantera Negra?, Reginald Hudlin, John Romita Jr.; Capitão América: O Escolhido, David Morrell, Mitch Breitweiser; X-Men: Perigosa, Joss Whedon, John Cassaday;
  • Illuminae, Amie Kaufman, Jay Kristoff;
  • Ghostly Echoes, William Ritter;
  • The Flame Never Dies, Rachel Vincent;
  • Encontrada, Carina Rissi;
  • Curtas BD: Fatale vol. 3: A Oeste do Inferno, Fatale vol. 4: As Lágrimas do Céu, Ed Brubaker, Sean Phillips; Tony Chu vol. 3: Enfarda Brutos, Tony Chu vol. 4: Sopa de Letras, John Layman, Rob Guillory.

Os livros que marcaram o mês

  • Illuminae, Amie Kaufman, Jay Kristoff - uma história contada de forma única que é estranhamente satisfatória, bem contada, interessante e provocadora do meu típico comportamento quando acabo um livro que me encheu particularmente as medidas: "porque é que eu não tenho a sequela nas mãos jááááá???";
  • Ghostly Echoes, William Ritter - e assim, num golpe de magia, o autor deu um novo sentido à série e ligou tudo... sinto-me como no fim daquelas séries de TV em que o episódio final é explosivo e cheio de revelações que dão um novo sentido à vida, erm, à história;
  • Empire of Storms, Sarah J. Maas - a este ponto, tenho a sensação que não poderá haver um livro dela que eu não goste... mesmo quando introduz um elemento do qual não sou fã (*resmungo* Rowan *resmungo*), não consigo evitar, a escrita dela é tipo canto de sereia para mim, eu fico encantada com tudo... neste praticamente todos os personagens evoluem duma forma fantástica, em sentidos que adorei acompanhar, o enredo voou, e eu com ele, e o final é terrível, excitante, e abre o livro final duma forma que, bem, merece um roer de unhas;
  • Awaken, Meg Cabot - marcou pela negativa... Meg, Meg, Meg, this is a mess, onde é que tinhas a cabeça??? Não era no livro/trilogia, de certeza.

Outras coisas no blogue

  • Errrr nada? The procrastination is strong in this one.

Aquisições

Ficção do mês. Os livros em inglês, para a) acompanhar o meu desafio da Meg Cabot, b) continuar a acompanhar as autoras e séries que sigo. Em português foram todos comprados com desconto em cartão. Um mix de novidades que me chamaram a atenção. (Mais o livro da Meg/Patricia Cabot, para o desafio.)

BD do mês. Comprei o Fatale e o Tony Chu, volumes 4, para poder ler mais que um de cada quando peguei nos volumes 3 de cada. E o resto são os livros das colecções que estou a fazer.

A ler brevemente

Como disse no post do mês anterior, continuo a considerar a foto desta secção desse post como uma série de ideias para ler durante o resto do ano. Para além disso, conto receber mais livros da colecção Graphic Novels Marvel, e aproveitar para ler todos, se tudo correr bem. (Isto é, se não me entregarem os livros no último dia do mês, como aconteceu com estes.)

Gostava de ler também os dois livros que comprei em português e que não li este mês; sei que vou ler dois livros para o desafio Meg Cabot, finalmente o Avalon High (adorei da primeira vez que li), e começarei a respectiva sequela de BD/manga que existe. De resto, são livros de autores/séries que estou a seguir e não posso deixar passar ao lado. Estou muito animada para lhes pegar.

sábado, 24 de setembro de 2016

Curtas BD: Fatale + Tony Chu, volumes 3 e 4

Fatale vol. 3: A Oeste do Inferno, Ed Brubaker, Sean Phillips
Fatale vol. 4: As Lágrimas do Céu, Ed Brubaker, Sean Phillips
Bem, estes volumes encheram-me as medidas. Tinha-me queixado nos volumes anteriores que, apesar de gostar muito de seguir a história e adorar o tom sobrenatural e de mistério dela, me estava a fazer comichão tanto mistério e não saber mais sobre o que está por trás do conceito.

Estes volumes deram-me precisamente o que procurava. O primeiro, o volume três da série, é uma colecção de histórias curtas sobre o conceito de Fatale. Passa-se em vários momentos da História, duas delas são com a Jo ao longo do século XX, mas duas são mais antigas (Velho Oeste no século XIX e Europa medieval).

Essencialmente o que faz é mostrar o conceito sob outras formas para além da Jo, e acho que isso já sugere algumas respostas às perguntas que os volumes anteriores punham. É como se Fatale fosse sempre (quase sempre?) uma mulher (a mesma? várias? várias reencarnações da mesma?) ao longo dos tempos, que é o foco de loucura no meio duma tempestade sobrenatural. Não é algo que se controle. É como que uma maldição. A portadora tem uma vida prolongada, se sobreviver à violência que a rodeia. E a violência vem sempre, duma forma ou doutra. Ela é como uma sereia que atrai todos em volta para a destruição.

O volume 4 volta à narração típica dos volumes 1 e 2. Acompanhamos o Nicolas no tempo presente (e em quantos sarilhos o homem está, coitado), e a Jo num passado agora muito próximo do presente. Depois de um acontecimento traumático, ela aparece à porta de casa duma banda da cena grunge nos anos 90, sem memória.

