quarta-feira, 31 de maio de 2017

Este mês em leituras: Maio 2017

Um bom mês a nível de leituras, pelo menos posso dizer que encontrei muitos livros que me caíram no goto. No blogue nem tanto; fiz em Maio dois dos horários menos meus favoritos na rotação de horários do meu emprego, porque implicam chegar a casa tardíssimo, e isso reflecte-se no escrever aqui no blogue, pois que vontade há de ser coerente a horas tardias, pergunto eu... não me parece que esteja atrasada em termos de opiniões, no entanto, por isso contento-me com essa pequena vitória.

Livros lidos


Opiniões no blogue


Os livros que marcaram o mês

  • Magia de Papel, Charlie N. Holmberg - um livro tão giro, com umas ideias fantásticas que ainda me deixaram a pensar nelas, um mês depois;
  • O Rouxinol, Kristin Hannah - marcante mais pelo ambiente histórico, a descrição da vida na França ocupada, mas a história dual das irmãs com percursos tão diferentes também é cativante;
  • A Court of Wings and Ruin, Sarah J. Maas - remeto para a opinião, que já está escrita, mas esta é uma autora favorita, e tornou-se a minha série favorita dela, foi a modos que um final e foi triste dizer adeus, mas é animador saber que vão haver mais livros neste mundo;
  • O Verão em Que Me Apaixonei, Jenny Han - gostei pela simplicidade, pela descrição do Verão, mas também por ter achado a Belly tão interessante na sua inexperiência, tão honesta;
  • The Pearl Thief, Elizabeth Wein - que saudades do Code Name Verity, e este, apesar de ser um livro tão diferente, soube-me bem, e é irrepreensível na maneira como descreve a época;
  • All the Rage, Courtney Summers - a raiva titular não é da protagonista, é do leitor quando percebe a extensão do que lhe foi feito, a injustiça do que passou; tem uma espécie de mistério à mistura, e é interessante o suficiente, mas o melhor é a exploração daquela sociedade e do que fez à Romy.

Outras coisas no blogue

  • Nada a contribuir, este mês.

Aquisições

Ora bem, primeiro a banda desenhada do mês - os livros das colecções que estou a fazer: a DC No Coração das Trevas, que já acabou; a Graphic Novels Marvel - que para além de me ter chegado tarde, como mencionei no post mensal de Abril, ainda foi entregue trocada - mandaram os números 37 e 38, quando devia ter sido os 36 e 37, e daí andar a ler a série fora de ordem (mas pelo menos já me corrigiram o erro); e uma nova colecção focada na Mulher Maravilha, que me está a deixar muito intrigada.

Depois, no topo da pilha temos os livros em inglês. Como habitual, temos os livros do desafio Meg Cabot - e dou-me conta agora, nesta foto e na dos livros lidos faltou-me acrescentar o último livro da Allie Finkle, por lapso. E temos os livros de séries (os da Sarah J. Maas, e da Cassandra Clare) e de autoras (as anteriores, mais a Elizabeth Wein e a Rachel Vincent) que sigo habitualmente.

No fundo da pilha as aquisições em português, virtualmente a custo zero já que usei o meu dinheiro em cartão Continente.

A ler brevemente

Espero vir a ler mais livros destas colecções de BD que estou a fazer. Tirando isso, tenciono ler o livro da Colleen Hoover - até tenho medo, digamos, pois parece dramático até dizer chega e isso tem sido o que resulta menos para mim nos livros da autora. Estou animada para ler o Lord of Shadows, um livro muito esperado, e curiosa para ver o que a Rachel Vincent tem preparado.

Quanto a futuras aquisições, espero receber em Junho Roar da Cora Carmack; o livro da Julia Quinn, para continuar a série dela; e um omnibus da série Vanished da Meg Cabot, com os dois primeiros volumes - a série é tão antiga que é impossível encontrar edições coordenantes de cada volume da série. E mesmo apostando nesta edição, vou ficar apeada com o quinto livro, que não teve direito a omnibus e só há num tamanho completamente diferente. (Pois, não sou fã.)

terça-feira, 30 de maio de 2017

The Pearl Thief, Elizabeth Wein


Opinião: The Pearl Thief serve como prequela a Code Name Verity, essa pérola literária que cinco anos depois, ainda me faz cantar as suas virtudes. (Tive oportunidade de rever o seu brilhantismo relendo partes do livro num domingo de manhã, depois de acabar este livro.) Contudo, funciona perfeitamente como a sua própria história isolada - não é necessário ler um após o outro, se bem que diria que a vida de qualquer leitor seria bem melhor por ter lido o Verity.

O livro decorre no Verão de 1938, e foca-se na personagem Julie, que conhecemos do Verity. Julie é parte da nobreza escocesa (o pai é um conde, o avô materno também), mas a sua deslocação a Strathfearn, onde se localiza a casa ancestral da família materna, não é por uma boa razão: a propriedade está a ser vendida, bem como o seu conteúdo, e a submeter-se a obras para ser transformada numa escola privada.

(Num processo muito semelhante ao aludido em Downton Abbey, calculo, a propriedade deixou de dar lucro e começou a acumular dívidas, exacerbadas com a doença do avô e as contas médicas acumuladas antes de falecer.)

Só que, mal chega, Julie mete-se logo em sarilhos: está junto ao rio da propriedade, observando um homem com um comportamento estranho, quando leva uma pancada forte na cabeça. Acorda três dias depois, sem saber o que se passou, mas o homem que observava está desaparecido. Este é portanto no essencial um mistério ao estilo cozy com um toque vintage e juvenil de Nancy Drew.

Não se pense, no entanto, que é só isso que o livro é. Tem múltiplos outros pontos de interesse: para já, a exploração da personagem Julie. Podemos ver vislumbres da pessoa que ela se vai tornar. Esta Julie é inexperiente, e ainda está a aprender a lidar com as suas capacidades de dar conversa e manipular pessoas, de usar os seus encantos femininos.

