sábado, 25 de fevereiro de 2017

Princess of Thorns, Stacey Jay


Opinião: Princess of Thorns não é tanto um retelling, como mais uma sequela que trilha caminhos reconhecíveis dos contos de fadas, dando-lhes o seu próprio tratamento. É que a Bela Adormecida original, Rose, foi salva por um príncipe, Stephen (na versão da Disney acho que este é o nome do pai da Aurora) - mas o príncipe não era encantado; já tinha uma esposa quando a salvou.

Para adicionar às suas falhas, estava à procura de saias quando os ogres assumiram o governo do reino (a rainha dos ogres casou com o pai dele, o avô da protagonista deste livro), e foi morto por eles. Para salvar os seus filhos, Rose faz o maior sacrifício para garantir que Aurora, a mais velha, recebe os seus fairy gifts, de modo a que possam protegê-los.

No tempo presente, o irmão de Aurora, Jor, está nas mãos dos ogres, e ela precisa de ajuda para o recuperar. Mascarada de rapaz, Ror, cruza-se com Niklaas, e consegue recrutar a sua ajuda prometendo-lhe apresentá-lo à sua "irmã". É que Niklaas tem um problema: o pai, obcecado com a imortalidade e com o seu trono, lançou uma maldição nos filhos que os torna em cisnes no 18º aniversário. Niklaas quer casar com uma princesa herdeira (a Aurora é uma candidata) para evitar a maldição, porque esse acto retirá-lo-ia da corrida ao trono e protegê-lo-ia da mesma. Há um pequeno problema: a bênção que Rose deixa a Aurora faz com que qualquer homem que ame e a beije fique um zombie às suas ordens.

Normalmente um livro não precisaria de uma sinopse explicada tão longa para eu falar dele, mas essa é a bênção e a maldição deste. É incrivelmente detalhado; há montes de pequenas coisas que podemos reconhecer dos arquétipos e clichés dos contos de fadas, e tanta coisa com potencial para ser explorada. (Exemplo: gosto de como o conto dos cisnes e um pouco da Rapunzel são aqui incorporados.)

A parte da maldição tem a ver com o facto de que eu acho que o livro não explora convenientemente a riqueza de worldbuilding que tem. De certo modo isso é compreensível. A história tem um objectivo e a autora tem de se cingir a ele. Mas é triste pensar em todas estas histórias à espera de ser contadas. Este é um stand-alone, e aprecio isso (é raro em fantasia), mas neste caso preferia muito que fosse uma série que pudesse explorá-los.

Diverti-me imenso com esta história. Adoro histórias que metem raparigas a disfarçar-se de rapazes, e ler sobre todos os sarilhos que procedem disso. Neste livro foi bastante divertido seguir a Ror e o Niklaas enquanto vão na sua demanda e criam uma amizade, ao mesmo tempo que passam o tempo a discutir e implicar um com o outro.

Além disso, foi muito interessante ver a evolução das suas personalidades ao longo da história. Não era muito fã do Niklaas no início, porque não sou fã de rapazes que agem como se fossem uma dádiva dos céus à terra; mas ele ganha interesse com a premência de ultrapassar a sua maldição, e com a sua atitude de irmão mais velho para com "o" Ror (ele pensa que a Aurora é o irmão). Acho que a revelação da Aurora e os acontecimentos imediatamente antes, e aqueles depois, são os melhores momentos dele e gostei muito de os seguir.

A Aurora também é fascinante. Luta incrivelmente bem, mas não o esfrega nas nossas caras (a autora não o faz, pelo menos), é destemida, e um pouco sonhadora e idealista, mas não exactamente ingénua. É algo precipitada no início, mas aprende a tomar as suas decisões de forma informada, como uma futura rainha deve fazer. Ela tem alguns desafios complexos a enfrentar no final do livro, mas foi o tipo de coisa que foi intrigante e excitante de acompanhar.

Sinto que a autora podia ter trabalhado melhor certas coisas: a primeira parte da narrativa parece não ter rumo, apesar de ser realmente guiada por determinados objectivos; sei lá, podia ser mais relevante do que é para o enredo geral. Há certas partes do desenvolvimentos da relação da Ror com o Nik que podiam ser mais expandidas: em certos momentos parece muito telling em vez de showing, e a piada é que ela meia dúzia de páginas antes estava a mostrar.

Gostaria muito de ter visto uma expansão da transição entre o Nik não saber e depois saber que a Aurora era uma rapariga; sinto que ele devia ter sido obrigado a lidar com o que achava que as raparigas eram capazes de fazer durante o caminho da sua demanda, mas descobre mesmo antes duma mudança grande de cenário e foco da história. Isso permitiria que a parte seguinte (a aproximação romântica) tivesse mais peso e soasse ainda melhor.

Também sinto que a autora podia ter trabalhado melhor certas revelações. Aquilo que resumi ali no início da opinião é a informação que é revelada ao longo da narrativa sobre o passado da família da Aurora, mas não senti que as revelações fossem feitas de forma clara, como se estivéssemos a construir um castelo de cartas, adicionando aos poucos cada nível. Parecia mais como construir uma casa montando uma divisão de cada vez, ficando um todo nada harmonioso.

Adorei a segunda parte do livro, porque a autora não foge de certos momentos pesados. O Jor passa momentos difíceis no cativeiro, e isso é abordado minimamente. (Já agora, adorei o Jor, a sua personalidade discreta, e a protecção mútua e relação sólida que ele e a Aurora têm.) Gosto da dimensão que é dada à rainha ogre. A parte final implica a Aurora lidar com as consequências dos seus dons, e mete ela tomar decisões diferentes do que esperava fazer. Foi muito bom ver este tipo de evolução.

Também adorei o momento imediatamente antes, em que a Aurora e o Niklaas têm um momento de descanso, e ficam incrivelmente adoráveis um com o outro e eu fiquei a torcer para que as coisas dessem mesmo certo. Ah, e os dois ou três capítulos finais são tão fixes. Ele ali a roer-se todo de inveja e ela a ter de ir atrás dele puxar-lhe as orelhas para ganhar juízo... tão fofos.

A história termina relativamente fechada e feliz (duh, é baseada em contos de fadas, é claro que vai terminar assim), mas ainda havia espaço para tanto... gostava tanto que houvesse uma sequela. O pai do Nik merecia ser destronado, e só isso dava para mais um livro. Para um livro que pode não parecer nada de especial à primeira vista, este certamente tem muito a recomendá-lo.

Páginas: 400

Editora: Delacorte Press (Penguin Random House)

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