E mesmo sem memória, a sua presença influencia a atitude dos membros da banda, inspirando a voltar a compor e a gravar um vídeo, até que... tudo vai para o inferno, correndo mesmo, mesmo mal. Gostei bastante deste segmento, porque agora que já tenho algumas respostas, consigo seguir a maneira como as coisas evoluem à volta da Jo de forma mais informada.

De qualquer modo, o tom foi muito certeiro para descrever a lenta descida à loucura da banda, como primeiro tudo corre bem e depois... não corre. Desta vez os antagonistas mantiveram-se ao largo, aparecendo muito pouco, e deu para ver como costuma ser a narrativa em torno da Jo assim que se vê rodeada de pessoas. Estou mesmo curiosa para ver como tudo termina.

Tony Chu vol. 3: Enfarda Brutos, John Layman, Rob Guillory
Tony Chu vol. 4: Sopa de Letras, John Layman, Rob Guillory
Se houvesse um prémio para "livro(s) mais improvável(is) de eu ler, e ainda assim, adoro", estes ficavam com ele. A sério, a premissa é tão estranha e tontinha, algo que parece saído de uma sessão de brainstorming às três da manhã, quando toda a gente já está demasiado cansada e pedrada de sono para dizer coisa com coisa...

... e contudo, caramba, resulta. Mesmo. Os autores exploram a coisa de ângulos inusitados mas muitíssimo interessantes. E eu farto-me de rir com estes livros. As coisas são escritas com um sentido de humor brutal, que me cai mesmo bem.

O primeiro volume dos dois, o volume 3, lida com uma cabala de ricos que se junta para degustar carnes raras, e aqui não estamos só a falar de frango, mas também... de mamute. Que é recuperado através de manipulação de ADN. Depois seguimos para uma aparição do frango Poyo, que cruza novamente o caminho do Tony, e para uma emboscada ao Mason Savoy que quase corre mal. E por fim, conhecemos a família alargada do Tony.

Esta última parte foi a minha favorita. Também gosto do resto, porque os autores conseguem contar casos do Tony e do John Colby, o parceiro, que são resolvidos normalmente num único número, mas que contribuem para a narrativa principal da série.

Mas acompanhar a família Chu? SEM PREÇO. Tão fofos e disfuncionais e escritos como um encontro de família: os pequenos dramas e implicações de uns com outros. Descobrimos duas interessantes adições à família: uma que não posso mencionar porque tem mais piada descobrir quando se lê, mas que me deixa curiosa para saber como aconteceu; outra é a irmã gémea do Tony, Antonelle. Que é tão animada e bem-disposta, tão o oposto do comportamento geralmente sóbrio do Tony.

O volume 4 lida com o acontecimento final do livro anterior, o aparecimento de umas letras misteriosas e desconhecidas no céu, e como isso está a levar o planeta à loucura. Alguns dos casos que o Tony e o John investigam relacionam-se com essa loucura e com a narrativa principal da história, muitas vezes de formas inusitadas mas fascinantes.

O Tony tem de colaborar com outras pessoas ao longo do volume delas, uma delas sendo a Toni, a irmã (que também tem os seus próprios superpoderes); outras são algumas agentes da USDA, que são tão engraçadas a rivalizar com estes "palermas de agentes da FDA"; e também conhecemos gente com mais algumas capacidades - um sofívoro, que descobre conhecimento útil aos agentes da FDA ao comer, e alguém que cruza brevemente o caminho do Tony (mas vai de certeza ter importância no futuro), e que lista os ingredientes ao comer algo.

O volume termina com um cliffhanger mauzinho, preocupante mesmo; estou curiosa para ver a reacção do Tony, porque ele não brinca em serviço quando se trata da família, apesar de tudo. E porque fica implícito que esta pessoa também tem... capacidades.

Ainda tenho de mencionar duas coisas que gostei de ver nestes dois volumes. Uma é o John Colby, o parceiro do Tony, que é hilariante. A sério, as coisas que lhe saem da boca... E também foi bem giro ver a reacção dele ao Mason Savoy. Apesar de tudo, é bastante leal. O John faz-me lembrar um cão, nesse aspecto. Muito leal e super bem disposto.

Outra é ver a Amelia e o Tony juntos. Adoráveis. Ele leva-lhe flores e ela lê-lhe as críticas que faz para o jornal de comida. (A Amelia faz a pessoa saborear a comida com meras palavras. O Tony não aprecia comer porque os seus poderes o fazem ver tudo sobre aquilo que come. As críticas da Amelia são o mais próximo que tem de uma experiência gastronómica.) E quando estão juntos estão sempre a fazer olhinhos, o que é tão giro. E acho piada que a Amelia é a única que tira o ar sério e sóbrio da cara do Tony.