No Verity a Julie é extraordinária neste aspecto; aqui, ela vai fazendo as coisas tentativamente, aprendendo com as suas experiências. Por vezes corre-lhe mal - uma situação particular em que achava que estava no controlo ia-se virando contra ela -, mas a Julie é destemida e tem uma imensa vontade de aprender e melhorar.

Outros pontos de interesse prendem-se com algumas questões sociais, e os tipos de preconceito que prevalecem na pequena sociedade que rodeia a propriedade. Temos Mary, a bibliotecária da terra, que tem algum tipo de deficiência física no rosto e que é surda, o que condiciona a percepção que as pessoas têm dela. (A certo ponto, também a própria Julie assume coisas acerca da Mary que não devia.)

Temos uma exploração de desejos e sexualidade por parte da Julie, que reconhece que se sente atraída por ambos os sexos; e uma visita a um espectáculo de variedades apresenta-a a uma cantora trans. Numa época em que estas vivências nem sequer eram reconhecidas, quanto mais terem um nome, é de partir o coração ver as pessoas não poderem ser exactamente quem são, ou explorarem livremente o que querem porque nem se falava disso.

Outro aspecto do preconceito prende-se com a presença de travellers escoceses. A comparação mais directa que posso fazer é que são como ciganos ou Romani do Sul da Europa; mas calculo que tendo a Escócia uma história e sociedade algo diferentes do Sul Europeu, também hajam diferenças culturais, sociais e étnicas entre os dois grupos, por isso não são paralelos directos.

No entanto, são-no em muita coisa. Os travellers são nómadas, viajando dum lado para o outro conforme encontrem trabalho. Como não estão fixos, encontram muito pouca aceitação por parte da população sedentária, e todo o tipo de injustiças por falta de compreensão do seu modo de vida.

Quando as acções criminosas no início do livro se dão, os suspeitos óbvios para as pessoas são os travellers. Ellen e Euan, dois jovens que a Julie e o irmão conhecem no livro e com quem fazem amizade, nunca puderam terminar a escolaridade por dificuldades interpostas por quem de direito. É incrivelmente triste porque a Ellen parece ter interesses académicos, e nunca poderá segui-los.

Curioso é no meio disto tudo ver de onde vêm os preconceitos. Vemo-los mais entre as classes trabalhadoras, que não se podem dar o luxo de não ter preconceitos e não terão instrução suficiente para ultrapassar os mesmos. É entre a família de Julie que a família de Ellen e Euan encontra amigos, o que é interessante de considerar: é um pouco de classicismo enraizado na sociedade, já que esta família nobre tem, pela sua posição social, uma instrução diferente que lhes permite questionar os preconceitos que se lhe deparam, e pronto, podem realmente dar-se ao luxo de não ter preconceitos.

No entanto, neste aspecto nem tudo é mau: Mary, por exemplo, que era muito aversa aos travellers - alguém alvo de preconceito a enraizar outro preconceito em si mesma -, acaba por se abrir à sua presença, e confrontar esse mesmo preconceito que pintava as suas percepções. Aceita a presença de Ellen e acaba por ver o quanto esta última adora história e entende dos artefactos da propriedade, o quanto pode ajudar na avaliação do espólio. (Um pouco de esperança nesta sociedade dos anos 30.)

No que toca a enredo, achei o início do livro um pouco aborrecido. Acho que leva algum tempo até estabelecer as peças do puzzle, e da história, e o ritmo é bem mais calmo que no Verity, o que é um tudo-nada desconcertante. (Mas muito necessário.)

Quando a narrativa ganha tracção, lê-se muito melhor, e como vimos tem tanto sumo a espremer; contudo, o fim e a revelação dos mistérios também podia ser melhor trabalhada. Achei a cronologia das revelações algo confusa, ou melhor, não suficientemente clara. Há uma coisa que faz clique - a identidade do corpo que é encontrado -, o resto nem por isso, e isso fez-me confusão. Acho que a autora é bem mais capaz que isso.

Queixas à parte (foi só esta), este é um excelente livro. A Elizabeth Wein tem mão para nos imergir na atmosfera de uma época, e ela evoca esta Escócia dos anos 30 fantasticamente, mostrando uma fatia da sociedade escocesa, e discutindo alguns problemas sociais dela de forma directa e clara, e apresentando todo o tipo de detalhes que fazem um óptimo trabalho a complementar a pintura e esclarecer o leitor. Pode ter começado menos bem, mas o livro melhorou largamente e foi cativante até ao fim. Estou muito contente por ter tido a oportunidade de o ler.

P.S.: Quem é que está na capa? A Julie não é, que é descrita como loira. E a Ellen creio que também não. Aiaiai, editoras a mandar fazer capas que nem fazem sentido com a história...

Páginas: 412

Editora: Bloomsbury

segunda-feira, 29 de maio de 2017

O Verão em Que Me Apaixonei, Jenny Han


Opinião: Este é o tipo de livro que eu ando para ler há tanto, tanto tempo. Às vezes as estrelas não se alinham a nosso favor ou assim e a coisa tem-se atrasado tanto que as nossas editoras tiveram tempo de se pôr a par de mim e das minhas leituras. Ehehehe.

Este é o tipo de livro que evoca perfeitamente a sensação de Verão. Aquele tempo de férias, etéreo, que se parece esticar para todo o sempre, mas que acaba sempre demasiado depressa. Belly é uma jovem de 15 que passa o Verão, desde que se lembra, com a mãe e a amiga desta, Susannah "Beck", e os filhos dela, ambos rapazes, Jeremiah e Conrad, em Cousins Beach, na casa de família de Beck.

A acção principal decorre no Verão em que Belly tem 15 anos. (Intercalando com capítulos que contêm flashbacks para Verões anteriores, introduzidos quando o acontecimento é mencionado no tempo presente.) A Belly "turned pretty", como o título original implica, ou seja, passou aquele limite entre criança e adolescente. Já não é uma menina, mas ainda não é bem uma mulher; o seu corpo cresceu e revelou-se, mas ainda não é madura e experiente no que toca a emoções.

