segunda-feira, 13 de março de 2017

Mind Games, Kiersten White


Opinião: Um livro tão curto, com tanto e tão pouco contido lá dentro. Acaba por ser uma leitura curiosa por causa disso. É que por um lado, o livro é como um esqueleto a que foram acrescentados alguns músculos, mas talvez não todas as camadas. É capaz de ter o sistema circulatório. Definitivamente não tem a pele. (E com esta metáfora esquisita quero dizer que tem os básicos da narrativa, mas não é elaborado como outro livro seria, e que estaria mais "preenchido" nesse caso.)

E ainda assim, funciona. É uma leitura rápida, e é um thriller, por isso a narrativa pouco elaborada funciona a seu favor. Aprecio a Kiersten por ser capaz de escrever um livro funcional com tão pouco; é preciso ser um escritor bastante capaz para o conseguir.

Mind Games segue duas irmãs, Fia e Annie, num mundo em que somente as mulheres têm capacidades extraordinárias: tipicamente, são Seers (precognitivas), Feelers (percepção emocional dos que as rodeiam), ou Readers (leitura dos pensamentos e mentes em seu redor).

Annie é uma Seer, mas ficou cega aos quatro anos. Isso faz com que a Fia se sinta responsável por ela; e quando umas pessoas as convidam para fazer parte duma escola especial que ajudará a Annie, esta sente-se ansiosa por aceitar o convite; já a Fia, desconfia de toda a situação, mas não pode deixar de aceitar, para poder acompanhar a irmã.

Passados dois ou três anos, tempo presente. A Fia está num papel de executora de todo o tipo de missões para as pessoas da "escola"; e assume esse papel detestando-o com todas as forças, sob ameaça de magoarem a Annie se não se portar bem. Só que a sua missão actual corre mal, e Fia vê-se numa corrida contra o relógio, esforçando-se para esconder esse facto e proteger a irmã dos que lhe querem mal.

A narrativa oscila entre os pontos de vista das duas irmãs, e entre o passado e o presente, para nos esclarecer sobre o que tem acontecido às duas desde que chegaram à escola, e como isso levou ao estado actual das coisas. Gostei muito deste aspecto da história, porque nos faz trabalhar para entender o que aconteceu e tentar perceber a relação entre as duas protagonistas.

Também gostei bastante da narração da Fia. É em estilo stream of conciousness, maioritariamente, e a narração quebrada e por vezes infantil soou-me fantástica e como tendo sentido, tendo em conta o que a Fia passou e o que foi obrigada a fazer. A infantilização de atitude que assume é uma forma de se proteger.

Gosto ainda da Fia porque as suas capacidades me deixam intrigada; ela tem um instinto perfeito, e isso é um poder giro de explorar, pela potencialidade que tem. E gosto dela pelo seu feitio retorcido, pela maneira como lida com as pessoas com poderes à sua volta, e por esconder uma série de inseguranças e medos por trás duma atitude brutal.

Estou intrigada acerca do worldbuilding, sobre que tipo de mundo alternativo é este em que as mulheres desenvolvem poderes, que tipo de mundo futurista temos nas mãos. Não são dados muitos detalhes, o que funciona para a história, mas mesmo assim, adoraria saber.

O enredo é bastante simples, ao ponto de quase não lhe poder chamar enredo, apenas o decorrer dos acontecimentos. A narrativa não tem um objectivo claro, um sentido para o qual caminha, mas chega lá ainda assim. Gosto dos meus livros com um bocadinho de uma direcção mais clara, mas again, ainda assim resulta.

O final é completamente doido, mas intrigante pela posição em que coloca as duas irmãs. É ligeiramente cliffhangeresco, mas não irritante. Deixa-me com mais vontade de ver o que vai acontecer a seguir e continuar a ler.

Em suma, não é a maior invenção depois da roda; mas é um livro que enche as medidas e é um exercício interessante de ler, pela maneira como consegue contar uma história com tão pouco. Deixou-me definitivamente curiosa.

Páginas: 256

Editora: HarperTeen (HarperCollins)

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