Ah, façamos dali três coisas que tenho de mencionar. No quarto volume temos uma menção visual a Fringe. Dois agentes com o ar da Anna Torv (a Olivia na série) e do Joshua Jackson (o Peter) estão a interrogar alguém, juntamente com alguém que pode ou não ser o John Noble (o pai do Peter) - é o único que não se parece tanto com o actor. Ah, tenho tantas saudades de Fringe.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Encontrada, Carina Rissi


Opinião: Topseller, esta capa? Não. Não, não e não. Não, não, não. Não. Por favor, como é que conseguem produzir capas perfeitamente adequadas para outros géneros, e fazem até coisas imaginativas nalgumas delas, mas depois em romances históricos parece tudo feito por um puto de 5 anos no Paint, colado com cuspo?

A sério, detesto esta moda de montagem de uma figura humana em cima duma imagem duma propriedade antiga. E joga-se para ali o texto em cima, e já está. (Não são os únicos culpados, mas pronto, agora vão levar por tabela.) Não há preocupação em fazer tudo de forma harmoniosa, em que pelo menos se faça parecer que as imagens fazem, de facto, parte umas das outras.

Continuando. Ai, Sofia, Sofia, só disparates, miúda. tsk-tsk *abana a cabeça*

Neste segundo volume da série, a Sofia (a protagonista) encontrou o seu conto de fadas com Ian Clarke. O casamento aproxima-se a passos largos, os preparativos estão em marcha... mas a Sofia só mete os pés pelas mãos, e não consegue evitar a série de desastres que se acumulam, antes e depois da cerimónia... por seu lado, o Ian também está a agir de forma um bocadinho estranha, e a Sofia morre de medo que ele se tenha arrependido.

Aiai... só tenho a dizer, as peripécias em que a Sofia se mete? Na sua maioria, hilariantes. Nesses casos a autora faz render muito bem o caso de "peixe fora de água" que ela é, e consegue criar situações em que a falta de familiaridade da Sofia com os costumes do século XIX levam a situações caricatas. A minha favorita? A do casamento, o choque que a rapariga dá ao padre ao confessar uma certa coisa, e a maneira como ela (e o Ian depois junta-se à festa) manipula o padre para continuar a cerimónia. Brilhante!

E pronto, na maioria a autora escolhe bem as situações em que a Sofia se mete em sarilhos. Ou pelo tal desconhecimento dos costumes que falei ali em cima, ou por ela não deixar de ser quem é, e se indignar com certas coisas, e tentar ser a mulher independente que era no século XXI.

Há ali momentos em que a autora exagera um bocadinho na situação, diria eu. Há uma ou outra coisa que me soaram falsas, pouco credíveis. A Sofia até pode desconhecer muita coisa do século XIX, apesar de ser uma Austenófila, mas há faux pas que ela comete que podiam ser evitados se ela tivesse um pouco mais de bom senso. (Sair de casa de calças? Oh Sofia, até eu sei que é uma péssima ideia.)

É uma falha na caracterização; não aprecio quando os autores fazem dos personagens mais tolinhos do que são ou deviam ser. No caso da Sofia, ela deveria saber pelo menos escolher as suas batalhas. Sabe que o Ian é um homem do século XIX, e não entende certas coisas. Não seria melhor lutar por aquelas que realmente a apaixonam? (Neste caso, a coisa das calças é parva. A dela querer fazer algo por si própria, essa sim, é merecedora de discutir com o Ian.)

No seguimento da Sofia ser uma tonta? Oh por amor da santa, o desentendimento deles é tão parvo. Ela interpreta que uma coisa que ele diz... à luz do século XXI. (O homem pede "um tempo", porque quer umas horas para arrefecer a cabeça.) E a Sofia entra em paranóia. Oh Sofia, esta gente não sabe o que é divórcio, boa? O próprio Ian diz vezes sem conta que está ali para ficar, e ela joga a toalha ao tapete à primeira.

Eu sei, tem a ver com as inseguranças da Sofia acerca de pertencer ali, se alguma vez o conseguirá fazer, e um reconhecimento que não é só amor e uma cabana. Mas a sério, detesto quando os autores fazem dos seus personagens tolos. Acho que é um pouco de inexperiência da Carina; acredito que mais para a frente na sua obra deixe de fazer estas falhas de caracterização.

É porque de resto, a autora até tem boas ideias na maneira como evolui o enredo. Para além dos sarilhos em que a Sofia se mete, apreciei o "mistério" das jovens que morriam misteriosamente. Foi uma ideia inteligente, usar a questão das crinolinas. E portanto denota algum conhecimento da época que me agrada.

O elenco de personagens secundários é fantástico. Alguns são caricaturas, e o objectivo é mesmo serem-no, como a tia Cassandra, impossível e uma Lady Catherine de Bourgh brasileira, ou o Dimitri mulherengo. Outros fazem parte da família no fim, e os pedacinhos de história própria que vemos para eles são deliciosos, como a Madalena, o Gomes, a Elisa ou o Lucas, até "o outro senhor Clarke", o Thomas, e a Teodora...

O final é tão giro. Um bocado dominado pelos dramas da Sofia, que passou o livro obcecada com os modos de dar à luz no século XIX, e a sonhar com cesarianas (a sério, miúda, acalma lá os cavalos, inda há muita gente a dar à luz de forma mais ou menos natural no século XXI, não é tudo cesarianas), mas muito giro. Gostei imenso da reacção de toda a gente ao acontecimento, e gostei dos saltos no tempo para vermos mais um bocadinho do felizes para sempre.