E creio que é por isso que gostei tanto dele. Sim, A Belly é uma totó ingénua e inconstante; mas esse é precisamente o objectivo. O livro é fantástico a criar uma atmosfera de Verão, mas também a sugerir uma atmosfera de uma época da vida - primeiros amores e paixonetas, primeiras experiências a lidar com emoções por vezes confusas e complexas e difíceis de gerir, aprendizagem de todo o tipo de limites próprios e dos outros no que toca a sentimentos e relações.

Ou seja, parece um livro simples e fresco, mas achei que a Jenny Han o escreve de forma mais inteligente do que lhe daria crédito; achei a sua descrição do mundo interior duma miúda de 15 anos inexperiente bastante credível. Sim, é tudo tão dramático; mas não o fomos todos nós com aquela idade? O tempo pode ter sido generoso connosco e permitir-nos esquecer isso, mas duvido que haja muita gente que possa dizer que não o foi.

Os dois rapazes no centro de todo o drama são Jeremiah, o mais novo, gentil e simpático e melhor amigo da Belly, super aberto - mas ela, claro, supercentrada na sua paixoneta, não se apercebe de que ele está a desenvolver sentimentos por ela. O Conrad é o mais velho, o arquétipo do bad boy misterioso e taciturno; é também o alvo da paixoneta da Belly desde sempre. É fácil ter uma paixoneta por ele, pelo tipo de personalidade que tem e aparenta ter; mas também tem os seus problemas e desvantagens, e parece-me precisar de crescer um pouco para se revelar um par à altura. As coisas tornam-se excitantes para a Belly porque ele parece aperceber-se que tem sentimentos por ela também, mas bem, ele também é adolescente e um rapaz na idade do armário.

Fora o trio, as minhas personagens preferidas passam pela mãe da Belly, Laurel, que a Belly ainda não aprecia completamente - mas acredito que com a idade venha a fazê-lo; e pela Beck, que é a cola que junta toda esta gente. Adorei como ela representa o Verão para estas pessoas, como é uma espécie de tia carinhosa para a Belly e está a torcer por ela. Entristece-me a perspectiva de ela desaparecer e perder o papel crucial que tem nesta grande família misturada.

Por fim: há algum tempo atrás, quando achei que nunca ia acabar por ler a série, acabei por ser spoilada para a evolução das coisas. Em teoria consigo ver como as coisas vão lá parar, mas quero mesmo ver como são escritas até lá. Ambos os rapazes vão ter de dar umas reviravoltas e crescer um bocadinho (ou não) para achar credível que o que quer que venha aí. De qualquer modo, acredito que a Jenny Han é capaz de fazê-lo. Ela escreve duma forma enganadoramente simples, mas que acaba por ter uma boa compreensão e discernimento do tema a que se dedica. Gosto disso.

Título original: The Summer I Turned Pretty (2009)

Páginas: 256

Editora: Topseller

Tradução: Rui Azeredo

domingo, 28 de maio de 2017

A Court of Wings and Ruin, Sarah J. Maas


Opinião: Sou uma totó. Ando a arrastar os pés para escrever esta opinião há que tempos, raios. Tenho tido uma certa dificuldade em deixar este mundo, que se revelou tão imersivo para mim, em deixar estes personagens apaixonantes e um enredo tão envolvente. Sei que a série vai continuar de alguma forma, mas não se sabe como, e por isso este é o fim da trilogia, por agora.

Digamos que estou de luto por uma série favorita ter terminado; há uma continuação a 16 meses de distância, mas isso é como se faltasse uma vida inteira. No entanto, essa perspectiva também me anima. A Sarah conseguiu fechar bem a história - a certa altura, até eu duvidava, parecia que ainda faltava tanto que fazer -, mas tem montes de pontas soltas e pedacinhos de história por onde pegar, e que quero ver desenvolvidos.

Primeira coisa que quero abordar na história: as referências, a mitologia, o worldbuilding. Este cresce explosivamente, apresentando tantas personagens e bocados do mundo por explorar; e adoro que ela tenha incorporado tantos pedaços de mitologia conhecida. O mapa de Prythian é um paralelo óbvio à Grã-Bretanha e à Irlanda e ao Norte da Europa; por isso é mais do que adequado que a história se revele passar numa espécie de mundo paralelo/alternativo à Europa medieval que conhecemos.

Adorei vislumbrar pedacinhos de mitologia judaico-cristã (a história da Amren fez-me saltar do lugar), grega, ou russa. E como já tenho mencionado noutras opiniões, sei que a autora é fã de Anne Bishop, e esta trilogia parece ser um tributo particular à sua saga das Jóias Negras. Pequenas coisas nesta trilogia lembram-me dessa série, como uma homenagem subtil e bem-feita. E adoro sentir essa nostalgia.

Quanto a enredo: suponho que seria exequível escrever uma história mais curta e tocar nos mesmos pontos principais do enredo. Mas não era a mesma coisa. É por ser um livro tão longo que é riquíssimo no que inclui; e honestamente, consegue empacotar muito mais que 700 páginas de história. Souberam-me tão bem os pontos altos como os pontos baixos da acção; deu para saborear a história e deliciar-me com os novos detalhes apresentados. A derrota de Hybern é incrivelmente complexa, mas as peças mexem-se de forma irrepreensível e de forma a que me parece que nunca podia ser contada doutra maneira.

Coisas interessantes no desenvolver da história: primeiro, como a Feyre causa o caos na Spring Court no início, em jeito de vingança, e como isso volta para a lixar. Foi uma má decisão no grande esquema, mas uma necessária e bem compreensível naquele momento. O conselho de Fae e das High Courts foi hilariante, por todos os egos e dramas a decorrerem. Os detalhes que vemos das outras cortes (como os animais na Winter Court) são fascinantes. Oh, e alguns personagens a reter e que gostaria de conhecer melhor: Vassa, Jurian, Miryam e Drakon.

Gosto de como a história apresenta uma variedade de gente que foi quebrada e destruída de diversas maneiras, e de como se reconstroem e se curam de formas tão diferentes. É uma descrição de trauma tão credível e tão reconfortante: ver que o trauma não define os personagens, e que há vida para lá dele.

