sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Boundless, Cynthia Hand


Opinião: Isto não é bem a opinião que eu gostaria de escrever. Idealmente eu teria escrito isto há três ou quatro anos atrás. Se ao menos tivesse tido a hipótese de ler os livros todos seguidos, isto é. Contudo, ando a ser torturada há anos pelas editoras portuguesas, que fazem este jogo de toca-e-foge de publicar um ou dois livros duma série e depois deixar em suspenso os leitores, porque a série não vendeu o esperado, blábláblá, choradinho e mais choradinho.

(Continuo a defender que a tentativa de publicação da série até ao fim podia ajudar, especialmente quando param a um livro do fim, mas façam como quiserem. O dinheiro é vosso. O meu dinheiro também é meu, e assim como assim não me ponho a comprar séries porque já sei que dá asneira. A bola está no vosso campo, não no meu.)

Adiante. Eu digo isto também porque a distância dá uma perspectiva diferente sobre as coisas. Ainda aprecio muito esta série, e gosto genuinamente deste último volume, acho que faz tudo o que devia fazer. Simplesmente já não estou tão envolvida emocionalmente com ela como quando li os dois anteriores. Tenho pena de não poder ler com a mesma voracidade, a mesma ânsia. É o tipo de sentimento que continuo a ter com séries favoritas lidas agora, por isso ele existe.

Boundless começa um pouco depois da novela Radiant. A Clara está a empacotar as suas coisas, preparando-se para ir estudar para Stanford, quando tem uma visão que a deixa bastante preocupada, quase apavorada, com o que pode vir a acontecer no seu futuro. Por isso a sua entrada na universidade está definitivamente ensombrada, mas a Clara faz por aproveitar este momento na sua vida e viver a vida universitária ao máximo. Mas saber que o irmão Jeremy está em parte incerta e ter o coração ainda no Wyoming também não está a ajudar a rapariga a seguir com a sua vida, e bem, o resto é para ler.

Algo que posso comentar, que permeia a série toda e gosto que faça, é a mundaneidade da narrativa. Pelo meio das coisas sobrenaturais, há espaço para as coisas do dia-a-dia, ir à escola, passar tempos com os amigos. Coisas que permitem à Clara crescer, tornar-se a sua própria pessoa. E a narrativa corre, há momentos mortos em que nada acontece. A história não se passa em dias, passa-se ao longo dum ano lectivo (nos três livros, pelo que me lembro).

(Confesso que às vezes me cansou este ritmo durante esta leitura, mas isso tem mais a ver com o lugar em que a minha cabeça estava na altura. Ainda acho que esta maneira de escrever a história é fantástica.)

Outras coisas que posso comentar: a extensão do worldbuilding. Numa das opiniões anteriores disse que adorava a maneira como a Cynthia criou a mitologia angélica, e continuo com a mesma opinião. Vemos a Clara desenvolver as suas capacidades com o pai como tutor, vemos uma visita ao Inferno arrepiante, vemos uma visita inesperada que ela faz, matando saudades de alguém. Tudo coisas que dão mais consistência e profundidade ao mundo criado pela autora. Tudo coisas que gostei de ver.

Entre os personagens secundários, dois que gostava de destacar. O Jeremy, tão perdido e sem rumo, é de partir o coração. Nem se deixa pedir apoio à irmã mais velha, o que é tão triste. Ainda teve de se meter em muitos buracos antes de se permitir mudar a vida. E a Angela, que é tão autocêntrica que é um bom contraponto à Clara. Não gosto de a ver deixar a Clara tão de fora da sua vida, mas a Angela é assim, e não se lhe pode fazer nada. Além disso, passa por uns desafios interessantes, que acho que lhe vão dar perspectiva.

Agora... o triângulo amoroso. Erm. Vou tentar comentar sem dizer para que lado é que cai. (Provavelmente vai estar implícito nas minhas palavras. Se bem que a esta altura do campeonato toda a gente deve saber.) Duas coisas: um, deu comigo em doida este peso no destino. A Clara sempre a insistir, o Christian está comigo nas visões, ele é o meu futuro, nhénhénhé. Valha-me todos os santos e anjos. (Muito apropriado.) Foi definitivamente forçado, e a própria Clara sabia que se estava a forçar.

É perfeitamente possível sentir uma ligação intensa com alguém sem haver sentimentos românticos, e sempre foi assim que li a ligação deles. O Christian pode ser fantástico, pode ser o melhor amigo da Clara. Até pode ser material fantástico para namorado/marido. Para a Clara? Não me soa. E acaba por ser injusto para o Christian, fiquei a ter pena dele, porque estava com esperanças que eram alimentadas pelas tentativas da Clara de ter o coração deste lado, mas depois a coisa não corria assim tão bem como isso.

Dois: ah, o Tucker... bem, eu sempre torci pelo Tucker porque mesmo quando estava a tentar ser parvo era absolutamente amoroso. Tão totózinho. Acho que a parte pior do livro é que para o final resultar o Tucker devia ter mais tempo de antena neste livro. Merecia ter mais voz activa e não ter um papel tão passivo. Oh, mas quando ele aparece é definitivamente divertido e giro de acompanhar. (Há uma cena deles no Wyoming! Ahhhhh. E a parte final, também.)

O Tucker nos bastidores esteve a esforçar-se para ter algo a dizer acerca do que aconteceu entre ele e a Clara. É algo discreto, mas é exactamente o género de coisa adorável que ele é capaz de fazer. Além disso, o Tucker revela-se bastante perceptivo, o é que mostra alguma evolução e sensibilidade. E bolas, as partes em que ele aparece são fantásticas. Só isso. Gosto muito do percurso dele aqui, e é por isso que tenho pena que não apareça mais.

Ai... só tenho mesmo pena de não ter lido isto antes. Porque de resto foi tudo o que eu queria. O fim deixou-me bastante satisfeita, mas também curiosa. Ficou em aberto o suficiente para permitir que mais histórias pudessem ser escritas neste mundo. E sei que vou ter saudades destes personagens. Gostaria de ler mais coisas com eles.

Páginas: 448

Editora: HarperTeen (HarperCollins)

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