Gostei particularmente do último salto no tempo. A Sofia arranja maneira de enviar algo à Nina, a sua maior amiga do século XXI, 200 anos depois de ter vivido. E é adorável, e achei tão interessante como a autora conseguiu criar ali uma ligação através do tempo. Muito fixe.

Enfim, o livro tem as suas falhas, e a Sofia exaspera-me por vezes com a sua tendência para o drama, mas acho que acabei por me afeiçoar bastante a esta série. Foi uma boa surpresa poder ler e devorar os dois livros; não são o próximo bestseller, mas são adoráveis, fofinhos, são divertidos e proporcionam umas boas horas de leitura. É tudo o que posso pedir.

Páginas: 448

Editora: Topseller

Adaptação: Tiago Marques

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

The Flame Never Dies, Rachel Vincent


Opinião: É por isto que eu gosto da Rachel Vincent. Ela não vai descobrir a roda como escritora (quem é que o faz, hoje em dia?), mas tem uma certa inteligência e sensibilidade a escrever que faz com que nunca lhe saia um mau livro, na minha opinião.

Este é o segundo livro duma duologia, o que é altamente refrescante. Não tenho de sofrer mais um ano para saber como tudo termina. E diria que a autora fez um excelente trabalho a fechar a história, respondendo a perguntas no ar, resolvendo os conflitos principais, e dando uma espécie de final, de fecho, aos personagens.

O fim ainda assim é bastante aberto, e adorava ver o resultado do que os personagens fazem nele; mas como fim da narrativa dos dois livros, resulta mesmo bem. Tudo o que precisamos saber é que este pessoal vai ficar bem, que a humanidade vai ficar bem, e o fim inclina bastante nessa direcção. Gosto.

Este segundo volume decorre alguns meses após o fim do primeiro; os personagens foram forçados a uma mudança de cenário, e fazem tudo para sobreviver num local inóspito, escapando a patrulhas da Church, e a demónios que lhe possam saltar ao caminho.

Entretanto, a Nina, a protagonista, debate-se com um dilema muito pessoal: a irmã está grávida, com o bebé quase a nascer, e não há alma para ele. O "poço" das almas humanas foi depletado pela voracidade dos demónios, e sem uma alma, o bebé morrerá. Nina quer fazer tudo para impedir isso, ainda que possa implicar um sacrifício da sua parte.

E é por isso que eu gostei tanto da Nina ao longo destes dois livros: é uma miúda inteligente, decidida, corajosa, determinada a proteger os seus. Ela quer proteger a irmã de tudo de mau que possa acontecer, e está determinada a ir às últimas consequências para salvar o sobrinho por nascer. É um pouquinho calculista, com um bom fundo moral. O sacrifício é a primeira coisa na sua mente para resolver a situação.

A Nina apaixona-se ao longo da duologia, mas nunca deixa isso guiar as suas acções. Gosta do rapaz, é mútuo, respeitam-se, e quando há um potencial ponto de drama, as coisas são aceites de forma madura, sem o exagero que outros autores podiam introduzir. A Nina não leva séculos a aperceber-se de certas coisas só porque o enredo o pede (pontos bónus, Rachel), e cria planos bastante interessantes para resolver os dilemas da história, particularmente no fim.

Diria que os únicos sacrifícios da duologia em termos narrativos são o elenco de personagens secundários; não que sejam mal caracterizados, diria que obtemos o suficiente nesse aspecto, mas mesmo assim soube-me a pouco. Gostava mesmo de passar mais tempo com o pessoal do grupo Anathema.

A segunda parte da narrativa introduz coisas novas e excitantes; as reviravoltas não são completamente uma surpresa, mas ainda assim introduzem um novo conflito de forma apropriada; nunca soam a falsas. A reviravolta com a situação da Melanie é de partir o coração; mas gosto que seja resolvida à moda do Eli, um personagem novo: com fé de que tudo resultará pelo melhor. Às vezes, os personagens nos livros merecem um milagre.

Também gostei da introdução de Pandemonia, a cidade de demónios e vícios. Foi bastante divertido conhecer o Kastor e ver os nossos personagens lidar com ele; ainda mais importante foi o tempo em Pandemonia dar uma resposta à natureza do Finn. Isso sim, foi inesperado, mas fez tanto sentido. E a maneira como os personagens geram o caos em Pandemonia? Muito fixe.

Ai, só me custa é mesmo não saber o que resulta do final. Como disse ali em cima, é um nadinha aberto. É um aberto bom, os personagens fazem algo que potencialmente mudará o mundo. Mas como é algo que decorrerá lentamente, não seria possível incluí-lo no livro. E louvo a autora em resistir a escrever um epílogo no futuro, depois disso acontecer, mostrando como a sociedade estará mudada. Mas ao mesmo tempo, estou tão curiosa.

