domingo, 23 de outubro de 2016

Crooked Kingdom, Leigh Bardugo


Opinião: Ahhh não acredito que me fiz isto a mim própria, e tenho de opinar dois livros extraordinários um atrás do outro. Primeiro o Empire of Storms, agora o Crooked Kingdom. Cada um me apaixonou e torturou à sua maneira, e por isso foram, cada um à sua maneira, leituras emocionantes, e acredito que opiná-los também o será.

Estou tão orgulhosa da Leigh, porque tenho acompanhado a sua escrita desde o primeiro livro, e tem tido uma evolução fantástica ao longo dos anos. De cair o queixo. Alguém que comece a ler o Shadow and Bone não saberá a complexidade que este último livro dela tem. Tanto em termos de enredo, como em personagens e a riqueza de caracterização que lhes imprime - e a Leigh gere qualquer coisa como seis POVs ao longo do livro, mais o POV ocasional extra de um ou outro personagem.

Crooked Kingdom começa apenas uns dias a seguir ao primeiro livro da duologia, Six of Crows. Neste último os seis protagonistas levaram a cabo um golpe dificílimo, mas a recompensa devida foi-lhes subtraída, e uma traição destas não se esquece facilmente. Especialmente quando as vítimas da mesma foram este grupo de jovens extraordinários.

As surpresas, no entanto, não param de vir. Primeiro porque uma pessoa esperaria que um autor normal usaria este livro para resolver a questão levantada no livro anterior; mas a Leigh trabalha num nível bastante à frente. Não só esse problema é resolvido para aí no primeiro terço do livro; não, a fasquia é elevada para além dele, os problemas continuam a empilhar-se ao longo da narrativa, e a ambição dos Crows leva-os a tentar dar um novo significado à expressão "a vingança serve-se fria". (Eh. E bem condimentada.)

Depois porque esta duologia é uma espécie de carta de amor a qualquer livro ou filme que meta uma golpada. Credo, a complexidade dos planos deste pessoal!... É impressionante os esquemas em cima de esquemas preparados pelo Kaz, o "cérebro" do grupo, as contingências preparadas... mesmo quando os planos vão para o Inferno porque tudo correu mal, eles recuperam e aplicam-se a executar outra coisa ainda mais complexa e ambiciosa.

O melhor de tudo é ver as coisas desenrolarem-se, roer as unhas a pensar que está tudo a correr mal, mas estar bastante convicta que as peças vão encaixar e resolver-se tudo duma maneira linda. (E complicada. E retorcida. Mesmo à moda do Kaz.) E eu termino babada e impressionada com a maneira como as coisas realmente se desenrolam.

É claro que uma parte importante, gigante mesmo, de eu gostar destes livros é os magníficos personagens e a genial caracterização que a Leigh faz deles. Tendo de gerir tanta gente, é incrível que ela lhes dê personalidades e passados tão detalhados e cativantes. Ainda melhor, ela consegue pôr-me a torcer por todos! Estão a modos que todos emparejados, e é a coisa mais adorável de sempre.

Nina e Matthias: ahhh que engraçados que eles são os dois juntos. A Nina é bastante confiante na sua pele, apesar das suas capacidades estarem a mudar inesperadamente, e adora meter-se com o Matthias e flirtar até o fazer corar. É tão giro. Ele é todo estóico e vem duma sociedade mais conservadora, e quase que cai para o lado com isso. Além disso, apreciei a personalidade dele mais honesta que os outros Crows. É a bússola moral deles, e a sua coragem retira-os de situações complicadas. Já a Nina, é um bom contraponto a ele, inventiva e adaptável, debatendo-se com um novo desafio, mas retirando conforto dos amigos.

Jasper e Wylan: outros bastante fofos de acompanhar. O Jasper também se diverte a dizer coisas para fazer corar o Wylan, por isso é muito giro de ver. O Jasper tem um aprofundar da sua personalidade aqui, percebemos porque é que ele "funciona" assim, conhecemos o pai e o seu passado e entendemos a sua irrequietude e leveza. Não quer dizer falta de conteúdo, apenas que é melhor a esconder os seus problemas. E o Wylan, pobrezinho, debate-se com a sua identidade não ser exactamente a sua identidade, e pior, com descobrir a extensão da ruindade do pai, algo que ninguém merece.

Kaz e Inej: ahhh estes levam o bolo. A Inej é tremendamente corajosa e capaz, mas tem um lado compassivo e doce que faz uma combinação explosiva. Ela passou por muito, mas nunca deixou que isso destruísse esse seu lado. Já o Kaz pegou nos momentos menos bons que passou e usou isso para forjar alguém mais duro, mais cruel, mais retorcido e mais forte apesar das suas desvantagens. De certo modo são opostos, mas funcionam tão bem juntos. Há uma cena deles que a Leigh escreveu extraordinariamente, porque aquilo que passaram significa que a intimidade é uma coisa difícil para eles, mas que a abordam de formas diferentes. Intenso e emocional e tão verdadeiro. Orgulha-me ver o Kaz, tão frio e calculista, fazer certos pequenos gestos de bondade. Significa muito vindo dele.

O que é que eu posso mais dizer? Ah, tenho uma coisa. vemos gente da outra trilogia, e a minha excitação não conheceu limites. Foi tão bom ver a Genya e a Zoya, e melhor, o Sturmhond! A casa foi abaixo com a animação. Eles acabam por não ter papéis assim tão pequenos como isso, porque o conflito principal da duologia mete algo que pode vir a ser importante para os Grisha, e assim claro que eles tinham de estar presentes. (Melhor foi a Nina quase reconhecer o Sturm: "eu conheço este tipo... quase que parece o... bah, não pode ser". Ehehehe.)

Ok, aquele final? Estranhamente, lembrou-me o final da trilogia. Não nos pormenores, mas na sensação de que a vitória foi arrancada a ferros e que foi conseguida com grande perda. As coisas estavam a correr tão bem, e a Leigh tinha de vir e estragar-me a festa. Não foi bonito, Leigh. Leigh má. Leigh tortuosa. Sei que a maior parte dos personagens está num melhor lugar do que começou, mas aquilo que se perdeu parece inestimável. E nada justo. O que é provavelmente o objectivo.

Ah, depois disto eu espero, eu rezo, eu torço para que ela ainda escreva mais qualquer coisa neste mundo. Há personagens que ficam com a história muito em aberto. (Não posso falar de todos, mas eu morria se o Sturm tivesse direito a algo, a história dele não parece nada resolvida...) Há pormenores que ela apresenta sobre a mitologia, as capacidades Grisha, certos detalhes sobre o mundo, o mapa ainda tem tantos lugares inexplorados... há um manancial de coisas que ela pode fazer, e eu torço para que venha a fazê-lo. A história dos Grisha não me parece terminada, de certo modo.

Enfim... este livro manteve-me completamente cativada página após página, com um enredo delirante e cheio de reviravoltas, adorando os personagens a cada minuto, e ficando bastante impressionada com a expansão do mundo e da mitologia. A sério, Leigh, por favor, por favor, por favor. Escreve outro livro/série neste mundo. I beg you. Seria fantástico ver algo na sociedade Shu. Ou em Fjerda, mas esses já tiveram um pouco de tempo de antena. Por favor. *faz figas*

Páginas: 560

Editora: Henry Holt & Co. (MacMillan)

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