Gosto também de ver uma descrição tão positiva de certos aspectos da vida sob o ponto de vista de uma mulher: as amizades entre mulheres são inspiradoras, e também o é ver estas personagens femininas a lutar pelo que merecem, a não se contentar com menos, a serem assertivas e doces e duras e a imporem-se sem o mundo a fazê-las pedir desculpa por isso. Precisamos de mais livros assim.

Sobre os vários personagens... bem, a Elain acaba por ser discreta, está a recuperar, e gostava de a ver mais, mas tem um momento brutal no final. O Azriel também é discreto por natureza, mas a sua natureza bondosa mostra-se, e adorava ver mais do seu mundo interior. Ele e a Elain dão-se bem, e gostava de ver os dois juntos, talvez. Seria uma maneira curiosa de explorar personagens para além do mating bond.

A Amren continua a ser assustadora e indomável, e adoro como toda a gente tem medo dela, mas lá muito no fundo, ela é uma fofa. A sua história passada é super interessante e vou querer saber mais. O Lucien tem alguns momentos que esperava, outros nem tanto... uma revelação foi extraordinária, mas estava a reler a minha opinião do primeiro livro e talvez já aí a Sarah estivesse a plantar pistas disso. Coisas muito interessantes o esperam.

O Cassian é amoroso e tão despreocupado; já a Nesta é tão cativante, por ter um feitio tão retorcido. As coisas são muito difíceis para ela - pelo menos, de as deitar cá para fora -, e temo o dia em que ela expluda e leve tudo à frente. Estes dois juntos são tão engraçados; mas acho que o Cassian precisa de puxar mais por ela, ou ninguém vai a lado nenhum. Sinto que a Nesta precisa de ser provocada para sair da casca; mas ao mesmo tempo, o final parece ter deixado marcas nela. A coragem tremenda que foi necessária para fazer algo daquele calibre... uau.

A Mor... bem, é um pouco frustrante. Adoro saber um pouco mais da história dela, e adoro que seja uma tentativa concertada da Sarah para dar mais diversidade ao elenco - acho que ela está a aprender a fazer mais e melhor nesse aspecto. Mas não achei especialmente credível ter alguém enfiado no armário mais de 500 anos porque tem medo do papá. Percebo o instinto dela de proteger a sua vida do mal que a parte retorcida da Night Court lhe pode fazer, mas em todos os outros aspectos a Mor parece ter recuperado do mal que passou nas mãos deles. Seria de esperar que neste tempo todo tivesse aceite que pode ser ela própria e que procurasse a sua felicidade. Mata-me que no meio disto tudo um amigo viva pendurado da indecisão dela, que nem é capaz de ser honesta com ele. De novo, 500 e tal anos é demasiado tempo para arrastar a situação.

Sobre o Tamlin - eu já gostei dele, eu já o detestei, e não fui particularmente fã da maneira como as minhas emoções foram manipuladas em relação a ele. Gosto mais da sua caracterização aqui, é mais nuanceada. Tomou muitas decisões questionáveis, mas entendo porque achou que era o melhor para si e para os seus. Continua agarrado ao ódio e com uma perspectiva retorcida das coisas, mas tem um fundo bom e mostra-se à altura da ocasião, sabendo manter-se um líder estratega e lutando pelo que está certo. Tem espaço para curar e melhorar.

Deixei o melhor para o fim. Tenho gostado imenso de seguir a Feyre ao longo da trilogia. Tem um crescimento extraordinário; e os momentos que passou no início, os sentimentos e emoções que conhecia, retorcidos por vezes, foram fundidos e reformados num molde melhor. Está confortável na sua pele, luta pelos seus, é destemida e esforçada e determinada a enfrentar o seu pior e o seu melhor para ajudar os que a rodeiam, não se satisfazendo até conseguir o melhor para eles e para ela.

O Rhys tem sido uma surpresa ao longo da trilogia, uma acerca da qual eu ainda estou parva como foi tão bem desenvolvida e como me deu tão bem a volta. É muito cativante ver o seu instinto para continuar a sacrificar-se, a dar tudo pelos outros. De certo modo gostava de ler mais sob o seu ponto de vista, porque há ali um equilíbrio entre o líder experiente, a fachada de não se importar com o que as outras cortes pensam dele, e a pessoa que passou a sua quota-parte de trauma. Este último é algo pouco reconhecido e discutido pelos personagens, sendo a Feyre a pessoa que entende e reconhece directamente, mas uma discussão com tacto do assunto seria tão interessante.

Os dois juntos: gosto tanto, e nunca pensaria que isso viria a acontecer. Funcionam como uma unidade, mas tomam as suas decisões por si, são independentes mas uma frente unida na forma como cuidam dos seus e defendem a sua corte. A primeira vez que se revêem neste livro é amorosa, vão esconder-se para um canto a conversar e a dar festinhas um ao outro.

É difícil encontrar o equilíbrio entre ter um casal junto e não resvalar para o drama, mas ela consegue fazê-lo. Pontos bónus, porque gosto de ler livros em que o casal já é um casal a sério. E também aprecio o reconhecer de que o amor não resolve tudo: estas pessoas ainda têm um passado, um sofrimento que carregam e com o qual têm de lidar todos os dias; mas é simpático ver que ter alguém com quem partilhar os bons e os maus momentos traz conforto.

E numa opinião já muito longa, vamos ao final: terrível, dramático, de roer as unhas. A fasquia estava elevadíssima, algumas pessoas pagam o preço, tudo vai para o inferno, e o meu coração ia tendo uma síncope, que aconteceram coisas que eu não queria que acontecessem, apesar de tudo se ter resolvido pelo melhor. O bom do final é que traz uma série de gente que eu queria (re)ver, e adorei algumas pequenas surpresas.

E pronto, chegámos ao fim (da opinião). No fim de contas, acho que este e o A Court of Mist and Fury (o segundo) são os meus favoritos dela. Também tenho favoritos dela na outra série, mas estes ainda ficam um furo ou dois acima dos melhores dessa série. Vai ser tão doloroso esperar pelos livros previstos neste mundo, ainda mais porque nada se sabe deles - mas adoraria que fossem livros para explorar este mundo e as pontas que ficaram por atar. (E se fossem ao estilo romance paranormal, cada um dedicado a um casal enquanto explora o arco de história da série, melhor.) Também adoraria ler uma prequela: há eventos mencionados que seriam interessantes de ver descritos. Mas isso, agora, é alimento para uma futura opinião. Mal posso esperar.