Diria que esta é uma boa aposta para conhecer o estilo da autora. É uma duologia, uma série curta, e as capacidades dela estão em alta, sendo um bom exemplo para descobrir do que ela é capaz: premissas únicas (distopia/pós-apocalíptico com paranormal misturado), um enredo envolvente, que não abranda, personagens cativantes e com uma caracterização boa e inteligente, momentos que dão que pensar, e uma história que não desaponta. Como disse ali em cima, a autora pode não descobrir a roda, mas enche-me bem as medidas.

Páginas: 352

Editora: Delacorte Press

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Ghostly Echoes, William Ritter


Opinião: Ask, and you shall receive. Tinha comentado na opinião do livro anterior que me fazia falta ver a história do Jackaby explorada, e obtive-a num 2 por 1. O objectivo era explorar a história da Jenny neste livro, mas descobrimos muito, e coisas intrigantes, sobre o parceiro de investigação da nossa narradora, Abigail Rook.

O livro vem no seguimento do anterior, particularmente da cena final, em que a Jenny pedia ajuda para investigar o caso dela. Inicialmente parece que não há muito por onde seguir, e a Abigail e o Jackaby encontram uma série de mortes que lhes chama a atenção...

... todavia, a parte fixe acerca de como o autor escreve? É que ambas as situações estão ligadas. Ainda melhor, havia uma série de coisas que aconteceram desde o primeiro livro que pareciam ser inconsequentes e pouco importantes... mas não eram. Eram todas parte do arco de história maior da série.

E este livro faz um brilhante trabalho a ligar tudo e mostrar como faziam parte de um todo que simplesmente ainda não estávamos a ver. E caramba, não estávamos mesmo a ver nada. Os dois casos anteriores pareciam nada relacionados um com o outro, e afinal...

Gosto desta sensação. parece uma conspiração. E é. Seres misteriosos têm estado a agir nos bastidores, e neste livro revela-se uma pontinha (não sou ingénua ao assumir que vimos tudo) dos seus planos. Ainda não conhecemos o mestre bonecreiro, mas conhecemos algumas marionetas que agem em seu nome. E uau, afinal isto mete uma espécie de apocalipse que pode vir a acontecer. Como disse, gosto desta sensação. Os livros pareciam uns mistérios fofinhos e simples, e afinal está tudo ligado, e é tudo mais grandioso. Até fico toda animada para o próximo livro.

Já tenho dito que adoro a Abigail, e continuo a gostar mesmo dela como personagem. Não é especial ou importante ou a melhor em tudo (*cof*Mary Sue, quero dizer*cof*). A Abby é uma pessoa normal que se vê no meio destes acontecimentos e pessoas extraordinários, e faz o melhor que pode. Ela finalmente está a ficar habituada ao sobrenatural, e este livro marca o ponto em que ela toma as rédeas e se mostra confortável na sua pele. Ela toma a iniciativa e mostra a sua coragem, aquilo que é capaz de fazer, sem os outros a interferir. Em certas partes, só ela pode agir, e ela fá-lo, mesmo com grande perigo para si mesma.

O que eu quero dizer é que a Abigail desabrocha na história e navega o extraordinário com segurança. Adorei ver a sua viagem por... aquele sítio interessante cujo nome não posso dizer. Ela encontra gente interessante, e todo o cenário é fascinante. Desenvolvi a teoria que o Jackaby, agora que conhecemos a história dele, pode morrer, e acho que a Abigail está num ponto em que estaria minimamente preparada para assumir o dom dele. Seria muito interessante de ver. (Excepto a parte em que ele morria.)

Quanto ao Jackaby, eu sabia. Tinha de ser uma história trágica. Eu sabia. Apetece-me dar-lhe festinhas. E o mais trágico de tudo é que ele teria direito a fazer de coitadinho, mas quando se sente preparado para contar algumas coisas à Abby fá-lo num tom quase desligado. Que é a maneira de ele lidar com a coisa, parece-me, mas também parece tão triste, toda a perspectiva de estar sozinho e isolado no mundo para proteger o seu passado e o que lá deixou. E como eu disse, depois de saber isto e de o ver como uma figura trágica, não consigo deixar de recear que ele vá morrer naquele que vai ser o maior caso da sua carreira.

E pronto, está tudo ligado, os casos da Jenny e do Jackaby, e eu não posso deixar de babar para a presciência do autor ao fazê-lo. Ah, de repente dá-me vontade de ir a correr ler o último. (Sim, o quarto livro vai aparentemente ser o último.) A história deste fica fechada, no que toca ao enredo principal, mas também termina numa nota alta, quase cliffhangeresca, no modo como coloca os personagens preparados para enfrentar o que aí vem. (O fim do mundo, presumivelmente.) Até estou arrepiada. E curiosa, muito curiosa.

Páginas: 352

Editora: Algonquin for Young Readers

domingo, 11 de setembro de 2016

Illuminae, Amie Kaufman, Jay Kristoff


Opinião: Que bela surpresa. Digo isto frequentemente, eu sei, mas quando um livro tem uma premissa tão incomum como esta, é difícil saber o que esperar. Suponho que sendo assim qualquer coisa que apresentasse seria uma surpresa?

De qualquer modo, tenho a sensação que quaisquer sinopses ou opiniões que tenha lido não me deram uma ideia clara do livro. Sim, os protagonistas eram um casal de namorados e terminaram no dia anterior a tudo o que conheciam ir para o inferno. Mas isso rapidamente se torna menos importante no meio da luta pela sobrevivência.

