domingo, 19 de fevereiro de 2017

Mind Games, Heather W. Petty


Opinião: Estou a ter uma certa dificuldade em escrever a opinião deste livro. Não necessariamente pelo seu conteúdo e o que achei dele. Mais porque estou incrivelmente perturbada. Sinto-me como no fim da leitura do Heartless: estou a ver uma rapariga perfeitamente boa a continuar a fazer escolhas erradas e enterrar-se cada vez mais nas suas percepções distorcidas. Perturba-me ver um personagem que até gosto de ler cavar com tanto gosto um buraco para se enterrar. Gah!

Este volume começa quase imediatamente a seguir ao outro: com o pai na prisão, Mori sente que pode respirar de alívio, mas isso é sol de pouca dura: uma corrente na opinião pública parece acreditar que foi ela que cometeu os crimes, e alguém parece determinado a alimentar essa fogueira, criando situações complicadas para a protagonista.

E pronto ler este livro foi tão absorvente como o primeiro; o mistério pareceu-me turvo na maneira como se desenvolve, talvez sendo ligeira e desnecessariamente complicado, mas manteve-me mais tempo no escuro que o livro anterior, e gostei bastante de como se revelou. Acho que a pessoa responsável devia ganhar juízo e ir à vidinha dela, mas as suas motivações fizeram sentido para mim e foi interessante ver a Mori e o Lock investigar e tentar perceber o que se passava. A paranóia estava em alta e gostei de ler.

O que é frustrante para mim... é a Mori estar determinada a dar um tiro no pé. Eu entendo e acho incrivelmente realista a desconfiança dela nas autoridades, mas quando as coisas começam a ficar demasiado sérias... não é altura para continuar a cerrar fileiras e fugir a todas as perguntas.

O agente da polícia em particular que investiga o caso é, por um lado, um dos que fechava os olhos a certas coisas no passado, mas também é aquele com maior inclinação para acreditar nela. Acho mesmo frustrante que ela não aproveitasse para fazer dele um aliado quando esteve tanto tempo sem ninguém numa posição "adulta" que a apoiasse. E como vimos, ela apoia-se numa pessoa errada durante toda a coisa, o que é ainda mais frustrante.

E ainda na categoria "frustrante"... e sim, eu sei que usei a palavra frustrante quatro (cinco com esta) nos últimos três parágrafos. Mostra como eu adoro a Mori mas fico mesmo irritada com a atitude dela. Bem, estava a dizer que me aborrece ela manter-se na mentalidade de "melhor sozinha". Ela passa o livro convencida que as coisas com o Lock são temporárias, vão acabar, etc., o que é basicamente uma autosabotagem. De novo, compreendo porque ela pensa assim e acho realista, mas também me apeteceu muito abaná-la para ver se ganhava juízo e aceitava as coisas boas, porque elas existem.

Tendo dito isto, gosto muito da narração dela. A Mori é particularmente analítica na maior parte das coisas, mas depois estas coisinhas chamadas emoções atacam-na e ela fica doida com elas. É divertido de ler. No bom sentido. Gosto de vê-la lidar com elas, mesmo quando se está a sabotar.

Aprecio bastante a parte romântica do livro, porque não é muito pesada nem in your face, mas ao mesmo faz uma série de coisas certas. Gosto de como a Mori e o Lock trabalham como iguais, de como ambos reconhecem que as suas capacidades particulares os afastam da sociedade em geral, de como se apoiam quando é preciso (e a Mori deixa), de como ele aceita as escolhas dela e não força nada, ainda que ela não lhe preste a mesma cortesia. Aliás, o Lock é bastante engraçado e adorável, e é refrescante ver o comportamento dele mais discreto quando tantos protagonistas masculinos são mais... mais.

Adoro os irmãozinhos da Mori, os miúdos são tão fofos e metem-se num sarilho que é tão giro de ver. Pronto, o resultado não foi assim tão giro, mas a origem da coisa é bastante cavalheiresca. Dá-me esperança ver que ainda que o ambiente em que cresceram não seja o melhor, talvez venham a ser adultos resolvidos e parte da sociedade.

Outros personagens interessantes: a Alice, amiga da mãe da Mori e bastante mais retorcida do que lhe daríamos crédito; o Mycroft, que tem mais uns bocadinhos aqui e gostava de apanhar mais da presença dele, é intrigante; o Mallory, que apesar de tudo parece ter um nadinha mais de espinha que o resto dos colegas.

O final é de partir o coração. Entristece-me pensar que a Mori assume o pior. Ela estava pronta para ficar num lugar melhor, mas tudo lhe é roubado, e ela cai no buraco de onde tinha saído. Assume que o Lock vai à vidinha dele - temos de lhe dar mais crédito, ele estava a acompanhar a situação e é esperto demais para aceitar a explicação óbvia. Basta ele voltar atrás à, hmm, "cena do crime" que de certeza que encontra a explicação correcta. Há um par de pistas óbvias para isso.

Mas pronto, o estúpido do fim põe-nos mais perto do final que tem de ser, e a Mori vai ter de ser a vilã/antagonista do Lock antes da coisa acabar. Até pode acabar muito em aberto, mas com a indicação definitiva da rivalidade futura. E lá está, como comecei por dizer, parte-se-me o coração de ver um personagem que gosto ir por um mau caminho. É como ter um amigo que só fez más escolhas e teve uma conclusão trágica para elas.

Páginas: 304

Editora: Simon & Schuster

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