Páginas: 720

Editora: Bloomsbury

domingo, 21 de maio de 2017

Curtas BD: Graphic Novels da Marvel, vols. 35, 37 e 38

Vingadores Secretos: Missão a Marte, Ed Brubaker, Mike Deodato
Portanto, parece-me que isto se passa a seguir a alguns eventos curiosos no mundo Marvel, e até que gosto da ideia da formação da equipa. Uma espécie de equipa black ops, uma força de intervenção secreta equipada para lidar com ameaças ocultas, direi mesmo... secretas.

Tem uma mistura algo estranha de personagens, alguns interessantes, mas não sei se neste primeiro volume consegue usá-los em todo o seu potencial. No caso de uns, é uma pena. Falta um pouco de personalidade no desenvolvimento de personagens que tornaria a história em algo difícil de esquecer.

No entanto, a escrita é suficientemente cativante, tanto no diálogo como na criação do enredo, que embala o leitor o suficiente para a história se ler num instante. Não é uma história extraordinária, e podia ter ganho algo se o argumentista pegasse ainda mais no tom thriller/espião que lhe conheço doutras histórias, acho que podia melhorar aqui a coisa.

Sobre a arte: não sei, o Deodato faz umas coisas estranhas com os corpos e caras e respectivas proporções. Só me senti à vontade no número em que a arte passa para o David Aja, que já conhecia de outras andanças.

O Imperativo Thanos, Dan Abnett, Andy Lanning, Miguel Sepulveda
Esta é uma história escrita no seguimento de um drama galáctico anterior, mas segue-se bem sem precisar de saber tudo. Por mim até passava bem sem o número incluído no início, da revista dos Guardiões da Galáxia, sobre como encontraram o Thanos. Como não sei a história para trás, é irrelevante ler sobre como o encontraram e a outros personagens.

O enredo foca-se numa falha, por trás da qual há o acesso a um outro universo. Um em que a Morte foi eliminada. E na ausência de morte, a vida floresceu. Uma ideia fascinante de considerar, e adorei o conceito e a sua exploração, se bem que não me identifiquei com certas partes da mesma.

Como disse, a história acompanha-se brilhantemente, mas gosto na mesma que esteja cheia de referências. Ei, algumas eu até percebi! E achei divertido ver juntar tanta gente que aparece em histórias fora da Terra - Shiar, Inumanos, Nova, os Guardiões, até Celestiais e o Galactus.

Dois bons pontos no desenvolvimento da história: um, mesmo no meio dum grande evento, permite-nos preocupar com os personagens; dois, mesmo sendo um grande evento, não me perdi no enredo. (Os grandes eventos gostam muito de nos fazer isso.)

Vingadores: O Nascimento de Ultron, Roy Thomas, John Buscema
A ovelha negra deste conjunto. Não sou nada fã destes volumes que reúnem histórias mais antigas, metendo muitos números da revista juntos. Acaba por ter muitos enredos diferentes misturados e isso torna-se aborrecido para mim, acho que as histórias acabam por não ser muito bem exploradas.

O nascimento titular de Ultron nem sequer é uma grande parte do volume; só um par de números da revista. Não é particularmente excitante, e é contado quase em terceira mão, o que é... bem, aborrecido. Preciso de mais detalhe que isso.

Olhando para as outras histórias, acho o enredo meio forçado em muitas delas - a do Jarvis a ajudar o inimigo, por exemplo, ou a do Yellowjacket/Vespão, que não faz sentido algum, especialmente na relação com a Janet. Mas também, a história deles sempre me pareceu um pouco estranha.

A história que mete viagens no tempo é gira, mas eu gosto sempre de ler histórias que lidem com as consequências de viajar no tempo, por isso não é surpresa nenhuma. E a do Visão também parece um nível ou dois acima das outras.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

O Rouxinol, Kristin Hannah


Opinião: Este não seria necessariamente um livro que eu escolheria ler normalmente. Ao que entendo da sua bibliografia, a Kristin Hannah escreve maioritariamente Women's Fiction (não gosto desta nomenclatura, mas isso é assunto para outra altura), uma categoria onde se costuma incluir livros focados em mulheres, contemporâneos, cujo foco principal se estende para além do romance.

Portanto, não escreve numa área que eu leia habitualmente ou que me interesse de forma especial. As probabilidades de nos cruzarmos eram remotas. Entra em cena este livro, com uma série de burburinho por trás a destacá-lo, e passado na 2ª Guerra Mundial, e pronto, foi o suficiente para atiçar a minha curiosidade.

Talvez por não ler habitualmente na área em que a autora costuma escrever, posso dar-me ao luxo de ser mais desligada quando digo que o livro parece ter alguns dos, digamos, clichés que poderíamos associar ao género. (E isto é apenas a minha sensação de acordo com o que conheço. Vale o que vale.)

Ora vejamos: é escrito de forma a maximizar o lacrimejar do leitor, ao melhor estilo Nicholas Sparks, e condensa no menor número de páginas possível a maior quantidade possível de desgraças e situações complicadas de todo o género, para obter esse lacrimejar. A diferença aqui é: é sobre a 2ª Guerra Mundial, e isso faz mesmo toda a diferença, bem como a forma como descreve o decorrer dos acontecimentos.

Digo isto porque não dá respostas fáceis sobre as coisas que descreve. Mostra os extremos das situações e como sob pressão todos podem ser levados a eles. É um descrever do dia-a-dia duma vilória qualquer na França ocupada, e é impressionante ler sobre o mesmo.

Não é muito comum ler sobre as pessoas normais que vivendo em França, viram o seu modo de vida completamente alterado, com soldados nazis a serem atribuídos às casas que tinham quartos disponíveis, com uma comunidade transida de medo, que cresce de forma insidiosa, com listas e despedimentos (e eventualmente, enforcamentos) de pessoas incómodas, com destacamento de judeus da comunidade para serem levados sem ninguém entender o que está a acontecer.