O resto da sinopse que vemos no Goodreads (link ali em cima) é mais certeira, mas mesmo assim, não dá nem uma ideia próxima do quão excitante foi estar no meio da acção, com tudo a correr mal e os personagens principais a lugar pela vida, não só sua, mas dos que os rodeiam.

E a piada da coisa? Tecnicamente, na cronologia, há pedaços de tempo longos em que não acontece nada de especial aos personagens. Mas quando a coisa arranca, raios, que só pára no fim. E mesmo assim...

Acho que não estou a ser muito coerente. O que é adequado, a narrativa também não é direitinha, mas uma colagem de informação... e tenho a dizer que adoro a premissa, em ambos os seus aspectos. Gosto do aspecto de ficção científica, corporações gananciosas em guerra, personagens inocentes apanhados no meio, naves espaciais em fuga, inteligências artificiais a perder o rumo, pragas malucas e terror no espaço. Os autores conseguem conjugar uma série de coisas fixes e criar um todo absurdamente fascinante. Não devia funcionar tão bem, mas funciona.

E gostei mesmo de ver a história contada em mensagens instantâneas, relatórios, transcrições de comunicações, e outras formas únicas de descrever o que estava a acontecer na acção. Curiosamente, achei que a caracterização ia pecar um pouco por isto, mas os autores conseguiram dar uma personalidade aos personagens, não só à Kady e ao Ezra, mas também aos secundários (incluindo um muito... especial).

Ao ver como a história está tão bem contada, tão coerente, sendo contada assim em fragmentos, faz-me respeitar este pessoal. Porque só consigo imaginar o quão difícil deve ser saber a história que se quer contar, e decidir que tipo de formato vai ser usado em cada bocadinho, e criar algo que tenha um mínimo sentido a partir de pedaços. O nível de organização para conseguir fazer tudo funcionar? Impressionante. Muito impressionante. Especialmente pela variedade de informação que acaba por ser usada para avançar a narrativa.

Acho que não há muito mais a dizer sem eu spoilar a coisa toda, mas tenho a dizer, foi um livro que se devorou enquanto o diabo esfrega o olho. É claro que o formato único se lê muito mais rapidamente que um livro em prosa "normal". Mas também tem a ver com o quão fascinante se torna seguir a vida da Kady e do Ezra e das naves Hypatia e Alexander enquanto fogem e lutam pela sua vida.

O ritmo da narrativa é extraordinário nesse aspecto. Até me dá pena que o segundo livro da trilogia não siga os mesmo personagens. Mas também estou curiosa. Gemina deverá seguir uma estação espacial, Heimdall, que é importante para os personagens deste livro. E os acontecimentos de ambos deverão ser mais ou menos coincidentes a nível cronológico.

Portanto, parece-me que o que vamos seguir é uma outra faceta da guerra espacial que se está a estabelecer entre duas enormes corporações. E os pobres humanos (e não só, aparentemente) que se vêm no meio desta. Temos alguns fios de enredo a ser explorados no arco de história da trilogia, e um dos personagens do Illuminae está relacionado o mesmo, por isso estou curiosa para ver como isso vai voltar a aparecer.

Uma nota final ainda para como os autores conseguem fazer reflectir nalguns aspectos importantes desta sociedade, em que a tecnologia está tão avançada e o mundo para os seres humanos mudou tanto. Há toda a questão das corporações, e viagens no espaço por wormholes, e experiências científicas que expandem para além do pretendido pelos seus criadores.

Contudo, em muitos aspectos fundamentais a humanidade é a mesma. A luta pela sobrevivência, a capacidade de fazer o bem pelos outros, a coragem nas pequenas e grandes coisas. A ganância, a capacidade de deixar o medo fazer coisas impensáveis. E no meio disto tudo, os autores ainda introduzem uma questão sobre autonomia de inteligências artificiais e o quanto têm uma personalidade, o quão têm um módico de... humanidade. Realmente interessante, ver como isso se desenrola.

Uma outra nota para a edição. Visualmente e graficamente é fantástica, o hardcover é lindo, e adoro como evoca o formato original da narrativa, e como está produzido no interior, sempre uma delícia de acompanhar. A minha única queixa tem a ver com o peso do livro. Esteve uns meses na prateleira, ao alto, e devido ao peso, descaía. E a penúltima página está muito frágil na encadernação. Bastava um puxãozito para aquilo se partir e rasgar.

Sei que será preciso um bom papel para imprimir a tinta num livro que não é só texto, mas também elementos gráficos; contudo, não seria possível fazer algo como no Winter, da Marissa Meyer, que tem mais 200 páginas que o anterior da respectiva série, mas tem a mesma largura, porque foi usado um papel mais fino? Não queria nada que este livro se estragasse só porque está na prateleira, que até é o habitat habitual dele.

