terça-feira, 28 de março de 2017

Wayfarer, Alexandra Bracken


Opinião: Estamos em Março, a um quarto do ano, e posso já dizer que os livros, a série, e a autora surpresa do ano são estes mesmos: Alexandra Bracken e a sua duologia composta por Passenger e Wayfarer. Estou muito grata e feliz por ter tido a oportunidade de tropeçar neles.

A Alexandra é uma autora a ter debaixo de olho no futuro, certamente. A maneira como ela escreve e pensa as suas histórias é deliciosamente complexa e gosta de como ela pensa e do que ela quer transmitir com as suas palavras; a maneira como evolui o enredo nos dois volumes caiu-me no goto.

Wayfarer segue a história do volume anterior quase logo de seguida. A Etta e o Nicholas ficaram separados por circunstâncias das regras do mundo em que vivem (viagens no tempo são mais complexas do que se pensaria): o Nicholas está dividido entre encontrar a Etta e continuar a demanda pelo astrolábio; a Etta ficou órfã da timeline onde nasceu e foi parar ao seio dos Thorns, onde encontra uma pessoa muito especial e continua a procura pela posse do astrolábio. Separados mas sempre com o outro em mente, vão encontrar um novo conjunto de desafios e de jogadores interessados na mesma demanda.

Como o outro livro, este foi de lenta leitura, mas que delícia foi, devido à escrita e devido à história. Gostei bastante de como tudo se encaminhou, dos desafios que se puseram aos nossos protagonistas, dos novos personagens que conheceram e de como descobrimos mais sobre este mundo e sobre a sua "mitologia".

Acho que dos dois gostei mais de seguir a Etta, mas só porque gostei mesmo do que ela encontrou no seu caminho. Solitária por natureza, gostei que ela encontrasse alguém com quem se identificar, uma pessoa que faltava na sua vida e que partilha gostos e é alguém verdadeiramente gentil e se esforça por fazer o correcto. Pareceu-me que a Alexandra não é de ir pelo cliché, mas foi um alívio para mim ver que ela realmente não foi por aí e manteve esta pessoa no bom caminho e ao lado da Etta.

Gostei do lado da narrativa da Etta também pelas coisas que descobrimos sobre a timeline e como funciona: como a conhecida dos personagens (e deixa a autora implícito, a realidade que conhecemos) não é a original, e como Cyrus Ironwood a manipulou a seu bel-prazer para ganho próprio - apesar do tempo se esforçar muito para eliminar irregularidades e manter certos acontecimentos que estão como que "destinados".

Esta situação deixa muitas questões e ideias intrigantes, e é apresentada com uma variação no destino da família Romanov, que potencialmente teria influência pelo século XX fora, particularmente no decurso da 2ª Guerra Mundial. (Uma parte da narrativa incrivelmente intrigante.)

Em adição, a Etta tropeça na história da sua mãe e como ela ficou obcecada com uns alguéns que destruíram a sua vida (tão triste, mesmo); alguéns esses que são jogadores até agora nossos desconhecidos na luta pelo astrolábio - mas que estão envolvidos na sua geração e nas suas capacidades. Esta parte da narrativa pareceu tão estranha mas tão interessante de considerar, e explica a origem do astrolábio e como acabou por ter o peso que tem.

A narrativa do Nicholas, no entanto, não lhe fica atrás. Gostei particularmente de o ver em equipa com a Sophia, que era uma personagem retorcida até agora, mas que se revela uma caixa de surpresas. Os desafios que ela encontra mudam-na, mas ela também se mostra uma pessoa diferente do que queria fazer parecer, e acho piada a como ela acabou por se passar para a "equipa" do Nicholas e relutantemente acabou a gostar dele genuinamente.

(E já agora, há mais uma pessoa que a Etta conhece que é bem divertida de encontrar. O Julian é exactamente o tipo de pessoa que seria de esperar, tendo em conta como foi educado, e tendo em conta que tem um fundo hedónico e pouco moral. Mas também ele cresce a nossos olhos e mostra novas facetas. Adoro como o futuro eu dele andou a sabotá-lo visitando sítios para onde não quer que ele vá, para o guiar na direcção correcta.)

Esta parte da narrativa focada no Nicholas pode pecar um nadinha só por ocasionalmente ter falta de rumo. Isso é uma consequência do feitio dele e do que ele espera alcançar, mas a parte inicial dele envolve muito esperar, e também há um enredo que mete um acordo metafórico com o diabo e pronto, passava sem ele, que havia outras maneiras de conseguir a posição que este acordo tem na narrativa.

No entanto, este acordo apresenta um dos jogadores pelo astrolábio mais fascinante, e por isso não tenho mesmo de que me queixar. Além de que os desafios que apresenta ao Nicholas são curiosos de considerar. Por isso, não considero esta parte realmente inútil para a narrativa; só gostava que o Nicholas, no seu sentimentalismo e desespero para fazer algo de bom, não se metesse tão facilmente numa armadilha óbvia. Até a Sophia estava a avisá-lo para estar quietinho da silva.

Outra adição fixe da narrativa do Nicholas: a Li Min, o seu papel na narrativa, e o que traz para outro personagem. Gostei mesmo dela e de como permitiu a essa pessoa revelar-se a nossos olhos.

A parte final foi de roer as unhas. Fica claro desde o início o que se tem a perder se a coisa correr mal, e sabemos que se os protagonistas conseguirem o que tencionam as coisas podem acabar para eles. Era de partir o coração só de considerar.

No entanto, a Alexandra faz a coisa funcionar e gosto mesmo da solução que ela arranja. Permite aos personagens manterem a comunidade de viajantes que existe, sem os dilemas que existiam anteriormente. Além disso, o capítulo final é mesmo excitante e feliz. A Etta não estava num bom lugar, e teve uma surpresa fantástica. Gosto de como as coisas resultaram.

Ah... acho que só peca por me saber a pouco. Esta moda nova de publicar duologias rouba-me dum livro que podia passar a mais com os meus personagens e histórias favoritos.

Páginas: 544

Editora: Disney-Hyperion

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