Quando autocarros chegam a Paris e às pequenas terras para levar judeus, é fácil ao leitor entender o terror do que os espera, mas também é de partir o coração ver aqueles pessoas e os que as rodeiam ficar confusos, não entender o que se passa, tentar perceber porque tal acção está a acontecer, o sentido de tudo aquilo; e também é aterrador perceber que ainda não sabem, não conhecem o extremo a que o ódio pode levar.

Voltando atrás: este também é um livro sobre duas irmãs, e a sua relação fraternal, que achei muito interessante e bem desenvolvida, especialmente nas tensões entre as duas devido ao passado e à relação que têm com o pai.

Vianne é a mais velha, e de certo modo, a mais frágil, devido a circunstâncias da vida.. O escalar dos acontecimentos assusta-a, mas na primeira parte do livro tem confiança que tudo se resolverá, que o marido vai voltar para casa e que ajudará a resolver os problemas que enfrenta nesses primeiros tempos.

A sua evolução é cativante, especialmente porque a Vianne é todos nós, com vontade de ficarmos no nosso cantinho, sobreviver. A determinação dela em proteger a filha, no entanto, é louvável, especialmente porque faz todo o tipo de sacrifícios por ela. (E entristece-me pensar na Sophie a crescer nesta época, a começar a entender as coisas e crescer sabendo do pior que o ser humano pode oferecer.) No entanto, as coisas escalam de maneira tal, as perdas são tantas, que a Vianne sente que nada tem a perder, e ganha coragem para ajudar como pode.

Já a Isabelle... bem, eu não gosto de personagens como ela é. (Ou era na primeira parte.) É muito Marianne (do Sensibilidade e Bom Senso): muito idealismo e muita falta de bom senso. Aborreceu-me ter de ler nas primeiras 150 páginas a sua indignação com os nazis, que tinham de se opor a eles assim e assado, fazendo todo um número de pequenas rebeliões estúpidas e desnecessárias, que sob o olhar errado teriam emperigado a sobrinha e a irmã. A falta de consideração é enorme, e irrita-me mesmo. (Além disso, ela é o centro de um instalove que me fez revirar os olhos... e apesar de a situação ser desenvolvida de forma complexa mais para a frente, nunca me soou satisfatória.)

Felizmente, ela ganha juízo, e encontra o caminho para a Resistência, para ajudar como pode. E o que começou como entrega de missivas aqui e ali... terminou na criação por sua iniciativa de um caminho de fuga para pilotos dos Aliados através dos Pirenéus. (E consideremos o quão divertido será ver homens nos anos 40 deparar-se com uma miúda que os vai levar através das montanhas cheias de neve.)

E é por isso que o livro acaba por ser marcante: é uma ode ao trabalho que as mulheres fazem em tempo de guerra, tantas vezes desconhecido ou não reconhecido. Os homens lutam e fazem um grande estrondo e voltam e são heróis e tal. (Generalizando muito a coisa. claro.) As mulheres sobrevivem e duram e encontram pequenas mas enormes formas de contribuir, e não falam disso. Continuam a viver.

A narrativa é intercalada com capítulos nos anos 90, sob a perspectiva de uma das irmãs (não é suposto sabermos qual até quase ao fim), e esses pedaços são fascinantes de ler, pela perspectiva que a pessoa tem ao fim destes anos todos. (Gostava que confiasse no filho e realmente lhe contasse quase tudo o que passou na guerra. Parece uma herança que não merecia ser desperdiçada.)

O final: bem, frustra-me a parte da Isabelle. No fim de tudo, parece anticlimático. Entendo o que aconteceu e porquê, mas não concordo que precisasse de ser assim. Já a Vianne, tem umas escolhas bastante difíceis a fazer e é de partir o coração, pensar no que sofreu, mas anima-me ver a resiliência que a guerra lhe trouxe, e entendo as suas escolhas.

E pronto, este não era um livro que eu procuraria normalmente, as estrelas alinharam-se para a leitura. Não vai ficar propriamente como favorito, não pela sua qualidade, mas porque não é parte de um género que me apaixone; porque à parte isso, é um livro muito bom, com grandes momentos e que faz umas boas escolhas no que toca à história. Tem tudo para continuar a cativar leitores.

Título original: The Nightingale (2015)

Páginas: 480

Editora: Círculo de Leitores

Tradução: Marta Pinho

terça-feira, 16 de maio de 2017

Magia de Papel, Charlie N. Holmberg


Opinião: Curiosamente, quando este livro me chamou a atenção, por volta da altura do seu lançamento, fiquei com uma ideia ligeiramente diferente do que esperar. Não sei se foi da sinopse, ou das opiniões que li, ou do que quer que seja...

... as boas notícias são, acho que gostei mais dele assim. Achei um livro amoroso e fofo; pode não ser a maior invenção desde a roda, e tem espaço para melhorar bastante, mas tem aquela faísca, aquela coisa mágica que me faz gostar dum livro.

Pode ser do worldbuilding. Estamos em 1902, em Inglaterra, num mundo com uma base vitoriana, mas tendencialmente mais progressivo que a época equivalente que conhecemos. Possivelmente deve-se ao sistema de magia: alguém que deseje praticar magia parece livre de o fazer, tenha a idade que tiver, estudando durante algum tempo e depois tornando-se aprendiz dum mestre.

O aprendiz de mago liga-se a um material feito pelo homem - papel, vidro, plástico ou borracha resultam, pedra não, sangue... é curioso mas não inesperado, pois resulta. A partir daí o aprendiz dedica-se a aprender como manipular o material. Achei esta ideia tão única e inteligente, e acho que tem tremendo potencial, por isso só isso deixou-me com vontade de continuar e ler e saber mais.

Pode ser dos personagens, principalmente da protagonista. Ceony Twill vem de uma família pouco abastada, e esforçou-se muito para terminar a escola de magia o mais depressa possível, sendo uma das melhores alunas. Imaginemos então o desânimo dela ao saber que não pode escolher o material que vai trabalhar, que a professora a recomenda para o papel. O papel é aborrecido! Não é?