Páginas: 608

Editora: Alfred A. Knopf Books (Random House)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Curtas BD: Graphic Novels da Marvel, vols. 18 a 21

Eternos, Neil Gaiman, John Romita Jr.
Isto provavelmente foi uma melhor ideia do que me porem a ler a série original, criada pelo Jack Kirby. Consigo perceber a importância dele, mas li um volume do Quarto Mundo, e francamente achei aborrecido, e este tem todo o ar de ser o mesmo estilo e de nas mãos dele ter ido pelo mesmo caminho. Boas ideias, execução nem por isso.

Felizmente, aqui o escritor é o Neil Gaiman, que é, no que me diz respeito, um escritor mais talentoso, e a coisa muda de figura, porque ele consegue escrever de modo a apresentar os personagens e o mundo e envolver o leitor no enredo. Os protagonistas titulares, os Eternos, estiveram adormecidos, sem saber quem eram, e voltam a redescobri-lo ao mesmo tempo que o leitor.

Pelo menos consegui achar a história muito mais interessante e cativante, e queria descobrir o mistério, e senti os altos e baixos da narrativa. Também achei curioso ver o livro inserido nos acontecimentos que à data eram os do presente no Universo Marvel, e ver alguns heróis conhecidos entrarem na narrativa, mas serem facilmente postos em sentido pelos Eternos.

Pantera Negra: Quem é o Pantera Negra?, Reginald Hudlin, John Romita Jr.
Hmm. Acabei a gostar do Pantera Negra. Era-me mais ou menos indiferente porque nunca li nada centrado nele, mas estou familiarizada com as suas características.

Este livro essencialmente é uma exploração de "o que é que faz o PN e Wakanda os melhores dos melhores". É uma abordagem ainda muito pela rama, muito em aberto, mas com potencial, traços interessantes para explorar no futuro.

Achei interessante a apresentação de como Wakanda sempre teve alguém a tentar invadi-los, mas sempre conseguiram repeli-los, e manter-se orgulhosamente independentes, e capazes, e tecnologicamente avançados.

Também gosto de ver como o autor apresenta algumas questões muito próprias do espaço onde a narrativa se passa: Africa. A colonização. O ser negro. A atitude de colonizadores de alguns países, ainda no século XXI, em relação a Wakanda, por ser diferente deles e diferente do que esperavam.

Até a premissa da narrativa, da cabala de vilões contra o Pantera, tem o seu interesse. Mas aqui, a história perde algum vigor na segunda parte e acabei mais desinteressada na resolução do conflito.

Capitão América: O Escolhido, David Morrell, Mitch Breitweiser
Isto é... curioso. Primeiro porque foi publicado mais ou menos ao mesmo tempo de todo o drama da Guerra Civil, e da morte do Capitão, mas não se passa na linha temporal normal dos mesmos. Deve ter sido estranho ver o Cap morrer duas vezes de formas tão distintas e tão perto umas das outras.

Depois... a premissa. O Capitão está definhar. O soro está a esgotar-se, e o ícone vai desaparecer. Então acaba a ajudar de outra forma, com o poder da mente. Consegue trabalhar com uns cientistas e visualizar (com uma máquina toda XPTO) alvos importantes para o esforço de guerra americano no pós-11 de Setembro. Descobre que com a sua visualização consegue ser visto por alguém no local onde está a visualizar, e interagir com essa pessoa. E é assim que o Cap acaba a inspirar um soldado americano a superar-se.

A premissa toda da visualização e do Capitão a definhar e tudo o mais é algo bizarra, mas assim que se passa isso e se ignora, a história até acaba a ser interessante. Um marine no Afeganistão à beira da exaustão já não sabe o que está certo e errado, quem é inimigo, quem deve proteger. Ele e o grupo de soldados em que se insere ficam numa situação complicada, e as suas conversas com o Cap inspiram-no, e ajudam-no a sobreviver e superar-se.

O forte da história é mesmo esse. O que o Capitão significa como pessoa e como ícone, como forma de inspirar as massas. Como cada um pode ser um herói e representar aquilo que o Capitão América representa.

Os Surpreendentes X-Men: Perigosa, Joss Whedon, John Cassaday
Ah, já me tinha esquecido que era aqui que acontecia aquela coisa com a sala do perigo! E eu adoro esse conceito, não sei como me esqueci. Da primeira vez que li adorei cada passo.

Depois dos acontecimentos do livro anterior, os X-Men mal têm tempo para respirar antes de se verem frente a um inimigo inesperado, um que os conhece como ninguém, e que está à procura de sangue pela forma como foi tratado todo este tempo. Brilhante a forma como lida com eles, e como volta e volta e volta para distribuir mais sarilhos. Mesmo quando tudo parece terminado, sei que não está.

Uma coisa que gosto que o Joss Whedon faça com estes livros? Fazer parecer que escrever e ler os X-Men não tem esforço nenhum. Tudo parece fluir tão bem, acertar nas notas todas. Há espaço para boa caracterização, momentos emocionais, momentos políticos, acção, drama, humor. (Melhor momento: a Kitty e o Peter estão a pensar um no outro no meio duma luta; o Logan... está a pensar em como adora cerveja. Nunca mudes, Wolverine, sua coisa rezingona e adorável.)

E pronto, quando isto me soa tudo tão bem, até tenho pena que acabe. Sei que já vou a meio dos livros escritos pelo Joss e já estou a ficar aborrecida só de pensar em terminar. De qualquer modo, está recomendadíssimo a toda a gente.

domingo, 4 de setembro de 2016

Confesso, Colleen Hoover


Opinião: Ah, este livro não foi nada mau, e já fico muito contente por isso. Prefiro não reviver a desgraça que foi o Amor Cruel. Este, muito melhor. Uma boa leitura. Nada que me entre para os favoritos de sempre, mas bastante bom, de qualquer modo. No entanto, o seu maior feito, na verdade, é fazer-me compreender porque é que eu e a Colleen não fazemos "clique", e porque provavelmente nunca faremos.

A premissa deste livro são as confissões. O protagonista masculino, Owen, é um pintor com uma galeria que abre uma vez por mês com os quadros que produz. Owen inspira-se com as confissões que lhe deixam anonimamente numa caixa. Podem ser coisas boas, más, horríveis, inspiradoras.

O tema das confissões é transposto para a vida dos nossos protagonistas. No caso do Owen, ele é bastante bem resolvido, o que é, honestamente, refrescante, especialmente porque estamos a falar da Colleen. Os problemas dele vêm da sua família e da relação que tem com eles, e do que é capaz de fazer por eles. E é daí que vem a sua confissão principal.

No caso da Auburn, conhecemo-la num prólogo que se passa alguns anos antes. A Auburn está a despedir-se do namorado na altura, Adam. O Adam está a morrer com cancro e não há nada a fazer. E ela tem de voltar a casa, às aulas, ou os seus pais terão problemas. A despedida é obviamente emocional, e soou-me fantasticamente. A autora sabe como começar um livro logo a abrir, e a emoção soou-me real.

No presente, a Auburn veio viver para o Texas, onde a ex-sogrinha (Lydia) e o irmão do antigo namorado (Trey) vivem, por razões que não entendemos logo. Tenta adaptar-se, mas não gosta particulamente de estar ali. E estes familiares que não são bem familiares dela tratam-na de forma desconcertante e absurda, por razões que ainda não compreendemos.

E pronto, aqui está o cerne do meu problema com a Colleen. A primeira parte é que temos mais uma heroína capacho. A Auburn tem uma excelente razão para deixar que lhe façam as coisas que lhe fazem. Contudo, raramente vejo revolta, só resignação. E como é uma situação nova, estranha, ainda mais me surpreende que ela não se mostre mais chocada. Só no final é que ganha tomates e dá a volta ao tratamento que recebe (e duma forma brilhante, diga-se), mas é demasiado tarde para eu poder respeitá-la completamente.

A segunda parte do meu problema com a autora, e a parte principal... é o drama. Digamos que ela a criar os problemas dos personagens dela, às vezes (errr, na verdade é praticamente sempre), vai um bocadinho longe demais. E passamos do drama para o exagero. E foi o que senti com a revelação da situação da Auburn:  pensei "a sério Colleen? tinhas mesmo de ir por aí?". É que num golpe conseguiu diminuir a Auburn e fazer dela uma coitadinha. Não gostei particularmente.

A situação em si é interessante, e revelada doutra maneira dava muito sumo. A maneira como foi revelada diz-me que a autora gosta de ir para o melodrama e para a lágrima fácil. Não me identifico com isso. Em comparação, o último que li da Jennifer L. Armentrout lida com temas igualmente complicados e pesados, mas nunca senti isto. As emoções soaram-me reais, credíveis. E ela nunca escreve para a choradeira (leia-se: à Nicholas Sparks).

A terceira parte do problema? Oh Colleen, pára-me lá com duas coisas: a) insta-qualquer coisa. Se pensarmos bem, a Auburn e o Owen passam tão pouco tempo juntos, e de repente já estão obcecados um com o outro. E a piada da coisa é que a Colleen escreve emoção bastante bem, e os momentos de ligação deles são extraordinários, e soam-me na maioria reais. Mas depois começo a pensar no pouco tempo que passaram realmente, e tenho dificuldade em acreditar na coisa.

E b) ai por amor da santa, esta coisa do "destino" que ela gosta tanto de fazer está a ficar velha, e eu até nem li tantos dos seus livros. Um livro em que os personagens se conheceram no passado, e um deles não se dá conta, é giro. Mais que um, começa a ser cliché. Ou a soar não tão imaginativo assim.

Enfim. O verdadeiro drama disto tudo é que a Colleen escreve muito bem, e tem umas ideias fantásticas (adoro a premissa das pinturas, incluídas no livro, e das confissões). Acho que apenas de vez em quando fica demasiado enamorada delas e exagera um pouco. E é com esse género de coisa que eu não vou à bola.

O que é que isto quer dizer? Bem, tenciono continuar a lê-la. Como disse, ela é bastante boa escritora. Apenas vou pegar num livro dela com as expectativas ajustadas. Provavelmente não vou amar (não como o Um Caso Perdido, que era o meu primeiro dela e era novidade para mim), e vou mentalizar-me para o melodrama. Com isso em mente, suspeito que sobreviverei.

Título original: Confess (2015)

Páginas: 256

Editora: Topseller (grupo 20|20)

Tradução: Diogo Montenegro