A reacção da Ceony no seguimento disto é muito interessante. Ela fica desanimada, e inicialmente reage duma maneira toda espertalhona, lança uns comentários resmungões e algo inconvenientes... mas não se arrasta pela miséria. Adapta-se. Ela é esperta e engenhosa, e não se resigna, mas aceita as circunstâncias e aproveita para aprender. Atrevo-me a dizer que começa a gostar. E quando um desafio se lhe põe, ela mostra-se à altura.

A Ceony vai estudar com um mago chamado Emery Thane. A personalidade dele revela-se ao longo do livro devido à sua premissa; mas achei engraçada a maneira como ele lidou com a relutância inicial da Ceony. Responde aos comentários inconvenientes dela mostrando-lhe como o papel funciona, e algumas das suas potencialidades (frágil mas versátil, e fiquei com vontade de me pôr a fazer origami), e faz um esforço para a fazer sentir-se bem-vinda.

Thane é misterioso e reservado, mas uma pessoa gentil. É relativamente jovem, mas com uma vida já bastante preenchida. E Ceony vai-se ver involuntariamente envolvida quando uma mulher do seu passado irrompe casa adentro e rouba o coração a Emery. Literalmente. Aqui é que a coisa parece virar para o domínio do estranho, mas dentro deste mundo, faz perfeitamente sentido.

A Ceony consegue manter Thane vivo com a magia do papel, mas é uma solução temporária. Frustrada com a inacção dos seus professores e magos mais experientes que ela, parte à procura de Lira, a mulher ladra de corações no sentido físico (e ex-mulher de Emery, já agora), numa tentativa de recuperar o coração roubado.

Um feitiço que corre de forma inesperada, e zás! Ceony vê-se presa, bastante literalmente também, no coração de Thane. O interessante desta situação é como a magia funciona neste mundo e neste situação em particular. Para sair, Ceony tem de percorrer as quatro câmaras do coração, nas quais vai encontrar alguns detalhes privados da personalidade do mago: os seus momentos mais altos e mais baixos, os seus desejos e as suas dúvidas.

E pronto, em termos de enredo o livro não é particularmente ambicioso, descreve a chegada de Ceony ao seu aprendizado, os primeiros tempos do mesmo, e depois o coração é roubado e o que se segue são uma série de flashbacks que esclarecem a personagem Emery Thane. Adorei esta parte porque amo ler sobre desenvolvimento de personagens, mas também pelo efeito que tem na Ceony.

Se somos expostos ao que se passa nas profundidades do coração de outra pessoa, diria que a ficamos a conhecer bastante bem, mas também corremos o risco de nos identificarmos ou envolvermos com o que vemos. E pronto, vamos dizer que gosto da ideia nesta particular apresentação. É uma ideia adorável, e achei cativante ler sobre o depois, quando a Ceony volta e resolve tudo e os personagens conversam sobre o que aconteceu. Dou por mim a torcer pela ideia com muita força.

E no fim, mais um livro para a pilha dos "estou a suspirar pela sequela, quero ler já imediatamente, como não posso???". Que dura é a vida duma leitora inveterada.

Título original: The Paper Magician (2014)

Páginas: 256

Editora: Estação Imaginária

Tradução: Sónia Maia

terça-feira, 9 de maio de 2017

Meg Cabot: Allie Finkle, volumes 1 a 3


Páginas: 256 / 240 / 256

Editora: Scholastic

Oh raios, estes livros são amorosos. A sério, achei que me podia aborrecer um bocadinho, não costumo ler muito MG (Middle Grade, ou infanto-juvenil), e por isso a minha cabeça não está habituada ao tipo de voz e narrativa típica da faixa etária...

... contudo, a Meg Cabot faz um trabalho excelente nesse aspecto. Adoro a voz que ela dá à Allie. Não passo muito tempo a conviver com miúdos de 9 anos, propriamente, mas pareceu-me credível, a maneira como ela a escreve.

Ora vejamos: a Allie é esperta, mas ingénua, engenhosa, mas insegura, com um fundo curioso e que questiona as coisas, mas também um nadinha crédula. Boa filha, boa irmã, bom sentido do que está certo e errado. Tem as preocupações e os dramas e o discernimento que esperaria que uma rapariga de 9 anos tivesse. Os livros são divertidos e encontram desafios curiosos, adequados à idade. E por isso, soou-me realista.

O primeiro volume, Moving Day, como o título indica, é sobre a família Finkle ir mudar-se. Diverti-me imenso principalmente pela reacção da Allie - que inventa uma série de "esquemas" ineficazes mas engraçados para travar a mudança. Mas também achei um piadão à amiguinha da Allie que chorava o tempo todo, e à peripécia da tartaruga.

O segundo volume, The New Girl, é sobre a Allie começar as aulas na nova escola. Faz amigas, e debate-se com alguma insegurança sobre o seu lugar na turma e o estabelecimento duma relação com a professora. Enfrenta uma moça armada em rufia, que goza com ela e lhe diz que lhe vai bater. Pontos bónus por a Allie ter empatia e discernimento sobre o que realmente se passava com a Rosemary, e gostei mesmo de como lidou com ela. Não é a solução para todos os casos, mas este resultou mesmo bem.

O terceiro volume, Best Friends and Drama Queens, apresenta uma nova "miúda nova", Cheyenne, do Canada, totalmente sofisticada, e que traz novos modos que quer impor à turma. E é aqui que a genialidade da Meg se revela. A Cheyenne quer fazer com que toda a gente faça par e diga que "goes with" pessoa X. Os miúdos não sabem o que isto quer dizer, e ficam adoravelmente perdidos e confusos, mas quase toda a gente cede à pressão dos pares e arranja um rapaz ou rapariga com que emparejar.

Achei muito interessante como ela explorou a pressão social para toda a gente ceder aos desejos da Cheyenne, e como explora um pouco de política sexual sem os miúdos saberem o que isso é. A dinâmica de quem convida quem, o drama entre amigos sobre quem "anda com" quem, o modo como este movimento é quase todo centrado nas raparigas, a pressão social para avançar antes de alguém se sentir preparado, ou para avançar apesar de alguém não se sentir inclinado de todo nesse sentido.

Adorei a reacção da Allie à rapariga, e como entendeu que não era boa ideia fazer aquilo só porque a outra queria. (E como lidou com o rapaz que as outras queriam que fosse o seu par. Apesar de ele ser também amoroso no modo como não queria ficar de fora, e se sentia triste por ainda não ter sido escolhido como par.) E diverti-me imenso com a reacção dos pais da turma, que rapidamente toparam o drama e puseram um travão à coisa, com uma intervenção da professora.

Em suma, histórias bem giras e bastante inteligentes, parecendo-me bastante adequadas à idade. Estou intrigada e quero continuar a ler para ver o que vem a seguir.

sábado, 6 de maio de 2017

Black Widow - Forever Red, Margaret Stohl


Opinião: Hmmm. Dou por mim a pensar no que escrever sobre este livro, e honestamente não há muito a destacar. Podia ser um tão melhor livro. Mas acaba por não ser uma leitora particularmente impressionante. Sim, é um bom passa-tempo, mas não é a invenção da roda - e no que toca a uma personagem tão subutilizada e mal utilizada como a Black Widow, ela merecia uma reinvenção da roda.

A história começa oito anos atrás. Natasha Romanoff salva uma rapariguinha de 9 anos, Ava Orlova, e frustra os planos de Ivan Somodorov, um inimigo que conhece bem. Ivan parece derrotado, mas no presente surge uma reactivação das experiências que fazia. Natasha e Ava reencontram-se ao fim de oito anos, e com a ajuda de um rapaz ligado de forma misteriosa a elas, vão investigar.

Bem, a ideia base por trás da história é bastante interessante. Mete o passado da Natasha no Red Room, e ligações humanas quando ela tenta muito não as ter. E tem um elemento científico que envolve desenvolver capacidades que não se tinha e é fascinante pelo uso dado ao mesmo.

O meu problema é... sim, é uma história que tem muita acção e é excitante. Mas não tem muito mais para além disso. O enredo e o seu ritmo não são fortes, a caracterização de personagens é mínima, tem um romance instalove desenvolvido de maneira fraca.

Pergunto-me se o problema não estará na concepção. As pessoas na Marvel talvez tenham pensado: "ei, YA é popular... a Natasha também... vamos juntá-los" - o que é, já agora, a pior razão de todas para fazer coisas.

De qualquer modo, o que quero dizer com isto é: o tipo de história que isto podia ser, mais intensa, mais realística, mais violenta, mais digna duma história da Viúva - bem, creio que isto devia ser uma história adulta. Não que não hajam autores YA capazes de coisas intensas e pesadas. Mas não me parece que esta autora seja uma delas. E duvido que os editores responsáveis sejam o tipo de editor que abraçaria o tipo de história necessário para contar algo do passado da Viúva Negra.

Além disso, a Natasha devia ser a protagonista, não devia dividir esse posto. Podia ser a badass que sabemos que ela é, levar tudo à frente e tudo o mais. A introdução dos dois protagonistas adolescentes só deixa o enredo mais burro do que precisava ser. E ei, eu adoro YA. Sei que YA é capaz de ser muito inteligente.

Só que isto parece em partes a ideia preconceituosa de alguém que não conhece YA, de como acha que YA é. E a Margaret Stohl é escritora de YA, ela devia saber fazer melhor. Provavelmente até sabe. Possivelmente isto deve-se ao controlo editorial da Marvel. Eu sei lá. Mas é definitivamente a ideia com que fiquei.

Mais uma queixa: a cronologia disto não me parece muito certa. Tendo em conta o momento que a Natasha encontra a Ava em criança, mais a sua relação com outro personagem da narrativa, mais a idade que é suposto ela ter, calculada a partir desse relação... sei lá, há qualquer coisa que não faz sentido, especialmente quando sabemos que na cronologia tem de haver espaço para ela ir parar ao Red Room e depois desertar de lá. Detesto quando os livros não são consistentes neste aspecto.

Destaque de coisas giras: as menções de outros personagens da Marvel. Este é um mundo em que os personagens "normais"/"zés-ninguéns" estão cientes dos superheróis e são fãs deles, e por isso há menções a eles ou a ter posters e T-shirts alusivas a eles. Esse tipo de coisa. É giro pensar nisso.

Outra coisa gira: aparições de personagens Marvel. Particularmente o agente Coulson, que é o agente responsável pela Natasha na SHIELD, e as interacções deles são engraçadas; e o Tony Stark, bastante divertido e descomplicado, com umas respostas à altura quando a Natasha está a ser totó.

Gostava que tornassem mais claro em que universo esta história se passa - comics ou MCU. Parece-me que é no espaço-tempo dos comics: a relação da Natasha com o Coulson ou com o Tony não parece nada aquela que vemos nos filmes, e há uma menção a um gato que a Tasha tem que parece uma referência às histórias da Viúva criadas por Phil Noto e Nathan Edmondson. O único argumento a favor de isto ser do MCU é a personalidade do Tony, que parece mais Robert Downey Jr.-like, mas parece-me esticar a corda considerar que isso é um argumento de peso a favor do MCU.

Em suma: isto podia ser tão melhor do que é, se ao menos deixassem. Acho que a Marvel deu um tiro no pé e podia ter feito algo que fosse bem mais satisfatório para os fãs, em vez de produzir o livro só para dizer que o fizeram. Preocupa-me um pouco no sentido em que brevemente vamos ter em grande destaque mais livros YA com superheróis, agora da DC.

Contudo, a primeira autora é a Leigh Bardugo (a escrever Wonder Woman), e tenho sérias dúvidas que a Leigh seja capaz de lixar alguma coisa, portanto...só se tentasse com muito esforço. E o conjunto de autores que escolheram para a série agrada-me. Portanto, pontos para vocês, DC. Não lixem isto.

Páginas: 416

Editora: Marvel Press